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Vida cintilante num mundo submarino

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    No espírito de Jacques Cousteau,
    que disse:
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    "As pessoas protegem aquilo que amam",
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    quero contar-vos hoje
    o que mais gosto no oceano
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    que é o incrível número e variedade
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    de animais que têm luz.
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    A minha paixão começou com este
    fato de mergulho estranho, chamado Wasp.
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    Não é um acrónimo — houve alguém
    que o achou parecido com a vespa.
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    Foi criado para ser usado
    na indústria petrolífera
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    para mergulho nas plataformas petrolíferas
    até uma profundidade de 600 metros.
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    Quando acabei o doutoramento,
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    tive a sorte de ser incluído
    num grupo de cientistas
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    que o estavam a usar pela primeira vez,
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    para a exploração oceânica.
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    Treinámos num tanque em Port Hueneme,
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    e depois, o meu primeiro
    mergulho no oceano
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    foi no Canal de Santa Bárbara.
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    Foi um mergulho à noite.
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    Desci à profundidade de 250 metros
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    e apaguei as luzes.
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    Apaguei as luzes porque sabia
    que ia ver
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    o fenómeno dos animais a emitir luz,
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    chamado bioluminescência.
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    Mas não estava minimamente preparada
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    para a quantidade que eram
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    nem para o espetacular que era.
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    Vi correntes de medusas
    chamadas sifonóforas
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    mais compridas do que esta sala,
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    emitindo tanta luz
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    que eu conseguia ler
    os mostradores e os instrumentos
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    do fato de mergulho, sem lanterna
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    e ondas e vapores
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    do que parecia ser
    uma nuvem azul luminoso;
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    e explosões de faíscas
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    que saltavam dos propulsores,
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    tal como quando atiramos
    um cavaco para a fogueira
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    e as brasas fazem redemoinhos cintilantes
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    mas ali eram brasas frias, azuis.
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    Era uma coisa deslumbrante.
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    As pessoas, geralmente,
    conhecem a bioluminescência
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    destes bichinhos: os pirilampos.
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    Há outros animais terrestres
    que também emitem luz
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    — alguns insetos, vermes, fungos —
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    mas, em geral, em terra, são muito raros.
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    No oceano, é a regra geral,
    em vez de exceção.
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    Se mergulharmos no oceano,
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    praticamente em qualquer parte do mundo,
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    e arrastarmos uma rede
    a 900 metros de profundidade,
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    a maior parte dos animais
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    — em muitos locais, 80 a 90%
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    dos animais que apanharmos nessa rede —
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    emitem luz.
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    Isto origina espetáculos de luz
    fantásticos.
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    Vou mostrar-vos um pequeno vídeo
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    que filmei num submersível.
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    Desenvolvi esta técnica, a trabalhar
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    num pequeno submersível unipessoal
    chamado Deep Rover
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    e depois adaptei-o para usar
    no Johnson Sea-Link,
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    que estão a ver ali.
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    Em frente da esfera de observação
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    está montada uma argola
    com 90 cm de diâmetro
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    com um monitor ecrã.
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    Dentro da esfera, comigo, há
    uma câmara ultra sensível,
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    quase tão sensível como um olho
    humano adaptado à escuridão,
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    embora um pouco desfocada.
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    Ligamos a câmara e apagamos as luzes.
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    Aquela faísca que veem
    não é luminescência,
  • 2:35 - 2:38
    é apenas ruído eletrónico
    nestas câmaras ultra sensíveis.
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    Só vemos luminescência
    quando o submersível
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    começa a mover-se pela água.
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    Logo que se move, os animais
    que tocam no ecrã
  • 2:45 - 2:47
    são estimulados e produzem
    bioluminescência.
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    Quando fiz isto pela primeira vez,
  • 2:48 - 2:50
    estava a tentar contar
    o número de fontes.
  • 2:50 - 2:53
    Sabia qual era a velocidade,
    conhecia a área,
  • 2:53 - 2:56
    podia calcular quantas centenas
    de fontes haveria por metro cúbico.
