ZEITGEIST: MOVING FORWARD | OFFICIAL RELEASE | 2011
-
0:04 - 0:08"Numa sociedade decadente, a arte,
-
0:08 - 0:14se verdadeira, deve também refletir essa decadência.
-
0:14 - 0:20E a menos que ela deseje trair sua função social,
-
0:20 - 0:25a arte deve mostrar o mundo como mutável.
-
0:25 - 0:29E ajudar a mudá-lo."
-
0:29 - 0:32-- Ernst Fischer
-
0:32 - 0:34Revoltas violentas contra o plano do governo
-
0:34 - 0:37para evitar calotes...
-
0:37 - 0:39É que o desemprego continua
-
0:39 - 0:41a aumentar e continuará assim
-
0:41 - 0:45porque há uma oferta excessiva de bens de consumo...
-
0:45 - 0:46São empréstimos...
-
0:46 - 0:50...e esta dívida está retida em bancos estrangeiros...
-
0:51 - 0:55D-I-N-H-E-I-R-O na forma de um conveniente empréstimo pessoal...
-
0:55 - 0:57...cigarro com filtro que não altera o sabor...
-
0:57 - 1:01Licor de malte "Colt 45"... Você é sexy?
-
1:01 - 1:04Os EUA planejam bombardear o Irã...
-
1:04 - 1:07...os EUA estão financiando ataques terroristas no Irã...
-
1:08 - 1:10Minha avó era uma pessoa maravilhosa.
-
1:10 - 1:14Ela me ensinou a jogar Banco Imobiliário.
-
1:14 - 1:18Ela entendia que o objetivo do jogo é comprar.
-
1:18 - 1:19Ela acumulava tudo o que podia
-
1:19 - 1:23e sempre acabava dominando o tabuleiro.
-
1:23 - 1:25E depois ela sempre me dizia a mesma coisa.
-
1:25 - 1:27Ela olhava para mim e dizia:
-
1:27 - 1:31"um dia você vai aprender a jogar o jogo".
-
1:31 - 1:34Num verão, eu joguei quase todos os dias, o dia inteiro
-
1:34 - 1:37e então aprendi a jogar o jogo.
-
1:37 - 1:40Compreendi que a única forma de ganhar
-
1:40 - 1:43é se comprometendo totalmente à aquisição.
-
1:43 - 1:45Aprendi que o dinheiro e as posses
-
1:45 - 1:48são as formas de continuar pontuando.
-
1:48 - 1:49Ao final daquele verão,
-
1:49 - 1:52tornei-me mais impiedoso que minha avó.
-
1:52 - 1:55Estava pronto para dobrar as regras para ganhar o jogo.
-
1:56 - 1:59Naquele outono, me sentei para jogar com ela.
-
1:59 - 2:02Tomei tudo que ela tinha. Eu a observei
-
2:02 - 2:04entregar seu último dólar e desistir em completa derrota.
-
2:06 - 2:11E então ela tinha algo a mais para me ensinar.
-
2:11 - 2:14Então ela disse:
-
2:14 - 2:17"agora tudo volta para a caixa.
-
2:20 - 2:23Todas aquelas casas e hotéis.
-
2:23 - 2:26Todas as ferrovias e utilidades públicas.
-
2:26 - 2:29Todas as propriedades e todo esse dinheiro maravilhoso.
-
2:30 - 2:33Agora tudo volta para a caixa.
-
2:35 - 2:37Nada disso era realmente seu.
-
2:38 - 2:41Você se empolgou muito com isso por um tempo.
-
2:42 - 2:45Mas tudo já estava aqui muito antes de você se sentar à mesa
-
2:46 - 2:50e continuará aqui depois de você ir embora -- jogadores vem e vão.
-
2:52 - 2:54Casas e carros...
-
2:55 - 2:57Títulos e roupas...
-
2:57 - 2:59até o seu corpo".
-
3:00 - 3:04Porque o fato é que tudo que eu pego, consumo e guardo
-
3:04 - 3:07voltará para a caixa e irei perder tudo.
-
3:08 - 3:10Então você precisa se perguntar
-
3:10 - 3:12quando finalmente receber a melhor promoção
-
3:12 - 3:14quando fizer a melhor compra
-
3:14 - 3:15quando comprar a melhor casa
-
3:15 - 3:17quando tiver segurança financeira
-
3:17 - 3:20e subido a escada do sucesso
-
3:20 - 3:23até o degrau mais alto que você pode alcançar...
-
3:23 - 3:26E a emoção acabar
-
3:26 - 3:28e ela vai acabar...
-
3:29 - 3:32e depois?
-
3:32 - 3:34Quão longe você precisa seguir nesta estrada
-
3:35 - 3:38até perceber aonde ela leva.
-
3:40 - 3:42Certamente você entende
-
3:42 - 3:44que nunca será o bastante.
-
3:46 - 3:48Portanto, você precisa se perguntar:
-
3:49 - 3:52o que importa?
-
4:49 - 4:50Eles são sexy!
-
4:52 - 4:54Eles são ricos!
-
4:56 - 4:58E eles são mimados!
-
5:03 - 5:05O programa nº 1 dos EUA está de volta!
-
5:31 - 5:38Gentle Machine Productions apresenta
-
5:43 - 5:51um filme de Peter Joseph
-
5:56 - 5:58Quando eu era um jovem
-
5:58 - 6:00crescendo na cidade de Nova Iorque
-
6:00 - 6:03me recusei a jurar lealdade à bandeira.
-
6:05 - 6:08Obviamente, fui mandado para a sala do diretor.
-
6:08 - 6:11E ele me perguntou: "por que não quer fazer o juramento?
-
6:11 - 6:13Todos fazem".
-
6:13 - 6:16Respondi que todos já acreditaram que a Terra era plana
-
6:16 - 6:18mas que isso não a tornava plana.
-
6:18 - 6:22Expliquei que os EUA deviam tudo o que tinham
-
6:22 - 6:23a outras culturas
-
6:23 - 6:25e outras nações
-
6:25 - 6:27e que eu preferiria fazer juramento
-
6:27 - 6:28à Terra
-
6:28 - 6:30e a todos os seus habitantes.
-
6:31 - 6:33Nem preciso dizer que não demorou
-
6:33 - 6:35para eu sair da escola completamente.
-
6:36 - 6:38Montei um laboratório em meu quarto.
-
6:39 - 6:41Lá comecei a aprender sobre ciência
-
6:41 - 6:42e natureza.
-
6:43 - 6:44Percebi, então,
-
6:44 - 6:46que o universo é regido por leis
-
6:46 - 6:48e que o ser humano,
-
6:48 - 6:50junto com a sociedade em si,
-
6:50 - 6:53não estava livre destas leis.
-
6:54 - 6:57Veio então a crise de 1929,
-
6:57 - 6:59que iniciou o que hoje chamamos de
-
6:59 - 7:00a "Grande Depressão".
-
7:01 - 7:04Eu achava difícil de entender porque milhões
-
7:04 - 7:07estavam desempregados, sem teto, passando fome
-
7:07 - 7:10enquanto todas as fábricas estavam lá paradas.
-
7:10 - 7:13Os recursos seguiam os mesmos.
-
7:13 - 7:15Foi então que percebi
-
7:15 - 7:18que as regras do jogo econômico
-
7:18 - 7:20eram inerentemente inválidas.
-
7:21 - 7:24Logo depois, veio a Segunda Guerra Mundial
-
7:24 - 7:27onde várias nações revezavam-se
-
7:27 - 7:30destruindo sistematicamente umas às outras.
-
7:30 - 7:33Eu depois calculei que toda a destruição
-
7:33 - 7:35e recursos desperdiçados
-
7:35 - 7:36naquela guerra
-
7:36 - 7:38poderiam ter facilmente satisfeito todas
-
7:38 - 7:42as necessidades da humanidade.
-
7:43 - 7:46Desde então, tenho observado a humanidade
-
7:46 - 7:50preparar a sua própria extinção.
-
7:50 - 7:53Vi os recursos preciosos e finitos
-
7:53 - 7:56serem continuamente desperdiçados e destruídos
-
7:56 - 8:00em nome do lucro e do livre mercado.
-
8:00 - 8:03Vi os valores da sociedade serem reduzidos
-
8:03 - 8:07a uma artificialidade baixa de materialismo
-
8:07 - 8:10e consumo irracional
-
8:10 - 8:13e vi o poder monetário
-
8:13 - 8:16controlar a estrutura política
-
8:16 - 8:18de sociedades supostamente livres.
-
8:20 - 8:22Hoje, tenho 94 anos
-
8:22 - 8:24e receio que minha postura
-
8:24 - 8:26seja a mesma
-
8:26 - 8:29de 75 anos atrás.
-
8:31 - 8:34Essa merda precisa acabar.
-
8:38 - 8:46ZEITGEIST
-
8:46 - 8:53ZEITGEIST: MOVING FORWARD
-
9:00 - 9:03"Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos
-
9:03 - 9:06prestativos e responsáveis possa mudar o mundo.
-
9:06 - 9:08Na verdade, é assim que tem acontecido sempre."
-
9:08 - 9:09-- Margaret Mead
-
9:10 - 9:13PARTE 1: NATUREZA HUMANA
-
9:13 - 9:16Então, você é um cientista
-
9:16 - 9:19e à certa altura, martelam na sua cabeça
-
9:19 - 9:23o inevitável "natureza versus criação"
-
9:23 - 9:25e que é mais ou menos como a disputa entre Coca e Pepsi
-
9:25 - 9:27ou Gregos versus Troianos.
-
9:27 - 9:31A "natureza versus criação" é, a esta altura
-
9:31 - 9:34uma visão completamente simplificada
-
9:34 - 9:36de onde as influências estão.
-
9:36 - 9:40Influências no modo como as células lidam com
-
9:40 - 9:42uma crise de energia ou até com
-
9:42 - 9:45o que nos molda nos níveis mais
-
9:45 - 9:48individuais de personalidade.
-
9:48 - 9:51Temos essa dicotomia completamente falsa
-
9:51 - 9:54construída em torno da "natureza humana"
-
9:54 - 9:57como determinante na base de toda a causalidade.
-
9:57 - 10:00A vida é DNA e o código dos códigos
-
10:00 - 10:04e o Santo Graal, e tudo é guiado por ele...
-
10:04 - 10:06e na outra extremidade, uma perspectiva
-
10:06 - 10:07muito mais sociocientífica onde
-
10:08 - 10:09somos "organismos sociais"
-
10:09 - 10:13e que biologia é para micetozoários.
-
10:13 - 10:16Os seres humanos não dependem da biologia
-
10:16 - 10:19e, obviamente, as duas visões são absurdas.
-
10:19 - 10:21Em vez disso, vemos que é
-
10:21 - 10:23praticamente impossível compreender
-
10:23 - 10:25como a biologia funciona
-
10:25 - 10:27fora do contexto ambiental.
-
10:28 - 10:30É GENÉTICO
-
10:30 - 10:34Uma das ideias mais frustrantes,
-
10:34 - 10:36ainda que difundida e
-
10:36 - 10:38potencialmente perigosa é:
-
10:38 - 10:42"ah, aquele comportamento é genético".
-
10:42 - 10:43O que isso significa?
-
10:43 - 10:46Significa todo tipo de sutileza se você
-
10:46 - 10:49sabe biologia moderna, mas para a maioria das
-
10:49 - 10:52pessoas, acaba significando
-
10:52 - 10:54uma visão determinista da vida,
-
10:54 - 10:57que têm suas raízes na biologia e na genética,
-
10:57 - 11:00em que genes representam coisas imutáveis
-
11:00 - 11:03e inevitáveis
-
11:03 - 11:06e que talvez não valha a pena
-
11:06 - 11:08gastar recursos tentando consertá-las,
-
11:08 - 11:11nem usar as forças da sociedade tentando
-
11:11 - 11:15melhorá-las, já que são inevitáveis e imutáveis...
-
11:15 - 11:18e isto é totalmente absurdo.
-
11:21 - 11:23DOENÇAS
-
11:24 - 11:27É amplamente aceito que doenças como
-
11:27 - 11:29TDAH são programadas geneticamente,
-
11:29 - 11:32assim como distúrbios como a esquizofrenia.
-
11:32 - 11:33A verdade é o oposto.
-
11:33 - 11:35Nada é programado geneticamente.
-
11:35 - 11:37Existem doenças raríssimas,
-
11:37 - 11:39muito poucas,
-
11:39 - 11:43representadas de forma muito dispersa na população
-
11:43 - 11:46que são mesmo determinadas geneticamente.
-
11:46 - 11:48A maioria das doenças complexas
-
11:48 - 11:52talvez tenha uma predisposição com um componente genético
-
11:52 - 11:56mas predisposição não é o mesmo que predeterminação.
-
11:56 - 12:00Toda a pesquisa sobre a causa das doenças no genoma
-
12:00 - 12:04estava condenada ao fracasso antes mesmo de alguém pensar nisto,
-
12:04 - 12:08porque a maior parte das doenças não é predeterminada geneticamente.
-
12:08 - 12:11Doenças cardíacas, câncer, derrames,
-
12:11 - 12:17reumatismo, doenças autoimunes em geral,
-
12:17 - 12:19distúrbios mentais, vícios...
-
12:19 - 12:21nada disto é geneticamente determinado.
-
12:21 - 12:26Por exemplo, a cada 100 mulheres com câncer de mama
-
12:26 - 12:28apenas sete carregam os genes de câncer.
-
12:28 - 12:3093 não.
-
12:30 - 12:33E de 100 mulheres que têm os genes
-
12:33 - 12:36nem todas terão câncer.
-
12:37 - 12:39COMPORTAMENTO
-
12:39 - 12:43Genes não são apenas coisas que fazem nos comportarmos
-
12:43 - 12:47de maneira específica independentemente do ambiente.
-
12:47 - 12:51Os genes nos proporcionam formas diferentes de reagir ao ambiente.
-
12:51 - 12:55E, na realidade, parece que algumas das primeiras
-
12:55 - 12:59influências na infância e o modo de criar os filhos
-
12:59 - 13:02afetam a expressão genética,
-
13:02 - 13:04ligando e desligando diferentes genes,
-
13:04 - 13:08para mudar nossa linha de desenvolvimento para uma
-
13:08 - 13:12que seja compatível com o tipo de mundo em que vivemos.
-
13:12 - 13:14Por exemplo:
-
13:14 - 13:18um estudo realizado em Montreal com vítimas de suicídio
-
13:18 - 13:21verificou as autopsias dos cérebros dessas pessoas
-
13:22 - 13:24e constatou-se que, se uma vítima de suicídio
-
13:24 - 13:26-- geralmente adultos jovens --
-
13:26 - 13:30tivesse sofrido abuso quando criança, esse abuso
-
13:30 - 13:33teria provocado uma mudança genética no cérebro
-
13:33 - 13:37inexistente nos cérebros de pessoas que não sofreram abusos.
-
13:37 - 13:39Isso é um efeito epigenético.
-
13:39 - 13:42"Epi" significa no "topo de", portanto,
-
13:42 - 13:45influência epigenética é o que acontece
-
13:45 - 13:51no ambiente e que ativa ou desativa certos genes.
-
13:51 - 13:54Na Nova Zelândia, realizou-se um estudo
-
13:54 - 13:56numa cidade chamada Dunedin
-
13:56 - 14:01envolvendo alguns milhares de indivíduos,
-
14:01 - 14:05do nascimento aos 20 anos de idade.
-
14:06 - 14:11Eles descobriram que conseguiam identificar
-
14:11 - 14:15uma mutação genética, um gene anormal
-
14:15 - 14:18que tinha alguma relação com
-
14:18 - 14:21a predisposição à violência,
-
14:21 - 14:25mas somente se o indivíduo também tivesse
-
14:25 - 14:29sido severamente abusado na infância.
-
14:29 - 14:32Em outras palavras, uma criança com este gene anormal
-
14:32 - 14:34não está mais propensa que as outras a ser violenta
-
14:34 - 14:37e, na realidade, elas tinham um índice de violência menor
-
14:37 - 14:39que o de pessoas com genes normais,
-
14:39 - 14:42contanto que não fossem abusadas na infância.
-
14:43 - 14:45Mais um grande exemplo das formas
-
14:45 - 14:47em que os genes não são uma coisa definitiva:
-
14:47 - 14:50uma técnica curiosa, na qual você pode
-
14:50 - 14:52retirar um gene específico de um camundongo,
-
14:52 - 14:55de modo que ele e seus descendentes não tenham mais esse gene.
-
14:55 - 14:56Você "extinguiu" aquele gene.
-
14:56 - 14:58Existe um gene responsável pela codificação
-
14:58 - 15:00de uma proteína relacionada
-
15:00 - 15:04à aprendizagem e à memória e, com esta incrível demonstração,
-
15:04 - 15:06você "extingue" o gene e o seu
-
15:06 - 15:08camundongo já não conseguirá mais aprender.
-
15:08 - 15:10"Oh! Uma base genética para a inteligência!"
-
15:10 - 15:14O que foi ainda mais desprezado neste memorável estudo
-
15:14 - 15:16que foi divulgado pela mídia por toda parte,
-
15:16 - 15:20é pegar os camundongos geneticamente deficientes
-
15:20 - 15:22e criá-los num ambiente muito mais rico
-
15:22 - 15:25e estimulante que uma gaiola comum de laboratório,
-
15:25 - 15:28onde eles superam completamente essa deficiência.
-
15:28 - 15:32Portanto, quando alguém diz, num sentido atual
-
15:32 - 15:35"ah, este comportamento é genético",
-
15:35 - 15:39considerando que essa frase seja mesmo válida,
-
15:39 - 15:41quer dizer que existe uma
-
15:41 - 15:44contribuição genética de como este
-
15:44 - 15:46organismo reage ao ambiente;
-
15:46 - 15:49os genes podem influenciar a
-
15:49 - 15:51prontidão com que cada organismo
-
15:51 - 15:53lidará com dado desafio do ambiente.
-
15:53 - 15:57Não é esta a versão que a maioria das pessoas tem em mente
-
15:57 - 16:00e não quero fazer um "discurso extravagante",
-
16:00 - 16:02mas aceite a velha
-
16:02 - 16:04versão de "isto é genético"
-
16:04 - 16:07e não estará muito longe da história da eugenia
-
16:07 - 16:09e coisas do tipo.
-
16:09 - 16:11É um equívoco muito disseminado
-
16:11 - 16:14e potencialmente perigoso.
-
16:14 - 16:17Um motivo pelo qual
-
16:17 - 16:21a explicação biológica para a violência...
-
16:21 - 16:23Um motivo pelo qual essa hipótese é
-
16:23 - 16:26perigosa, não apenas equivocada,
-
16:26 - 16:28ela realmente pode ser prejudicial...
-
16:28 - 16:31é que se você acredita mesmo nisso,
-
16:31 - 16:33pode facilmente dizer:
-
16:33 - 16:35"bem, não há nada que possamos fazer
-
16:35 - 16:37para mudar a predisposição
-
16:37 - 16:40que as pessoas têm em se tornar violentas.
-
16:40 - 16:44Tudo o que podemos fazer é puni-las, prendê-las
-
16:44 - 16:46ou executá-las.
-
16:46 - 16:49Mas não precisamos nos preocupar em mudar
-
16:49 - 16:53o ambiente ou as condições sociais prévias
-
16:53 - 16:56que podem tornar as pessoas violentas porque
-
16:56 - 16:58isso é irrelevante".
-
16:58 - 17:03A explicação genética nos dá o luxo de ignorar
-
17:03 - 17:06o passado e o presente de fatores históricos e sociais
-
17:06 - 17:08e, como disse Louis Menand,
-
17:08 - 17:10que escreveu na revista The New Yorker
-
17:10 - 17:12de forma muito perspicaz:
-
17:12 - 17:16"'está tudo nos genes' é uma explicação para nossa condição atual
-
17:16 - 17:18que não ameaça nossa condição atual.
-
17:18 - 17:20Por que alguém deveria se sentir triste
-
17:21 - 17:23ou praticar um comportamento antissocial
-
17:23 - 17:25quando vive na nação mais
-
17:25 - 17:29livre e próspera da face da Terra?
-
17:29 - 17:31Não pode ser o sistema.
-
17:31 - 17:33Deve haver uma falha interna em algum lugar".
-
17:34 - 17:36O que é uma boa maneira de transmitir a ideia.
-
17:36 - 17:39Portanto, o argumento genético é só um pretexto
-
17:39 - 17:41para ignorar os fatores
-
17:41 - 17:45sociais, econômicos e políticos
-
17:45 - 17:48que estão por trás de
-
17:48 - 17:51muitos comportamentos problemáticos.
-
17:53 - 17:55ESTUDO DE CASO: VÍCIOS
-
17:56 - 17:58Vícios são geralmente
-
17:58 - 18:00considerados uma questão relacionada às drogas.
-
18:00 - 18:02Mas olhando de maneira mais ampla,
-
18:02 - 18:04eu defino vício como qualquer comportamento
-
18:04 - 18:07que esteja associado à ânsia
-
18:07 - 18:09por um alívio temporário,
-
18:09 - 18:12com consequências negativas a longo prazo,
-
18:12 - 18:15junto com a perda do controle sobre isso, de modo que a pessoa
-
18:15 - 18:18quer largar ou promete fazê-lo,
-
18:18 - 18:21mas não consegue.
-
18:21 - 18:23Quando você compreende isso, nota que
-
18:23 - 18:24há muito mais vícios
-
18:24 - 18:26que os relacionados às drogas.
-
18:26 - 18:29Há o vício em trabalhar; em comprar;
-
18:29 - 18:31o vício em internet, em jogos eletrônicos...
-
18:31 - 18:33Há o vício no poder. Pessoas que têm poder mas que
-
18:33 - 18:36desejam mais e mais; nada nunca é suficiente para elas.
-
18:36 - 18:40Na aquisição: corporações que precisam possuir mais e mais.
-
18:40 - 18:42O vício no petróleo
-
18:42 - 18:45ou pelo menos na riqueza e nos produtos
-
18:45 - 18:47que nos são acessíveis pelo petróleo.
-
18:47 - 18:50Olhe para as consequências negativas no meio ambiente.
-
18:50 - 18:53Nós estamos destruindo nosso
-
18:53 - 18:55planeta por causa desse vício.
-
18:55 - 18:57Esses vícios são muito mais
-
18:57 - 18:59devastadores em suas consequências sociais
-
18:59 - 19:04que o uso de cocaína ou heroína de meus pacientes em Downtown Eastside.
-
19:04 - 19:08Ainda assim, eles são recompensados e considerados respeitáveis.
-
19:08 - 19:11O executivo da empresa de tabaco que mostra lucros mais altos,
-
19:11 - 19:14irá receber uma recompensa muito maior.
-
19:15 - 19:19Ele não enfrenta nenhuma consequência negativa legal ou de outros tipos.
-
19:19 - 19:22Na verdade, ele é um membro respeitado da
-
19:22 - 19:24diretoria de várias outras corporações.
-
19:24 - 19:27Porém, doenças relacionadas ao fumo
-
19:27 - 19:31matam 5 milhões e meio de pessoas ao redor do mundo a cada ano.
-
19:31 - 19:35Nos EUA, matam 400 mil por ano.
-
19:36 - 19:38E essas pessoas são viciadas em que? Em lucro.
-
19:38 - 19:40Viciadas a tal ponto
-
19:40 - 19:42que se recusam a reconhecer
-
19:42 - 19:44os impactos de suas atividades,
-
19:44 - 19:48o que é típico de viciados: a negação.
