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Como mudar o mundo através da língua, enquanto estão sentados no vosso sofá | Aimee Ansari | TEDxYouth@Bath

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    Há cerca de um ano,
    vi uma criança morrer.
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    Estava a trabalhar no sul do Sudão,
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    para uma importante organização
    humanitária, envolvida na resposta
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    à crise humanitária
    provocada pela guerra civil.
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    A mãe da criança andou
    durante oito horas
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    — atravessando linhas da frente
  • 0:39 - 0:43
    conhecidas pela brutalidade
    e violência contra as mulheres —
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    para salvar a filha,
    que estava a morrer de fome.
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    Aceitámos a morte da criança
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    como consequência
    de uma guerra cruel e injusta,
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    mas não tinha de ser assim.
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    Aquela mãe tinha
    informação sobre nutrição
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    e sobre como alimentar os seus filhos.
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    Mas isso não a ajudou a salvar a bebé.
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    Em parte, isto não a ajudou
    a salvar a filha
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    porque ela não conseguia
    compreender as informações.
  • 1:15 - 1:17
    As informações estavam em árabe.
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    E embora ela falasse árabe,
    só compreendia realmente nuer,
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    e era analfabeta.
  • 1:25 - 1:29
    A organização para a qual trabalho,
    os Tradutores sem Fronteiras,
  • 1:29 - 1:32
    tem feito investigação
    sobre a compreensão da língua.
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    Uma das coisas que concluímos
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    é que, quando recebemos
    informação numa língua que falamos,
  • 1:40 - 1:44
    só compreendemos realmente
    cerca de 16%.
  • 1:45 - 1:48
    Olhem para a pessoa sentada
    ao vosso lado.
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    Imaginem que ela está a sangrar,
    talvez profusamente.
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    E eu dou-vos esta informação.
  • 2:00 - 2:03
    Só 16% está em inglês.
  • 2:04 - 2:08
    Esta informação vai ajudar-vos
    a estancar a hemorragia?
  • 2:10 - 2:12
    Se se tratasse de um ente querido,
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    este é o tipo de informação
    que quereriam para lhe salvar a vida?
  • 2:17 - 2:22
    Obviamente, é importante
    obter a informação certa na língua certa,
  • 2:23 - 2:24
    se quisermos ajudar a salvar vidas
  • 2:24 - 2:27
    e dar às pessoas a informação
    de que precisam.
  • 2:27 - 2:31
    Penso que há três questões cruciais
    que têm de ser abordadas
  • 2:31 - 2:34
    para que as pessoas obtenham
    a informação de que precisam
  • 2:34 - 2:37
    e que querem na sua língua.
  • 2:38 - 2:40
    Primeiro, a informação
    que é crucial para salvar vidas
  • 2:40 - 2:44
    tem de ser comunicada
    de forma eficaz, na língua local.
  • 2:45 - 2:48
    Segundo, as pessoas precisam
    de ter acesso à informação.
  • 2:49 - 2:55
    E terceiro, tendo acesso à informação,
    é preciso que consigam compreendê-la.
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    Vamos começar pelo primeiro.
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    A informação que é crucial
    para salvar dias
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    tem de ser comunicada
    de forma eficaz na língua local.
  • 3:05 - 3:10
    Sabemos que, quando falamos
    com alguém na sua língua,
  • 3:10 - 3:12
    isso cria uma ligação emocional,
  • 3:13 - 3:15
    cria uma sensação
    de confiança, de empatia.
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    Eis como funciona atualmente
    o sistema de assistência internacional:
  • 3:19 - 3:22
    uma pessoa comunica a informação,
  • 3:22 - 3:25
    geralmente, a um grupo local
    de trabalhadores humanitários.
  • 3:25 - 3:28
    Estes têm de traduzir a informação
    que têm na cabeça
  • 3:29 - 3:32
    e comunicá-la às pessoas
    que realmente precisam dela,
  • 3:32 - 3:34
    por vezes, dias depois.
  • 3:34 - 3:36
    E neste processo,
  • 3:36 - 3:40
    há informação
    que é perdida, esquecida,
  • 3:40 - 3:43
    mal interpretada e mal traduzida.
  • 3:43 - 3:46
    Isto sucede porque a informação
    que é crucial
  • 3:46 - 3:48
    não está disponível nas línguas locais,
  • 3:48 - 3:52
    e, quando está, costuma estar disponível
    por escrito e não oralmente
  • 3:52 - 3:56
    e muitas destas línguas
    são de base oral.