  • 2:56 - 2:59
    Mas comecei a perceber
    que podia identificar os animais
  • 2:59 - 3:01
    pelo tipo de faíscas que produziam.
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    Aqui, no Golfo do Maine,
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    a 230 metros,
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    consigo nomear quase tudo
    o que veem, a nível das espécies.
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    Aquelas grandes explosões,
    aquelas faíscas,
  • 3:11 - 3:13
    são de uma pequena água-viva,
  • 3:13 - 3:17
    há "krill" e outros tipos
    de crustáceos e de medusas.
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    Ali vai outra água-viva.
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    Tenho trabalhado com engenheiros
    de análise de imagens de computador
  • 3:22 - 3:25
    para desenvolver sistemas
    de reconhecimento automático
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    que possam identificar estes animais
  • 3:27 - 3:30
    e depois extrair as coordenadas XYZ
    do ponto de impacto inicial.
  • 3:30 - 3:34
    Podemos fazer o tipo de coisas
    que os ecologistas fazem em terra
  • 3:34 - 3:36
    e calcular as distâncias
    dos vizinhos mais próximos.
  • 3:36 - 3:39
    Nem sempre é preciso
    mergulhar ao fundo do oceano
  • 3:39 - 3:40
    para ver um espetáculo de luz como este.
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    Podemos vê-lo à superfície.
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    Isto foi filmado pelo Dr. Mike Latz
    da Scripps Institution,
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    de um golfinho a nadar
    no meio de plâncton bioluminescente.
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    E não é em nenhum local exótico,
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    como uma das baías bioluminescentes
    em Puerto Rico,
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    foi filmado no porto de San Diego.
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    Por vezes, até vemos
    mais perto do que isto
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    porque os sanitários dos barcos
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    — as sanitas para os que amam a terra
    e estejam a ouvir —
  • 4:02 - 4:05
    são lavadas com água do mar
    não filtrada
  • 4:05 - 4:07
    que quase sempre contém
    plâncton bioluminescente.
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    Portanto, se forem
    à casa de banho, à noite,
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    e estiverem tão enjoados
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    que se esqueçam de acender a luz
  • 4:13 - 4:16
    podem julgar que estão a ter
    uma experiência religiosa.
  • 4:16 - 4:19
    Como é que um ser vivo cria luz?
  • 4:19 - 4:20
    Foi a pergunta que Raphael Dubois,
  • 4:20 - 4:22
    um fisiologista francês do século XIX
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    fez em relação a esta amêijoa
    bioluminescente.
  • 4:25 - 4:27
    Triturou-a e conseguiu extrair
    alguns químicos;
  • 4:27 - 4:30
    uma enzima, a que chamou luciferase;
  • 4:30 - 4:32
    um substrato, a que chamou luciferina,
  • 4:32 - 4:34
    de acordo com Lúcifer, o Portador da Luz.
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    Esta terminologia manteve-se, mas não
    se refere a químicos específicos
  • 4:38 - 4:41
    porque estes químicos aparecem
    em muitas formas diferentes.
  • 4:41 - 4:44
    Na verdade, a maioria das pessoas
    que estuda hoje a bioluminescência
  • 4:44 - 4:46
    estão concentradas na química,
  • 4:46 - 4:48
    porque estes químicos
    revelaram-se tão valiosos
  • 4:48 - 4:51
    para desenvolver agentes antibacterianos,
  • 4:51 - 4:53
    drogas de combate ao cancro,
  • 4:53 - 4:55
    testes para a presença de vida em Marte,
  • 4:55 - 4:57
    para detetar poluentes nas águas
  • 4:57 - 4:59
    — que é o que usamos na ORCA.
  • 4:59 - 5:00
    Em 2008,
  • 5:00 - 5:03
    o Prémio Nobel da Química
  • 5:03 - 5:05
    foi premiado pelo trabalho feito
  • 5:05 - 5:07
    numa molécula chamada
    proteína fluorescente verde
  • 5:07 - 5:12
    que foi isolada na química
    bioluminescente de uma medusa.