-
19:48 - 19:50Esse vício é respeitável. É respeitável
-
19:50 - 19:53ser viciado no lucro a todo custo.
-
19:53 - 19:56Portanto, o que é aceitável e respeitável
-
19:56 - 19:59na nossa sociedade são coisas altamente arbitrárias
-
19:59 - 20:01e parece que quanto maior
-
20:01 - 20:03o dano, mais respeitável é o vício.
-
20:06 - 20:08O MITO
-
20:08 - 20:11Há um mito comum de que as drogas em si são viciantes.
-
20:11 - 20:14Na verdade, a guerra contra as drogas se baseia na
-
20:14 - 20:16ideia de que proibindo a fonte
-
20:16 - 20:18das drogas, você poderá lidar com a dependência.
-
20:18 - 20:22Se considerarmos o vício no sentido mais amplo
-
20:22 - 20:24veremos que nada é viciante em si.
-
20:24 - 20:27Nenhuma substância, nenhuma droga é por si só viciante
-
20:27 - 20:29e nenhum comportamento é por si só, viciante.
-
20:29 - 20:32Muitas pessoas podem fazer compras sem se tornar viciadas em compras.
-
20:32 - 20:34Nem todo mundo se torna um viciado em comida.
-
20:34 - 20:37Nem todo mundo que bebe um copo de vinho torna-se alcoólatra.
-
20:37 - 20:40Então, a questão real é o que torna as pessoas suscetíveis
-
20:40 - 20:44porque é a combinação de um indivíduo suscetível
-
20:44 - 20:47com as substâncias ou comportamentos potencialmente viciantes,
-
20:47 - 20:52que contribuem para o pleno desenvolvimento da dependência.
-
20:52 - 20:55Em suma, não é a droga que vicia
-
20:55 - 20:57e sim a questão da suscetibilidade do indivíduo
-
20:57 - 21:01em ser viciado em dada substância ou comportamento.
-
21:01 - 21:02AMBIENTE
-
21:03 - 21:04Se quisermos entender o que
-
21:04 - 21:06torna algumas pessoas suscetíveis,
-
21:06 - 21:09teremos de considerar a experiência de vida.
-
21:09 - 21:14A velha ideia -- antiga mas ainda
-
21:14 - 21:17amplamente aceita -- de que os vícios devem-se a uma causa genética,
-
21:17 - 21:20é cientificamente insustentável.
-
21:21 - 21:24Na realidade, são certas experiências de vida
-
21:24 - 21:26que tornam as pessoas suscetíveis.
-
21:26 - 21:30As experiências de vida não só moldam a personalidade
-
21:30 - 21:33da pessoa e suas necessidades psicológicas,
-
21:33 - 21:36como também seu cérebro de maneiras específicas.
-
21:36 - 21:39Esse processo começa no útero.
-
21:41 - 21:43PRÉ-NATAL
-
21:43 - 21:45Foi demonstrado, por exemplo,
-
21:45 - 21:48que se uma mãe sofrer estresse durante a gravidez,
-
21:49 - 21:50seus filhos terão maiores chances de adquirir
-
21:50 - 21:53características que os tornarão propensos a vícios.
-
21:53 - 21:55Isso ocorre porque seu desenvolvimento é moldado
-
21:55 - 21:57pelo ambiente psicológico e social.
-
21:57 - 22:02Portanto, a biologia dos seres humanos é muito afetada
-
22:02 - 22:07e programada pelas experiências de vida desde o útero.
-
22:07 - 22:09O ambiente não começa no nascimento.
-
22:09 - 22:11O ambiente começa logo que você tem um ambiente.
-
22:11 - 22:15Assim que você é um feto, está sujeito a qualquer
-
22:15 - 22:18informação que vier através do sistema circulatório da mãe.
-
22:18 - 22:19Hormônios, níveis de nutrientes...
-
22:19 - 22:22Um memorável exemplo disto é
-
22:22 - 22:24a chamada "Fome Holandesa de 1944".
-
22:24 - 22:28Em 1944, os nazistas ocuparam a Holanda
-
22:28 - 22:30e, por vários motivos, decidiram
-
22:30 - 22:32pegar toda a comida e enviar para a Alemanha.
-
22:32 - 22:35Por três meses, o povo de lá ficou faminto
-
22:35 - 22:37e dezenas de milhares de pessoas morreram de fome.
-
22:37 - 22:39O efeito da "Fome Holandesa" é:
-
22:39 - 22:44se você fosse um feto no segundo ou terceiro trimestre durante a fome,
-
22:44 - 22:48seu corpo "aprenderia" algo único nesse período.
-
22:48 - 22:51Ocorre que é no segundo e terceiro trimestre que seu corpo está
-
22:51 - 22:54tentando aprender sobre o ambiente.
-
22:54 - 22:57O quão ameaçador é lá fora?
-
22:57 - 23:00O quão abundante? Quantos nutrientes estou recebendo
-
23:00 - 23:02pela circulação de minha mãe?
-
23:02 - 23:07Seja um feto faminto durante esse período e seu corpo
-
23:07 - 23:09será programado para ser sempre
-
23:09 - 23:14muito mesquinho com os açúcares e gorduras
-
23:14 - 23:16e você acabará armazenando cada porção deles.
-
23:16 - 23:20Seja um feto da "Fome Holandesa" e meio século depois,
-
23:20 - 23:22com todo o resto igual,
-
23:22 - 23:25você será mais propenso a ter pressão alta,
-
23:25 - 23:27obesidade ou síndrome metabólica.
-
23:27 - 23:31É o ambiente agindo num local inesperado.
-
23:31 - 23:34Você pode estressar fêmeas grávidas em laboratório
-
23:34 - 23:36e sua prole terá uma tendência
-
23:36 - 23:38maior a usar cocaína e álcool, quando adultos.
-
23:38 - 23:42Você pode estressar grávidas. Por exemplo, um estudo britânico,
-
23:42 - 23:45mostra que mulheres abusadas na gravidez
-
23:45 - 23:47têm um nível maior
-
23:47 - 23:50do hormônio cortisol em suas placentas durante o parto
-
23:50 - 23:52e seus filhos são mais propensos a condições que
-
23:52 - 23:56os tornarão predispostos a vícios por volta dos 7, 8 anos.
-
23:56 - 23:59Assim, no útero, o estresse já prepara o terreno
-
23:59 - 24:01para todo tipo de problemas de saúde mental.
-
24:01 - 24:04Um estudo israelense realizado em crianças
-
24:04 - 24:07nascidas de mães que estavam grávidas
-
24:07 - 24:12antes do início da guerra em 1967...
-
24:12 - 24:14Estas mulheres, claro, estavam muito estressadas
-
24:14 - 24:17e seus filhos tiveram uma maior incidência de esquizofrenia
-
24:17 - 24:19em relação ao grupo médio.
-
24:19 - 24:22Portanto, hoje há bastante evidência de que os efeitos
-
24:22 - 24:26do pré-natal têm um enorme impacto no desenvolvimento humano.
-
24:28 - 24:30INFÂNCIA
-
24:30 - 24:32O detalhe do desenvolvimento humano
-
24:32 - 24:33particularmente do desenvolvimento do cérebro humano
-
24:33 - 24:35é que este ocorre na maior parte sob o impacto do ambiente
-
24:35 - 24:37e após o nascimento.
-
24:37 - 24:40Ao nos compararmos ao cavalo
-
24:40 - 24:42que consegue correr no primeiro dia de vida
-
24:42 - 24:46vemos que somos pouco desenvolvidos.
-
24:46 - 24:50Não conseguimos reunir tanta coordenação neurológica,
-
24:50 - 24:52equilíbrio, força muscular e acuidade visual
-
24:52 - 24:54até um ano e meio ou dois de idade.
-
24:54 - 24:57Isto porque o desenvolvimento do cérebro no cavalo
-
24:57 - 24:59acontece na segurança do útero.
-
24:59 - 25:02Já no homem, precisa ocorrer depois do nascimento.
-
25:02 - 25:04Isso tem a ver com uma simples lógica evolucionária.
-
25:04 - 25:09Conforme a cabeça cresce, que é o que nos faz humanos
-
25:09 - 25:11-- o desenvolvimento do cérebro anterior é
-
25:11 - 25:14o que cria a espécie humana, na prática --
-
25:14 - 25:17ao mesmo tempo, andamos sobre duas pernas, fazendo a pélvis
-
25:17 - 25:18se estreitar para se adaptar a isso. Ficamos então com
-
25:18 - 25:21uma pélvis mais estreita, uma cabeça maior
-
25:21 - 25:23e bingo: precisamos nascer prematuramente.
-
25:23 - 25:25E isso significa que o desenvolvimento do cérebro, que em outros
-
25:25 - 25:26animais ocorre no útero,
-
25:26 - 25:29ocorre em nós depois do nascimento
-
25:29 - 25:31e em grande parte sob o impacto do ambiente.
-
25:31 - 25:35O conceito de darwinismo neural significa
-
25:35 - 25:38que os circuitos que recebem do meio a informação apropriada
-
25:38 - 25:41vão se desenvolver da melhor forma, e os que não recebem,
-
25:41 - 25:44ou se desenvolverão mal, ou nem mesmo se desenvolverão.
-
25:44 - 25:47Se você pegar um bebê com olhos perfeitamente funcionais
-
25:47 - 25:49e colocá-lo num quarto escuro por cinco anos,
-
25:49 - 25:52ele ficará cego pelo resto da vida,
-
25:52 - 25:55já que os circuitos da visão requerem luz para se desenvolver,
-
25:55 - 25:58e sem esta luz, até mesmo os circuitos básicos
-
25:58 - 26:00presentes e ativos no nascimento
-
26:00 - 26:04vão se atrofiar e morrer, e novos circuitos não se formarão.
-
26:06 - 26:08MEMÓRIA
-
26:08 - 26:11Há uma maneira significativa pela qual
-
26:11 - 26:15experiências na infância influenciam o comportamento adulto,
-
26:16 - 26:18até mesmo, e particularmente, as primeiras
-
26:18 - 26:22experiências, das quais não há recordações.
-
26:22 - 26:24Ocorre que há dois tipos de memória:
-
26:24 - 26:27a memória explícita, que é a recordação,
-
26:27 - 26:30pela qual você se recorda de fatos,
-
26:30 - 26:32detalhes, episódios e circunstâncias.
-
26:33 - 26:35Mas a estrutura cerebral chamada hipocampo,
-
26:35 - 26:37que codifica as lembranças,
-
26:37 - 26:40não começa a se desenvolver antes de um ano e meio
-
26:40 - 26:42e não se desenvolve por completo até muito depois.
-
26:42 - 26:45É por esta razão que quase ninguém possui
-
26:45 - 26:47nenhuma recordação de antes dos 18 meses.
-
26:47 - 26:48Mas há um outro tipo de memória,
-
26:48 - 26:50chamada memória implícita,
-
26:50 - 26:53que na verdade é uma memória emocional,
-
26:53 - 26:57na qual o impacto emocional e a interpretação da criança
-
26:57 - 27:00das experiências emocionais é impregnada no cérebro
-
27:00 - 27:02na forma de circuitos nervosos prontos para disparar
-
27:02 - 27:03sem uma recordação específica.
-
27:03 - 27:05Um exemplo claro disso:
-
27:05 - 27:07pessoas que foram adotadas, muitas vezes
-
27:07 - 27:10sentem por toda a vida um sentimento de rejeição.
-
27:10 - 27:11Elas não se recordam da adoção.
-
27:11 - 27:13Elas não se recordam da separação da mãe biológica
-
27:13 - 27:15porque não há o que recordar.
-
27:15 - 27:19Mas a memória emocional de separação e rejeição
-
27:19 - 27:21está profundamente enraizada em seus cérebros.
-
27:21 - 27:22Assim, elas são muito mais propensas
-
27:22 - 27:24a experimentar um sentimento de rejeição
-
27:24 - 27:27e uma grande perturbação emocional
-
27:27 - 27:29quando se veem rejeitadas,
-
27:29 - 27:30do que as outras pessoas.
-
27:30 - 27:32E isso não vale só para pessoas
-
27:32 - 27:34adotadas, mas tem um efeito mais forte nelas
-
27:34 - 27:36por causa desta função da memória implícita.
-
27:36 - 27:39Com base em toda a literatura e na minha
-
27:39 - 27:43experiência, os dependentes mais compulsivos
-
27:43 - 27:47são aqueles que foram consideravelmente
-
27:47 - 27:49abusados quando crianças
-
27:49 - 27:52ou sofreram perdas emocionais graves.
-
27:52 - 27:54Suas memórias emocionais ou implícitas
-
27:54 - 27:56são aquelas de um mundo inseguro
-
27:56 - 28:00e não favorável, de cuidadores nos quais não podiam confiar
-
28:01 - 28:03e relacionamentos inseguros
-
28:03 - 28:06demais para se abrirem totalmente a eles
-
28:06 - 28:08e, portanto, suas reações tendem
-
28:08 - 28:10a ser as de se manterem distantes
-
28:10 - 28:12de relacionamentos muito íntimos;
-
28:12 - 28:14não confiam em cuidadores,
-
28:14 - 28:17médicos e outras pessoas que tentam ajudá-los
-
28:17 - 28:20e geralmente veem o mundo como um lugar inseguro...
-
28:20 - 28:25e isso é precisamente uma função da memória implícita
-
28:25 - 28:29o que às vezes tem a ver com incidentes que eles sequer lembram.
-
28:32 - 28:34TOQUE
-
28:34 - 28:37Bebês que nascem prematuros ou muitas vezes em incubadoras
-
28:37 - 28:39e vários tipos de aparelhos
-
28:39 - 28:42e máquinas por semanas e talvez até meses...
-
28:42 - 28:44Sabe-se agora que, se estas
-
28:44 - 28:46crianças forem tocadas e acariciadas nas costas
-
28:46 - 28:50por apenas 10 minutos por dia, estimula-se seus desenvolvimentos cerebrais.
-
28:50 - 28:52Portanto, o toque humano é essencial para o desenvolvimento
-
28:52 - 28:56e, na verdade, as crianças que nunca são pegas no colo tendem a morrer.
-
28:56 - 28:59Isso demonstra o quão fundamental
-
28:59 - 29:01é a necessidade do ser humano em ser tocado.
-
29:01 - 29:04Na nossa sociedade há uma infeliz tendência
-
29:04 - 29:07de dizer aos pais para não pegarem seus filhos, não segurá-los,
-
29:07 - 29:13de não abraçar os bebês que choram por medo de mimá-los
-
29:13 - 29:15ou que para encorajá-los a dormir durante a noite
-
29:15 - 29:16você não deve abraçá-los...
-
29:16 - 29:19o que é justamente o oposto do que a criança necessita.
-
29:19 - 29:22Essas crianças podem voltar a dormir pelo cansaço
-
29:22 - 29:24e seus cérebros se desligam como um modo
-
29:24 - 29:27de se defender da vulnerabilidade
-
29:27 - 29:30de serem abandonados pelos pais.
-
29:30 - 29:32Mas suas memórias implícitas serão
-
29:32 - 29:34de que o mundo não lhes dá a mínima.
-
29:36 - 29:37INFÂNCIA
-
29:38 - 29:43Muitas dessas diferenças são definidas muito cedo.
-
29:43 - 29:48De certo modo, a experiência dos pais nas adversidades,
-
29:48 - 29:51sobre o quão difícil ou fácil a vida pode ser
-
29:51 - 29:53é passada aos filhos,
-
29:53 - 29:55seja por meio da depressão materna
-
29:55 - 29:57ou quando os pais estão bravos com
-
29:57 - 29:59seus filhos porque tiveram um dia ruim
-
29:59 - 30:03ou por estarem muito cansados ao final do dia...
-
30:03 - 30:06Isso tem um poderoso efeito programador
-
30:06 - 30:10no desenvolvimento das crianças, pelo que já conhecemos agora.
-
30:10 - 30:15Mas essa sensibilidade prematura não é apenas um erro evolucionário.
-
30:15 - 30:17Ela existe em muitas espécies diferentes,
-
30:17 - 30:21mesmos em plantas há um processo prematuro de adaptação
-
30:21 - 30:23ao tipo de ambiente em que estão se desenvolvendo.
-
30:23 - 30:28Mas nos humanos a adaptação se dá na qualidade das relações sociais.
-
30:28 - 30:31Assim, no início da vida:
-
30:31 - 30:35quanto estímulo, quantos conflitos, quanta atenção se tem,
-
30:35 - 30:40isto é uma "prova" do tipo de mundo em que você poderá crescer.
-
30:40 - 30:42Se você cresce num mundo onde
-
30:42 - 30:43precisa lutar para conseguir algo,
-
30:43 - 30:47ficar alerta, cuidar de si mesmo, aprender a não confiar em ninguém...
-
30:47 - 30:50Ou se cresce numa sociedade onde depende
-
30:50 - 30:55de reciprocidade, mutualidade, cooperação, onde empatia é importante,
-
30:55 - 30:59onde sua segurança depende de boas relações com outros...
-
30:59 - 31:01precisará então de um desenvolvimento
-
31:01 - 31:03emocional e cognitivo muito diferente.
-
31:03 - 31:07E é disso que se trata a sensibilidade prematura.
-
31:07 - 31:11A paternidade é quase que inconscientemente
-
31:11 - 31:14um sistema de passagem de experiência para os filhos...
-
31:14 - 31:17do tipo de mundo em que se encontram.
-
31:17 - 31:20O grande psiquiatra infantil britânico, D. W. Winnicott, disse
-
31:20 - 31:23que, essencialmente, duas coisas podem dar errado na infância.
-
31:23 - 31:26Uma delas é quando acontece o que não deveria acontecer
-
31:26 - 31:30e a outra, quando o que deveria acontecer, não acontece.
-
31:30 - 31:34Na primeira categoria, estão as experiências dramáticas,
-
31:34 - 31:36abusivas e de abandono de meus
-
31:36 - 31:39pacientes em Downtown Eastside e de muitos viciados.
-
31:40 - 31:42Isso é o que não deveria acontecer, mas aconteceu.
-
31:42 - 31:46Mas há também a atenção paterna livre de
-
31:46 - 31:49estresse, sintonizada e sem distração
-
31:49 - 31:51de que toda criança precisa
-
31:51 - 31:53mas poucas recebem.
-
31:53 - 31:55Elas não são abusadas, não são negligenciadas
-
31:55 - 31:58nem estão traumatizadas.
-
31:58 - 32:00Mas o que deveria acontecer,
-
32:00 - 32:03a presença estimulante de pais emocionalmente dispostos
-
32:03 - 32:05simplesmente não está disponível para elas por causa
-
32:05 - 32:08do estresse em nossa sociedade e no ambiente familiar.
-
32:08 - 32:14O psicólogo Allan Schore chama isso de "abandono próximo"
-
32:14 - 32:17quando o pai está presente fisicamente
-
32:17 - 32:19mas emocionalmente ausente.
-
32:20 - 32:23Eu passei...
-
32:23 - 32:27aproximadamente, os últimos 40 anos da minha vida
-
32:27 - 32:32trabalhando com as mais violentas pessoas produzidas pela nossa sociedade:
-
32:32 - 32:34assassinos, estupradores etc.
-
32:34 - 32:38Na tentativa de compreender o que causa essa violência,
-
32:38 - 32:42descobri que os criminosos mais violentos em nossas prisões
-
32:42 - 32:45tinham eles mesmos sido vítimas
-
32:45 - 32:48de um grau de abuso infantil que ultrapassou
-
32:48 - 32:51tudo que já pensei em chamar de "abuso infantil".
-
32:51 - 32:55Eu não fazia ideia do grau
-
32:55 - 32:59de perversão com que as crianças em nossa sociedade
-
32:59 - 33:01são muitas vezes tratadas.
-
33:01 - 33:04As pessoas mais violentas que vi são sobreviventes
-
33:04 - 33:08de suas próprias tentativas de assassinato, muitas vezes armadas pelos pais
-
33:08 - 33:11ou outras pessoas em seu meio social
-
33:11 - 33:15ou então são sobreviventes que viram seus familiares
-
33:15 - 33:18mais próximos serem mortos por outras pessoas.
-
33:19 - 33:24Buda defendia que tudo depende de todo o resto.
-
33:24 - 33:27Disse: "o Um contém o Todo e o Todo contém o Um".
-
33:27 - 33:30Não se pode compreender nada em isolamento de seu ambiente.
-
33:30 - 33:38A folha contém o sol, o céu e a terra, obviamente.
-
33:39 - 33:41Isto já foi comprovado, é claro.
-
33:41 - 33:44Sobretudo em se tratando do desenvolvimento humano.
-
33:44 - 33:47O termo científico moderno para isso
-
33:47 - 33:50é a natureza biopsicossocial do desenvolvimento humano,
-
33:50 - 33:52que diz que a biologia dos seres humanos
-
33:52 - 33:54depende muito da interação com
-
33:54 - 33:57o ambiente social e psicológico.
-
33:57 - 34:02Especificamente, o psiquiatra e pesquisador
-
34:02 - 34:07Daniel Siegel da Universidade da Califórnia, LA, UCLA
-
34:07 - 34:10cunhou a expressão "neurobiologia interpessoal"
-
34:10 - 34:12que quer dizer que a maneira
-
34:12 - 34:15como nosso sistema nervoso funciona
-
34:15 - 34:17depende muito das nossas relações pessoais.
-
34:17 - 34:20Em primeiro lugar, das relações com nossos pais.
-
34:20 - 34:23Em segundo lugar, com outras pessoas importantes em nossas vidas.
-
34:23 - 34:26E em terceiro lugar, com toda a nossa cultura.
-
34:26 - 34:28Assim, não se pode separar o
-
34:28 - 34:31funcionamento neurológico de seres humanos
-
34:31 - 34:35do ambiente onde foram criados
-
34:35 - 34:38e continuam vivendo.
-
34:38 - 34:40Isto vale para todo o ciclo de vida.
-
34:40 - 34:42Especialmente durante o desenvolvimento
-
34:42 - 34:45de nossos cérebros, quando estamos vulneráveis.
-
34:45 - 34:49Mas também vale para adultos e idosos.
-
34:52 - 34:53CULTURA
-
34:53 - 34:57Seres humanos viveram em quase todo tipo de sociedade.
-
34:57 - 35:02Desde as mais igualitárias... As sociedades de caça e coleta
-
35:02 - 35:04parecem ter sido bastante igualitárias
-
35:04 - 35:06com base na divisão de alimentos, troca de presentes...
-
35:07 - 35:10Pequenos grupos de pessoas vivendo principalmente
-
35:10 - 35:13da coleta e um pouco da caça,
-
35:13 - 35:15basicamente entre pessoas que
-
35:15 - 35:17conheceram por toda vida,
-
35:17 - 35:20cercados de primos de terceiro grau ou mais próximos,
-
35:20 - 35:22num mundo no qual há uma grande
-
35:22 - 35:24fluidez entre diferentes grupos,
-
35:24 - 35:26num mundo em que não há
-
35:26 - 35:28muita coisa em termos de cultura material...
-
35:28 - 35:31Foi assim que os seres humanos passaram a maior parte de sua história.
-
35:31 - 35:35Naturalmente, isto contribui para um mundo muito diferente.
-
35:35 - 35:39Uma das consequências, é muito menos violência.
-
35:39 - 35:41A violência grupal organizada não é
-
35:41 - 35:43uma coisa que acontecia naquele período
-
35:43 - 35:47da história humana e isso parece óbvio.
