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O caminho do "não" para o "sim"

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    O tema da negociação difícil
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    lembra-me uma das minhas histórias favoritas
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    do Médio Oriente.
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    Um homem deixou
    17 camelos aos seus três filhos.
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    Ao primeiro filho,
    deixou metade dos camelos.
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    Ao segundo filho,
    deixou um terço dos camelos;
  • 0:15 - 0:18
    e ao filho mais novo,
    deixou um nono dos camelos.
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    Os três filhos entraram em negociações.
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    Não se pode dividir 17 por 2.
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    Por 3 também não.
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    E por 9 também não.
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    As relações entre irmãos
    começaram a azedar.
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    Finalmente, desesperados,
    foram consultar uma velha sábia.
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    A velha sábia pensou no problema
    durante muito tempo
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    e finalmente disse:
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    "Não sei se vos consigo ajudar,
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    "mas, pelo menos, se quiserem,
    posso dar-vos o meu camelo."
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    Assim, eles ficaram com 18 camelos.
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    O primeiro filho levou a sua metade
    — metade de 18 é 9.
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    O segundo filho levou o seu terço
    — um terço de 18 é 6.
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    O filho mais novo levou a sua nona parte
    — um nono de 18 é 2.
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    Ao todo, 17.
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    Sobrou-lhes um camelo.
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    E devolveram o camelo à velha sábia.
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    (Risos)
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    Pensem nesta história por um momento.
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    Eu acho que se assemelha
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    a muitas das negociações difíceis
    em que nos envolvemos.
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    Começam com 17 camelos — sem solução.
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    De certa forma, o que precisamos de fazer
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    é afastar-nos dessas situações,
    como a velha sábia fez,
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    ver a situação com outros olhos
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    e arranjar o 18.º camelo.
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    Arranjar esse 18.º camelo
    nos conflitos mundais
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    tem sido a paixão da minha vida.
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    Eu vejo a Humanidade
    um pouco como aqueles três irmãos.
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    Somos todos uma família.
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    Sabemos que, cientificamente,
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    graças à revolução nas comunicações,
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    todas as tribos do planeta,
    todas as 15 000 tribos,
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    estão em contacto umas com as outras.
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    É uma grande reunião de família.
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    Apesar disso,
    como em muitas reuniões familiares,
  • 1:45 - 1:47
    não é só paz e luz.
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    Existem muitos conflitos.
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    E a questão é: Como é que lidamos
    com as nossas diferenças?
  • 1:52 - 1:54
    Com as nossas
    diferenças mais profundas,
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    tendo em conta que a humanidade
    é propensa ao conflito
  • 1:57 - 2:01
    e o génio humano a desenvolver
    armas de destruição maciça?
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    Essa é a questão.
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    Como passei grande parte
    das últimas três décadas
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    — quase quatro —
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    a viajar pelo mundo,
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    a tentar trabalhar,
    a envolver-me nos conflitos
  • 2:13 - 2:17
    desde a Jugoslávia ao Médio Oriente
  • 2:17 - 2:19
    à Chechénia e à Venezuela,
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    alguns dos conflitos
    mais difíceis à face da terra,
  • 2:21 - 2:24
    eu tenho colocado essa questão
    a mim próprio.
  • 2:24 - 2:26
    E acho que encontrei, de certo modo,
  • 2:26 - 2:28
    o segredo para a paz.
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    O segredo é surpreendentemente simples.
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    Não é fácil, mas é simples.
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    Nem sequer é uma coisa nova.
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    Talvez seja umas das nossas
    heranças mais antigas.
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    O segredo para a paz somos nós.
  • 2:41 - 2:44
    Somos nós, que agimos
    enquanto comunidade envolvente
  • 2:44 - 2:46
    em torno de qualquer conflito,
  • 2:46 - 2:48
    que podemos desempenhar
    um papel construtivo.
  • 2:48 - 2:51
    Vou contar-vos uma história, um exemplo.
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    Há uns 20 anos eu estava na África do Sul
  • 2:54 - 2:56
    a trabalhar com as partes de um conflito,
  • 2:56 - 2:58
    e tinha um mês extra.
  • 2:58 - 3:00
    Então passei algum tempo a viver
  • 3:00 - 3:02
    com vários grupos de bosquímanos San .