  • 3:56 - 3:59
    Vejam o exemplo da África Ocidental.
  • 3:59 - 4:02
    As línguas oficiais dos países
    da África Ocidental
  • 4:03 - 4:05
    são o inglês e o francês.
  • 4:06 - 4:08
    Quando a crise do Ébola eclodiu,
  • 4:08 - 4:12
    quase toda a informação de saúde
    estava em inglês e francês.
  • 4:12 - 4:19
    Mas 90% das pessoas da região
    não falam inglês nem francês,
  • 4:20 - 4:23
    não compreendem perfeitamente
    nenhuma destas línguas.
  • 4:23 - 4:30
    De facto, 48% das pessoas
    daquela região são analfabetas,
  • 4:30 - 4:33
    em qualquer uma das 90 línguas
    que lá se falam.
  • 4:35 - 4:40
    Só 13% das mulheres da Serra Leoa
    compreendem inglês na íntegra,
  • 4:40 - 4:43
    e a maioria delas
    vive nas áreas urbanas
  • 4:43 - 4:47
    e não nas áreas rurais, que foram
    as mais afetadas pelo Ébola.
  • 4:47 - 4:50
    Mesmo estando as pessoas
    a obter a informação,
  • 4:51 - 4:54
    não conseguiam
    percebê-la nem usá-la.
  • 4:55 - 4:59
    De facto, levou meses até os governos
    e trabalhadores humanitários locais
  • 4:59 - 5:04
    perceberem a importância
    de se obter a informação
  • 5:04 - 5:06
    na língua local.
  • 5:06 - 5:07
    E, quando perceberam,
  • 5:07 - 5:12
    quando começaram a traduzir
    a informação para a língua local
  • 5:13 - 5:16
    e a comunicá-la através
    de pósteres ou da rádio
  • 5:16 - 5:18
    nas línguas locais,
  • 5:18 - 5:23
    e a falar com os líderes locais
    e chefes tribais na língua local,
  • 5:23 - 5:26
    o curso da epidemia mudou.
  • 5:27 - 5:31
    E muitas das traduções
    foram feitas fora da região.
  • 5:31 - 5:36
    Foram tradutores de todo o mundo,
    sentados nos sofás de suas casas,
  • 5:36 - 5:39
    que traduziram mensagens-chave
    para as línguas locais
  • 5:39 - 5:41
    e que as enviaram de volta.
  • 5:41 - 5:45
    E as traduções para crises futuras
    podem acontecer no presente.
  • 5:46 - 5:48
    Se vocês aprenderem uma língua,
  • 5:48 - 5:52
    podem ajudar a começar
    a traduzir informação crucial.
  • 5:53 - 5:58
    Porque a língua importa,
    e importará em crises futuras.
  • 6:00 - 6:04
    Avancemos para o segundo ponto:
    fornecer informação às pessoas.
  • 6:05 - 6:07
    Como é que se obtém informação?
  • 6:08 - 6:10
    Eu, pelo menos,
    procuro-a no Google,
  • 6:10 - 6:13
    vou à Wikipédia,
    e recebo-a no Twitter ou Facebook.
  • 6:14 - 6:17
    Se forem russos, poderão
    ir ao "VK" ou ao "OK".
  • 6:17 - 6:20
    Se forem chineses, talvez
    usem o "Renren" ou "Weibo".
  • 6:20 - 6:23
    Só precisam
    de tecnologia muito simples
  • 6:24 - 6:26
    e de ter ligação à Internet.
  • 6:27 - 6:29
    E isto está a acontecer a nível mundial.
  • 6:29 - 6:32
    No Quénia, quase todas as pessoas
  • 6:32 - 6:36
    usam um sistema de transferência
    financeira que têm nos telefones.
  • 6:37 - 6:42
    Avós de 80 anos, semianalfabetas,
    a viver no interior do Quénia,
  • 6:42 - 6:46
    vendem bananas
    e aceitam o respetivo pagamento
  • 6:46 - 6:49
    através deste sistema
    de transferência financeira.
  • 6:49 - 6:52
    Quase todos os quenianos sabem isto.
  • 6:52 - 6:56
    Além disso,
    por cerca de 40 cêntimos por mês,
  • 6:56 - 6:58
    podem obter
    painéis de energia solar.
  • 6:59 - 7:00
    E, com estes painéis,
  • 7:00 - 7:02
    podem ter eletricidade em casa,
  • 7:02 - 7:06
    para carregar os telefones,
    e talvez ligar o rádio.