-
35:47 - 35:50Onde então foi que erramos?
-
35:50 - 35:54A violência não é universal.
-
35:54 - 35:58Ela não é simetricamente distribuída entre os homens.
-
35:58 - 36:03Há enormes variações no nível de violência em diferentes sociedades.
-
36:03 - 36:07Há sociedades sem praticamente nenhuma violência.
-
36:07 - 36:11Há outras que destroem a si mesmas.
-
36:11 - 36:14Alguns grupos da religião anabatista
-
36:14 - 36:18são totalmente pacíficos,
-
36:18 - 36:21como os amish, os menonitas, os huteritas...
-
36:21 - 36:24Entre alguns desses grupos, os huteritas,
-
36:24 - 36:28não há registros de homicídio.
-
36:29 - 36:33Durante as Grandes Guerras, como a Segunda Guerra Mundial,
-
36:33 - 36:35quando as pessoas estavam sendo recrutadas,
-
36:35 - 36:37eles se negavam a servir no exército.
-
36:37 - 36:40Preferiam ser presos a servir.
-
36:40 - 36:42Nos kibutzim de Israel
-
36:42 - 36:46o nível de violência é tão baixo que as cortes criminais de lá
-
36:46 - 36:49muitas vezes enviam infratores violentos,
-
36:49 - 36:51pessoas que cometeram crimes,
-
36:51 - 36:54para viver nos kibutzim, para aprenderem
-
36:54 - 36:56a viver de modo pacífico...
-
36:56 - 36:59porque é assim que as pessoas vivem lá.
-
36:59 - 37:02Portanto, somos amplamente moldados pela sociedade.
-
37:02 - 37:08Nossas sociedades são, num sentido mais amplo,
-
37:08 - 37:11nossas influências teológicas, metafísicas, linguísticas etc.
-
37:11 - 37:15Elas participam na formação de acharmos ou não que
-
37:15 - 37:18a vida é basicamente pecado ou beleza;
-
37:18 - 37:21se na vida após a morte seremos cobrados pelo
-
37:21 - 37:23modo como vivemos ou se isso é irrelevante.
-
37:24 - 37:27De maneira geral, diferentes sociedades podem
-
37:27 - 37:29ser consideradas individualistas ou
-
37:29 - 37:32coletivistas, o que gera pessoas muito diferentes,
-
37:32 - 37:34diferentes mentalidades e, suspeito eu,
-
37:34 - 37:36diferentes cérebros como resultado.
-
37:36 - 37:40Nós, nos EUA, vivemos numa das sociedades mais individualistas,
-
37:40 - 37:44e como o capitalismo é um sistema que nos permite
-
37:44 - 37:48subir cada vez mais alto numa pirâmide em potencial,
-
37:48 - 37:51a questão é que isso surge com cada vez menos segurança.
-
37:51 - 37:54Por definição, quanto mais estratificada a sociedade,
-
37:54 - 37:58menor a igualdade, menor o número de pessoas com quem
-
37:58 - 38:01você terá relacionamentos recíprocos e simétricos,
-
38:01 - 38:06e em vez disso, terá apenas posições diferentes e hierarquias sem fim...
-
38:06 - 38:09Um mundo onde você possui poucos parceiros recíprocos
-
38:09 - 38:11é um mundo com muito menos altruísmo.
-
38:14 - 38:17NATUREZA HUMANA
-
38:18 - 38:22Então, isso nos leva a uma situação impossível que é
-
38:22 - 38:26tentar buscar uma lógica na ciência da perspectiva...
-
38:26 - 38:28sobre quanto dessa índole é da natureza humana.
-
38:28 - 38:31Em certo nível
-
38:31 - 38:33a essência da nossa natureza não nos torna
-
38:33 - 38:36particularmente limitados por nossa natureza.
-
38:36 - 38:38Temos mais variabilidade social
-
38:38 - 38:40do que qualquer outra espécie.
-
38:40 - 38:45Mais sistemas de crença, de estilos de estruturas familiares,
-
38:45 - 38:48de maneiras de criar os filhos. A capacidade
-
38:48 - 38:51de variação que temos é extraordinária.
-
38:52 - 38:55Numa sociedade baseada em competição
-
38:56 - 39:01e, muitas vezes, na exploração implacável
-
39:01 - 39:03de um ser humano por outro,
-
39:03 - 39:06o ato de lucrar com os problemas alheios
-
39:06 - 39:09e, muitas vezes, a criação de
-
39:09 - 39:12problemas com o propósito de se beneficiar,
-
39:12 - 39:15é um comportamento que a ideologia dominante muitas vezes
-
39:15 - 39:19justifica apelando a uma natureza humana fundamental e imutável.
-
39:19 - 39:21Assim, o mito na sociedade é
-
39:21 - 39:23que pessoas são competitivas por natureza,
-
39:23 - 39:27e que são individualistas e egoístas.
-
39:27 - 39:30A verdadeira realidade é o oposto.
-
39:30 - 39:32Temos certas necessidades humanas.
-
39:32 - 39:34A única maneira de falar concretamente sobre a natureza humana
-
39:35 - 39:37é reconhecendo que há certas necessidades humanas.
-
39:37 - 39:40Temos uma necessidade humana de companheirismo e contato íntimo,
-
39:40 - 39:43de sermos amados, conectados e aceitos,
-
39:43 - 39:47de sermos vistos e recebidos por quem somos.
-
39:48 - 39:50Se essas necessidades são atendidas, evoluímos para
-
39:50 - 39:52pessoas compassivas,
-
39:52 - 39:58cooperativas e empáticas para com os outros.
-
39:58 - 40:01Então...
-
40:01 - 40:03o oposto, que muitas vezes vemos em nossa
-
40:03 - 40:06sociedade é, na realidade, uma distorção da natureza humana
-
40:06 - 40:09precisamente porque tão poucos têm suas necessidades atendidas.
-
40:09 - 40:12Portanto, sim, podemos falar em natureza humana
-
40:12 - 40:14mas apenas no sentido de necessidades humanas básicas
-
40:14 - 40:16que são naturalmente incitadas
-
40:16 - 40:19ou, devo dizer, certas necessidades humanas
-
40:19 - 40:22que levam a certos traços se forem atendidas
-
40:22 - 40:24e a um diferente conjunto de traços se forem negadas.
-
40:27 - 40:29Então...
-
40:29 - 40:32ao reconhecermos o fato de que o organismo humano,
-
40:32 - 40:34o qual possui bastante flexibilidade para adaptar-se
-
40:34 - 40:38permitindo-nos sobreviver em varias condições diferentes,
-
40:38 - 40:42é também rigidamente programado para certas exigências ambientais
-
40:42 - 40:44ou necessidades humanas,
-
40:45 - 40:48um imperativo social começa a emergir.
-
40:48 - 40:51Da mesma forma que nossos corpos precisam de nutrientes,
-
40:51 - 40:55o cérebro humano precisa de formas positivas de estímulo ambiental
-
40:55 - 40:57em todos os estágios do desenvolvimento,
-
40:58 - 41:00ao mesmo tempo que precisa ser protegido
-
41:00 - 41:03das formas negativas de estímulo.
-
41:03 - 41:05E se o que precisa acontecer, não acontece...
-
41:06 - 41:08ou o que não deveria acontecer, acontece...
-
41:08 - 41:11é evidente que a porta pode ser aberta não apenas para
-
41:11 - 41:15uma porção de doenças mentais e físicas,
-
41:15 - 41:18como também para muitos comportamentos humanos prejudiciais.
-
41:18 - 41:21Assim, ao ampliarmos nossa perspectiva
-
41:21 - 41:24e tomarmos consciência das atualidades,
-
41:24 - 41:26devemos perguntar:
-
41:26 - 41:29a condição que criamos no mundo moderno está
-
41:29 - 41:32realmente a favor da nossa saúde?
-
41:32 - 41:34A base de nosso sistema socioeconômico
-
41:34 - 41:36funciona como uma força positiva
-
41:36 - 41:40para o desenvolvimento humano e social e para o progresso?
-
41:40 - 41:44Ou a tendência básica de nossa sociedade
-
41:44 - 41:49está na realidade indo contra os requisitos evolucionários centrais
-
41:49 - 41:51para criar e manter
-
41:51 - 41:54nosso bem-estar pessoal e social?
-
42:12 - 42:17PARTE II: PATOLOGIA SOCIAL
-
42:18 - 42:21Alguém pode perguntar: de onde veio isso tudo?
-
42:21 - 42:25O que temos hoje é mesmo um mundo em estado
-
42:25 - 42:27de colapso acumulativo.
-
42:28 - 42:31O MERCADO
-
42:31 - 42:33Tudo começa com John Locke.
-
42:33 - 42:36Ele introduz o conceito de propriedade,
-
42:36 - 42:41e três pré-requisitos para os direitos à privacidade e à propriedade.
-
42:41 - 42:43Os três pré-requisitos são:
-
42:43 - 42:45deve haver excedente suficiente para os outros,
-
42:45 - 42:47você não pode permitir que a propriedade sofra danos
-
42:47 - 42:51e, acima de tudo, deve integrar seu trabalho à ela.
-
42:51 - 42:54Parece justo: você combina sua mão de obra com o mundo
-
42:54 - 42:56e então você tem direito ao produto.
-
42:56 - 42:59Enquanto há excedente suficiente para os outros
-
42:59 - 43:02e enquanto não houver danos
-
43:02 - 43:04e você evitar o desperdício, estará tudo certo.
-
43:04 - 43:07Ele passa um bom tempo em seu famoso tratado sobre governo,
-
43:07 - 43:10que desde então tem sido o texto canônico
-
43:10 - 43:14para a compreensão econômica, política e legal
-
43:14 - 43:17e ainda é o texto clássico estudado.
-
43:17 - 43:20Depois que ele apresenta os pré-requisitos
-
43:20 - 43:22e estamos quase nos perguntando se somos
-
43:22 - 43:24a favor da propriedade privada ou não
-
43:24 - 43:28-- ele faz uma defesa muito plausível e convincente
-
43:28 - 43:30da propriedade privada --
-
43:30 - 43:31ele os abandona!
-
43:31 - 43:34Ele os abandona assim, em apenas uma frase.
-
43:34 - 43:36Ele diz: "uma vez que a introdução
-
43:36 - 43:39do dinheiro veio por um acordo tácito entre os homens,
-
43:39 - 43:40tornou-se então..."
-
43:40 - 43:44Ele não diz que todos os pré-requisitos foram cancelados,
-
43:44 - 43:46mas é isso que acontece.
-
43:46 - 43:48Portanto, agora o produto
-
43:48 - 43:51e sua propriedade não são merecidos por nossa mão de obra.
-
43:51 - 43:54Não, o dinheiro compra mão de obra agora.
-
43:54 - 43:55Não existe mais preocupação
-
43:55 - 43:58se há excedente suficiente para os outros.
-
43:58 - 44:00Não existe mais preocupação se estraga ou não,
-
44:00 - 44:02porque ele diz que dinheiro é como
-
44:02 - 44:04prata e ouro, e ouro não estraga
-
44:04 - 44:07e então o dinheiro não pode ser responsável pelo desperdício...
-
44:07 - 44:10O que é ridículo, não estamos falando de dinheiro
-
44:10 - 44:12e prata, mas de seus efeitos.
-
44:12 - 44:14É uma falsa conclusão atrás da outra.
-
44:14 - 44:18Apenas a mais surpreendente
-
44:18 - 44:21trapaça lógica com a qual sai impune,
-
44:21 - 44:25mas que serve aos interesses dos detentores do capital.
-
44:26 - 44:29Então, Adam Smith chega e acrescenta
-
44:29 - 44:31a religião disso...
-
44:31 - 44:33Locke começou com "Deus fez dessa forma",
-
44:33 - 44:35"este é o direito de Deus",
-
44:35 - 44:37e agora também temos Smith
-
44:37 - 44:39dizendo "não só de Deus..."
-
44:39 - 44:41Não é exatamente o que ele diz, mas
-
44:41 - 44:43é o que está acontecendo filosoficamente, em princípio.
-
44:43 - 44:47Ele diz que não é apenas uma questão de propriedade privada...
-
44:47 - 44:49Isso tudo se tornou "pressuposto", dado como certo.
-
44:49 - 44:52E que existem "investidores que compram mão de obra" -- dado como certo.
-
44:52 - 44:55Não há limites para quanta mão de obra alheia podem comprar,
-
44:55 - 44:57quanto podem acumular, quanta desigualdade
-
44:57 - 44:59-- tudo se tornou dado como certo.
-
44:59 - 45:03Então ele aparece com sua grande ideia
-
45:03 - 45:07-- e isso é novamente deixado entre parênteses, de passagem...
-
45:08 - 45:11Quando as pessoas põem bens à venda -- a oferta --
-
45:11 - 45:16e outras pessoas os compram -- a procura -- etc.,
-
45:16 - 45:20como fazemos a oferta equivaler à procura
-
45:20 - 45:21ou a procura equivaler à oferta?
-
45:21 - 45:23Como elas entram em equilíbrio?
-
45:23 - 45:26Uma das ideias centrais da economia
-
45:26 - 45:28é como elas entram em equilíbrio...
-
45:28 - 45:32E ele diz: "é a 'mão invisível do mercado'
-
45:32 - 45:34que as mantém em equilíbrio".
-
45:34 - 45:37Então agora temos um "Deus" iminente.
-
45:37 - 45:41Ele não apenas deu direitos à propriedade
-
45:41 - 45:46e todos seus recursos e "direitos naturais"
-
45:46 - 45:47dos quais Locke falou.
-
45:47 - 45:51Agora o sistema em si é "Deus".
-
45:52 - 45:55Na verdade, Smith diz
-
45:55 - 45:58-- e você tem que ler todo o livro
-
45:58 - 46:00"A Riqueza das Nações" para encontrar esta citação.
-
46:00 - 46:03Ele diz que a escassez dos meios de subsistência
-
46:03 - 46:07dita o limite da reprodução dos pobres
-
46:07 - 46:11e que a natureza não pode lidar com isso exceto
-
46:11 - 46:14pela eliminação de seus filhos.
-
46:14 - 46:19Ele antecipou a teoria da evolução no pior sentido...
-
46:19 - 46:21e isso bem antes de Darwin.
-
46:21 - 46:24Ele os chamou de "classe de trabalhadores".
-
46:24 - 46:27Nota-se aí um racismo inerente.
-
46:27 - 46:32Havia uma negligência inerente à vida de matar
-
46:32 - 46:35inúmeras crianças.
-
46:35 - 46:38Ele pensava que essa era a mão invisível fazendo a oferta
-
46:38 - 46:40corresponder à procura e a procura, à oferta.
-
46:40 - 46:43Percebe quão sábio "Deus" é?
-
46:43 - 46:46Nota-se que todas essas coisas
-
46:46 - 46:51hostis, destrutivas e antiecológicas
-
46:51 - 46:55que ocorrem agora, possuem, de certa forma,
-
46:55 - 46:59uma origem lá em Smith também.
-
47:00 - 47:03Quando refletimos sobre o conceito original do
-
47:03 - 47:05chamado "sistema capitalista de livre mercado"
-
47:05 - 47:08tal como introduzido pelos primeiros filósofos economistas,
-
47:08 - 47:10como Adam Smith,
-
47:10 - 47:13vemos que a intenção original de um "mercado"
-
47:13 - 47:17girava em torno da troca de bens reais, tangíveis e que sustentem a vida.
-
47:17 - 47:20Adam Smith nunca imaginou que os setores
-
47:20 - 47:22econômicos mais rentáveis do planeta
-
47:22 - 47:25acabariam na arena do mercado financeiro,
-
47:25 - 47:27os chamados "investimentos",
-
47:27 - 47:29onde o dinheiro em si é simplesmente
-
47:29 - 47:31adquirido pela movimentação de dinheiro,
-
47:31 - 47:33em um jogo arbitrário que não tem
-
47:33 - 47:35nenhum mérito produtivo para a sociedade.
-
47:36 - 47:38No entanto, apesar da intenção de Smith,
-
47:38 - 47:41a porta para tais adventos anômalos
-
47:41 - 47:46foi deixada aberta por um dos princípios fundamentais desta teoria:
-
47:46 - 47:50o dinheiro é tratado como uma mercadoria, por si só.
-
47:50 - 47:52Hoje, em cada economia do mundo,
-
47:52 - 47:55seja qual for o sistema social alegado,
-
47:55 - 47:59busca-se o dinheiro pelo dinheiro e nada mais.
-
47:59 - 48:02A ideia principal, misteriosamente definida
-
48:02 - 48:06por Adam Smith em sua declaração religiosa sobre
-
48:06 - 48:08a "mão invisível",
-
48:08 - 48:10é que a busca mesquinha e egoísta
-
48:10 - 48:12desta mercadoria fictícia
-
48:12 - 48:15irá de alguma forma resultar magicamente
-
48:15 - 48:18em bem-estar humano e social e em progresso.
-
48:19 - 48:22Na realidade, o propósito do incentivo monetário,
-
48:22 - 48:26ou aquilo que alguns chamam de "sequência monetária do valor",
-
48:26 - 48:29foi agora completamente separado do propósito
-
48:29 - 48:32fundamental da vida, que poderia ser chamado de
-
48:32 - 48:34"sequência vital do valor".
-
48:35 - 48:38O que houve foi uma completa confusão
-
48:38 - 48:40na doutrina econômica
-
48:40 - 48:42entre estas duas sequências.
-
48:42 - 48:45Pensa-se que a "sequência monetária do valor"
-
48:45 - 48:47leva à "sequência vital do valor",
-
48:47 - 48:50e é por isso que se diz que quando mais bens são vendidos,
-
48:50 - 48:52quando o PIB cresce etc.,
-
48:52 - 48:55há um aumento no bem-estar
-
48:55 - 48:58e poderíamos tomar o PIB como nosso indicador básico
-
48:58 - 49:00de saúde social...
-
49:00 - 49:01Aqui podemos ver a confusão.
-
49:01 - 49:03Fala-se da "sequência monetária do valor",
-
49:03 - 49:05ou seja, todas as receitas e rendimentos
-
49:05 - 49:08obtidos da venda de bens,
-
49:08 - 49:12mas confunde-se isso com a reprodução da vida.
-
49:12 - 49:16Assim, nós embutimos nessa coisa, desde o início,
-
49:16 - 49:18uma completa mistura das sequências
-
49:19 - 49:21monetária e vital do valor.
-
49:21 - 49:24Lidamos com um tipo de delírio estruturado
-
49:24 - 49:26que torna-se cada vez mais mortal
-
49:27 - 49:29conforme a sequência monetária se desconecta da produção
-
49:29 - 49:31de qualquer coisa.
-
49:31 - 49:33Portanto, é um distúrbio
-
49:33 - 49:37no sistema que parece ser fatal.
-
49:38 - 49:41BEM-VINDOS À MÁQUINA
-
49:41 - 49:45Na sociedade atual, raramente ouve-se alguém falar
-
49:45 - 49:47do progresso de seu país ou sociedade
-
49:47 - 49:51em termos de bem-estar físico, estado de felicidade,
-
49:51 - 49:54confiança ou estabilidade social.
-
49:54 - 49:56Ao contrário, os indicadores nos são apresentados
-
49:56 - 49:58através de abstrações econômicas.
-
49:58 - 50:01Temos o PIB, o índice de preços ao consumidor,
-
50:01 - 50:04o valor do mercado de ações, índices de inflação
-
50:04 - 50:06e por aí vai.
-
50:06 - 50:08Mas isto nos diz algo de valor autêntico
-
50:08 - 50:11quanto à qualidade de vida das pessoas?
-
50:11 - 50:13Não. Todos esses indicadores têm a ver com
-
50:13 - 50:17a sequência monetária em si e nada mais.
-
50:17 - 50:20Por exemplo, o produto interno bruto de um país
-
50:20 - 50:23mede o valor de bens e serviços vendidos.
-
50:24 - 50:26Alega-se que esta medida está correlacionada ao
-
50:26 - 50:29"padrão de vida" da população de um país.
-
50:29 - 50:32Os gastos com saúde nos EUA representaram
-
50:32 - 50:35mais de 17% do PIB em 2009,
-
50:35 - 50:38totalizando mais de $2,5 trilhões
-
50:38 - 50:42e criando assim um efeito positivo neste indicador econômico.
-
50:42 - 50:43Com base nesta lógica,
-
50:43 - 50:46seria ainda melhor para a economia americana
-
50:46 - 50:48que os serviços de saúde crescessem mais
-
50:48 - 50:51-- talvez para $3 trilhões ou $5 trilhões --
-
50:51 - 50:53já que isto iria gerar mais crescimento
-
50:53 - 50:56e mais empregos e seria ostentado pelos economistas
-
50:56 - 50:59como um aumento no padrão de vida de seu país.
-
50:59 - 51:01Mas, espere um minuto.
-
51:01 - 51:04O que de fato representam os serviços de saúde?
-
51:04 - 51:07Bem... Pessoas doentes e morrendo.
-
51:07 - 51:11É isso mesmo: quanto mais americanos com problemas de saúde,
-
51:11 - 51:13melhor ficará a economia.
-
51:13 - 51:17Isto não é um exagero ou uma perspectiva cínica.
-
51:17 - 51:19De fato, se pararmos para pensar,
-
51:19 - 51:21perceberemos que o PIB
-
51:21 - 51:24não apenas não reflete a verdadeira saúde pública ou social
-
51:24 - 51:26em qualquer nível tangível,
-
51:26 - 51:28ele é, na realidade, um indicador
-
51:28 - 51:30de ineficácia industrial
-
51:30 - 51:32e de degradação social.
-
51:32 - 51:36Quanto mais ele cresce, pior fica a situação
-
51:36 - 51:38em relação à integridade pessoal,
-
51:38 - 51:41social e ambiental.
-
51:41 - 51:44É preciso criar problemas para gerar lucro.
-
51:45 - 51:48No paradigma atual, não há lucro
-
51:48 - 51:51em salvar vidas, manter o equilíbrio do planeta,
-
51:51 - 51:53promover a justiça, a paz etc.
-
51:53 - 51:56Não há lucro nisso.
-
51:56 - 51:58Existe um ditado antigo:
-
51:58 - 52:00"aprove uma lei e abrirá um negócio".
-
52:00 - 52:03Seja criando um negócio para um advogado ou o que for.
-
52:03 - 52:05Portanto, crimes realmente abrem
-
52:05 - 52:07negócios, da mesma forma que a destruição abre
-
52:07 - 52:09negócios no Haiti.
-
52:09 - 52:12Há hoje 2 milhões de encarcerados
-
52:12 - 52:13nos EUA,
-
52:14 - 52:16muitos dos quais estão em prisões dirigidas
-
52:16 - 52:17por empresas privadas
-
52:17 - 52:19-- Corrections Corporation of America e Wackenhut --
-
52:19 - 52:21que negociam ações em Wall Street
-
52:21 - 52:24com base no número de presos.
-
52:24 - 52:26Isso sim é doentio.
-
52:26 - 52:28Mas é um reflexo do que
-
52:28 - 52:32este paradigma econômico exige.
-
52:32 - 52:36E o que exatamente esse paradigma econômico exige?
-
52:36 - 52:39O que faz nosso sistema econômico girar?
-
52:39 - 52:41Consumo.
-
52:41 - 52:44Ou, mais precisamente, consumo cíclico.