  • 5:12 - 5:15
    Foi comparada à invenção do microscópio
  • 5:15 - 5:17
    em termos do impacto que teve
  • 5:17 - 5:20
    na biologia celular
    e na engenharia genética.
  • 5:20 - 5:23
    Outra coisa que todas
    estas moléculas nos revelam
  • 5:23 - 5:26
    é que, segundo parece,
    a bioluminescência evoluiu
  • 5:26 - 5:29
    pelo menos 40 vezes,
    talvez até 50 vezes, em separado
  • 5:29 - 5:31
    na história da evolução,
  • 5:31 - 5:32
    o que é uma clara indicação
  • 5:32 - 5:34
    de como esta característica
  • 5:34 - 5:37
    é espetacularmente importante
    para a sobrevivência.
  • 5:37 - 5:39
    O que é que há na bioluminescência
  • 5:39 - 5:41
    que é tão importante para tantos animais?
  • 5:41 - 5:45
    Mesmo para os animais que tentam
    evitar os predadores,
  • 5:45 - 5:47
    mantendo-se na escuridão,
  • 5:47 - 5:50
    a luz pode ser muito útil
    para as três coisas básicas
  • 5:50 - 5:52
    que os animais têm que fazer
    para sobreviverem:
  • 5:52 - 5:54
    ou seja, encontrar comida,
  • 5:54 - 5:57
    atrair um parceiro e evitar ser comido.
  • 5:57 - 5:58
    Por exemplo, este peixe
  • 5:59 - 6:01
    tem uma luz incorporada
    por detrás do olho
  • 6:01 - 6:03
    que pode usar para encontrar comida
  • 6:03 - 6:04
    ou atrair um parceiro para acasalar.
  • 6:04 - 6:07
    Quando não está a usá-la,
    enrola-a atrás da cabeça,
  • 6:07 - 6:10
    tal como os faróis de um Lamborghini.
  • 6:10 - 6:13
    Este peixe tem luzes fortes.
  • 6:13 - 6:16
    E este peixe, que é um
    dos meus preferidos,
  • 6:16 - 6:18
    tem três luzes de cada lado da cabeça.
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    Esta aqui é azul,
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    é a cor mais bioluminescente do oceano
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    porque a evolução selecionou a cor
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    que viaja mais depressa
    através da água do mar,
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    a fim de otimizar a comunicação.
  • 6:29 - 6:31
    A maioria dos animais emite luz azul
  • 6:31 - 6:33
    e a maioria dos animais
    só consegue ver luzes azuis,
  • 6:33 - 6:36
    mas este peixe é uma exceção fascinante
  • 6:36 - 6:38
    porque tem dois órgãos de luz vermelha.
  • 6:38 - 6:40
    Não faço ideia porque é que são dois
  • 6:40 - 6:43
    — é uma coisa que quero
    descobrir um dia —
  • 6:43 - 6:45
    e não só consegue ver luz azul
  • 6:45 - 6:47
    como consegue ver luz vermelha.
  • 6:47 - 6:50
    Usa a bioluminescência vermelha
    como a mira de um atirador furtivo
  • 6:50 - 6:52
    para conseguir atacar animais
  • 6:52 - 6:54
    que sejam cegos à luz vermelha
  • 6:54 - 6:56
    e conseguir vê-los sem ser visto.
  • 6:56 - 6:59
    Também tem aqui
    uma pequena barbela no queixo
  • 6:59 - 7:00
    com um engodo luminescente azul
  • 7:00 - 7:04
    que usa para atrair uma presa
    muito distante.
  • 7:04 - 7:07
    Muitos animais usam a sua
    bioluminescência como um engodo.
  • 7:07 - 7:09
    Este é outro dos meus peixes preferidos.
  • 7:09 - 7:12
    É um Chauliodus, que tem um engodo
  • 7:12 - 7:13
    na ponta de uma comprida cana de pesca
  • 7:13 - 7:16
    que faz um arco em frente
    da maxila com dentes
  • 7:16 - 7:18
    que lhe dá o nome de "peixe-víbora".