  • 3:02 - 3:06
    Tinha curiosidade sobre eles e sobre
    a forma como resolviam os conflitos.
  • 3:06 - 3:09
    Porque, afinal, desde que há memória,
  • 3:09 - 3:10
    eles são caçadores e recoletores
  • 3:10 - 3:13
    a viver praticamente
    como viviam os seus antepassados.
  • 3:13 - 3:15
    durante talvez 99%
    da história da humanidade.
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    Todos os homens têm setas envenenadas
    que usam para caçar
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    — completamente fatais.
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    Como é que eles lidam
    com as suas diferenças?
  • 3:22 - 3:24
    O que eu aprendi
  • 3:24 - 3:27
    foi que sempre que os ânimos se exaltam
    naquelas comunidades,
  • 3:27 - 3:30
    alguém esconde todas as setas venenosas
    nos arbustos,
  • 3:30 - 3:34
    depois toda a gente se senta
    numa roda como esta,
  • 3:34 - 3:37
    sentam-se, e falam, e falam.
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    Pode durar dois dias,
    três dias, quatro dias,
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    mas eles não descansam
  • 3:41 - 3:43
    enquanto não encontram a solução,
  • 3:43 - 3:45
    ou melhor, a reconciliação.
  • 3:45 - 3:47
    Se os ânimos continuarem exaltados,
  • 3:47 - 3:50
    enviam alguém para visitar parentes
  • 3:50 - 3:52
    como uma forma de se acalmarem.
  • 3:52 - 3:54
    Bem, penso que esse sistema
    é, provavelmente,
  • 3:54 - 3:56
    o sistema que nos manteve vivos até hoje,
  • 3:56 - 3:58
    dadas as nossas tendências humanas.
  • 3:59 - 4:02
    A esse sistema, chamo-lhe "terceiro lado".
  • 4:02 - 4:04
    Porque, se pensarem nisso,
  • 4:04 - 4:06
    normalmente quando pensamos em conflitos,
    quando os descrevemos,
  • 4:06 - 4:08
    há sempre dois lados.
  • 4:08 - 4:11
    São árabes contra israelitas,
    o trabalho contra a gestão,
  • 4:11 - 4:14
    maridos contra mulheres,
    republicanos contra democratas.
  • 4:14 - 4:16
    Mas aquilo que nem sempre vemos
  • 4:16 - 4:18
    é que há sempre um terceiro lado.
  • 4:18 - 4:20
    O terceiro lado do conflito somos nós,
  • 4:20 - 4:22
    é a comunidade circundante,
  • 4:22 - 4:25
    são os amigos, os aliados,
    os membros das famílias, os vizinhos.
  • 4:25 - 4:28
    Nós podemos ter um papel
    incrivelmente construtivo.
  • 4:28 - 4:30
    Talvez a maneira mais fundamental
  • 4:30 - 4:33
    em que o terceiro lado pode ajudar
  • 4:33 - 4:36
    seja relembrar as partes
    do que realmente está em jogo.
  • 4:36 - 4:39
    Pelas crianças, pela família,
  • 4:39 - 4:41
    pela comunidade, pelo futuro,
  • 4:41 - 4:44
    vamos parar de lutar por um momento
    e começar a falar.
  • 4:44 - 4:46
    Porque, a questão é,
  • 4:46 - 4:48
    quando estamos envolvidos em conflitos,
  • 4:48 - 4:50
    é muito fácil perder a perspetiva.
  • 4:50 - 4:53
    É muito fácil reagir.
  • 4:53 - 4:55
    Como seres humanos,
    somos máquinas de reação.
  • 4:55 - 4:57
    E como diz o ditado:
  • 4:57 - 4:59
    "Quando zangado, farás o melhor discurso
  • 4:59 - 5:01
    "de que te vais arrepender".
  • 5:01 - 5:03
    (Risos)
  • 5:03 - 5:05
    Assim o terceiro lado lembra-nos disso.
  • 5:05 - 5:08
    O terceiro lado ajuda-nos
    a "ir à varanda",
  • 5:08 - 5:11
    que é uma metáfora
    para um lugar de perspetiva,
  • 5:11 - 5:13
    onde podemos manter os olhos no prémio.
  • 5:13 - 5:16
    Vou contar-vos uma história
    da minha experiência em negociação.