-
52:44 - 52:46Quando analisamos
-
52:46 - 52:48a base da economia de mercado clássica,
-
52:48 - 52:50nos é apresentado um padrão de troca monetária
-
52:50 - 52:53que simplesmente não podemos deixar que pare
-
52:53 - 52:55ou mesmo desacelere consideravelmente,
-
52:55 - 52:56se a sociedade como a conhecemos
-
52:56 - 52:58quiser se manter funcional.
-
52:58 - 53:01Há três atores principais no palco econômico:
-
53:01 - 53:03o empregado, o empregador
-
53:03 - 53:05e o consumidor.
-
53:05 - 53:08O empregado vende mão de obra ao empregador em troca de renda.
-
53:08 - 53:11O empregador vende seus produtos e serviços
-
53:11 - 53:13ao consumidor em troca de renda.
-
53:13 - 53:16E o consumidor, naturalmente, é apenas outro papel
-
53:16 - 53:18do empregador e do empregado,
-
53:18 - 53:20realimentando o sistema
-
53:20 - 53:23para permitir a continuação do consumo cíclico.
-
53:23 - 53:25Em outras palavras, o mercado global se baseia na
-
53:25 - 53:28premissa de que sempre haverá demanda suficiente
-
53:28 - 53:30por produtos numa sociedade
-
53:30 - 53:32para movimentar dinheiro suficiente a uma taxa
-
53:32 - 53:35que possa manter o processo de consumo.
-
53:35 - 53:37E quanto maior a taxa de consumo,
-
53:37 - 53:39maior o suposto crescimento econômico.
-
53:39 - 53:42E é assim que a máquina funciona...
-
53:42 - 53:44Mas, espere aí!
-
53:44 - 53:47Achei que uma economia fosse feita para, sei lá...
-
53:47 - 53:48"economizar"?
-
53:49 - 53:51Não seria esse termo sinônimo de preservação,
-
53:51 - 53:55eficiência e redução do desperdício?
-
53:55 - 53:58Como então nosso sistema que demanda consumo
-
53:58 - 54:01-- e quanto mais melhor -- pode eficientemente preservar
-
54:01 - 54:03ou "economizar" qualquer coisa?
-
54:03 - 54:05Bem... não pode.
-
54:05 - 54:09O objetivo do sistema de mercado é justamente o oposto
-
54:09 - 54:11do que uma economia de verdade deveria fazer,
-
54:11 - 54:14que é orientar, com eficiência e conservação,
-
54:14 - 54:16os materiais para a produção e distribuição
-
54:16 - 54:18de bens que sustentam a vida.
-
54:18 - 54:21Vivemos num planeta finito, de recursos finitos
-
54:21 - 54:23onde, por exemplo, o petróleo que utilizamos leva
-
54:23 - 54:25milhões de anos para se formar
-
54:25 - 54:29e os minerais que usamos, bilhões de anos.
-
54:30 - 54:33Ter um sistema que intencionalmente promove
-
54:33 - 54:35a aceleração do consumo,
-
54:35 - 54:38em prol do suposto "crescimento econômico",
-
54:38 - 54:42é puramente um ecocídio insano.
-
54:42 - 54:45Ausência de desperdício, isso sim é eficiência.
-
54:45 - 54:47Ausência de desperdício?
-
54:47 - 54:50Este sistema desperdiça mais do que
-
54:50 - 54:53qualquer outro da história do planeta.
-
54:53 - 54:56Cada nível de bio-organização e biossistema
-
54:56 - 54:58está em estado de crise, desafio,
-
54:58 - 55:00declínio -- ou de colapso.
-
55:00 - 55:03Nenhuma publicação científica dos últimos 30 anos
-
55:03 - 55:06lhe dirá algo diferente:
-
55:06 - 55:09todo biossistema está em declínio,
-
55:09 - 55:11assim como os programas sociais
-
55:11 - 55:13e nosso acesso à água.
-
55:14 - 55:16Cite algum meio de vida
-
55:16 - 55:17que não esteja ameaçado...
-
55:17 - 55:18É impossível.
-
55:19 - 55:22Não há mesmo nenhum, o que é absolutamente desesperador.
-
55:22 - 55:25E ainda nem percebemos qual é o mecanismo causal.
-
55:25 - 55:27Não queremos enfrentar o mecanismo causal.
-
55:27 - 55:30Só queremos seguir vivendo. Aí está a insanidade:
-
55:30 - 55:32continua-se a fazer sempre a mesma coisa
-
55:32 - 55:35apesar de claramente não estar funcionando.
-
55:35 - 55:37Portanto, não lidamos
-
55:38 - 55:40com um sistema econômico,
-
55:40 - 55:44mas, eu me atreveria a dizer, com um sistema antieconômico.
-
55:45 - 55:47A ANTIECONOMIA
-
55:47 - 55:49Há um velho ditado de que o modelo
-
55:49 - 55:51de mercado competitivo busca
-
55:51 - 55:55"criar os melhores produtos pelo menor preço possível".
-
55:56 - 55:59Essa afirmação é essencialmente o conceito de incentivo
-
55:59 - 56:01que justifica a concorrência mercantil
-
56:01 - 56:03com base na suposição de que o resultado
-
56:03 - 56:06é a produção de bens de melhor qualidade.
-
56:06 - 56:09Se eu fosse construir uma mesa,
-
56:09 - 56:11obviamente a produziria com os melhores
-
56:11 - 56:13e mais duráveis materiais existentes, correto?
-
56:13 - 56:16Visando que ela dure o máximo possível.
-
56:17 - 56:19Por que eu faria algo ruim
-
56:19 - 56:21sabendo que teria de refazê-la eventualmente,
-
56:21 - 56:24gastando mais materiais e energia?
-
56:25 - 56:28Bem, por mais racional que isso possa parecer,
-
56:28 - 56:30no caso do mercado
-
56:30 - 56:32isso não é apenas claramente irracional
-
56:32 - 56:34como não chega a ser uma opção.
-
56:34 - 56:36É tecnicamente impossível produzir
-
56:36 - 56:38algo da melhor maneira possível,
-
56:38 - 56:40se uma empresa pretende ser competitiva
-
56:41 - 56:43e manter seus produtos acessíveis ao consumidor.
-
56:43 - 56:46Literalmente tudo o que é criado e posto à venda
-
56:46 - 56:49na economia global é inferior logo no momento
-
56:49 - 56:51em que é produzido,
-
56:51 - 56:53pois é matematicamente impossível
-
56:53 - 56:56fazer produtos os mais cientificamente avançados,
-
56:56 - 56:59eficientes e sustentáveis possíveis.
-
56:59 - 57:01Isso ocorre pois o sistema de mercado
-
57:01 - 57:04exige esta "eficiência de custos"
-
57:04 - 57:06ou porque é preciso reduzir os gastos
-
57:06 - 57:08em cada etapa da produção.
-
57:08 - 57:10Do custo da mão da obra ao custo dos
-
57:10 - 57:13materiais, da embalagem etc.
-
57:13 - 57:15Essa estratégia competitiva serve para
-
57:15 - 57:18assegurar que o público compre os seus produtos
-
57:18 - 57:21e não os do concorrente,
-
57:21 - 57:23que está fazendo a mesmíssima coisa
-
57:23 - 57:26para deixar seus produtos competitivos e acessíveis.
-
57:27 - 57:30Esta consequência invariavelmente esbanjadora do sistema
-
57:30 - 57:34poderia ser denominada "obsolescência intrínseca".
-
57:34 - 57:37No entanto, essa é apenas uma parte do problema.
-
57:38 - 57:41Um princípio fundamental que rege a economia de mercado
-
57:41 - 57:44e que você não encontrará em nenhum manual,
-
57:44 - 57:45é o seguinte:
-
57:45 - 57:48"nada produzido pode ter uma vida útil
-
57:48 - 57:50maior que o necessário
-
57:50 - 57:54para manter o consumo cíclico".
-
57:54 - 57:57Em outras palavras, é fundamental que as coisas quebrem,
-
57:57 - 58:00falhem e deteriorem-se dentro de dado tempo.
-
58:01 - 58:04Isso se chama "obsolescência programada".
-
58:04 - 58:08A obsolescência programada é a espinha dorsal
-
58:08 - 58:11da estratégia de mercado de todos os fabricantes.
-
58:11 - 58:13Muito poucos, claro,
-
58:13 - 58:15admitem essa estratégia abertamente.
-
58:15 - 58:17O que fazem é mascarar o problema no
-
58:17 - 58:20fenômeno da obsolescência intrínseca,
-
58:20 - 58:23muitas vezes ignorando, ou até mesmo suprimindo,
-
58:23 - 58:25novos adventos tecnológicos
-
58:25 - 58:28que poderiam criar um produto mais sustentável e durável.
-
58:29 - 58:31Não bastasse o desperdício que é
-
58:31 - 58:33o sistema inerentemente não permitir a produção
-
58:33 - 58:36dos bens mais duráveis e eficientes,
-
58:36 - 58:38a obsolescência programada intencionalmente
-
58:38 - 58:41entende que quanto mais tempo um produto funcionar,
-
58:41 - 58:45pior será para a manutenção do consumo cíclico
-
58:45 - 58:47e, portanto, para o sistema de mercado.
-
58:48 - 58:50Em outras palavras, a sustentabilidade do produto
-
58:50 - 58:54é, na verdade, contrária ao crescimento econômico
-
58:54 - 58:57e por isso há um incentivo direto e reforçado
-
58:57 - 58:59para garantir que a durabilidade
-
58:59 - 59:01de qualquer produto seja curta.
-
59:02 - 59:06Na realidade, o sistema não pode funcionar de outra maneira.
-
59:06 - 59:09Um olhar para o mar de aterros ao redor do mundo
-
59:09 - 59:12mostra a realidade da obsolescência.
-
59:13 - 59:15Existem agora bilhões de celulares de baixo custo,
-
59:15 - 59:17computadores e outras tecnologias,
-
59:17 - 59:20contendo materiais preciosos e difíceis de minerar
-
59:20 - 59:22como ouro, coltan e cobre,
-
59:22 - 59:25apodrecendo em enormes pilhas
-
59:25 - 59:27devido ao simples mau funcionamento ou obsolescência
-
59:27 - 59:31de pequenas partes que, em uma sociedade preservadora,
-
59:31 - 59:33poderiam ser consertados ou atualizados,
-
59:33 - 59:36estendendo a vida útil do produto.
-
59:36 - 59:38Infelizmente, por mais eficiente que isso pareça
-
59:38 - 59:41no mundo real, por vivermos num
-
59:41 - 59:43planeta finito de recursos finitos,
-
59:43 - 59:48é claramente ineficaz para o mercado.
-
59:48 - 59:49Para por numa frase:
-
59:49 - 59:52"eficiência, sustentabilidade e
-
59:52 - 59:56preservação são os inimigos de nosso sistema econômico".
-
59:56 - 59:59Do mesmo modo, assim como bens precisam ser constantemente
-
59:59 - 60:01produzidos e reproduzidos
-
60:01 - 60:03apesar de seu impacto ambiental,
-
60:04 - 60:07a indústria de serviços atua com o mesmo raciocínio.
-
60:08 - 60:10O fato é que não há benefício monetário
-
60:10 - 60:13em resolver quaisquer problemas
-
60:13 - 60:15que estejam atualmente sendo tratados.
-
60:15 - 60:16No final das contas,
-
60:16 - 60:19a última coisa que as instituições médicas realmente querem
-
60:19 - 60:22é curar doenças como o câncer,
-
60:22 - 60:27o que eliminaria inúmeros empregos e trilhões em receitas.
-
60:27 - 60:28E já que estamos no assunto...
-
60:29 - 60:32O crime e o terrorismo são coisas boas neste sistema!
-
60:32 - 60:34Bem, ao menos economicamente,
-
60:34 - 60:36já que empregam a polícia
-
60:36 - 60:39e elevam os gastos com segurança,
-
60:39 - 60:41sem mencionar o valor das prisões,
-
60:41 - 60:44que são privadas e visam o lucro.
-
60:44 - 60:45E que tal as guerras?
-
60:46 - 60:49A indústria bélica nos EUA é uma grande impulsionadora do PIB
-
60:49 - 60:52-- uma das indústrias mais lucrativas --
-
60:52 - 60:55produzindo armas letais e destrutivas.
-
60:55 - 60:58O jogo favorito dessa indústria é explodir as coisas
-
60:58 - 61:01e depois reconstruí-las visando o lucro.
-
61:01 - 61:04Vimos isso com os inesperados contratos
-
61:04 - 61:06bilionários feitos desde a Guerra do Iraque.
-
61:07 - 61:09O ponto aqui é que os atributos socialmente
-
61:09 - 61:11negativos da sociedade
-
61:11 - 61:14se tornaram empreendimentos gratificantes para a indústria
-
61:14 - 61:17e que qualquer interesse na resolução de problemas
-
61:17 - 61:20ou em sustentabilidade ambiental e conservação,
-
61:20 - 61:25é intrinsecamente contrário à sustentabilidade econômica.
-
61:26 - 61:27É por isso que
-
61:27 - 61:31toda vez que vemos o PIB crescer em qualquer país,
-
61:31 - 61:33estamos testemunhando um crescimento das necessidades
-
61:33 - 61:35reais ou inventadas,
-
61:35 - 61:39e, por definição, as necessidade têm suas raízes na ineficiência.
-
61:39 - 61:44Portanto, aumentar a necessidade significa aumentar a ineficiência.
-
61:45 - 61:47O DISTÚRBIO NO SISTEMA DE VALORES
-
61:48 - 61:49O sonho americano é baseado no
-
61:49 - 61:51consumismo desenfreado.
-
61:51 - 61:53É baseado no fato
-
61:53 - 61:55de que a grande mídia,
-
61:55 - 61:57e especialmente a publicidade
-
61:57 - 62:00-- corporações que precisam deste crescimento infinito --
-
62:00 - 62:03têm convencido ou enfiado na cabeça
-
62:03 - 62:06de muitas pessoas nos EUA e no mundo
-
62:06 - 62:09que nós temos que ter um número "x" de bens materiais
-
62:09 - 62:11e a possibilidade de adquirir infinitamente mais
-
62:11 - 62:14para sermos felizes.
-
62:14 - 62:16Isso simplesmente não é verdade.
-
62:16 - 62:20Por que então as pessoas continuam a comprar
-
62:20 - 62:22desta maneira ecogenocida
-
62:22 - 62:25em seus efeitos sistêmicos cada vez mais?
-
62:25 - 62:28Trata-se do clássico condicionamento operante.
-
62:28 - 62:32Você simplesmente insere condicionamento no organismo
-
62:32 - 62:36e obtém os comportamentos, metas
-
62:36 - 62:38ou objetivos desejados.
-
62:38 - 62:41Eles possuem todos os recursos tecnológicos...
-
62:41 - 62:43e se gabam de como entram
-
62:43 - 62:44na mente das crianças
-
62:44 - 62:47-- o que elas escutam já as
-
62:47 - 62:49condicionam a uma marca.
-
62:49 - 62:52Você então percebe que é assim
-
62:52 - 62:53que as pessoas têm sido feitas de
-
62:53 - 62:55bobas. Elas foram ensinadas a ser tolas.
-
62:55 - 62:59É um distúrbio no sistema de valores.
-
62:59 - 63:02Se há uma evidência da plasticidade
-
63:02 - 63:03da mente humana,
-
63:03 - 63:06se há uma prova de quão maleável
-
63:06 - 63:08é o pensamento humano e de quão facilmente
-
63:08 - 63:10as pessoas podem ser condicionadas e direcionadas
-
63:10 - 63:13pela natureza dos estímulos de seu ambiente
-
63:13 - 63:15e o que ela reforça,
-
63:15 - 63:18essa prova é o mundo da publicidade.
-
63:18 - 63:21É de ficar pasmo
-
63:21 - 63:23o nível de lavagem cerebral
-
63:24 - 63:27com que esses robôs programados conhecidos como "consumidores"
-
63:28 - 63:29vagam pela paisagem,
-
63:29 - 63:33apenas para entrar numa loja e gastar, digamos
-
63:33 - 63:36$4 mil numa bolsa
-
63:36 - 63:38que provavelmente custou $10 para ser feita
-
63:38 - 63:40numa fábrica escravizante no exterior.
-
63:40 - 63:43Apenas pelo status que a marca supostamente
-
63:43 - 63:46representa na cultura.
-
63:46 - 63:48Ou talvez as tradições populares antigas,
-
63:48 - 63:52que aumentam a confiança e a coesão da sociedade,
-
63:52 - 63:55e foram sequestradas pelos valores
-
63:55 - 63:57materialistas, que nos fazer trocar nossas
-
63:57 - 64:01porcarias inúteis algumas vezes por ano.
-
64:01 - 64:04E ainda nos perguntamos por que hoje tantos têm
-
64:04 - 64:06compulsão pela compra e aquisição,
-
64:06 - 64:09quando é óbvio que eles foram condicionados desde a infância
-
64:09 - 64:11a ver bens materiais
-
64:11 - 64:15como um sinal de status entre os amigos e a família.
-
64:15 - 64:18O fato é que a base de qualquer sociedade
-
64:18 - 64:20são os valores que apoiam seu funcionamento.
-
64:20 - 64:23E nossa sociedade, tal como está,
-
64:23 - 64:25funciona apenas se nossos valores apoiarem
-
64:25 - 64:28o consumo conspícuo de que ela
-
64:28 - 64:31necessita para manter o sistema de mercado.
-
64:31 - 64:3475 anos atrás, o consumo per capita nos EUA
-
64:34 - 64:37e na maior parte do Primeiro Mundo
-
64:37 - 64:38era a metade do que vemos hoje.
-
64:39 - 64:41A atual nova cultura do consumidor
-
64:41 - 64:43foi criada e imposta,
-
64:43 - 64:46devido à necessidade bem real de níveis
-
64:46 - 64:48de consumo cada vez mais altos.
-
64:48 - 64:51É por isso que hoje as empresas gastam
-
64:52 - 64:55mais dinheiro com propaganda do que com
-
64:55 - 64:57o processo de produção em si.
-
64:57 - 65:01Elas trabalham duro para criar falsas necessidades em você,
-
65:02 - 65:05o que por acaso conseguem.
-
65:05 - 65:07OS "ECONOMISTAS"
-
65:08 - 65:12Na verdade, os economistas nada têm de economistas.
-
65:12 - 65:14São propagandistas do valor do dinheiro.
-
65:14 - 65:16Você verá que todos os seus
-
65:16 - 65:18modelos são basicamente voltados a trocas
-
65:18 - 65:21de símbolos que correspondem ao lucro
-
65:22 - 65:24de uma ou ambas as partes,
-
65:24 - 65:26mas eles estão totalmente desconectados
-
65:26 - 65:28do mundo real da reprodução.
-
65:28 - 65:32Em Ohio, um idoso não pagou sua conta de luz
-
65:32 - 65:35-- talvez este caso lhe seja familiar --
-
65:35 - 65:38e a companhia elétrica cortou o serviço e ele morreu.
-
65:38 - 65:40O motivo deles cortarem é que não
-
65:40 - 65:41seria lucrativo manter o serviço
-
65:41 - 65:44porque ele não pagou sua conta.
-
65:45 - 65:46Você acha isso certo?
-
65:46 - 65:48A responsabilidade não recai sobre
-
65:48 - 65:50a companhia elétrica por cancelar o serviço,
-
65:51 - 65:54mas em cima dos vizinhos, amigos e conhecidos
-
65:54 - 65:55deste homem,
-
65:55 - 65:57que não foram caridosos o bastante
-
65:57 - 65:59para ajudá-lo, enquanto indivíduo,
-
65:59 - 66:01a pagar sua conta de energia.
-
66:01 - 66:03Hummm...
-
66:03 - 66:04Eu ouvi isso direito?
-
66:04 - 66:06Ele disse que a morte de um homem,
-
66:06 - 66:08causada por ele não ter dinheiro,
-
66:08 - 66:09foi por culpa de
-
66:09 - 66:11outras pessoas
-
66:11 - 66:13ou por falta de caridade?
-
66:14 - 66:15Pois bem, acho que vamos precisar de
-
66:15 - 66:18um monte de infomerciais, caixinhas
-
66:18 - 66:22de donativos miseráveis
-
66:22 - 66:24e uma porção de cofrinhos
-
66:24 - 66:26para os bilhões de pessoas que morrem de fome hoje
-
66:26 - 66:28neste planeta,
-
66:28 - 66:32devido ao sistema que Milton Friedman promove.
-
66:33 - 66:35Quando você esta lidando com as filosofias de
-
66:35 - 66:37Milton Friedman, F. A. Hayek,
-
66:37 - 66:39John Maynard Keynes, Ludwig von Mises
-
66:39 - 66:42e outros grandes economistas de mercado,
-
66:42 - 66:43a base da análise racional
-
66:43 - 66:46raramente abandona a sequência monetária.
-
66:46 - 66:48É como uma religião.
-
66:48 - 66:50Análises de consumo, políticas de estabilização,
-
66:50 - 66:53saldo negativo, demanda agregada...
-
66:53 - 66:56Isto existe como um círculo de raciocínio
-
66:56 - 66:59interminável, autorreferente e autorracionalizado,
-
66:59 - 67:03em que as necessidades humanas, os recursos naturais
-
67:03 - 67:07e qualquer forma de eficiência que sustente a vida
-
67:07 - 67:09são automaticamente descartados
-
67:09 - 67:12e substituídos pela noção única de que os humanos,
-
67:12 - 67:14buscando tirar vantagem uns dos outros só pelo dinheiro,
-
67:14 - 67:17motivados pelo egoísmo mesquinho,
-
67:18 - 67:22criarão magicamente uma sociedade sustentável, saudável e equilibrada.
-
67:22 - 67:25Não há referência à vida em toda essa teoria,
-
67:25 - 67:27em toda essa doutrina.
-
67:27 - 67:28O que eles estão fazendo?
-
67:28 - 67:32O que fazem é monitorar as sequências monetárias.
-
67:32 - 67:35Apenas isso: monitorar sequências monetárias
-
67:35 - 67:39pressupondo que isso seja só o que importa.
-
67:39 - 67:41Primeiro: não há referência à vida...
-
67:41 - 67:43Opa... sem referência à vida?
-
67:43 - 67:46Segundo: todos os agentes são
-
67:46 - 67:49buscadores de preferências automaximizáveis,
-
67:49 - 67:51isto é, só pensam em si mesmos
-
67:51 - 67:53e o máximo que podem ganhar.
-
67:53 - 67:57Esta é a ideia dominante da racionalidade:
-
67:57 - 67:59automaximizar a escolha.
-
68:00 - 68:03A única coisa em que estão interessados em automaximizar
-
68:03 - 68:05é dinheiro ou mercadorias.
-
68:05 - 68:08Mas onde entram as relações sociais?
-
68:08 - 68:11Não entram, exceto nas trocas para automaximizar.
-
68:11 - 68:14E onde entram nossos recursos naturais?
-
68:14 - 68:17Não entram, exceto na exploração deles.
-
68:17 - 68:22Onde entra a questão da sobrevivência da família?
-
68:22 - 68:24Não entra. Ela precisa de
-
68:24 - 68:27dinheiro para comprar qualquer bem.
-
68:27 - 68:28Mas, uma economia não deveria
-
68:28 - 68:30lidar com necessidades humanas também?
-
68:30 - 68:35Não é essa a questão fundamental?
-
68:35 - 68:38"Necessidade" sequer está em seu dicionário.
-
68:38 - 68:41Ela é dissolvida em "desejos"...
-
68:41 - 68:43E o que é um desejo? Significa
-
68:43 - 68:46o que a demanda monetária deseja comprar.