  • 7:18 - 7:20
    Os dentes deste peixe
    são tão compridos
  • 7:20 - 7:23
    que, se se fechassem
    dentro da boca do peixe,
  • 7:23 - 7:25
    trespassavam-lhe o próprio cérebro.
  • 7:25 - 7:29
    Em vez disso, eles deslizam em sulcos
    do lado de fora da cabeça.
  • 7:29 - 7:31
    Este é um peixe como uma árvore de Natal.
  • 7:31 - 7:33
    Neste peixe, tudo se ilumina,
  • 7:33 - 7:35
    não é só aquele engodo.
  • 7:35 - 7:37
    Tem uma lanterna incorporada.
  • 7:37 - 7:40
    Tem no ventre estes pequenos
    órgãos, que parecem joias
  • 7:40 - 7:42
    que usa como uma espécie
    de camuflagem
  • 7:42 - 7:45
    que elimina a sombra dele,
  • 7:45 - 7:48
    por isso, quando anda a nadar
    e há um predador a olhar para cima,
  • 7:48 - 7:50
    faz-se desaparecer.
  • 7:50 - 7:52
    Tem órgãos luminosos na boca,
  • 7:52 - 7:55
    tem órgãos luminosos em todas as escamas,
    nas barbatanas,
  • 7:55 - 7:57
    numa camada de muco no dorso
    e no ventre,
  • 7:57 - 7:58
    usados para coisas diferentes
  • 7:58 - 8:00
    — algumas das quais conhecemos,
    outras não.
  • 8:00 - 8:03
    Graças à Pixar, sabemos algumas coisas
    sobre a bioluminescência,
  • 8:03 - 8:05
    e agradeço imenso à Pixar
  • 8:05 - 8:08
    por partilhar o meu tópico favorito
    com tanta gente.
  • 8:08 - 8:10
    Gostava que, com o orçamento que têm,
  • 8:10 - 8:12
    pudessem ter gasto só um pouquinho
    de mais dinheiro
  • 8:13 - 8:15
    para pagar uma consulta
    a um estudante pobre e esfomeado
  • 8:15 - 8:17
    que lhes podia ter dito
    que aqueles são olhos
  • 8:17 - 8:20
    de um peixe conservado em formol.
  • 8:20 - 8:22
    Estes são os olhos de um xarroco vivo.
  • 8:22 - 8:24
    Tem um engodo que se projeta
  • 8:24 - 8:27
    em frente desta autêntica ratoeira viva
  • 8:27 - 8:28
    de dentes aguçados como agulhas
  • 8:28 - 8:31
    para atrair uma presa desprevenida.
  • 8:32 - 8:33
    Este tem um engodo
  • 8:33 - 8:36
    com todo o tipo de interessantes fios
    que saem dele.
  • 8:36 - 8:39
    Pensávamos que as diferentes
    formas dos engodos
  • 8:39 - 8:42
    seriam para atrair diferentes
    tipos de presas
  • 8:42 - 8:45
    mas, ao analisar o conteúdo
    dos estômagos destes peixes,
  • 8:45 - 8:48
    os cientistas, ou melhor,
    os seus alunos em pós-graduação,
  • 8:48 - 8:51
    revelaram que todos eles
    comem praticamente a mesma coisa.
  • 8:51 - 8:53
    Agora, achamos que as diferentes
    formas dos engodos
  • 8:53 - 8:56
    são como os machos
    reconhecem as fêmeas
  • 8:56 - 8:58
    no mundo dos xarrocos
  • 8:58 - 9:01
    porque muitos destes machos
    são conhecidos por machos anões.
  • 9:02 - 9:03
    Este pequenote
  • 9:03 - 9:06
    não tem meios visíveis
    de se sustentar por si mesmo.
  • 9:06 - 9:08
    Não tem engodo para atrair comida
  • 9:08 - 9:11
    nem dentes para comê-la,
    se conseguir apanhá-la.
  • 9:11 - 9:13
    A sua única esperança
    de existir neste planeta
  • 9:13 - 9:15
    é como "gigolo".