  • 7:08 - 7:10
    E quando se juntam
    estas pequenas coisas,
  • 7:10 - 7:12
    quando se tem eletricidade,
  • 7:12 - 7:15
    literacia tecnológica básica
    e de uma rede móvel,
  • 7:16 - 7:20
    a Internet vem a seguir
    e, com ela, toda a informação.
  • 7:22 - 7:25
    Fui informada por fontes de confiança
    de que, daqui a cerca de 20 anos,
  • 7:26 - 7:28
    quase toda a gente
    no planeta terá acesso
  • 7:28 - 7:31
    a seja lá o que for
    que a Internet se venha a tornar.
  • 7:32 - 7:34
    Avancemos para o terceiro ponto,
  • 7:34 - 7:37
    porque este é o mais difícil
    e o mais importante.
  • 7:38 - 7:41
    Quando as pessoas tiverem acesso
    a toda esta informação,
  • 7:41 - 7:43
    serão capazes de a compreender?
  • 7:44 - 7:46
    Como trabalhadora humanitária que sou,
  • 7:46 - 7:49
    penso constantemente
    nas pessoas que fui conhecendo
  • 7:49 - 7:53
    e nos desafios a nível de informação
    que representaram para mim.
  • 7:53 - 7:55
    Por exemplo, no Bangladexe,
  • 7:56 - 8:00
    a prostituta de 17 anos
    que queria informação
  • 8:00 - 8:03
    sobre doenças
    sexualmente transmissíveis
  • 8:03 - 8:07
    — confidencialmente — porque
    não queria ser vista a ir à clínica.
  • 8:08 - 8:10
    Ou, no Quirguistão,
  • 8:10 - 8:12
    a mulher que morava
    do outro lado do corredor,
  • 8:13 - 8:16
    cujo marido lhe batia
    e a atirava pelas escadas abaixo.
  • 8:16 - 8:20
    Ela queria saber onde havia
    um abrigo para mulheres
  • 8:20 - 8:22
    para onde pudesse ir
    com as filhas adolescentes
  • 8:22 - 8:26
    para se proteger deste homem violento.
  • 8:26 - 8:30
    Ou, no Leste do Chade,
    aquele líder tribal
  • 8:30 - 8:33
    que estava farto de ver
    jovens da sua aldeia
  • 8:33 - 8:36
    a morrer em batalhas vãs.
  • 8:36 - 8:41
    Queria informação
    sobre resolução pacífica de conflitos.
  • 8:44 - 8:48
    Se estas pessoas tivessem acesso
    a toda a informação existente,
  • 8:48 - 8:51
    ter-lhes-ia sido útil?
  • 8:52 - 8:53
    Não.
  • 8:53 - 8:55
    Porque quase toda a informação
  • 8:55 - 8:58
    está em inglês e francês
    e talvez em japonês e espanhol,
  • 8:58 - 9:01
    e nenhuma destas pessoas
    fala estas línguas.
  • 9:01 - 9:04
    E duas são analfabetas.
  • 9:04 - 9:07
    Então como é que ajudamos estas pessoas
  • 9:07 - 9:10
    a obter a informação
    de que precisam na sua língua?
  • 9:10 - 9:15
    Cerca de 94% da população mundial
    falam só 300 línguas.
  • 9:16 - 9:18
    Destas 300 línguas,
  • 9:18 - 9:22
    cerca de 100 já têm sistemas
    de tradução "online",
  • 9:22 - 9:24
    motores de tradução automática
  • 9:24 - 9:27
    como o Google Translator,
    o Microsoft Translator.
  • 9:27 - 9:29
    E, daqui a 20 anos,
  • 9:29 - 9:33
    estes motores de tradução automática
    serão de elevada qualidade.
  • 9:33 - 9:36
    Provavelmente não tão bons
    como tradutores humanos,
  • 9:36 - 9:39
    mas de boa qualidade, ainda assim.
  • 9:39 - 9:42
    Mas então e as outras 200 línguas?
  • 9:43 - 9:45
    Porque é com estas
    que nos preocupamos mesmo.
  • 9:45 - 9:48
    Estas são as línguas dos mais vulneráveis.
  • 9:48 - 9:51
    As pessoas que precisam
    mesmo de informação.
  • 9:52 - 9:55
    Se aprenderem
    uma destas 200 línguas,
  • 9:56 - 10:00
    poderão ajudar a desenvolver
  • 10:00 - 10:04
    e a aperfeiçoar continuamente
    os motores de tradução automática.