-
68:46 - 68:48Bem, se o foco está na demanda monetária,
-
68:48 - 68:50não tem nada a ver com necessidades,
-
68:50 - 68:52porque talvez a pessoa não tenha demanda monetária
-
68:52 - 68:55e precise desesperadamente, digamos, de água.
-
68:55 - 68:59Ou talvez a demanda monetária queira uma privada de ouro.
-
68:59 - 69:00Para onde vai tudo isso?
-
69:01 - 69:02Para a privada de ouro.
-
69:02 - 69:04Chamam isso de economia?
-
69:04 - 69:07É só pensar um pouco
-
69:07 - 69:10para ver que este é o delírio
-
69:10 - 69:13mais bizarro da história do pensamento humano.
-
69:14 - 69:16SISTEMA MONETÁRIO
-
69:16 - 69:20Até agora nos focamos só no sistema de mercado.
-
69:20 - 69:22Mas esse sistema é apenas
-
69:22 - 69:25metade do paradigma econômico global.
-
69:25 - 69:28A outra metade é o sistema monetário.
-
69:28 - 69:31Enquanto o sistema de mercado lida com a interação das pessoas,
-
69:31 - 69:34competindo pelo lucro através do espectro da mão de obra,
-
69:34 - 69:36produção e distribuição,
-
69:36 - 69:40o sistema monetário é um conjunto de regras fundamentais
-
69:40 - 69:42determinadas pelas instituições financeiras,
-
69:42 - 69:44que criam condições para o
-
69:44 - 69:46sistema de mercado, entre outras coisas.
-
69:46 - 69:49Isso inclui termos que ouvimos bastante
-
69:49 - 69:52como "taxa de juros", "empréstimos", "dívida", "oferta monetária",
-
69:52 - 69:55"inflação" etc.
-
69:55 - 69:57Por mais que possa dar vontade de arrancar os cabelos ouvir
-
69:57 - 70:00as bobagens ditas pelos economistas
-
70:00 - 70:04-- "modestas ações preventivas podem evitar a necessidade
-
70:04 - 70:08de ações mais drásticas futuramente" --
-
70:08 - 70:10a natureza e o efeito desse
-
70:10 - 70:12sistema são bem simples.
-
70:13 - 70:14Nossa economia possui...
-
70:14 - 70:16A economia global possui
-
70:16 - 70:18três preceitos básicos que a governam.
-
70:18 - 70:19O primeiro é o sistema de reserva fracionária,
-
70:19 - 70:22com os bancos imprimindo dinheiro do nada.
-
70:22 - 70:24É baseada também em juros acumulados.
-
70:24 - 70:27Quando você pega dinheiro emprestado, precisa devolver mais
-
70:27 - 70:30do que pegou, o que significa que você, na prática,
-
70:30 - 70:33cria dinheiro do nada de novo,
-
70:33 - 70:37cujos juros têm de ser pagos pela criação de ainda mais dinheiro.
-
70:37 - 70:39Nós vivemos num paradigma de crescimento infinito.
-
70:39 - 70:43O paradigma econômico que vivemos é um Esquema Ponzi.
-
70:43 - 70:45Nada cresce para sempre.
-
70:46 - 70:47É impossível.
-
70:47 - 70:49Como o grande psicólogo James Hillman escreveu:
-
70:49 - 70:51"a única coisa que cresce no corpo humano depois
-
70:51 - 70:53de certa idade é o câncer".
-
70:54 - 70:56Não é só a quantidade de dinheiro que precisa continuar crescendo,
-
70:56 - 70:57mas também a de consumidores.
-
70:57 - 71:00Consumidores que contraiam empréstimos a juros,
-
71:00 - 71:03para gerar mais dinheiro, o que obviamente é impossível
-
71:03 - 71:05num planeta finito.
-
71:05 - 71:08As pessoas são basicamente veículos para criar dinheiro
-
71:08 - 71:10que devem criar mais dinheiro
-
71:10 - 71:12para impedir que tudo desmorone,
-
71:12 - 71:15que é o que está acontecendo neste momento.
-
71:15 - 71:18Há apenas duas coisas que alguém precisa saber
-
71:18 - 71:20sobre o sistema monetário.
-
71:20 - 71:231. Todo o dinheiro é criado a partir de dívida.
-
71:23 - 71:26Dinheiro é dívida monetizada,
-
71:26 - 71:28seja se materializando a partir dos títulos do tesouro,
-
71:28 - 71:31contratos de hipoteca ou cartões de crédito.
-
71:31 - 71:33Em outras palavras, se toda a dívida ativa
-
71:33 - 71:35fosse quitada agora
-
71:35 - 71:39não haveria nenhum dólar em circulação.
-
71:39 - 71:442. Cobra-se juros sobre praticamente todos os empréstimos feitos
-
71:44 - 71:46e o dinheiro necessário para pagá-los
-
71:46 - 71:49não existe no suprimento monetário de imediato.
-
71:49 - 71:52Somente o principal é criado pelos empréstimos
-
71:52 - 71:55e o principal é o suprimento monetário.
-
71:55 - 71:58Se toda as dívidas fossem quitadas agora
-
71:58 - 72:01não apenas não haveria mais um dólar em circulação,
-
72:01 - 72:04como haveria uma quantia gigantesca de dinheiro devido
-
72:05 - 72:10que é literalmente impossível de ser pago, pois não existe.
-
72:11 - 72:15A consequência disso tudo é que duas coisas são inevitáveis:
-
72:15 - 72:16inflação
-
72:16 - 72:18e falência.
-
72:18 - 72:22A inflação pode ser vista como uma tendência histórica
-
72:22 - 72:23em quase todos países
-
72:23 - 72:25e facilmente ligada à sua causa,
-
72:25 - 72:28que é o aumento perpétuo do suprimento monetário,
-
72:29 - 72:30necessário para
-
72:30 - 72:34cobrir os juros e manter o sistema funcionando.
-
72:34 - 72:36Quanto à falência,
-
72:36 - 72:39ela vem na forma de colapso pela dívida.
-
72:39 - 72:42Esse colapso ocorrerá inevitavelmente com uma pessoa,
-
72:42 - 72:44um negócio ou um país,
-
72:44 - 72:47e geralmente acontece quando o pagamento dos juros
-
72:47 - 72:49torna-se impossível.
-
72:50 - 72:52Mas há um lado bom nisso tudo,
-
72:52 - 72:56pelo menos em termos de sistema de mercado.
-
72:56 - 72:59Porque a dívida cria pressão.
-
72:59 - 73:01A dívida cria escravos assalariados.
-
73:01 - 73:04Uma pessoa endividada tem mais chances de aceitar um salário baixo
-
73:04 - 73:06do que uma pessoa sem dívidas,
-
73:06 - 73:08tornando-se assim mercadoria barata.
-
73:08 - 73:11Assim, é ótimo para as corporações ter um grupo de pessoas
-
73:11 - 73:14sem mobilidade financeira.
-
73:14 - 73:18Mas essa mesma ideia vale para países inteiros.
-
73:18 - 73:21O Banco Mundial e o FMI,
-
73:21 - 73:23que servem como pontes para
-
73:23 - 73:26os interesses corporativos transnacionais,
-
73:26 - 73:28fornecem empréstimos enormes para países com dificuldades
-
73:28 - 73:30a juros altíssimos,
-
73:30 - 73:32e quando estes países estão
-
73:32 - 73:34profundamente endividados e não podem mais pagar,
-
73:34 - 73:36aplicam-se medidas de austeridade,
-
73:36 - 73:37as corporações entram em cena,
-
73:38 - 73:41abrem fábricas escravizantes e tomam seus recursos naturais.
-
73:41 - 73:45Isso sim é eficiência de mercado.
-
73:45 - 73:47Mas espere, tem mais.
-
73:47 - 73:48Existe essa mistura única
-
73:48 - 73:51de sistema monetário com o sistema de mercado,
-
73:51 - 73:53chamado de mercado de ações,
-
73:53 - 73:56que ao invés de produzir algo real,
-
73:56 - 73:59apenas compra e vende o dinheiro em si.
-
74:00 - 74:02E quando se trata de dívida, sabe o que é feito?
-
74:02 - 74:05Isso mesmo, eles negociam a dívida.
-
74:05 - 74:09Eles efetivamente compram e vendem dívidas pelo lucro.
-
74:09 - 74:11Desde CDSs
-
74:11 - 74:14e CDOs da dívida do consumidor,
-
74:14 - 74:16até complexos esquemas de derivativos
-
74:16 - 74:19usados para mascarar a dívida de países inteiros,
-
74:19 - 74:20como no caso do conluio do
-
74:20 - 74:23banco de investimentos Goldman Sachs e Grécia,
-
74:23 - 74:26que quase provocou o colapso da economia europeia.
-
74:26 - 74:29Então, em se tratando do mercado de ações e Wall Street
-
74:29 - 74:32temos um nível totalmente novo de insanidade
-
74:32 - 74:35nascido da sequência monetária do valor.
-
74:36 - 74:37Tudo o que você precisa saber sobre mercados
-
74:37 - 74:40foi escrito há alguns anos num editorial
-
74:41 - 74:42do Wall Street Journal
-
74:42 - 74:45intitulado "Lições de um investidor com danos cerebrais".
-
74:45 - 74:48Neste editorial, eles explicaram por que
-
74:48 - 74:50pessoas com um leve dano cerebral
-
74:50 - 74:52se saem melhor como investidores
-
74:52 - 74:55do que pessoas com funcionamento normal do cérebro.
-
74:55 - 74:57Por quê? Porque pessoas com
-
74:57 - 74:59um leve dano cerebral não têm empatia.
-
74:59 - 75:02Essa é a chave. Se você não tem nenhuma empatia
-
75:02 - 75:04será um ótimo investidor,
-
75:04 - 75:09e dessa maneira Wall Street cria pessoas sem empatia
-
75:09 - 75:11para chegar lá, tomar decisões
-
75:11 - 75:14e realizar negociações sem escrúpulos,
-
75:14 - 75:17sem considerar se a maneira como estão sendo feitas
-
75:17 - 75:19pode afetar outros seres humanos.
-
75:19 - 75:21Assim eles criam esses robôs,
-
75:21 - 75:24essas pessoas desalmadas.
-
75:24 - 75:27E já que nem essas pessoas eles querem pagar mais
-
75:27 - 75:29estão agora criando robôs de verdade:
-
75:29 - 75:31algoritmos para negociações.
-
75:31 - 75:34Goldman Sachs, no escândalo das transações de alta frequência,
-
75:34 - 75:37colocou um computador junto à bolsa de valores de Nova Iorque.
-
75:38 - 75:40Esse computador "co-locado", como é chamado,
-
75:41 - 75:43monitora todas as negociações na bolsa
-
75:43 - 75:46e realiza um grande volume de operações,
-
75:46 - 75:47de maneira que ganha
-
75:47 - 75:50centavos a cada operação.
-
75:50 - 75:52É como se estivessem bombeando dinheiro o dia todo.
-
75:52 - 75:55Ano passado ficaram 30-60 dias
-
75:55 - 75:58de um trimestre sem um único dia de queda
-
75:58 - 76:00ganhando milhões de dólares todo santo dia?
-
76:00 - 76:04Isso é estatisticamente impossível!
-
76:04 - 76:06Quando eu trabalhava em Wall Street, tudo mundo
-
76:06 - 76:08promovia em troca de suborno.
-
76:08 - 76:12O operador suborna o gerente de escritório.
-
76:12 - 76:15O gerente de escritório suborna o gerente regional de vendas.
-
76:15 - 76:17O gerente regional de vendas
-
76:17 - 76:19suborna o gerente nacional de vendas.
-
76:19 - 76:20É uma prática comum.
-
76:20 - 76:24No Natal, quem ganha o maior bônus
-
76:24 - 76:26na posição de operador de bolsa? O auditor interno.
-
76:26 - 76:29O auditor interno fica lá sentado o dia todo.
-
76:29 - 76:30Ele deveria garantir que você
-
76:30 - 76:32não viole nenhuma das regras de margem
-
76:32 - 76:34e de que está "cumprindo" as leis.
-
76:34 - 76:36Claro, até o ponto em que
-
76:36 - 76:38você pode subornar o auditor interno.
-
76:38 - 76:41É isso mesmo, você está cumprindo a lei!
-
76:41 - 76:43Como então a fraude se tornou o sistema?
-
76:43 - 76:45Ela não é mais um subproduto.
-
76:45 - 76:46Ela é o sistema.
-
76:46 - 76:49É como aquela velha piada do Woody Allen:
-
76:49 - 76:52"doutor, meu irmão pensa que ele é uma galinha".
-
76:52 - 76:54E o médico diz: "tome uma pílula,
-
76:54 - 76:56e isto deve resolver o problema".
-
76:56 - 76:57"Não doutor, você não entende.
-
76:57 - 76:59Nós precisamos dos ovos".
-
76:59 - 77:00OK?
-
77:01 - 77:03A troca incessante de ações fraudulentas
-
77:03 - 77:05entre bancos
-
77:05 - 77:06para gerar taxas,
-
77:06 - 77:07para gerar bônus,
-
77:07 - 77:11tornou-se o motor de crescimento
-
77:11 - 77:14do PIB da economia dos EUA
-
77:14 - 77:17embora estejam essencialmente trocando ações fraudulentas
-
77:17 - 77:20que não têm nenhuma chance de serem pagos algum dia.
-
77:20 - 77:23Eles estão processando, gerando e reassegurando nada.
-
77:23 - 77:26Se eu escrever $20 bilhões em um guardanapo
-
77:26 - 77:28e vender ele para J.P. Morgan, e J.P. Morgan escreve
-
77:29 - 77:32$20 bilhões em outro guardanapo
-
77:32 - 77:34e nós trocamos estes dois guardanapos num bar
-
77:34 - 77:38e nos pagamos um quarto de 1% de taxa,
-
77:38 - 77:40fazemos muito dinheiro para o nosso bônus de Natal.
-
77:40 - 77:43Nós temos em nossos registros um guardanapo de $20 bilhões
-
77:43 - 77:47que não tem nenhum valor real até o momento em que
-
77:47 - 77:50o sistema não é mais capaz de absorver
-
77:50 - 77:53guardanapos falsos, que é quando vamos ao governo
-
77:53 - 77:55receber pacotes de ajuda.
-
77:55 - 77:58E por causa de Wall Street e do mercado global de ações,
-
77:58 - 78:01há hoje, pelo menos, cerca de $700 trilhões
-
78:01 - 78:04em ações fraudulentas não pagas,
-
78:04 - 78:06conhecidas como "derivativos",
-
78:06 - 78:08ainda à espera do colapso.
-
78:08 - 78:10Um valor que equivale a 10 vezes mais
-
78:10 - 78:12que o produto interno bruto
-
78:12 - 78:14de todo o planeta.
-
78:14 - 78:16Apesar de já termos visto o resgate de
-
78:16 - 78:18corporações e bancos pelos governos
-
78:19 - 78:21-- os quais comicamente pegam o dinheiro
-
78:21 - 78:22emprestado dos próprios bancos --
-
78:23 - 78:26o que vemos hoje são tentativas de resgate de países inteiros
-
78:26 - 78:28por conglomerados formados por outros países,
-
78:28 - 78:30através de bancos internacionais.
-
78:31 - 78:34Mas como se resgata um planeta?
-
78:34 - 78:38Não há nenhum país que não esteja saturado de dívida.
-
78:39 - 78:42A sucessão de calotes governamentais que vimos
-
78:42 - 78:46pode ser só o começo, se fizermos os devidos cálculos.
-
78:46 - 78:49Estima-se que, apenas nos EUA,
-
78:49 - 78:53o imposto de renda terá de ser aumentado para 65%
-
78:53 - 78:57por pessoa, apenas para cobrir os juros, num futuro próximo.
-
78:57 - 79:00Economistas acreditam que dentro de algumas décadas,
-
79:01 - 79:0560% dos países irão falir.
-
79:06 - 79:09Mas espere aí... Deixe-me ver se entendi.
-
79:09 - 79:12O mundo está indo à falência,
-
79:12 - 79:14seja lá o que isso signifique,
-
79:14 - 79:16por causa dessa ideia chamada "dívida"
-
79:16 - 79:19que nem sequer existe no mundo real.
-
79:20 - 79:22É apenas parte de um jogo que inventamos,
-
79:22 - 79:26e ainda assim, o bem-estar de bilhões de pessoas
-
79:26 - 79:28está sendo comprometido.
-
79:28 - 79:32Demissões em massa, favelas, pobreza crescente,
-
79:32 - 79:36medidas de austeridade, escolas fechando,
-
79:36 - 79:40crianças passando fome e outros níveis de privação familiar...
-
79:40 - 79:44tudo por causa dessa elaborada ficção.
-
79:44 - 79:47Somos estúpidos ou o quê?!
-
79:49 - 79:51Ei, ei! Marte, meu caro.
-
79:51 - 79:53Ajuda um irmão aí?
-
79:55 - 79:57Cresça, amigo.
-
80:04 - 80:06Saturno! E aí, cara?
-
80:07 - 80:09Lembra daquela linda nebulosa com quem te arranjei um encontro
-
80:09 - 80:10faz um tempinho?
-
80:12 - 80:13Terra, escute.
-
80:13 - 80:15Estamos nos cansando de você.
-
80:16 - 80:18Você teve de tudo e ainda assim não aproveitou nada.
-
80:19 - 80:21Você tem muitos recursos e sabe disso.
-
80:21 - 80:23Por que não amadurece e aprende
-
80:23 - 80:25a ter alguma responsabilidade, pelo amor de Deus?
-
80:25 - 80:27Está fazendo sua mãe infeliz.
-
80:33 - 80:34Você está por sua conta, camarada.
-
80:35 - 80:37É, que seja.
-
80:43 - 80:45SAÚDE PÚBLICA
-
80:46 - 80:48Agora, considerando tudo isso,
-
80:48 - 80:51da máquina de desperdício que é o sistema de mercado
-
80:51 - 80:54à máquina de dívidas conhecida como sistema monetário,
-
80:54 - 80:57criando assim o paradigma mercantil-monetário
-
80:57 - 81:00que hoje define a economia global,
-
81:00 - 81:03há uma consequência que percorre
-
81:03 - 81:05toda a máquina:
-
81:06 - 81:07desigualdade.
-
81:08 - 81:11Se é o sistema de mercado que cria uma gravitação
-
81:11 - 81:15natural em direção ao monopólio e à consolidação do poder,
-
81:15 - 81:18enquanto também gera diversas indústrias ricas
-
81:18 - 81:20que se elevam acima das outras
-
81:20 - 81:22independentemente de sua utilidade,
-
81:22 - 81:24tal como o fato de os maiores
-
81:24 - 81:25gestores de fundos de Wall Street
-
81:25 - 81:29agora embolsarem mais de $300 milhões por ano
-
81:29 - 81:32por contribuir literalmente com nada.
-
81:32 - 81:35Enquanto um cientista procurando curar uma doença,
-
81:35 - 81:37tentando ajudar a humanidade,
-
81:37 - 81:41pode ganhar $60 mil por ano, se tiver sorte.
-
81:41 - 81:44Ou se é o sistema monetário,
-
81:44 - 81:47que possui a divisão de classes inerente a sua estrutura.
-
81:47 - 81:48Por exemplo,
-
81:49 - 81:52se tenho $1 milhão sobrando e os aplico em CDB,
-
81:52 - 81:54com juros de 4%,
-
81:54 - 81:56ganharei $40 mil por ano.
-
81:56 - 81:59Nenhuma contribuição social, nada.
-
81:59 - 82:02No entanto, se sou da classe baixa e preciso pegar empréstimos
-
82:02 - 82:04para comprar meu carro ou casa,
-
82:04 - 82:06estarei pagando juros que,
-
82:06 - 82:07teoricamente,
-
82:08 - 82:12vão remunerar aquele milionário com os 4% do CDB.
-
82:12 - 82:15Este roubo dos pobres para pagar aos ricos
-
82:15 - 82:19é um fundamento inerente ao sistema monetário
-
82:19 - 82:23e poderia ser rotulado como "classicismo estrutural".
-
82:23 - 82:26Historicamente, a estratificação social
-
82:26 - 82:28sempre foi considerada injusta
-
82:28 - 82:30mas claramente aceita de forma geral,
-
82:30 - 82:35já que agora 1% da população detém 40% da riqueza do planeta.
-
82:36 - 82:38Mas, justiça material à parte,
-
82:38 - 82:40há outra coisa acontecendo
-
82:40 - 82:42por baixo da superfície da desigualdade,
-
82:42 - 82:47deteriorando a saúde pública como um todo.
-
82:47 - 82:50Acho que as pessoas muitas vezes ficam confusas pelo contraste
-
82:50 - 82:53entre o sucesso material das nossas sociedades
-
82:53 - 82:55-- níveis de riqueza sem precedentes --
-
82:56 - 82:59e os muitos fracassos sociais.
-
82:59 - 83:02Se você olhar para as taxas de
-
83:02 - 83:05uso de drogas, violência, automutilação
-
83:05 - 83:08entre crianças ou doenças mentais,
-
83:08 - 83:11há claramente algo profundamente errado
-
83:11 - 83:13com nossas sociedades.
-
83:13 - 83:16Os dados que tenho descrito
-
83:16 - 83:20simplesmente mostram essa intuição que as pessoas
-
83:20 - 83:23têm tido por centenas de anos, de que a desigualdade divide
-
83:23 - 83:25e corrói a sociedade.
-
83:25 - 83:29Porém, essa intuição é mais verdadeira do que imaginávamos.
-
83:29 - 83:32Há efeitos psicológicos e sociais muito poderosos
-
83:32 - 83:35da desigualdade, mais relacionados, creio eu, com sentimentos
-
83:35 - 83:38de superioridade e inferioridade.
-
83:38 - 83:40Esse tipo de divisão
-
83:40 - 83:44-- e talvez o mesmo valha para o respeito e o desrespeito --
-
83:44 - 83:46em que as pessoas se sentem desprezadas ao extremo.
-
83:46 - 83:48Motivo pelo qual, a propósito, a violência é
-
83:48 - 83:51mais frequente em sociedades mais desiguais.
-
83:51 - 83:54O gatilho da violência é, muitas vezes, as pessoas se sentirem
-
83:54 - 83:56menosprezadas e desrespeitadas.
-
83:56 - 84:00Se há um princípio que eu poderia enfatizar,
-
84:00 - 84:04isto é, o princípio subjacente mais importante
-
84:04 - 84:07para a prevenção da violência,
-
84:07 - 84:10seria a igualdade.
-
84:10 - 84:12O fator mais significativo
-
84:12 - 84:14que afeta a taxa de violência
-
84:14 - 84:17é o grau de igualdade versus o de desigualdade
-
84:18 - 84:20na sociedade.
-
84:21 - 84:23O que estamos vendo é uma espécie de
-
84:23 - 84:25disfunção social generalizada.
-
84:25 - 84:28Não é só uma ou duas coisas que dão errado
-
84:28 - 84:30conforme a desigualdade aumenta,
-
84:30 - 84:32mas aparentemente tudo, seja em relação ao
-
84:32 - 84:35crime, à saúde, às doenças mentais ou ao que for.
-
84:35 - 84:38Uma das descobertas mais perturbadoras sobre saúde pública é:
-
84:38 - 84:43em hipótese alguma cometa o erro de ser pobre
-
84:43 - 84:45ou de ter nascido pobre.