  • 9:16 - 9:19
    Tem que arranjar uma miúda
    e conservá-la toda a vida.
  • 9:20 - 9:24
    Então, este pequenote
    encontrou a sua miúda.
  • 9:24 - 9:26
    Reparem que teve o bom senso
  • 9:26 - 9:29
    de se atracar de uma forma
    que nem tem que olhar para ela.
  • 9:29 - 9:31
    (Risos)
  • 9:31 - 9:33
    Mas distingue uma coisa boa
    quando a vê
  • 9:33 - 9:36
    e sela a sua relação com um beijo eterno.
  • 9:36 - 9:38
    A carne dele funde-se com a carne dela.
  • 9:38 - 9:41
    a corrente sanguínea dela
    cresce dentro do corpo dele
  • 9:41 - 9:43
    e ele passa a ser apenas
    um pequeno saco de esperma.
  • 9:44 - 9:45
    (Risos)
  • 9:45 - 9:48
    Esta é a versão do mar profundo
    da libertação das mulheres.
  • 9:48 - 9:49
    Ela sabe sempre onde ele está
  • 9:49 - 9:51
    mas não tem que ser monógama,
  • 9:52 - 9:53
    porque algumas destas fêmeas
  • 9:53 - 9:55
    aparecem com vários machos
    pendurados.
  • 9:56 - 9:58
    Usam-nos para encontrar comida,
    para atrair parceiros.
  • 9:58 - 10:01
    Usam-na para defesa, de diversas formas.
  • 10:01 - 10:04
    Muitos libertam a luciferina
    ou a luciferase na água
  • 10:04 - 10:07
    tal como uma lula ou um polvo
    libertam uma nuvem de tinta.
  • 10:07 - 10:10
    Este camarão que cospe luz pela boca
  • 10:10 - 10:12
    como um dragão que respira chamas
  • 10:12 - 10:14
    para cegar ou distrair o peixe-víbora
  • 10:14 - 10:17
    e permitir que o camarão
    fuja para a escuridão.
  • 10:17 - 10:19
    Há imensos animais diferentes
    que fazem o mesmo.
  • 10:19 - 10:21
    Há as medusas, há as lulas,
  • 10:21 - 10:24
    há uma série enorme
    de diversos crustáceos,
  • 10:24 - 10:26
    até há peixes que fazem isso.
  • 10:26 - 10:28
    Este peixe chama-se "tubo luminoso"
  • 10:28 - 10:31
    porque tem um tubo no ombro
  • 10:31 - 10:32
    que pode esguichar luz.
  • 10:32 - 10:34
    Tive imensa sorte de capturar um desses
  • 10:34 - 10:36
    quando estávamos numa expedição
    de arrasto
  • 10:36 - 10:39
    ao largo da costa noroeste
    de África para "O Planeta Azul"
  • 10:39 - 10:41
    para a parte profunda de "O Planeta Azul".
  • 10:41 - 10:43
    Estávamos a usar
    uma rede de arrasto especial
  • 10:43 - 10:46
    que nos permitia apanhar
    estes animais vivos.
  • 10:46 - 10:48
    Capturámos um deles
    e levei-o para o laboratório.
  • 10:48 - 10:50
    Estou a agarrar nele
  • 10:50 - 10:52
    e estou quase a tocar no tubo do ombro.
  • 10:52 - 10:55
    Quando o faço, verão
    a bioluminescência a aparecer.
  • 10:56 - 10:58
    Para mim, o que é espantoso
  • 10:58 - 11:00
    não é apenas a quantidade de luz,
  • 11:00 - 11:02
    mas o facto de que não é só
    luciferina e luciferase.
  • 11:02 - 11:06
    Para este peixe, são células inteiras
    com núcleos e membranas.
  • 11:06 - 11:09
    Do ponto de vista energético,
    sai muito caro o peixe fazer isto
  • 11:09 - 11:11
    e não fazemos ideia de qual a razão
  • 11:11 - 11:14
    — mais um dos grandes mistérios
    que precisa de ser desvendado.