  • 5:16 - 5:19
    Há uns anos, eu estava
    envolvido como facilitador
  • 5:19 - 5:22
    numas conversações bastante duras
  • 5:22 - 5:25
    entre os líderes da Rússia
    e os líderes da Chechénia.
  • 5:25 - 5:27
    Como sabem, estava a decorrer uma guerra.
  • 5:28 - 5:31
    Reunímo-nos em Haia,
    no Palácio da Paz,
  • 5:31 - 5:33
    na mesma sala onde estava a decorrer
  • 5:33 - 5:36
    o julgamento de crimes de guerra jugoslavos.
  • 5:36 - 5:39
    As conversações tiveram um começo agitado
  • 5:39 - 5:41
    quando o vice-presidente da Chechénia
  • 5:41 - 5:43
    começou por apontar para os russos e disse:
  • 5:43 - 5:45
    "Vocês deviam ficar aí mesmo
    nesses lugares,
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    "porque vão ser julgados
    por crimes de guerra."
  • 5:48 - 5:50
    Depois virou-se para mim e disse:
  • 5:50 - 5:51
    "Você é americano.
  • 5:51 - 5:54
    " Veja o que vocês americanos
    estão a fazer em Porto Rico."
  • 5:54 - 5:56
    O meu espírito começou a acelerar:
  • 5:56 - 5:58
    "Porto Rico? O que é que eu sei
    sobre Porto Rico?"
  • 5:58 - 6:00
    Comecei a reagir,
  • 6:00 - 6:03
    mas depois lembrei-me de "ir à varanda".
  • 6:03 - 6:05
    Quando ele parou,
    e toda a gente a olhar para mim,
  • 6:05 - 6:06
    à espera da minha resposta,
  • 6:06 - 6:10
    da perspectiva da varanda, agradeci-lhe
    a sua chamada de atenção e disse:
  • 6:10 - 6:12
    "Agradeço a sua crítica ao meu país,
  • 6:12 - 6:15
    "e entendo-a como um sinal
    de que estamos entre amigos
  • 6:15 - 6:18
    "e podemos falar abertamente entre nós.
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    "E não estamos aqui para falar
    sobre Porto Rico ou sobre o passado.
  • 6:21 - 6:24
    "Estamos aqui para ver se conseguimos
    encontrar uma forma
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    "de parar com o sofrimento e
    o derramamento de sangue na Chechénia."
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    As conversações voltaram ao seu trilho.
  • 6:29 - 6:31
    Este é o papel do terceiro lado,
  • 6:31 - 6:33
    é ajudar as partes a "ir para a varanda".
  • 6:34 - 6:36
    Agora vou levar-vos por um momento
  • 6:36 - 6:39
    àquilo que é amplamente considerado
    como o conflito mais difícil do mundo,
  • 6:39 - 6:41
    ou o conflito mais impossível.
  • 6:41 - 6:42
    É o Médio Oriente.
  • 6:42 - 6:45
    A questão é: "Onde está o terceiro lado?
  • 6:45 - 6:47
    "Como é que podemos ir para a varanda?"
  • 6:47 - 6:50
    Eu não tenho a pretensão
    de ter uma resposta
  • 6:50 - 6:52
    para o conflito do Médio Oriente,
  • 6:52 - 6:54
    mas acho que tenho um primeiro passo,
  • 6:54 - 6:56
    literalmente um primeiro passo,
  • 6:56 - 6:59
    uma coisa que todos podemos fazer
    como pessoas no terceiro lado.
  • 6:59 - 7:01
    Mas primeiro vou fazer-vos uma pergunta.
  • 7:01 - 7:04
    Quantos de vocês,
    nos últimos anos,
  • 7:04 - 7:08
    se preocupou com o Médio Oriente
  • 7:08 - 7:10
    e perguntou o que é que se podia fazer?
  • 7:10 - 7:12
    Só por curiosidade, quantos de vocês?
  • 7:12 - 7:14
    Ok, a grande maioria.
  • 7:15 - 7:17
    Apesar disso, está tão longe.
  • 7:17 - 7:19
    Porque é que prestamos tanta atenção
    a este conflito?
  • 7:19 - 7:21
    Será pelo número de mortes?