-
84:45 - 84:48Sua saúde paga por isso de infinitas maneiras,
-
84:48 - 84:52algo conhecido como o gradiente socioeconômico de saúde.
-
84:52 - 84:54Conforme você desce a partir da camada social
-
84:54 - 84:57mais alta, em termos de posição socioeconômica,
-
84:57 - 84:59a cada degrau descido a saúde piora
-
84:59 - 85:01para muitos tipos de doenças,
-
85:01 - 85:03a expectativa de vida piora,
-
85:03 - 85:05a taxa de mortalidade infantil,
-
85:05 - 85:06tudo que você puder considerar.
-
85:06 - 85:09Uma enorme questão tem sido:
-
85:09 - 85:12por que este gradiente existe?
-
85:12 - 85:14Uma resposta óbvia e simples
-
85:14 - 85:16é que, se você está cronicamente doente, não
-
85:16 - 85:19será muito produtivo.
-
85:19 - 85:22Assim, problemas de saúde geram diferenças socioeconômicas.
-
85:22 - 85:23Não passou nem perto,
-
85:23 - 85:25pelo simples fato de que
-
85:25 - 85:26é possível olhar para a
-
85:26 - 85:28posição socioeconômica de uma criança
-
85:28 - 85:31e isso irá predizer algo sobre sua saúde
-
85:31 - 85:32décadas depois.
-
85:32 - 85:34Esta é a direção da causalidade.
-
85:34 - 85:37A próxima é "perfeitamente óbvia":
-
85:37 - 85:39pessoas pobres não podem pagar para ir ao médico.
-
85:39 - 85:41É acesso à saúde?
-
85:41 - 85:42Não tem nada a ver com isso
-
85:42 - 85:44porque você vê estes mesmos gradientes
-
85:44 - 85:46em países com assistência médica universal e
-
85:46 - 85:48medicina socializada.
-
85:48 - 85:50OK, próxima explicação simples:
-
85:50 - 85:52geralmente, quanto mais pobre você é
-
85:52 - 85:54maiores são as chances de fumar,
-
85:54 - 85:58beber e de viver com todo tipo de fator de risco.
-
85:58 - 86:02Sim, isso contribui, mas estudos meticulosos mostraram
-
86:02 - 86:04que talvez explique só um terço da variabilidade.
-
86:04 - 86:06O que resta então?
-
86:06 - 86:09O que resta tem muito a ver
-
86:09 - 86:11com o estresse da pobreza.
-
86:11 - 86:15Quanto mais pobre você é, a começar pela
-
86:15 - 86:18pessoa que ganha um dólar a menos que Bill Gates,
-
86:18 - 86:20quanto mais pobre você é neste país,
-
86:20 - 86:22de modo geral, pior será a sua saúde.
-
86:22 - 86:24Isso nos diz algo realmente importante:
-
86:24 - 86:26a conexão da saúde com a pobreza
-
86:26 - 86:30não se trata de ser pobre, mas de se sentir pobre.
-
86:30 - 86:36Cada vez mais, reconhecemos que o estresse crônico
-
86:36 - 86:38possui uma influência importante na saúde,
-
86:38 - 86:41mas as fontes mais importantes de estresse
-
86:41 - 86:43se referem à qualidade das relações sociais.
-
86:44 - 86:45E se existe algo que
-
86:45 - 86:47diminui a qualidade das relações sociais
-
86:48 - 86:51é a estratificação socioeconômica da sociedade.
-
86:51 - 86:53O que a ciência nos mostrou agora
-
86:53 - 86:55é que, independentemente da riqueza material,
-
86:55 - 86:59o estresse de simplesmente viver numa sociedade estratificada
-
86:59 - 87:03leva a um vasto espectro de problemas na saúde pública
-
87:03 - 87:07e quanto maior a desigualdade, piores eles ficam.
-
87:07 - 87:11Expectativa de vida: maior em países mais igualitários.
-
87:12 - 87:15Uso de drogas: menor em países mais igualitários.
-
87:16 - 87:20Doenças mentais: menor em países mais igualitários.
-
87:20 - 87:22Capital social, isto é,
-
87:22 - 87:25a capacidade de as pessoas confiarem umas nas outras:
-
87:25 - 87:28naturalmente maior em países mais igualitários.
-
87:28 - 87:32Índices educacionais: mais altos em países mais igualitários.
-
87:32 - 87:37Taxas de homicídio: menores em países mais igualitários.
-
87:37 - 87:39Taxas de criminalidade e prisão:
-
87:39 - 87:42menores em países mais igualitários.
-
87:42 - 87:44E continua:
-
87:44 - 87:48Mortalidade infantil, obesidade, taxa de natalidade na adolescência:
-
87:48 - 87:50menor em países mais igualitários.
-
87:50 - 87:52E talvez mais interessante:
-
87:52 - 87:56Inovação: maior em países mais igualitários,
-
87:56 - 88:00o que desafia a antiga noção de que uma sociedade
-
88:00 - 88:04competitiva e estratificada é mais criativa e inventiva.
-
88:05 - 88:07Além disso, um estudo feito no Reino Unido
-
88:07 - 88:08chamado de Estudo Whitehall,
-
88:08 - 88:11confirmou que há uma distribuição social de doenças
-
88:11 - 88:14que vai desde o topo da escala socioeconômica
-
88:14 - 88:15até a base.
-
88:15 - 88:18Por exemplo, foi descoberto que os degraus mais baixos
-
88:18 - 88:20da hierarquia tinham 4 vezes mais
-
88:20 - 88:23mortalidade por doenças cardíacas
-
88:23 - 88:25em relação aos degraus mais altos.
-
88:25 - 88:29E esse padrão existe, independente do acesso à saúde.
-
88:29 - 88:33Portanto, quanto pior a condição financeira relativa de alguém,
-
88:33 - 88:36pior será a sua saúde, de modo geral.
-
88:36 - 88:39Esse fenômeno tem suas raízes no que pode ser chamado de
-
88:39 - 88:41"estresse psicossocial"
-
88:41 - 88:44e está na base das grandes distorções sociais
-
88:44 - 88:47que assolam nossa sociedade atual.
-
88:47 - 88:48Sua causa?
-
88:48 - 88:51O sistema mercantil-monetário.
-
88:52 - 88:54Não se engane:
-
88:54 - 88:56o maior destruidor da ecologia;
-
88:56 - 89:00a maior fonte de desperdício, esgotamento e poluição;
-
89:00 - 89:02o maior incitador de violência,
-
89:03 - 89:07guerra, crime, pobreza, abuso animal e desumanidade;
-
89:07 - 89:11o maior gerador de neuroses sociais e individuais,
-
89:11 - 89:14de doenças mentais, depressão, ansiedade
-
89:14 - 89:18-- para não falar da maior fonte de paralisia social,
-
89:18 - 89:21que nos impede de adotar novas metodologias
-
89:21 - 89:24para a saúde pessoal, a sustentabilidade
-
89:24 - 89:27e o progresso neste planeta --
-
89:27 - 89:31não é nenhum governo corrupto ou legislação,
-
89:31 - 89:35nenhuma corporação perversa ou cartel bancário,
-
89:35 - 89:37nenhuma falha da natureza humana
-
89:38 - 89:42e nenhuma sociedade secreta que controla o mundo.
-
89:43 - 89:44É, na verdade,
-
89:44 - 89:46o próprio sistema socioeconômico
-
89:46 - 89:49em sua essência.
-
90:05 - 90:10PARTE 3: PROJETO TERRA
-
90:11 - 90:13Vamos imaginar por um momento que temos a opção
-
90:13 - 90:16de reformular a civilização humana completamente.
-
90:16 - 90:18E se, hipoteticamente falando,
-
90:18 - 90:21descobríssemos uma réplica exata do planeta Terra
-
90:21 - 90:23e que a única diferença entre
-
90:23 - 90:25este novo planeta e o nosso atual
-
90:25 - 90:27fosse que a evolução humana não tivesse ocorrido.
-
90:27 - 90:29Seria um mundo de possibilidades.
-
90:29 - 90:33Sem países, sem cidades, sem poluição, sem republicanos...
-
90:33 - 90:35Apenas um ambiente imaculado e aberto.
-
90:36 - 90:38O que faríamos então?
-
90:38 - 90:40Primeiro precisamos de uma meta, certo?
-
90:40 - 90:44É seguro dizer que esta meta seria sobreviver.
-
90:44 - 90:48E não apenas sobreviver, mas fazê-lo de maneira otimizada,
-
90:48 - 90:49saudável e próspera.
-
90:49 - 90:52A maioria das pessoas, de fato, deseja viver
-
90:52 - 90:54e, de preferência, sem sofrimento.
-
90:54 - 90:57Portanto, a base desta civilização
-
90:57 - 90:59precisa dar o máximo de suporte
-
90:59 - 91:01e sustentabilidade para a vida humana,
-
91:01 - 91:04levando em conta as necessidades materiais
-
91:04 - 91:05de todo o mundo,
-
91:05 - 91:07enquanto tenta eliminar tudo
-
91:07 - 91:09que possa nos ferir a longo prazo.
-
91:10 - 91:14Definida esta meta de "sustentabilidade máxima",
-
91:14 - 91:17a próxima questão diz respeito ao nosso método.
-
91:17 - 91:19Que tipo de abordagem usaremos?
-
91:19 - 91:20Vejamos...
-
91:20 - 91:25Pelo que sei, a política é o método de funcionamento social na Terra.
-
91:25 - 91:28E o que as doutrinas dos republicanos, liberais,
-
91:28 - 91:32conservadores e socialistas têm a dizer sobre como projetar a sociedade?
-
91:33 - 91:36Humm... absolutamente nada.
-
91:36 - 91:38OK, e que tal a religião?
-
91:38 - 91:42Certamente o grande criador deixou alguma planta por aí...
-
91:42 - 91:44Não. Não achei nenhuma.
-
91:44 - 91:47OK, então o que nos resta?
-
91:47 - 91:50Aparentemente algo chamado "ciência".
-
91:50 - 91:54A ciência é única no sentido de que seus métodos não só exigem que
-
91:54 - 91:57as ideias propostas sejam testadas e replicadas,
-
91:57 - 92:01como suas conclusões são também inerentemente refutáveis.
-
92:01 - 92:04Em outras palavras, diferente da religião e da política,
-
92:04 - 92:06a ciência não tem ego,
-
92:06 - 92:09e tudo que ela sugere admite a possibilidade de
-
92:09 - 92:11algum dia ser desmentido.
-
92:11 - 92:14Ela não se apega a nada e evolui constantemente.
-
92:15 - 92:17Bem, isso soa bastante natural para mim.
-
92:17 - 92:21Baseado no conhecimento científico atual neste
-
92:21 - 92:22início de século XXI,
-
92:23 - 92:25junto com nossa meta de "sustentabilidade máxima"
-
92:25 - 92:27para a população humana,
-
92:27 - 92:31como daremos início ao processo de construção?
-
92:31 - 92:33A primeira pergunta a fazer é:
-
92:33 - 92:35do que precisamos para sobreviver?
-
92:35 - 92:38A resposta, naturalmente, é: recursos planetários.
-
92:39 - 92:42Seja a água que bebemos, a energia que utilizamos
-
92:42 - 92:46ou a matéria-prima para criarmos ferramentas e abrigos,
-
92:46 - 92:49o planeta abriga um estoque de recursos,
-
92:49 - 92:52muitos dos quais necessitamos para sobreviver.
-
92:52 - 92:54Diante desta realidade,
-
92:54 - 92:59passa a ser crucial descobrir o que temos e onde está localizado.
-
92:59 - 93:01Isto significa que precisamos realizar um levantamento.
-
93:01 - 93:05Nós simplesmente localizamos e identificamos todos recursos do planeta
-
93:05 - 93:09que pudermos, juntamente com a quantidade disponível em cada área.
-
93:09 - 93:13De depósitos de cobre, aos locais de melhor potencial para
-
93:13 - 93:15a produção de energia eólica,
-
93:15 - 93:17às nascentes de água,
-
93:17 - 93:20a uma estimativa da quantidade de peixes no oceano,
-
93:20 - 93:25às mais férteis terras para cultivo de alimentos etc.
-
93:25 - 93:27E, já que nós, humanos, iremos
-
93:27 - 93:29consumir estes recursos ao longo do tempo
-
93:29 - 93:34percebemos que não basta apenas localizá-los e identificá-los:
-
93:34 - 93:36precisamos também monitorá-los.
-
93:36 - 93:39Devemos nos certificar de que não esgotaremos nenhum deles,
-
93:39 - 93:40isso seria péssimo.
-
93:40 - 93:43E isto significa não apenas monitorar nossas taxas de uso
-
93:43 - 93:46como também as taxas de regeneração da Terra,
-
93:46 - 93:49como o tempo que leva para uma
-
93:49 - 93:52árvore crescer ou uma nascente tornar a encher.
-
93:52 - 93:56Isto se chama "equilíbrio dinâmico".
-
93:56 - 94:00Em outras palavras, se cortamos árvores num ritmo maior que o de regeneração
-
94:00 - 94:04temos um sério problema, pois é insustentável.
-
94:04 - 94:07Como podemos monitorar este estoque,
-
94:07 - 94:09especialmente quando reconhecemos que todas
-
94:09 - 94:11as coisas estão por toda parte?
-
94:12 - 94:15Temos grandes minas de minério no que chamamos de "África",
-
94:15 - 94:18concentrações de energia no "Oriente Médio",
-
94:18 - 94:21um enorme potencial maremotriz na "costa norte-americana",
-
94:21 - 94:26o maior suprimento de água doce no "Brasil" etc.
-
94:26 - 94:30Mais uma vez, a boa e velha ciência tem uma sugestão:
-
94:30 - 94:32chama-se "teoria de sistemas".
-
94:32 - 94:36A teoria de sistemas reconhece que a estrutura do mundo real
-
94:36 - 94:39-- da biologia humana, à biosfera terrestre
-
94:39 - 94:43à atração gravitacional do sistema solar --
-
94:43 - 94:48é um enorme sistema conectado sinergicamente, totalmente interligado.
-
94:48 - 94:51Assim como as células humanas se conectam para formar
-
94:51 - 94:53nossos órgãos, e estes para formar nossos corpos,
-
94:53 - 94:56-- e já que nossos corpos não vivem sem os recursos terrestres,
-
94:56 - 95:01como comida, ar e água -- nós estamos intimamente ligados à Terra,
-
95:01 - 95:03e assim por diante.
-
95:03 - 95:06Então, como a natureza sugere, pegamos todo este inventário
-
95:06 - 95:10e dados de monitoramento e criamos um sistema para gerenciá-la.
-
95:10 - 95:14Um sistema global de gerenciamento de recursos
-
95:14 - 95:17para contabilizar todos os recursos relevantes do planeta.
-
95:17 - 95:21Não há outra alternativa lógica, se nosso objetivo enquanto espécie
-
95:21 - 95:26é a sobrevivência a longo prazo. Temos de monitorar o todo.
-
95:26 - 95:30Com isso estabelecido, podemos agora pensar na produção.
-
95:30 - 95:31Como usaremos tudo isso?
-
95:31 - 95:35Qual será o nosso processo de produção e o que precisamos
-
95:35 - 95:38considerar para garantir que é o mais otimizado possível
-
95:38 - 95:42para maximizar nossa sustentabilidade?
-
95:42 - 95:45A primeira coisa que nos vem à mente é o fato de
-
95:45 - 95:47precisarmos constantemente evitar o desperdício.
-
95:48 - 95:51Os recursos do planeta são essencialmente finitos.
-
95:51 - 95:54Portanto, é importante sermos estratégicos.
-
95:54 - 95:57Preservação estratégica é a chave.
-
95:57 - 96:00A segunda coisa que percebemos é que alguns recursos
-
96:00 - 96:03não são tão bons como outros em seus desempenhos.
-
96:03 - 96:06Na verdade, algumas coisas, quando postas em uso,
-
96:06 - 96:08têm um efeito terrível no meio ambiente,
-
96:08 - 96:10o que prejudica nossa própria saúde.
-
96:11 - 96:15Por exemplo: combustíveis fósseis, não importa como os utilizamos,
-
96:15 - 96:19liberam agentes bastante destrutivos no meio ambiente.
-
96:19 - 96:22Por isso, é crucial fazermos o máximo para usá-los
-
96:22 - 96:26apenas quando for preciso, ou nem usá-los.
-
96:26 - 96:31Felizmente, temos enormes possibilidades para produzir
-
96:31 - 96:35energia solar, eólica, maremotriz, das ondas, geotérmica etc.,
-
96:35 - 96:39que nos permitem planejar objetivamente o que usar e onde,
-
96:39 - 96:44para evitar o que se pode chamar de "retroações negativas"
-
96:44 - 96:47ou qualquer resultado da produção ou do uso
-
96:47 - 96:51que danifique o meio ambiente e a nós mesmos.
-
96:51 - 96:54Chamaremos isso de "segurança estratégica"
-
96:54 - 96:58para combinar com nossa "preservação estratégica".
-
96:58 - 97:00Mas as estratégias de produção não param por aí.
-
97:00 - 97:03Precisaremos de uma estratégia de eficiência
-
97:04 - 97:07para a mecânica da produção.
-
97:07 - 97:09E o que descobrimos é que há aproximadamente
-
97:09 - 97:12três protocolos específicos que deveremos adotar.
-
97:12 - 97:151. Todo bem que produzirmos deve ser
-
97:15 - 97:17projetado para durar o máximo possível.
-
97:17 - 97:19Naturalmente, quanto mais coisas quebram,
-
97:20 - 97:23mais recursos são necessários para as substituírem
-
97:23 - 97:25gerando assim mais lixo.
-
97:25 - 97:272. Quando as coisas de fato quebrarem
-
97:27 - 97:30ou não forem mais úteis, por qualquer motivo,
-
97:30 - 97:35é crucial que recolhamos e reciclemos ao máximo.
-
97:35 - 97:38Portanto, o projeto de produção deve levar isso
-
97:38 - 97:41em conta logo nos primeiros estágios.
-
97:42 - 97:463. Tecnologias de rápida evolução, como a eletrônica,
-
97:46 - 97:50que estão sujeitas à elevadas taxas de obsolescência tecnológica,
-
97:50 - 97:52deverão ser projetadas para
-
97:52 - 97:55prever e acomodar atualizações físicas.
-
97:55 - 97:59A última coisa que faremos é jogar fora um computador
-
97:59 - 98:03inteiro apenas porque só uma parte quebrou ou ficou obsoleta.
-
98:03 - 98:07Simplesmente projetamos os componentes para serem facilmente
-
98:07 - 98:11atualizáveis peça por peça, padronizados e universalmente compatíveis
-
98:11 - 98:16com base nas tendências tecnológicas atuais.
-
98:16 - 98:19Quando percebemos que os mecanismos da preservação,
-
98:19 - 98:23segurança e eficiência estratégicas
-
98:23 - 98:26são considerações puramente técnicas,
-
98:26 - 98:29isentas de qualquer opinião humana ou viés,
-
98:29 - 98:32simplesmente programamos tais estratégias em um computador
-
98:32 - 98:35que possa avaliar e calcular todas as variáveis relevantes
-
98:35 - 98:37permitindo que cheguemos ao
-
98:37 - 98:41melhor método para a produção sustentável
-
98:41 - 98:43com base no conhecimento atual.
-
98:44 - 98:46E por mais que isso possa soar complexo
-
98:46 - 98:49tudo não passa de uma grandiosa calculadora.
-
98:49 - 98:50para não mencionar que tais sistemas
-
98:50 - 98:53de tomada de decisões e monitoração multivariados
-
98:53 - 98:55já são usados pelo mundo afora
-
98:55 - 99:00para propósitos isolados. É só uma questão de aumentar a escala.
-
99:00 - 99:01Então...
-
99:01 - 99:05Não apenas temos nosso sistema de gerenciamento de recursos,
-
99:05 - 99:08mas também um sistema de gerenciamento de produção,
-
99:08 - 99:10ambos facilmente automatizáveis por computador
-
99:10 - 99:14para maximizar a eficiência, a preservação e a segurança.
-
99:14 - 99:17A realidade informática é que a mente humana ou
-
99:17 - 99:21um grupo de pessoas não conseguem monitorar o que é preciso.
-
99:21 - 99:25Isto pode e deve ser feito por computadores,
-
99:26 - 99:29o que nos leva ao próximo nível: distribuição.
-
99:29 - 99:32Qual estratégia sustentável faz sentido aqui?
-
99:32 - 99:34Como sabemos que a menor distância
-
99:34 - 99:37entre dois pontos é uma linha reta
-
99:37 - 99:41e que máquinas de transporte usam energia para se moverem,
-
99:41 - 99:44quanto menor o deslocamento, maior a eficiência.
-
99:44 - 99:48Produzir bens num continente e enviá-los a outro
-
99:48 - 99:51só faz sentido se tais bens simplesmente não puderem
-
99:51 - 99:54ser produzidos no local de destino.
-
99:54 - 99:57Do contrário, é simplesmente um desperdício.
-
99:57 - 100:00A produção deve ser local para que a distribuição seja simples,
-
100:00 - 100:03rápida e requeira o mínimo de energia.
-
100:04 - 100:06Chamaremos isso de "estratégia de proximidade",
-
100:06 - 100:08que simplesmente implica na redução
-
100:08 - 100:10do transporte de bens tanto quanto possível,
-
100:10 - 100:14seja de matéria-prima ou de bens de consumo prontos.
-
100:14 - 100:17Obviamente, também é importante
-
100:17 - 100:20saber quais bens estamos transportando e por quê.
-
100:20 - 100:23E isso entra na categoria "demanda".
-
100:23 - 100:25E demanda é simplesmente o que as pessoas precisam
-
100:25 - 100:28para ter saúde e uma alta qualidade de vida.
-
100:28 - 100:30O espectro das necessidades materiais humanas
-
100:30 - 100:33varia desde necessidades essenciais à vida,
-
100:33 - 100:36como comida, água limpa e moradia,
-
100:37 - 100:40até bens sociais e recreativos que permitam relaxamento
-
100:40 - 100:43e prazer pessoal e social --
-
100:43 - 100:48ambos fatores importantes na saúde social e humana em geral.
-
100:48 - 100:50Simplesmente realizamos outro levantamento.
-
100:50 - 100:53As pessoas descrevem suas necessidades, a demanda é
-
100:53 - 100:56analisada e a produção se inicia com base nesta demanda.
-
100:56 - 100:59E já que o nível de demanda de diferentes bens
-
100:59 - 101:03vai naturalmente oscilar e variar em regiões distintas,
-
101:03 - 101:07criamos um sistema de monitoramento de distribuição e demanda
-
101:07 - 101:10para evitar excessos e faltas.
-
101:10 - 101:12Claro, essa ideia nada tem de nova
-
101:12 - 101:15e é usada em todas as grandes redes de supermercados
-
101:15 - 101:18para garantir o ajuste do estoque.
-
101:18 - 101:22Só que, desta vez, estamos monitorando em escala global.
-
101:22 - 101:26Mas espere: não podemos saber ao certo a demanda
-
101:26 - 101:30se não levarmos em conta o uso do bem em si.
-
101:30 - 101:34Seria lógico e sustentável que todo ser humano, digamos,
-
101:34 - 101:39tenha uma unidade de tudo que é feito, independente do uso?
-
101:39 - 101:43Não. Isso seria um desperdício e uma ineficiência.