  • 11:17 - 11:20
    Outra forma de defesa é uma coisa
    chamada um "alarme anti-ladrões"
  • 11:20 - 11:23
    — tal como temos
    um alarme antirroubo no carro,
  • 11:23 - 11:24
    uma buzina e luzes faiscantes
  • 11:24 - 11:26
    que se destinam a atrair
    a atenção da polícia,
  • 11:27 - 11:28
    para correr com o ladrão —
  • 11:28 - 11:31
    quando um animal é apanhado
    por um predador,
  • 11:31 - 11:32
    a única esperança de poder fugir
  • 11:32 - 11:35
    é atrair a atenção de outro
    maior e mais perigoso
  • 11:35 - 11:36
    que ataque o atacante,
  • 11:36 - 11:39
    proporcionando-lhe uma hipótese de fugir.
  • 11:39 - 11:41
    Esta medusa, por exemplo,
  • 11:41 - 11:43
    exibe uma bioluminescência
    espetacular.
  • 11:43 - 11:45
    Isto somos nós no submersível.
  • 11:45 - 11:48
    Isto não é luminescência,
    é luz refletida emitida pelas gónadas.
  • 11:48 - 11:51
    Capturámo-la num aparelho especial
    na frente do submersível
  • 11:51 - 11:54
    que nos permite obtê-la
    em condições bem preservadas,
  • 11:54 - 11:57
    levá-la no barco para o laboratório.
  • 11:57 - 11:59
    Depois, para gerar a exibição
    que vão ver
  • 11:59 - 12:00
    bastou tocar-lhe de segundo a segundo
  • 12:00 - 12:02
    no nervo com um palito
  • 12:02 - 12:04
    que é como um dente aguçado
    de um peixe.
  • 12:04 - 12:07
    Logo que esta exibição começa,
    eu deixo de tocar-lhe.
  • 12:07 - 12:10
    É um espetáculo de luzes incrível.
  • 12:10 - 12:12
    É uma girândola de luzes.
  • 12:12 - 12:15
    Fiz cálculos que mostram
    que este espetáculo pode ser visto
  • 12:15 - 12:18
    a uns 90 metros do predador.
  • 12:18 - 12:19
    Pensei:
  • 12:19 - 12:21
    "Isto pode funcionar
    como um ótimo engodo".
  • 12:22 - 12:24
    Uma das coisas que me frustrava
  • 12:24 - 12:26
    enquanto exploradora do mar profundo,
  • 12:26 - 12:30
    é quantos animais haverá no oceano
    de que não conhecemos nada
  • 12:30 - 12:32
    por causa da forma como
    exploramos o oceano.
  • 12:32 - 12:35
    A forma primária que conhecemos
    o que vive no oceano
  • 12:35 - 12:38
    é irmos lá e arrastar redes
    atrás de barcos.
  • 12:38 - 12:40
    Desafio-vos a nomear
    qualquer outro ramo da ciência
  • 12:41 - 12:43
    que ainda dependa de tecnologias
    com centenas de anos.
  • 12:43 - 12:45
    A outra forma primária é irmos lá abaixo
  • 12:45 - 12:48
    com submersíveis e veículos
    manobrados à distância.
  • 12:48 - 12:50
    Fiz centenas de mergulhos
    em submersíveis.
  • 12:50 - 12:52
    Mas, quando me sento num submersível,
  • 12:52 - 12:55
    sei que sou muito invasiva
  • 12:55 - 12:58
    — tenho luzes brilhantes
    e propulsores barulhentos —
  • 12:58 - 13:01
    qualquer animal com sentidos
    vai desaparecer durante muito tempo.
  • 13:01 - 13:03
    Há muito tempo que desejava
  • 13:03 - 13:05
    ter uma forma diferente de explorar.
  • 13:05 - 13:09
    Assim aqui há tempos,
    tive a ideia de um sistema de câmaras.
  • 13:09 - 13:11
    Não é nada de especial,
    Chamamos-lhe o Olho-no-Mar.