  • 7:21 - 7:23
    Morrem centenas de vezes mais pessoas
  • 7:23 - 7:26
    num conflito em África
    do que no Médio Oriente.
  • 7:26 - 7:28
    Não. É por causa da história,
  • 7:28 - 7:30
    porque nos sentimos
    pessoalmente envolvidos
  • 7:30 - 7:31
    nessa história.
  • 7:31 - 7:34
    Quer sejamos cristãos,
    muçulmanos ou judeus,
  • 7:34 - 7:36
    religiosos ou não-religiosos,
  • 7:36 - 7:38
    sentimos que temos
    um envolvimento pessoal.
  • 7:38 - 7:40
    As histórias interessam.
    Como antropólogo, sei disso.
  • 7:40 - 7:44
    As histórias são o que usamos
    para transmitir conhecimentos.
  • 7:44 - 7:45
    Dão sentido às nossas vidas.
  • 7:45 - 7:47
    É o que contamos aqui no TED,
    contamos histórias.
  • 7:47 - 7:49
    As histórias são a chave.
  • 7:49 - 7:51
    Por isso a minha questão é:
  • 7:52 - 7:56
    Sim, vamos tentar resolver
    as políticas lá no Médio Oriente,
  • 7:56 - 7:59
    mas vamos também
    dar uma vista de olhos na história.
  • 7:59 - 8:02
    Vamos tentar chegar à raíz do problema.
  • 8:02 - 8:04
    Vamos ver se podemos aplicar
    o terceiro lado nela.
  • 8:04 - 8:06
    O que é que isso quererá dizer?
    Qual é a história lá?
  • 8:06 - 8:08
    Os antropólogos sabem
  • 8:08 - 8:11
    que todas as culturas
    têm uma história na sua origem.
  • 8:11 - 8:14
    Qual é a história do Médio Oriente?
  • 8:14 - 8:15
    Numa frase, é esta:
  • 8:15 - 8:18
    Há 4000 anos, um homem e a sua família
  • 8:18 - 8:21
    atravessaram o Médio Oriente,
  • 8:21 - 8:23
    e o mundo nunca mais foi o mesmo.
  • 8:24 - 8:27
    Esse homem, claro, foi Abraão.
  • 8:28 - 8:31
    Ele defendeu a unidade,
    a unidade da família.
  • 8:31 - 8:33
    Ele é o pai de todos nós.
  • 8:33 - 8:36
    Mas não é só pelo que defendeu,
    é pela sua mensagem.
  • 8:36 - 8:38
    A sua mensagem básica
    também era a unidade,
  • 8:38 - 8:41
    a interligação de tudo isso
    e a unidade de tudo isso.
  • 8:41 - 8:45
    O seu valor de base era o respeito,
  • 8:45 - 8:47
    era a bondade para com estranhos.
  • 8:47 - 8:49
    Era por isso que ele era conhecido,
    pela sua hospitalidade.
  • 8:50 - 8:52
    Então, nesse sentido,
  • 8:52 - 8:56
    ele é um terceiro lado simbólico
    do Médio Oriente.
  • 8:56 - 8:58
    É ele que nos relembra
  • 8:58 - 9:00
    que todos fazemos parte de um todo maior.
  • 9:01 - 9:03
    Mas agora pensem um bocado.
  • 9:04 - 9:07
    Enfrentamos hoje o pesadelo do terrorismo.
  • 9:08 - 9:09
    O que é o terrorismo?
  • 9:09 - 9:12
    O terrorismo é pegar
    num desconhecido inocente
  • 9:12 - 9:15
    e tratá-lo como inimigo a quem se mata
  • 9:15 - 9:17
    para provocar o medo.
  • 9:18 - 9:20
    Qual é o oposto do terrorismo?
  • 9:20 - 9:22
    É pegarmos num desconhecido inocente
  • 9:22 - 9:24
    e tratá-lo como um amigo
  • 9:24 - 9:26
    a quem damos as boas vindas a nossa casa
  • 9:26 - 9:29
    para semear e criar compreensão,
  • 9:29 - 9:31
    ou respeito, ou amor.
  • 9:32 - 9:36
    Então, que tal agarrarmos
    na história de Abraão,
  • 9:36 - 9:38
    que é a história do terceiro lado?