-
101:43 - 101:47Se alguém necessita de um bem, mas este será usado
-
101:47 - 101:49por 45 minutos por dia, em média,
-
101:49 - 101:51seria muito mais eficiente se este
-
101:51 - 101:53bem fosse disponibilizado para ele
-
101:53 - 101:56e para outros só quando precisassem.
-
101:56 - 101:59Muitos esquecem que não é o bem que eles querem,
-
101:59 - 102:01mas sim a utilidade do bem.
-
102:01 - 102:03Ao percebemos que o bem em si
-
102:03 - 102:05só é importante por sua utilidade
-
102:05 - 102:08vemos que a restrição externa,
-
102:08 - 102:11ou o que poderíamos chamar de "posse",
-
102:11 - 102:14é puro desperdício e ecologicamente sem sentido
-
102:14 - 102:18num sentido fundamental e econômico.
-
102:18 - 102:23Precisamos criar algo chamado "acesso estratégico".
-
102:23 - 102:25Esta seria a base de nosso
-
102:25 - 102:27sistema de monitoramento de demanda e distribuição,
-
102:27 - 102:29que garante que possamos atender as
-
102:29 - 102:30necessidades da população,
-
102:30 - 102:35permitindo o acesso do que precisam, quando precisarem.
-
102:35 - 102:38E no que se refere a obtenção física dos bens,
-
102:38 - 102:40centros de acesso regionais e centrais
-
102:40 - 102:42fazem sentido, na maioria dos casos,
-
102:42 - 102:46situados bem próximo da população.
-
102:46 - 102:49A pessoa entraria, pegaria o item,
-
102:49 - 102:52o usaria e quando terminasse de usá-lo, o devolveria --
-
102:52 - 102:55mais ou menos como uma biblioteca funciona hoje.
-
102:55 - 102:57Na verdade, esses centros poderiam ficar não só
-
102:57 - 103:00na comunidade, tal como as lojas de hoje,
-
103:00 - 103:04como também centros especializados ficariam em áreas específicas
-
103:04 - 103:07onde esses itens seriam utilizados,
-
103:07 - 103:11poupando energia pela redução do transporte.
-
103:11 - 103:14Quando o sistema de monitoramento de demanda estiver pronto,
-
103:14 - 103:17ele será integrado ao sistema de gerenciamento de produção
-
103:17 - 103:20e, é claro, ao nosso sistema de gerenciamento de recursos,
-
103:20 - 103:23criando um máquina global de gerenciamento unificada
-
103:23 - 103:26e dinamicamente atualizada
-
103:26 - 103:29que garanta nossa sustentabilidade.
-
103:29 - 103:33Começando por assegurar a integridade de nossos recursos finitos
-
103:33 - 103:36e, depois, garantir que só criamos os melhores
-
103:36 - 103:38e mais estratégicos bens possíveis
-
103:38 - 103:40enquanto os distribuímos da maneira
-
103:40 - 103:43mais inteligente e eficaz.
-
103:43 - 103:47O resultado dessa relação baseada na preservação,
-
103:47 - 103:50que é contraintuitiva para muitos,
-
103:50 - 103:53é que esse processo lógico,
-
103:53 - 103:56empírico e feito do zero de preservação e eficiência,
-
103:56 - 104:01que define a verdadeira sustentabilidade humana no planeta,
-
104:01 - 104:06provavelmente possibilitaria algo nunca antes visto em nossa história:
-
104:06 - 104:08abundância de acesso.
-
104:08 - 104:11Não só para uma parcela da população global,
-
104:11 - 104:15mas para a civilização inteira.
-
104:16 - 104:18Esse modelo econômico, que vimos brevemente,
-
104:18 - 104:21essa responsável abordagem sistêmica para o gerenciamento
-
104:21 - 104:24total dos recursos e processos da Terra
-
104:24 - 104:26projetado, novamente, para fazer nada menos
-
104:26 - 104:28que tomar conta da humanidade como um todo
-
104:28 - 104:31da maneira mais eficiente e sustentável possível
-
104:31 - 104:32pode ser chamada de
-
104:32 - 104:35ECONOMIA BASEADA EM RECURSOS
-
104:35 - 104:38A ideia foi definida na década de 1970 pelo
-
104:38 - 104:41engenheiro social Jacque Fresco.
-
104:41 - 104:44Naquela época, ele viu que a sociedade estava em rota de colisão
-
104:44 - 104:49contra si mesma e a natureza -- insustentável em todos os níveis --
-
104:49 - 104:51e que se as coisas não mudassem,
-
104:51 - 104:54nós iríamos nos destruir, de um jeito ou de outro.
-
104:54 - 104:56Todas estas coisas que você diz, Jacque,
-
104:56 - 104:59poderiam ser construídas com o que sabemos hoje,
-
104:59 - 105:03ou você está "chutando", com base no que sabemos hoje?
-
105:03 - 105:06Não. Tudo isto pode ser feito com o que sabemos atualmente.
-
105:06 - 105:09Levaria 10 anos para mudar a superfície da Terra,
-
105:09 - 105:12para transformar o mundo em outro Jardim do Éden.
-
105:12 - 105:14A escolha está com você.
-
105:14 - 105:16A estupidez de uma corrida armamentista nuclear,
-
105:16 - 105:18o desenvolvimento de armas...
-
105:18 - 105:20Tentar resolver seus problemas através da política
-
105:20 - 105:23elegendo este ou aquele partido...
-
105:23 - 105:26Toda a política está imersa na corrupção.
-
105:26 - 105:27Vou repetir:
-
105:27 - 105:30comunismo, socialismo, fascismo, os democratas e
-
105:30 - 105:34os liberais -- nós queremos incluir todos seres humanos.
-
105:34 - 105:37Todas as organizações que acreditam numa vida melhor para o homem:
-
105:37 - 105:40não existem problemas de negros ou poloneses,
-
105:40 - 105:42nem problemas de judeus ou gregos,
-
105:42 - 105:45ou problemas de mulheres -- só há problemas humanos!
-
105:45 - 105:48Não tenho medo de ninguém. Não trabalho para ninguém.
-
105:48 - 105:49Ninguém pode me demitir.
-
105:49 - 105:51Eu não tenho chefe.
-
105:51 - 105:54Eu tenho medo de viver na sociedade em que vivemos atualmente.
-
105:54 - 105:58Ela não pode ser mantida com esse tipo de incompetência.
-
105:58 - 106:00O sistema de livre iniciativa foi ótimo
-
106:00 - 106:03há uns 35 anos, a última vez em que foi útil.
-
106:03 - 106:07Agora, temos que mudar o modo de pensar ou morreremos todos.
-
106:08 - 106:12Os filmes de terror do futuro serão sobre nossa sociedade,
-
106:12 - 106:14o modo como tudo deu errado,
-
106:14 - 106:15e a política
-
106:15 - 106:18será parte de um filme de terror.
-
106:20 - 106:25Várias pessoas hoje usam o termo "ciência fria"
-
106:25 - 106:27porque ela é analítica
-
106:27 - 106:30e eles nem sequer sabem o que significa "analítico".
-
106:30 - 106:33Ciência significa: aproximações mais precisas
-
106:33 - 106:35sobre como o mundo realmente funciona.
-
106:36 - 106:39Então, é contar a verdade. É disso que se trata.
-
106:39 - 106:42Um cientista não tenta se "dar bem" com as pessoas.
-
106:42 - 106:44Eles contam quais são suas descobertas.
-
106:44 - 106:47Eles precisam questionar todas as coisas
-
106:47 - 106:51e se algum cientista aparecer com um experimento que mostre
-
106:51 - 106:54que alguns materiais têm dadas resistências
-
106:54 - 106:56outros cientistas precisam ser capazes de duplicar
-
106:56 - 106:59aquele experimento e obter os mesmos resultados.
-
106:59 - 107:03Mesmo se um cientista achar que a asa de um avião,
-
107:03 - 107:06devido à cálculos matemáticos,
-
107:06 - 107:08possa segurar uma certa quantidade de peso,
-
107:08 - 107:11eles ainda irão pendurar sacos de areia nela
-
107:11 - 107:13pra ver quando quebraria, e então
-
107:13 - 107:16eles dizem se os cálculos estavam corretos ou não.
-
107:16 - 107:20Eu adoro esse sistema por que é livre de viéses
-
107:20 - 107:23da ideia de que a matemática pode resolver tudo.
-
107:23 - 107:26É preciso por sua matemática à prova também.
-
107:26 - 107:29Acho que todo sistema que pode
-
107:29 - 107:32ser posto à prova, deve ser posto.
-
107:32 - 107:36E todas as decisões deveriam ser baseadas em pesquisas.
-
107:37 - 107:39Uma economia baseada em recursos é simplesmente
-
107:39 - 107:42o método científico aplicado à questões sociais --
-
107:42 - 107:45uma abordagem totalmente ausente no mundo de hoje.
-
107:45 - 107:48A sociedade é uma invenção técnica.
-
107:48 - 107:51E os métodos mais eficientes de saúde humana otimizada,
-
107:51 - 107:55produção física, distribuição, infraestrutura urbana etc.,
-
107:55 - 107:58residem no campo da ciência e
-
107:58 - 108:01da tecnologia -- não na política ou na economia monetária.
-
108:01 - 108:05Ela funciona da mesma maneira sistemática que, digamos, um avião,
-
108:05 - 108:09e não existe uma maneira republicana ou liberal de construir um avião.
-
108:09 - 108:11Igualmente, a própria natureza é a
-
108:11 - 108:14referência física que utilizamos para provar nossa ciência.
-
108:14 - 108:16É um sistema fixo,
-
108:16 - 108:19emergindo apenas de nosso crescente conhecimento dela.
-
108:20 - 108:22Na verdade, ela não dá a mínima para o que
-
108:22 - 108:25você subjetivamente pensa ou acredita ser verdade.
-
108:25 - 108:27Pelo contrário, ela lhe dá uma opção:
-
108:27 - 108:29você pode aprender e se adequar com
-
108:29 - 108:31suas leis naturais e se guiar de acordo
-
108:31 - 108:34-- invariavelmente criando boa saúde e sustentabilidade --
-
108:34 - 108:38ou você pode ir contra a corrente, sem sucesso algum.
-
108:38 - 108:40Não importa o quanto você acredita, simplesmente não há
-
108:40 - 108:42como você se levantar agora e caminhar pela parede,
-
108:42 - 108:45a lei da gravidade não vai permitir.
-
108:45 - 108:47Se você não comer, morrerá.
-
108:47 - 108:50Se você não for tocado quando bebê, morrerá.
-
108:50 - 108:54Por mais duro que pareça, a natureza é uma ditadura
-
108:54 - 108:57e podemos escutá-la e entrar em harmonia com ela
-
108:57 - 109:00ou sofrer as inevitáveis consequências adversas.
-
109:00 - 109:03Então, uma economia baseada em recursos é nada mais
-
109:03 - 109:07que um conjunto de entendimentos comprovados
-
109:07 - 109:09de suporte à vida, em que todas as decisões são baseadas em
-
109:09 - 109:13sustentabilidade ambiental e humana otimizadas.
-
109:13 - 109:16É levada em consideração a base da vida empírica
-
109:16 - 109:19que todo ser humano compartilha como uma necessidade
-
109:19 - 109:23independente, novamente, de sua filosofia política ou religiosa.
-
109:23 - 109:26Não há relativismo cultural nessa abordagem.
-
109:26 - 109:29Não é uma questão de opinião.
-
109:29 - 109:31Necessidades humanas são necessidades humanas
-
109:31 - 109:35e ter acesso às necessidades da vida, tal como ar limpo,
-
109:35 - 109:37comida nutritiva e água limpa,
-
109:37 - 109:41junto com um ambiente de reforço positivo,
-
109:41 - 109:45estável, estimulante e não violento, é necessário
-
109:45 - 109:47para nossa saúde mental e física,
-
109:47 - 109:49nossa capacidade evolutiva
-
109:49 - 109:52e a sobrevivência da espécie em si.
-
109:52 - 109:55Uma economia baseada em recursos
-
109:55 - 109:58seria baseada nos recursos disponíveis.
-
109:58 - 110:01Você não pode trazer um monte de pessoas a uma ilha
-
110:01 - 110:07ou construir uma cidade para 50 mil habitantes sem ter
-
110:07 - 110:09acesso às necessidades da vida.
-
110:09 - 110:13Então, quando uso o termo abordagem sistêmica compreensiva
-
110:13 - 110:18estou falando de fazer, primeiramente, um inventário da área,
-
110:18 - 110:21determinando o que a área pode fornecer
-
110:21 - 110:23não apenas no aspecto da arquitetura,
-
110:23 - 110:26não apenas no aspecto do design,
-
110:26 - 110:30mas o design deve ser baseado em todos os requisitos
-
110:30 - 110:31para enriquecer a vida humana
-
110:31 - 110:35e é isso que quero dizer com uma maneira integrada de se pensar.
-
110:35 - 110:38Comida, roupas, abrigo, calor, amor.
-
110:38 - 110:41Todas essas coisas são necessárias.
-
110:41 - 110:43E se você privar as pessoas de qualquer uma delas,
-
110:44 - 110:49terá seres humanos inferiores, com capacidade inferior.
-
110:49 - 110:53Como dito anteriormente, a abordagem sistêmica global de extração,
-
110:53 - 110:58distribuição e produção numa economia baseada em recursos
-
110:58 - 111:03possui um conjunto de mecanismos verdadeiramente econômicos
-
111:03 - 111:05que garantem eficiência
-
111:05 - 111:09e sustentabilidade em todas as áreas da economia.
-
111:09 - 111:12Então, continuando essa linha de pensamento sobre projeto lógico,
-
111:12 - 111:14o que vem depois em nossa equação?
-
111:14 - 111:17Onde tudo isso se materializa?
-
111:17 - 111:18Cidades.
-
111:18 - 111:22O advento da cidade é um marco da civilização moderna.
-
111:22 - 111:26Seu papel é permitir acesso eficiente às necessidades da vida
-
111:26 - 111:31juntamente com um forte suporte social e interação da comunidade.
-
111:31 - 111:34E como fazemos para projetar uma cidade ideal?
-
111:34 - 111:36Em que formato a faríamos?
-
111:36 - 111:38Quadrada? Trapezoide?
-
111:38 - 111:40Bem, como vamos nos locomover por entre ela,
-
111:40 - 111:43deveríamos fazê-la a mais equidistante possível.
-
111:44 - 111:46Logo, o círculo.
-
111:46 - 111:48O que deveria existir na cidade?
-
111:48 - 111:52Naturalmente precisamos de área residencial, de produção de bens,
-
111:52 - 111:55de geração de energia e uma zona agrária.
-
111:56 - 111:59Mas precisamos também estimular as pessoas. Ou seja, cultura,
-
111:59 - 112:02natureza, recreação e educação.
-
112:02 - 112:04Então vamos incluir um belo parque aberto,
-
112:04 - 112:09uma área para entretenimento e eventos culturais, para socialização,
-
112:09 - 112:11e instalações para educação e pesquisa.
-
112:11 - 112:14E já que estamos trabalhando com um círculo,
-
112:14 - 112:16parece racional posicionar essas funções em cinturões,
-
112:16 - 112:19baseado na quantidade de terra necessária para cada fim,
-
112:20 - 112:22além de facilidade de acesso.
-
112:22 - 112:23Muito bom.
-
112:24 - 112:26Agora, vamos analisar mais a fundo:
-
112:26 - 112:28primeiramente, precisamos considerar a infraestrutura
-
112:28 - 112:31central, ou entranhas do organismo urbano.
-
112:31 - 112:33Estes seriam os canais de transporte
-
112:33 - 112:36de água, bens, lixo e energia.
-
112:36 - 112:39Exatamente como as cidades de hoje têm sistemas de água e esgotos,
-
112:40 - 112:42estenderíamos este conceito de canais para
-
112:42 - 112:45integrar a reciclagem de lixo e a distribuição de bens.
-
112:45 - 112:48Não haveria mais entregadores ou lixeiros.
-
112:48 - 112:50Isso está embutido no sistema. Poderíamos utilizar
-
112:50 - 112:53tubos pneumáticos e tecnologias similares.
-
112:54 - 112:55E o mesmo vale para o transporte.
-
112:55 - 112:59Ele precisa ser integrado e estrategicamente projetado para reduzir
-
112:59 - 113:03ou mesmo eliminar o desperdício que são os automóveis individuais.
-
113:03 - 113:06Bondes elétricos, esteiras rolantes e transportadores,
-
113:06 - 113:08trens magnéticos que podem levá-lo a
-
113:08 - 113:10qualquer lugar da cidade, inclusive para cima e para baixo,
-
113:10 - 113:14além de conectá-lo também a outras cidades.
-
113:14 - 113:17E claro, se houver a necessidade de um carro,
-
113:17 - 113:20ele será ativado via satélite para manter a segurança e a integridade.
-
113:20 - 113:24Na verdade, essa automação tecnológica já está acontecendo agora.
-
113:24 - 113:29Acidentes de carro matam cerca de 1,2 milhões de pessoas todo ano,
-
113:29 - 113:31ferindo cerca de 50 milhões.
-
113:31 - 113:34Isto é um absurdo e não tem mais que acontecer.
-
113:34 - 113:38Com um projeto urbano eficiente e carros automáticos sem motoristas,
-
113:38 - 113:41essa taxa de mortalidade pode ser praticamente eliminada.
-
113:41 - 113:43Agricultura.
-
113:43 - 113:46Hoje, através de métodos industriais mal planejados e baratos
-
113:46 - 113:50usando pesticidas, fertilizantes em excesso e outros meios,
-
113:50 - 113:52nós destruímos, com sucesso, boa parte
-
113:52 - 113:54da terra arável neste planeta,
-
113:54 - 113:58sem mencionar o envenenamento de nossos corpos.
-
113:58 - 114:01Toxinas químicas da indústria e da agricultura
-
114:01 - 114:07aparecem agora em quase todos as pessoas em pesquisas, incluindo crianças.
-
114:07 - 114:10Felizmente, existe uma alternativa brilhante:
-
114:10 - 114:14a agricultura sem solo da hidroponia e aeroponia,
-
114:14 - 114:17que também reduz a necessidade de nutrientes
-
114:17 - 114:20e de água em até 75% do nível de uso atual.
-
114:20 - 114:24Hoje é possível cultivar alimentos de forma orgânica, em escala industrial,
-
114:24 - 114:27em estufas verticais.
-
114:27 - 114:30Por exemplo, 50 andares de 1 acre cada,
-
114:30 - 114:32praticamente eliminando a necessidade do uso de
-
114:32 - 114:35pesticidas e hidrocarbonetos em geral.
-
114:35 - 114:38Este é o futuro do cultivo industrial de alimentos.
-
114:38 - 114:40Eficiente, limpo e abundante.
-
114:40 - 114:43Assim, estes sistemas avançados seriam, em parte,
-
114:43 - 114:46os que compõem nosso cinturão agrícola
-
114:46 - 114:50produzindo a comida necessária à toda população da cidade
-
114:50 - 114:53sem a necessidade de trazer nada de longe,
-
114:53 - 114:56economizando tempo, desperdício e energia.
-
114:56 - 114:58E falando em energia...
-
114:58 - 115:01O cinturão de energia trabalharia numa abordagem sistêmica para
-
115:01 - 115:04extrair eletricidade de diversas fontes renováveis e abundantes,
-
115:04 - 115:09como eólica, solar, geotérmica, por variação de temperatura
-
115:09 - 115:12e, nas regiões costeiras, maremotriz e das ondas.
-
115:13 - 115:15Para evitar intermitência e garantir a existência
-
115:15 - 115:17de retornos positivos da rede de energia,
-
115:17 - 115:20esses meios transmissores operariam em um sistema integrado
-
115:20 - 115:22provendo energia uns aos outros, quando necessário,
-
115:22 - 115:25enquanto armazenam a energia em excesso
-
115:25 - 115:27em supercapacitores no subsolo,
-
115:27 - 115:29para evitar desperdícios.
-
115:29 - 115:32A cidade não apenas gera sua própria energia,
-
115:32 - 115:35algumas estruturas são também energeticamente autônomas,
-
115:35 - 115:38produzindo eletricidade através de tintas fotovoltaicas,
-
115:38 - 115:42transdutores de pressão estrutural, o efeito termopar
-
115:42 - 115:45e outras tecnologias existentes, mas subutilizadas.
-
115:46 - 115:47Mas, é claro, isso levanta a questão:
-
115:48 - 115:50como esta tecnologia, e outros bens de consumo
-
115:50 - 115:52em geral, são criados?
-
115:52 - 115:54Isso nos leva à produção:
-
115:54 - 115:57o cinturão industrial, além de ter hospitais e afins,
-
115:57 - 116:00seria o concentrador da produção fabril.
-
116:00 - 116:01Localizado de maneira integrada,
-
116:01 - 116:04ele teria, é claro, que obter matéria-prima através
-
116:04 - 116:07do sistema de gerenciamento recursos, como visto há pouco,
-
116:08 - 116:12com a demanda sendo gerada pela própria população da cidade.
-
116:12 - 116:14Com relação à mecânica da produção
-
116:14 - 116:17precisamos discutir um novo e poderoso fenômeno
-
116:17 - 116:20que foi desencadeado recentemente na história da humanidade
-
116:20 - 116:23e que está a ponto de mudar tudo.
-
116:24 - 116:26Chama-se mecanização,
-
116:26 - 116:28ou automação da mão de obra.
-
116:28 - 116:31Se você olhar ao seu redor, notará que quase
-
116:31 - 116:34tudo o que usamos hoje
-
116:34 - 116:37é construído automaticamente.
-
116:37 - 116:42Seus sapatos, roupas, aparelhos domésticos, carro...
-
116:42 - 116:48Todos são construídos por máquinas em um método automatizado.
-
116:49 - 116:52Podemos dizer que a sociedade não tem sido
-
116:52 - 116:56influenciada por esses grandes avanços tecnológicos?
-
116:56 - 116:57É claro que não.
-
116:57 - 117:02Estes sistemas realmente ditam novas estruturas
-
117:02 - 117:08e novas necessidades, e tornam muitas outras coisas obsoletas.
-
117:08 - 117:12Logo, estivemos progredindo no desenvolvimento
-
117:12 - 117:16e uso de novas tecnologias, de maneira exponencial.
-
117:16 - 117:21Definitivamente a automação vai continuar. Não paramos
-
117:22 - 117:24tecnologias que simplesmente fazem sentido.
-
117:24 - 117:28Automação da mão de obra através de tecnologia é a base
-
117:28 - 117:31de toda grande transformação na história da raça humana.
-
117:31 - 117:34Da revolução agrícola à invenção do arado,
-
117:34 - 117:38da revolução industrial à invenção das máquinas elétricas,
-
117:38 - 117:41à era da informação em que vivemos -- essencialmente
-
117:41 - 117:45a partir da invenção da eletrônica avançada e dos computadores.
-
117:45 - 117:48E em função de avançados métodos de produção, hoje
-
117:48 - 117:51a mecanização está evoluindo por conta própria.
-
117:51 - 117:54Afastando-se dos métodos tradicionais de
-
117:54 - 117:56montar componentes em uma configuração
-
117:57 - 117:59e migrando para métodos avançados de criação
-
117:59 - 118:02de produtos inteiros em um único processo.
-
118:02 - 118:06Como muitos engenheiros, sou fascinado pela biologia, pois ela é
-
118:06 - 118:10repleta de exemplos de peças extraordinárias de engenharia.
-
118:10 - 118:16O que é biologia? É o estudo das coisas que se copiam.
-
118:16 - 118:18É a melhor definição da vida que temos.