  • 10:05 - 10:07
    Isto está a acontecer.
  • 10:07 - 10:10
    O Facebook, por exemplo,
    anunciou operacionalidade em fula
  • 10:10 - 10:12
    há alguns meses.
  • 10:12 - 10:15
    O fula é uma língua falada
    em algumas das áreas da Guiné
  • 10:15 - 10:18
    mais afetadas pelo Ébola.
  • 10:20 - 10:22
    E vocês podem ajudar
    a fazer isto acontecer
  • 10:22 - 10:24
    sentados nos vossos sofás.
  • 10:25 - 10:27
    Também podem gravar dados de voz.
  • 10:28 - 10:30
    Peritos em tecnologia
    de todo o mundo
  • 10:30 - 10:33
    podem associar dados
    de texto a dados de voz.
  • 10:35 - 10:37
    E quando se consegue fazer isto
  • 10:37 - 10:41
    — passar dados escritos
    numa língua para voz noutra —
  • 10:41 - 10:46
    isso diminuirá as barreiras
    da iliteracia e da cegueira.
  • 10:48 - 10:49
    E se vocês aprenderem uma língua,
  • 10:50 - 10:53
    podem ajudar a fazer isto acontecer,
    sentados nos vossos sofás.
  • 10:53 - 10:55
    Alguns de vocês
    vão querer fazer as malas
  • 10:55 - 10:58
    e partir para um país
    em desenvolvimento.
  • 10:58 - 11:01
    Esta é a conta de Instagram
    da Barbie Salvadora,
  • 11:01 - 11:04
    também conhecida como Barbie
    Trabalhadora Humanitária.
  • 11:04 - 11:07
    A Barbie Trabalhadora Humanitária
    é o tipo de pessoa
  • 11:07 - 11:11
    que crê que pode ajudar
    pessoas em países em desenvolvimento
  • 11:11 - 11:15
    mesmo sem ter
    competências profissionais
  • 11:15 - 11:18
    que ainda não existam
    no país em questão
  • 11:18 - 11:20
    e apesar de não falar a língua.
  • 11:20 - 11:24
    Em vez disso,
    porque não aprender uma língua
  • 11:24 - 11:27
    e dar-lhe um bom uso?
  • 11:28 - 11:30
    Porque a língua é importante.
  • 11:30 - 11:32
    Independentemente do que façam,
    do que se tornem
  • 11:32 - 11:35
    ou do que decidam fazer
    com as vossas vidas,
  • 11:35 - 11:36
    se aprenderem uma língua,
  • 11:37 - 11:40
    poderão ajudar pessoas a obter
    a informação de que precisam.
  • 11:41 - 11:44
    Se as pessoas obtiverem a informação
    de que precisam e que querem,
  • 11:45 - 11:46
    quando a querem e dela precisam,
  • 11:46 - 11:49
    num formato em que a consigam compreender,
  • 11:49 - 11:51
    e, fundamentalmente, na sua língua,
  • 11:52 - 11:57
    isto colocá-las-á no centro da tomada
    de decisão nas suas vidas.
  • 11:57 - 11:59
    Isto vai dar-lhes poder.
  • 12:00 - 12:03
    Poder para fazer mudanças.
  • 12:04 - 12:07
    E quando as pessoas têm poder
    para fazer mudanças,
  • 12:07 - 12:11
    isso muda o mundo.
  • 12:12 - 12:13
    E se vocês aprenderem uma língua,
  • 12:13 - 12:17
    podem ajudar a fazer isto acontecer,
    sentados nos vossos sofás.
  • 12:17 - 12:18
    Obrigada.
  • 12:18 - 12:21
    (Aplausos)
Title:
Como mudar o mundo através da língua, enquanto estão sentados no vosso sofá | Aimee Ansari | TEDxYouth@Bath
Description:

Ultrapassar as barreiras da língua é incrivelmente importante mas, muitas vezes, é uma barreira negligenciada ao trabalhar e ajudar os outros. Aimee Ansari usa exemplos do seu trabalho com os Tradutores Sem Fronteiras para demonstrar a importância da comunicação.

Aimee Ansari é a Diretora Executiva dos Tradutores sem Fronteiras, e trabalhou em várias crises humanitárias, desde a guerra civil do Tajiquistão ao terramoto no Haiti, dos conflitos nos Balcãs à crise dos refugiados da Síria e ao conflito no Sul do Sudão.

Esta palestra foi realizada num evento TEDx, que usa o formato das conferências TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:24

Portuguese subtitles

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