  • 9:38 - 9:40
    E se isso pudesse ser
  • 9:40 - 9:43
    — porque Abraão significa hospitalidade —
  • 9:43 - 9:46
    e se isso pudesse ser um antídoto
    para o terrorismo?
  • 9:46 - 9:49
    E se isso pudesse ser uma vacina
  • 9:49 - 9:51
    contra a intolerância religiosa?
  • 9:51 - 9:53
    Como é que vocês podiam
    dar vida a essa história?
  • 9:53 - 9:55
    Não basta contar uma história.
  • 9:56 - 9:57
    Isso tem poder
  • 9:57 - 9:59
    mas as pessoas precisam
    de experimentá-la.
  • 9:59 - 10:02
    Precisam de poder viver a história.
    Como é que podem fazê-lo?
  • 10:02 - 10:05
    Foi esse o meu pensamento:
    "como fazê-lo?"
  • 10:05 - 10:07
    E é isso que vem como primeiro passo.
  • 10:07 - 10:09
    Porque a maneira simples de o fazer
  • 10:09 - 10:12
    é ir dar uma volta.
  • 10:12 - 10:15
    Vão dar uma volta pelos passos de Abraão.
  • 10:15 - 10:18
    Refaçam os passos de Abraão.
  • 10:18 - 10:21
    Porque caminhar tem um verdadeiro poder.
  • 10:21 - 10:25
    Como antropólogo, sei que
    caminhar foi o que nos tornou humanos.
  • 10:25 - 10:27
    É engraçado, quando caminhamos,
  • 10:27 - 10:29
    caminhamos lado a lado
  • 10:29 - 10:31
    na mesma direcção comum.
  • 10:31 - 10:34
    Se eu fosse ter com vocês, frente a frente
  • 10:34 - 10:36
    e chegasse assim tão perto de vocês,
  • 10:36 - 10:39
    vocês iriam sentir-se ameaçados.
  • 10:39 - 10:42
    Mas se eu caminhar ombro com ombro
  • 10:42 - 10:44
    mesmo que toque no vosso ombro,
  • 10:44 - 10:45
    não há problema.
  • 10:45 - 10:47
    Quem combate enquanto caminha?
  • 10:47 - 10:50
    É por isso que, quando as coisas
    ficam sérias, nas negociações.
  • 10:50 - 10:53
    as pessoas vão dar uma volta
    pela floresta.
  • 10:53 - 10:54
    Então ocorreu-me a ideia
  • 10:54 - 10:59
    do quão inspirador
    podia ser um caminho, uma direção
  • 10:59 - 11:02
    — pensem na rota de seda,
    pensem no trilho apalachiano —
  • 11:02 - 11:05
    que seguisse os passos de Abraão.
  • 11:06 - 11:08
    Houve pessoas que disseram:
    "É uma loucura.
  • 11:08 - 11:10
    "Não podes refazer os passos de Abraão.
  • 11:10 - 11:13
    "É demasiado perigoso.
    Tens de passar todas essas fronteiras.
  • 11:13 - 11:16
    "Passar por 10 países diferentes
    no Médio Oriente,
  • 11:16 - 11:17
    "porque os une a todos."
  • 11:17 - 11:19
    Então nós estudámos a ideia em Harvard.
  • 11:19 - 11:21
    Fizemos as devidas diligências.
  • 11:21 - 11:22
    E então, há uns anos, alguns de nós,
  • 11:22 - 11:25
    éramos cerca de 25
    de 10 países diferentes,
  • 11:25 - 11:27
    decidimos ver se podíamos refazer
    os passos de Abraão,
  • 11:27 - 11:30
    desde a sua cidade natal de Urfa,
    no sul da Turquia,
  • 11:30 - 11:33
    até ao norte da Mesopotâmia.
  • 11:33 - 11:35
    Apanhámos um autocarro, andámos a pé
  • 11:35 - 11:37
    e fomos para Harran,
  • 11:37 - 11:40
    onde, na Bíblia, ele começa a sua jornada.
  • 11:40 - 11:42
    Passámos a fronteira para a Síria,
    fomos a Aleppo,
  • 11:42 - 11:44
    cujo nome vem de Abraão.
  • 11:44 - 11:46
    Fomos a Damasco,
  • 11:46 - 11:49
    que tem uma longa história
    associada a Abraão.