  • 13:11 - 13:14
    Os cientistas há anos que fazem isto;
  • 13:14 - 13:16
    usamos uma cor que os animais não veem
  • 13:16 - 13:18
    e uma câmara que veja essa cor.
  • 13:18 - 13:20
    Não podemos usar infravermelhos no mar.
  • 13:20 - 13:23
    Usamos luz vermelha extrema,
    mas mesmo essa é um problema
  • 13:23 - 13:25
    porque é absorvida muito rapidamente.
  • 13:25 - 13:26
    Fiz uma câmara super sensível
  • 13:26 - 13:28
    queria fazer uma medusa eletrónica.
  • 13:28 - 13:31
    O problema é que, em ciência,
  • 13:31 - 13:34
    temos que dizer às agências
    financiadoras o que vamos descobrir
  • 13:34 - 13:36
    antes de nos darem o dinheiro.
  • 13:36 - 13:38
    Eu não sabia o que ia descobrir
  • 13:38 - 13:41
    e, por isso, não podia obter
    financiamento para isto.
  • 13:41 - 13:44
    Assim, fui eu que a fiz e consegui
    que a Clínica de Engenharia de Harvey Mudd
  • 13:44 - 13:46
    o apoiasse, como um projeto
    de pós-graduação
  • 13:46 - 13:49
    e angariei fundos
    de várias origens.
  • 13:49 - 13:52
    O Instituto de Investigação do Aquário
    da Baía de Monterey
  • 13:52 - 13:54
    emprestou-me o seu veículo
    manobrado à distância
  • 13:54 - 13:56
    para eu poder testá-lo
    e poder verificar,
  • 13:56 - 13:59
    por exemplo, que tons de vermelho
    tínhamos que usar
  • 13:59 - 14:02
    para podermos ver os animais,
    sem eles nos verem
  • 14:02 - 14:05
    e pôr a medusa eletrónica a funcionar.
  • 14:05 - 14:08
    Podem ver até que ponto
    esta operação foi muito limitada,
  • 14:08 - 14:11
    porque quando testei
    estes 16 LED azuis em epoxy
  • 14:11 - 14:14
    — ainda podem ver a palavra Ziploc
    no molde de epoxy
  • 14:14 - 14:16
    que nós utilizámos.
  • 14:17 - 14:20
    Nem é preciso dizer,
    quando amontoamos as coisas deste modo,
  • 14:20 - 14:22
    aparecem muitas provações
    e atribulações.
  • 14:22 - 14:25
    Mas chegou uma altura
    em que tudo se compôs
  • 14:25 - 14:26
    e tudo funcionou.
  • 14:26 - 14:29
    Felizmente, esse momento
    foi captado
  • 14:29 - 14:31
    pelo fotógrafo Mark Richards,
  • 14:31 - 14:33
    que descobrimos estar ali
    no exato momento
  • 14:33 - 14:35
    em que descobrimos
    que tudo funcionava bem.
  • 14:35 - 14:37
    Aquele sou eu, à esquerda,
  • 14:37 - 14:39
    a minha aluna de pós-graduação.
    Erika Raymond
  • 14:39 - 14:42
    e Lee Fry, que foi
    o engenheiro do projeto.
  • 14:42 - 14:45
    Temos esta fotografia pendurada
    no laboratório em lugar de honra
  • 14:45 - 14:49
    com a legenda: "Engenheiro a agradar
    a duas mulheres ao mesmo tempo".
  • 14:49 - 14:51
    Estávamos imensamente contentes.
  • 14:51 - 14:53
    Agora já tínhamos um sistema
  • 14:53 - 14:55
    que podíamos levar para qualquer sítio
  • 14:55 - 14:57
    que fosse como um oásis
    no fundo do oceano
  • 14:57 - 15:01
    que pudesse ser patrulhado
    por grandes predadores.
  • 15:01 - 15:03
    Assim, levámo-lo a um local
  • 15:03 - 15:05
    chamado Brine Pool,
  • 15:05 - 15:07
    que se situa na parte norte
    do Golfo do México.
  • 15:07 - 15:09
    É um sítio mágico.