  • 11:49 - 11:51
    Viemos depois para o norte da Jordânia,
  • 11:51 - 11:53
    para Jerusalém,
  • 11:53 - 11:56
    que tem tudo a ver com Abraão,
  • 11:56 - 11:59
    a Belém, e, finalmente, ao sítio
    onde ele está sepultado
  • 11:59 - 12:00
    em Hebron.
  • 12:00 - 12:03
    Portanto, fomos
    desde o berço até ao túmulo.
  • 12:03 - 12:05
    Mostrámos que era possível.
    Foi uma jornada magnífica.
  • 12:05 - 12:07
    Vou fazer-vos uma pergunta:
  • 12:07 - 12:09
    Quantos de vocês já tiveram a experiência
  • 12:09 - 12:11
    de estar num bairro desconhecido,
  • 12:11 - 12:14
    ou numa terra desconhecida,
  • 12:14 - 12:17
    e um desconhecido,
    um perfeito desconhecido,
  • 12:17 - 12:19
    se aproximar e mostrar a sua simpatia,
  • 12:19 - 12:22
    talvez convidando-vos para a sua casa,
    oferecer-vos uma bebida,
  • 12:22 - 12:24
    dar-vos um café, ou uma refeição?
  • 12:24 - 12:26
    Quem já teve essa experiência?
  • 12:26 - 12:29
    Essa é a essência do caminho de Abraão.
  • 12:29 - 12:31
    Vamos por essas aldeias no Médio Oriente
  • 12:31 - 12:33
    onde esperamos hostilidade,
  • 12:33 - 12:36
    e encontramos uma magnífica hospitalidade,
  • 12:36 - 12:38
    toda associada a Abraão.
  • 12:38 - 12:40
    "Em nome de Ibrahim,
  • 12:40 - 12:42
    "deixem-me oferecer-vos alguma comida."
  • 12:42 - 12:43
    Então o que descobrimos
  • 12:43 - 12:46
    é que Abraão não é só uma figura
    dos livros para aquela gente,
  • 12:46 - 12:49
    ele está vivo, ele é uma presença viva.
  • 12:49 - 12:51
    Para resumir,
  • 12:51 - 12:53
    de há uns anos para cá
  • 12:53 - 12:55
    milhares de pessoas
  • 12:55 - 12:58
    começaram a caminhar
    bocados do caminho de Abraão
  • 12:58 - 13:00
    no Médio Oriente,
  • 13:00 - 13:03
    aproveitando a hospitalidade
    das pessoas que lá se encontram.
  • 13:03 - 13:06
    Começaram a caminhar
    em Israel e na Palestina,
  • 13:06 - 13:09
    na Jordânia, na Turquia, na Síria.
  • 13:09 - 13:11
    É uma experiência magnífica.
  • 13:11 - 13:13
    Homens, mulheres, jovens, idosos...
  • 13:13 - 13:15
    mais mulheres que homens,
    curiosamente.
  • 13:15 - 13:17
    Para aqueles que não podem andar,
  • 13:17 - 13:20
    que não podem lá ir de momento,
  • 13:20 - 13:22
    as pessoas começaram
    a organizar caminhadas
  • 13:22 - 13:24
    nas suas cidades, nas suas comunidades.
  • 13:24 - 13:26
    Em Cincinnati,
    organizaram uma caminhada
  • 13:26 - 13:28
    desde uma igreja, uma mesquita,
    até a uma sinagoga
  • 13:28 - 13:30
    e todos uma refeição
    abraâmica juntos.
  • 13:30 - 13:32
    Foi o dia do caminho da Abraão.
  • 13:32 - 13:34
    Em S. Paulo, Brasil, começou
    a ser um evento anual
  • 13:34 - 13:37
    para uma corrida de milhares de pessoas,
    num caminho virtual de Abraão,
  • 13:37 - 13:40
    unindo as diferentes comunidades.
  • 13:40 - 13:42
    Os media adoram isso, adoram mesmo.
  • 13:42 - 13:46
    Dão-lhe muita atenção, porque é visual,
  • 13:46 - 13:50
    e espalha a ideia,
    essa ideia abraâmica de hospitalidade
  • 13:50 - 13:52
    de empatia para com estranhos.