  • 15:09 - 15:12
    Esta sequência não vai ser uma coisa
    como nunca viram
  • 15:12 - 15:14
    — tínhamos uma câmara medíocre
    nessa época —
  • 15:14 - 15:16
    mas eu fiquei extasiada.
  • 15:16 - 15:18
    Estávamos à beira da Brine Pool,
  • 15:18 - 15:20
    havia um peixe a nadar
    na direção da câmara.
  • 15:20 - 15:23
    Não estava perturbado
    com a nossa presença.
  • 15:23 - 15:25
    Eu tinha uma janela para o mar profundo.
  • 15:25 - 15:29
    Pela primeira vez, via o que
    os animais andavam ali a fazer
  • 15:29 - 15:32
    quando não estávamos a perturbá-los.
  • 15:32 - 15:34
    Quatro horas em observação,
  • 15:34 - 15:36
    tínhamos programado
    que a medusa eletrónica
  • 15:36 - 15:38
    iria aparecer pela primeira vez.
  • 15:38 - 15:41
    Oitenta e seis segundos
    depois de ela começar
  • 15:41 - 15:43
    com a sua exibição em girândola,
  • 15:43 - 15:45
    registámos isto:
  • 15:45 - 15:48
    Isto é uma lula, com mais
    de 1,80 m de comprimento.
  • 15:48 - 15:50
    É tão nova para a ciência
  • 15:50 - 15:53
    que não pode ser colocada
    em nenhuma família científica conhecida.
  • 15:53 - 15:56
    Eu não podia ter pedido
    melhor prova do conceito.
  • 15:56 - 15:59
    Com base nisso, voltei à Fundação
    Nacional de Ciências e disse:
  • 15:59 - 16:01
    "Isto é o que vamos descobrir".
  • 16:01 - 16:03
    Deram-me dinheiro suficiente
    para fazer as coisas
  • 16:03 - 16:07
    incluindo o aperfeiçoamento da primeira
    câmara para o mar profundo
  • 16:07 - 16:10
    que foi instalada no Canyon de Monterey
    no ano passado.
  • 16:10 - 16:12
    Agora, mais recentemente,
  • 16:12 - 16:14
    uma forma modular deste sistema,
  • 16:14 - 16:16
    uma forma muito mais móvel,
  • 16:16 - 16:18
    que é muito mais fácil de lançar
    e de recuperar,
  • 16:18 - 16:22
    que, segundo espero, pode ser
    usada nos "locais de esperança" de Sylvia
  • 16:22 - 16:25
    para ajudar a explorar
    e a proteger essas zonas
  • 16:25 - 16:27
    e, para mim, aprender mais
  • 16:27 - 16:30
    sobre a bioluminescência
    nesses "locais de esperança".
  • 16:30 - 16:33
    Uma das mensagens para levar para casa
  • 16:33 - 16:37
    é que ainda há muito
    a explorar nos oceanos.
  • 16:37 - 16:38
    Sylvia disse
  • 16:38 - 16:42
    que estamos a destruir os oceanos
    ainda antes de sabermos o que eles contêm
  • 16:42 - 16:43
    e tem razão.
  • 16:43 - 16:45
    Por isso, se alguma vez
    tiverem a oportunidade
  • 16:45 - 16:47
    de mergulhar num submersível,
  • 16:47 - 16:50
    digam sim — mil vezes sim —
  • 16:50 - 16:52
    e, por favor, apaguem as luzes.
  • 16:52 - 16:54
    Garanto que vão adorar.
  • 16:54 - 16:55
    Obrigada.
  • 16:55 - 16:58
    (Aplausos)
Title:
Vida cintilante num mundo submarino
Speaker:
Edith Widder
Description:

Cerca de 80 a 90% das criaturas do mundo submarino emitem luz — e pouco sabemos como e porquês. A especialista em bioluminescência, Edith Widder, explora este mundo luminoso, cintilante, mostrando imagens maravilhosas e uma visão sobre as profundezas desconhecidas do oceano.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:59

Portuguese subtitles

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