  • 13:52 - 13:54
    E apenas há umas semanas
  • 13:54 - 13:57
    houve uma reportagem
    sobre isso, na NPR.
  • 13:57 - 14:01
    No mês passado,
    houve um artigo no Guardian,
  • 14:01 - 14:04
    no Manchester Guardian, sobre isso.
  • 14:04 - 14:06
    Duas páginas completas.
  • 14:06 - 14:10
    Citaram um aldeão que disse:
  • 14:10 - 14:13
    "Esta caminhada liga-nos ao mundo."
  • 14:13 - 14:15
    Disse que foi como uma luz
    que chegou à nossa vida.
  • 14:15 - 14:17
    Trouxe-nos esperança.
  • 14:17 - 14:20
    Este é o propósito de tudo isto.
  • 14:20 - 14:23
    Mas não é só sobre psicologia,
    é sobre economia,
  • 14:23 - 14:26
    porque as pessoas, à medida que caminham,
    gastam dinheiro.
  • 14:26 - 14:29
    Esta mulher, Um Ahmad,
  • 14:29 - 14:32
    é uma mulher que vive no caminho
    no norte da Jordânia.
  • 14:32 - 14:34
    É terrivelmente pobre.
  • 14:34 - 14:38
    É parcialmente cega,
    o marido não pode trabalhar,
  • 14:38 - 14:40
    tem 7 filhos.
  • 14:40 - 14:43
    A única coisa que pode fazer, é cozinhar.
  • 14:43 - 14:46
    Então, começou a cozinhar
    para grupos de caminheiros
  • 14:46 - 14:49
    que vêm pela aldeia,
    e comem uma refeição na sua casa.
  • 14:49 - 14:51
    Sentam-se no chão.
  • 14:51 - 14:52
    Ela não tem sequer uma toalha.
  • 14:52 - 14:54
    Faz uma comida deliciosa,
  • 14:54 - 14:57
    fresca, das ervas da terra vizinha.
  • 14:57 - 15:00
    Então apareceram
    cada vez mais caminheiros.
  • 15:00 - 15:02
    Ultimamente ela começou
    a ganhar dinheiro
  • 15:02 - 15:04
    para sustentar a família.
  • 15:04 - 15:06
    E disse à nossa equipa:
  • 15:06 - 15:09
    "Vocês tornaram-me visível
  • 15:09 - 15:12
    "numa aldeia onde as pessoas
    se envergonhavam
  • 15:12 - 15:13
    "de olhar para mim."
  • 15:14 - 15:16
    Este é o potencial do caminho de Abraão.
  • 15:16 - 15:19
    Há literalmente centenas
    desse tipo de comunidades
  • 15:19 - 15:22
    por todo o Médio Oriente, pelo caminho.
  • 15:22 - 15:25
    O potencial é basicamente
    o de mudar o jogo.
  • 15:25 - 15:28
    Para mudar o jogo,
    temos de mudar a estrutura,
  • 15:28 - 15:29
    a maneira como vemos as coisas.
  • 15:29 - 15:31
    Para mudar a estrutura
  • 15:31 - 15:34
    de hostilidade para hospitalidade,
  • 15:34 - 15:37
    de terrorismo para turismo.
  • 15:37 - 15:39
    Nesse sentido, o caminho de Abraão
  • 15:39 - 15:42
    veio alterar as regras do jogo.
  • 15:42 - 15:43
    Vou mostrar-vos uma coisa.
  • 15:43 - 15:45
    Tenho aqui uma bolota
  • 15:45 - 15:48
    que apanhei enquanto percorria o caminho,
  • 15:48 - 15:49
    no início deste ano.
  • 15:49 - 15:52
    A bolota é associada ao carvalho, claro.
  • 15:52 - 15:55
    Cresce e transforma-se num carvalho,
    que está associado a Abraão.
  • 15:55 - 15:57
    O caminho agora é como uma bolota,
  • 15:57 - 16:00
    ainda está numa fase prematura.
  • 16:00 - 16:01
    Como será o carvalho?
  • 16:01 - 16:03
    Penso na minha infância.
  • 16:03 - 16:06
    Depois de nascer aqui em Chicago,
  • 16:06 - 16:08
    passei uma boa parte dela na Europa.
  • 16:08 - 16:12
    Se vocês tivessem estado
    nas ruínas, por exemplo, de Londres
  • 16:12 - 16:14
    em 1945, ou Berlim,
  • 16:14 - 16:16
    e tivessem dito:
  • 16:16 - 16:18
    "Daqui a 60 anos,
  • 16:18 - 16:21
    "isto vai ser uma parte do planeta
    pacífica e próspera",
  • 16:21 - 16:24
    as pessoas pensariam que vocês
    estariam redondamente loucos.
  • 16:24 - 16:28
    Mas isso foi possível graças
    a uma identidade comum — a Europa —
  • 16:28 - 16:30
    e a uma economia comum.
  • 16:30 - 16:33
    A minha pergunta é:
    Se é possível fazê-lo na Europa,
  • 16:33 - 16:35
    porque não no Médio Oriente?
  • 16:35 - 16:38
    Porque não, graças
    a uma identidade comum
  • 16:38 - 16:40
    — que é a história de Abraão —
  • 16:40 - 16:42
    e graças a uma economia comum
  • 16:42 - 16:45
    que seria baseada
    em grande parte no turismo?
  • 16:45 - 16:47
    Vou concluir
  • 16:47 - 16:50
    dizendo, que nos últimos 35 anos,
  • 16:50 - 16:53
    em que trabalhei nalguns dos conflitos
  • 16:53 - 16:56
    mais perigosos, difíceis e irascíveis
    de todo o mundo,
  • 16:56 - 16:59
    ainda estou para ver um conflito
  • 16:59 - 17:02
    que eu sinta que não pode
    ser transformado.
  • 17:02 - 17:05
    Não é fácil, claro,
  • 17:05 - 17:06
    mas é possível.
  • 17:06 - 17:08
    Foi feito na África do Sul.
  • 17:08 - 17:10
    Foi feito na Irlanda do Norte.
  • 17:10 - 17:12
    Pode ser feito em qualquer lado.
  • 17:12 - 17:15
    Apenas depende de nós.
  • 17:15 - 17:17
    Depende de tomarmos o terceiro lado.
  • 17:17 - 17:19
    Por isso convido-vos
  • 17:19 - 17:22
    a considerarem pegar no terceiro lado,
  • 17:22 - 17:24
    mesmo sendo um passo muito pequeno.
  • 17:24 - 17:26
    Vamos fazer uma pausa daqui a pouco.
  • 17:26 - 17:28
    Dirijam-se a alguém
  • 17:28 - 17:30
    que seja duma cultura diferente,
    de um país diferente,
  • 17:30 - 17:33
    duma etnia diferente, alguma diferença,
  • 17:33 - 17:35
    e comecem uma conversa
    com essa pessoa, oiçam-na.
  • 17:35 - 17:38
    Essa é uma ação do terceiro lado.
  • 17:38 - 17:40
    Isso é percorrer o caminho de Abraão.
  • 17:40 - 17:41
    Depois duma conferência TED,
  • 17:41 - 17:43
    porque não uma caminhada TED?
  • 17:44 - 17:48
    Vou deixar-vos três coisas.
  • 17:48 - 17:53
    Uma é, o segredo da paz é o terceiro lado.
  • 17:53 - 17:57
    O terceiro lado somos nós, cada um de nós.
  • 17:57 - 17:59
    Com um único passo,
  • 17:59 - 18:04
    podemos trazer o mundo
    um passo mais perto da paz.
  • 18:05 - 18:08
    Há um antigo ditado africano que diz:
  • 18:08 - 18:12
    "Quando as teias de aranha se unem,
    até detêm um leão."
  • 18:13 - 18:15
    Se formos capazes de unir
  • 18:15 - 18:17
    as teias da paz do terceiro lado,
  • 18:17 - 18:20
    até podemos deter o leão da guerra.
  • 18:20 - 18:22
    Muito obrigado.
  • 18:22 - 18:24
    (Aplausos)
Title:
O caminho do "não" para o "sim"
Speaker:
William Ury
Description:

William Ury, autor de "Getting to Yes," oferece uma solução elegante, simples (mas não tão fácil) de chegar a entendimento mesmo nas situações mais difíceis — desde o conflito familiar a, por exemplo, o Médio Oriente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:24
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The walk from "no" to "yes"
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The walk from "no" to "yes"
David Rocha added a translation

Portuguese subtitles

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