-
118:18 - 118:20Novamente, como engenheiro, sempre fiquei
-
118:20 - 118:23intrigado com a ideia de máquinas que se autorreplicam.
-
118:23 - 118:26RepRap é uma impressora tridimensional.
-
118:26 - 118:29É uma impressora que você conecta no computador e,
-
118:29 - 118:32ao invés de fazer planilhas bidimensionais com desenhos,
-
118:32 - 118:35faz objetos reais, físicos, tridimensionais.
-
118:36 - 118:37E não há nada de novo sobre isso.
-
118:37 - 118:40Impressoras 3D existem há aproximadamente 30 anos.
-
118:40 - 118:45O destaque é que a RepRap imprime quase todas as suas partes.
-
118:45 - 118:47Logo, se você tem uma, você poderia
-
118:47 - 118:48montar outra e dá-la a um amigo.
-
118:48 - 118:51Além de poder imprimir muitas outras coisas úteis.
-
118:51 - 118:55Da simples impressão de utensílios básicos em sua casa
-
118:55 - 118:59até um corpo inteiro de um automóvel de uma só vez,
-
118:59 - 119:02a impressão avançada 3D automatizada agora tem o
-
119:02 - 119:05potencial de transformar quase todos os campos de produção,
-
119:05 - 119:07incluindo a construção civil.
-
119:08 - 119:10A construção por contornos é
-
119:10 - 119:13na verdade uma tecnologia de fabricação,
-
119:13 - 119:17chamada impressão 3D, quando você constrói diretamente
-
119:17 - 119:21objetos 3D a partir de um modelo no computador.
-
119:21 - 119:24Através da impressão por contorno, será possível
-
119:24 - 119:27construir uma casa de 185 m²
-
119:27 - 119:31inteiramente por máquinas, em um dia.
-
119:31 - 119:36A razão do interesse na construção automatizada
-
119:36 - 119:39é porque traz muitos benefícios.
-
119:39 - 119:43Por exemplo, a construção é um trabalho intenso,
-
119:43 - 119:50e embora gere empregos para um setor da sociedade,
-
119:50 - 119:55também possui problemas e complicações.
-
119:55 - 120:00Por exemplo, construção é o trabalho mais perigoso que existe.
-
120:00 - 120:03É pior do que a mineração e agricultura.
-
120:03 - 120:07Ela possui o maior índice de fatalidades em quase todos os países.
-
120:08 - 120:10Outro problema é o desperdício.
-
120:10 - 120:15Uma casa média nos EUA gera de 3 a 7 toneladas de desperdício.
-
120:16 - 120:21É uma soma enorme, se considerarmos o impacto da construção
-
120:21 - 120:25e sabendo que aproximadamente 40% de todos materiais
-
120:25 - 120:28no mundo são utilizados em construções.
-
120:28 - 120:31Logo, é um grande desperdício de energia e recursos
-
120:31 - 120:34e também causa danos ao meio ambiente.
-
120:34 - 120:39Construir casas utilizando martelos, pregos e madeira,
-
120:39 - 120:44no estágio atual de tecnologia, é realmente um absurdo.
-
120:44 - 120:47E afetará a classe trabalhadora em
-
120:47 - 120:50relação à manufatura nos Estados Unidos.
-
120:51 - 120:56Recentemente, um estudo do economista David Autor, do MIT,
-
120:56 - 121:00constatou que a classe média é obsoleta
-
121:00 - 121:03e está sendo substituída pela automação.
-
121:04 - 121:07A mecanização é simplesmente mais produtiva,
-
121:07 - 121:10eficiente e sustentável que o trabalho humano
-
121:10 - 121:13em quase todos os setores da economia hoje.
-
121:13 - 121:17Máquinas não precisam de férias, folgas, seguros, pensões
-
121:17 - 121:19e elas podem trabalhar 24 horas por dia, todos os dias.
-
121:20 - 121:22O potencial de produção e precisão
-
121:22 - 121:25em relação ao trabalho humano, é incomparável.
-
121:26 - 121:29Moral da história: o trabalho humano repetitivo está se tornando
-
121:29 - 121:31obsoleto e impraticável em todo o mundo
-
121:31 - 121:34e o desemprego que você vê hoje
-
121:34 - 121:37é fundamentalmente o resultado dessa
-
121:37 - 121:40evolução da eficiência tecnológica.
-
121:40 - 121:44Por anos, economistas de mercado têm descartado este padrão crescente
-
121:44 - 121:47que pode ser chamado de "desemprego tecnológico"
-
121:47 - 121:50devido ao fato de que novos setores sempre surgiram
-
121:50 - 121:53para absorver os trabalhadores deslocados.
-
121:53 - 121:56Hoje, o setor de serviço é o único restante
-
121:56 - 122:00e atualmente emprega mais de 80% da mão de obra americana
-
122:00 - 122:04e a maioria dos países industrializados mantém a mesma proporção.
-
122:04 - 122:06Entretanto, este setor está sendo cada vez
-
122:06 - 122:09mais desafiado por quiosques automatizados,
-
122:09 - 122:13restaurantes automatizados e até por lojas automatizadas.
-
122:13 - 122:15Economistas hoje estão finalmente
-
122:15 - 122:17reconhecendo o que estavam negando por anos:
-
122:17 - 122:21o uso da automação não está apenas extrapolando a atual
-
122:21 - 122:23crise de emprego que estamos vendo pelo mundo
-
122:23 - 122:26devido à crise econômica global,
-
122:26 - 122:28mas quanto mais a recessão se aprofunda,
-
122:28 - 122:31mais rápido as indústrias se mecanizam.
-
122:31 - 122:33O problema, que não é percebido,
-
122:33 - 122:36é que quanto mais rápido eles se mecanizam para poupar dinheiro,
-
122:36 - 122:38mais pessoas eles demitem
-
122:38 - 122:41e mais ele reduzem o poder de compra em geral.
-
122:41 - 122:43Isso significa que, enquanto a corporação
-
122:43 - 122:45pode produzir tudo a custos mais baixos,
-
122:45 - 122:48menos pessoas terão dinheiro para comprar,
-
122:48 - 122:51independente de quão barato as coisas fiquem.
-
122:51 - 122:54A moral é que o jogo do "trabalho em troca
-
122:54 - 122:57de renda" está lentamente chegando ao fim.
-
122:57 - 122:59Na verdade, se você parar para refletir
-
122:59 - 123:02sobre os trabalhos existentes hoje em dia
-
123:02 - 123:05que a automação poderia assumir prontamente,
-
123:06 - 123:0875% da mão de obra global poderia
-
123:08 - 123:11ser substituída pela mecanização amanhã mesmo.
-
123:12 - 123:15E é por isso que numa economia baseada em recursos
-
123:15 - 123:18não há um sistema mercantil-monetário.
-
123:18 - 123:20Absolutamente sem dinheiro...
-
123:20 - 123:21Pois não há necessidade.
-
123:21 - 123:23Uma economia baseada em recursos
-
123:23 - 123:26reconhece a eficiência da mecanização
-
123:26 - 123:28e a aceita pelo que ela nos oferece.
-
123:28 - 123:30Não é contra ela, como somos hoje em dia.
-
123:31 - 123:33Por quê? Porque é irresponsável não
-
123:33 - 123:37valorizar eficiência e sustentabilidade.
-
123:38 - 123:41E isso nos traz de volta ao nosso sistema urbano.
-
123:41 - 123:43No meio está a cúpula central,
-
123:43 - 123:45que abriga não apenas
-
123:45 - 123:48as instalações educacionais e a central de transportes,
-
123:48 - 123:50como também o computador principal
-
123:50 - 123:52que controla as operações técnicas da cidade.
-
123:52 - 123:56A cidade é, na verdade, uma grande máquina automática.
-
123:56 - 123:58Há sensores em todos os cinturões
-
123:58 - 124:00para monitorar o progresso da arquitetura,
-
124:00 - 124:04coleta de energia, produção, distribuição e outros.
-
124:04 - 124:07E seriam necessárias pessoas para supervisionar
-
124:07 - 124:10essas operações para o caso de haver algum defeito etc.?
-
124:10 - 124:11Muito provavelmente sim.
-
124:11 - 124:13Mas este número iria cair com o tempo
-
124:13 - 124:15conforme mais melhorias são feitas.
-
124:15 - 124:17Porém, hoje em dia, talvez 3% da
-
124:17 - 124:19população de uma cidade seria necessária
-
124:20 - 124:22para esta tarefa, se analisarmos bem.
-
124:22 - 124:24E eu posso assegurar:
-
124:24 - 124:26num sistema econômico que, de fato,
-
124:26 - 124:28está projetado para cuidar de você
-
124:29 - 124:31e garantir seu bem-estar,
-
124:31 - 124:33sem ser preciso se submeter a uma
-
124:33 - 124:35ditadura particular diária,
-
124:35 - 124:38geralmente a um emprego que é
-
124:38 - 124:40tecnicamente inútil ou socialmente sem sentido,
-
124:41 - 124:44enquanto luta contra uma dívida que nem ao menos existe,
-
124:44 - 124:46apenas para pagar as contas...
-
124:46 - 124:50Garanto que pessoas irão doar seu tempo
-
124:50 - 124:53para manter e melhorar um sistema
-
124:53 - 124:56que realmente tome conta delas.
-
124:57 - 125:00E junto com essa questão do "incentivo"
-
125:00 - 125:02aparece a suposição comum de que
-
125:02 - 125:04se não existir alguma pressão externa
-
125:04 - 125:07para alguém "trabalhar para viver",
-
125:07 - 125:09as pessoas irão ficar à toa, fazendo nada,
-
125:09 - 125:12transformando-se em gordos preguiçosos.
-
125:12 - 125:14Isso é um absurdo.
-
125:14 - 125:17O sistema de trabalho que temos hoje é
-
125:17 - 125:19o gerador da preguiça,
-
125:19 - 125:22não algo que a resolva.
-
125:22 - 125:24Lembre-se de quando você era uma criança
-
125:24 - 125:27cheia de vida, interessada em coisas novas,
-
125:27 - 125:30provavelmente criando e explorando...
-
125:30 - 125:33Mas conforme o tempo passou, o sistema o empurrou
-
125:33 - 125:36para o foco de descobrir como ganhar dinheiro.
-
125:36 - 125:38E desde sua educação básica
-
125:38 - 125:41até a universidade, você é restringido.
-
125:41 - 125:44Somente para emergir como uma criatura que serve
-
125:44 - 125:46como uma engrenagem numa máquina que
-
125:46 - 125:49envia todos os frutos para o 1% no topo.
-
125:49 - 125:52Estudos científicos agora nos mostram que as pessoas
-
125:52 - 125:55não são motivadas por recompensas em dinheiro
-
125:55 - 125:58quando o assunto é engenhosidade e criação.
-
125:58 - 126:00A criação em si é a recompensa.
-
126:01 - 126:04O dinheiro, na verdade, serve apenas como um incentivo
-
126:04 - 126:06às ações mundanas repetitivas
-
126:06 - 126:10um papel que, como mostramos, pode ser feito por máquinas.
-
126:10 - 126:12Quando falamos de inovação,
-
126:12 - 126:15do verdadeiro uso da mente humana,
-
126:15 - 126:18o incentivo financeiro provou ser um obstáculo
-
126:18 - 126:21que interfere e prejudica o pensamento criativo.
-
126:21 - 126:24E isso explica porque Nicola Tesla, os irmãos Wright
-
126:24 - 126:27e outros inventores que contribuíram massivamente
-
126:27 - 126:28para nosso mundo
-
126:28 - 126:32nunca precisaram de um incentivo financeiro para criar.
-
126:32 - 126:35O dinheiro, na verdade, é um falso incentivo
-
126:35 - 126:38e causa 100 vezes mais distorções
-
126:38 - 126:40do que contribuições.
-
126:42 - 126:45Bom dia, classe. Sentem-se, por favor.
-
126:45 - 126:48A primeira coisa que gostaria de fazer é
-
126:48 - 126:52perguntar o que cada um quer ser quando crescer.
-
126:52 - 126:54Quem gostaria de ser o primeiro?
-
126:54 - 126:56Que tal você, Sara?
-
126:56 - 127:01Quando crescer, quero trabalhar no McDonald's igual à minha mãe!
-
127:01 - 127:04Ah, tradição de família, hein?
-
127:04 - 127:06E você, Linda?
-
127:06 - 127:08Quando eu crescer, serei uma
-
127:08 - 127:11prostituta nas ruas de Nova Iorque!
-
127:11 - 127:13Uma garota de glamour, hein?
-
127:13 - 127:15Bastante ambiciosa.
-
127:15 - 127:17E você, Tommy?
-
127:17 - 127:19Quando eu crescer, serei um
-
127:19 - 127:21empresário rico e elitista, que trabalha
-
127:21 - 127:23em Wall Street e lucra com o
-
127:23 - 127:25colapso das economias estrangeiras.
-
127:25 - 127:26Empreendedor...
-
127:26 - 127:30É maravilhoso ver algum interesse multicultural!
-
127:32 - 127:34VÍTIMAS DA CULTURA
-
127:34 - 127:36Como dito antes, uma economia baseada em recursos
-
127:36 - 127:40aplica o método científico nas questões sociais,
-
127:40 - 127:43e isto não é limitado apenas à eficiência técnica.
-
127:44 - 127:46Ela também leva em consideração
-
127:46 - 127:49o bem-estar humano e social e tudo o mais que isso envolve.
-
127:50 - 127:52Que benefício tem um sistema social se, no final,
-
127:52 - 127:56ele não produz felicidade ou convivência pacífica?
-
127:56 - 127:58É importante notar que
-
127:58 - 128:00ao remover o sistema monetário
-
128:00 - 128:03e prover as necessidades da vida,
-
128:03 - 128:05nós veríamos uma redução global nos crimes
-
128:05 - 128:08em aproximadamente 95%, quase que imediatamente,
-
128:08 - 128:12pois não existiria nada para roubar, fraudar ou algo parecido.
-
128:12 - 128:1595% dos presos hoje em dia estão nesta condição
-
128:15 - 128:18devido a crimes relacionados ao dinheiro ou abuso de drogas,
-
128:18 - 128:23e o abuso de drogas é um transtorno, não um crime.
-
128:23 - 128:25E os outros 5%?
-
128:25 - 128:27Os realmente violentos...
-
128:27 - 128:29Frequentemente ditas como pessoas violentas
-
128:29 - 128:31pelo simples motivo de serem violentas...
-
128:31 - 128:35Será que são pessoas "más"?
-
128:35 - 128:40A razão pela qual eu acredito ser uma perda de tempo
-
128:40 - 128:44fazer julgamentos de valores morais
-
128:44 - 128:47sobre a violência das pessoas
-
128:47 - 128:50é porque com isto não se avança nem um pingo
-
128:50 - 128:54em nossa compreensão sobre as causas
-
128:54 - 128:58ou na prevenção do comportamento violento.
-
128:58 - 129:02Pessoas me perguntam se acredito em perdoar criminosos.
-
129:02 - 129:04Minha resposta é que
-
129:04 - 129:07não, eu não acredito em perdão
-
129:07 - 129:10mais do que acredito em condenação.
-
129:10 - 129:13Apenas se nós, como sociedade
-
129:13 - 129:16tomarmos a mesma atitude de tratar a violência como
-
129:16 - 129:20um problema de saúde pública e de medicina preventiva,
-
129:20 - 129:23e não como uma moral "má"...
-
129:23 - 129:26Apenas quando fizermos essa mudança em nossas
-
129:26 - 129:28próprias atitudes, suposições e valores
-
129:28 - 129:32é que realmente teremos sucesso na redução do
-
129:32 - 129:35nível de violência ao invés de estimulá-la,
-
129:35 - 129:37que é exatamente o que fazemos agora.
-
129:37 - 129:40Quanto mais justiça você procura, mais você se machuca
-
129:40 - 129:42porque não existe tal coisa como justiça.
-
129:42 - 129:46Existe o que existe lá fora. Ponto final!
-
129:46 - 129:50Ou seja, se pessoas são condicionadas a serem racistas fanáticas...
-
129:50 - 129:53Se elas foram criadas em um ambiente que defende isto,
-
129:53 - 129:55por que você culpa uma pessoa por ser assim?
-
129:55 - 129:58Elas são vítimas de uma subcultura.
-
129:58 - 130:00Portanto, elas tem de ser ajudadas.
-
130:00 - 130:04A questão é, nós temos que reprojetar o ambiente
-
130:04 - 130:06que produz o comportamento aberrante.
-
130:06 - 130:07Este é o problema.
-
130:07 - 130:09E não colocar uma pessoa na cadeia.
-
130:10 - 130:13É por isso que juízes, advogados,
-
130:13 - 130:15"liberdade de escolha"... Tais conceitos
-
130:15 - 130:20são perigosos porque dão uma falsa informação.
-
130:20 - 130:23Aquela pessoa é "má", aquele é um "assassino em série".
-
130:23 - 130:25Assassinos em série são criados,
-
130:25 - 130:30assim como soldados se tornam matadores com metralhadoras.
-
130:30 - 130:33Eles se tornam máquinas de matar, mas ninguém
-
130:33 - 130:35os olha como homicidas ou assassinos
-
130:35 - 130:37porque isto é "natural".
-
130:37 - 130:39Então nós culpamos as pessoas.
-
130:39 - 130:42Nós dizemos "este cara era um nazista, ele torturou judeus".
-
130:42 - 130:45Não, ele foi ensinado a torturar judeus.
-
130:45 - 130:48Uma vez que você aceita o fato de que as pessoas
-
130:48 - 130:51têm escolhas individuais e são livres
-
130:51 - 130:53para fazer tais escolhas... Ser livre para fazer
-
130:53 - 130:56escolhas significa não ser influenciado
-
130:56 - 130:58e eu definitivamente não consigo entender isso.
-
130:58 - 131:02Todos nós somos influenciados em todas nossas escolhas
-
131:02 - 131:05pela cultura em que vivemos, por nossos pais
-
131:05 - 131:07e pelos valores dominantes.
-
131:07 - 131:11Então somos influenciados. Não há escolhas "livres".
-
131:11 - 131:14"Qual o melhor país do mundo?" A resposta verdadeira:
-
131:14 - 131:16"eu não estive por todo o mundo então não sei
-
131:16 - 131:20o suficiente sobre diferentes culturas para responder isto".
-
131:20 - 131:22Eu não conheço ninguém que fale dessa maneira.
-
131:22 - 131:25Eles dizem "é o bom e velho EUA!
-
131:25 - 131:26O melhor país do mundo!".
-
131:26 - 131:29Não há qualquer pesquisa... "Você já esteve na Índia?" "Não."
-
131:29 - 131:30"Você já esteve na Inglaterra?" "Não."
-
131:30 - 131:32"Você já esteve na França?" "Não."
-
131:32 - 131:34"Então baseado em que você faz suas suposições?"
-
131:34 - 131:36Eles não conseguem responder, ficam furiosos com você.
-
131:36 - 131:37Eles dizem, "que droga! Quem diabos é você
-
131:37 - 131:40para me dizer no que pensar?!".
-
131:40 - 131:42Não esqueça: você está lidando com pessoas aberrantes.
-
131:42 - 131:45Eles não são responsáveis por suas respostas.
-
131:45 - 131:48Eles são vítimas da cultura e isso significa
-
131:48 - 131:51que são influenciadas por sua cultura.
-
132:09 - 132:16PARTE 4: ASCENSÃO
-
132:18 - 132:20Quando consideramos uma economia baseada em recursos
-
132:20 - 132:23existem uma série de argumentos que tendem a surgir...
-
132:23 - 132:25Ei!
-
132:25 - 132:27Ei! Ei!
-
132:27 - 132:29Espere aí um minuto!
-
132:29 - 132:34Eu sei o que é isso. Isso é chamado marxismo, cara.
-
132:34 - 132:38Stalin matou 800 bilhões de pessoas por causa de ideias como esta...
-
132:38 - 132:42Meu pai morreu no Gulag!
-
132:42 - 132:44Comunista! Fascista!
-
132:44 - 132:46Se não gosta dos EUA, devia ir embora!
-
132:46 - 132:47Tudo bem, todo mundo se acalme...
-
132:47 - 132:49Morte à nova ordem mundial!
-
132:49 - 132:51Morte à nova ordem mundial!
-
132:51 - 132:53E enquanto a irracionalidade da
-
132:53 - 132:55plateia crescia, chocada e confusa,
-
132:55 - 132:58de repente o narrador sofreu um infarto fulminante.
-
133:00 - 133:05E o filme que parecia propaganda comunista deixou de existir.
-
133:06 - 133:09ERRO NO SISTEMA
-
133:11 - 133:13BACKUP INICIADO -- RESTAURADO
-
133:14 - 133:17Eu já falei sobre esse tipo de coisa com pessoas
-
133:17 - 133:19em reuniões de pensadores
-
133:19 - 133:23do tipo Clube de Roma e por aí afora...
-
133:23 - 133:25Elas dizem: "marxista!".
-
133:25 - 133:27Quê? Marxista? De onde veio isso?
-
133:27 - 133:30Eles simplesmente têm esse ícone ao qual se agarram.
-
133:30 - 133:33É o Santo Graal deles.
-
133:33 - 133:35E é tão cômodo, sabe...
-
133:35 - 133:38Pessoas me perguntam se sou socialista, comunista ou capitalista.
-
133:38 - 133:41Eu digo que não sou nada disso. Por que vocês acham
-
133:41 - 133:43que essas são as únicas opções?
-
133:43 - 133:45Todas essas estruturas políticas
-
133:45 - 133:47foram criadas por escritores que supunham
-
133:47 - 133:50que nós vivemos num planeta de recursos infinitos.
-
133:50 - 133:53Nenhuma dessas filosofias políticas sequer
-
133:53 - 133:57consideram a possibilidade de faltar algo.
-
133:57 - 134:01Acredito que comunismo, socialismo, livre mercado, fascismo,
-
134:01 - 134:04sejam todas partes de uma evolução social.
-
134:04 - 134:06Você não pode dar um passo gigante
-
134:06 - 134:08de uma cultura para outra,
-
134:08 - 134:10existem sistemas intermediários.
-
134:10 - 134:12Antes de existir qualquer "ismo", há uma base da vida
-
134:12 - 134:14e a base da vida, como acabo de descrever,
-
134:14 - 134:16simplesmente são as condições
-
134:16 - 134:17necessárias para você tomar o próximo fôlego
-
134:17 - 134:20e isso envolve o ar que você respira,
-
134:20 - 134:23a água que bebe, sua segurança,
-
134:23 - 134:25o acesso à educação... Todas essas
-
134:25 - 134:28coisas que compartilhamos e usamos e que
-
134:28 - 134:31nenhuma vida, em qualquer cultura, poderia viver sem.
-
134:31 - 134:35Portanto, temos de retornar à base da vida
-
134:35 - 134:38e a base da vida não é mais nenhum "ismo".
-
134:38 - 134:41É uma "análise do valor da vida".
-
134:42 - 134:43COMPORTAMENTO INACEITÁVEL
-
134:44 - 134:46É simplesmente uma questão de fato histórico
-
134:46 - 134:49que a cultura intelectual dominante
-
134:49 - 134:51de qualquer sociedade particular reflete
-
134:51 - 134:54os interesses do grupo dominante naquela sociedade.
-
134:54 - 134:56Em uma sociedade escravocrata
-
134:56 - 134:59as crenças sobre seres humanos, direitos humanos etc.,
-
134:59 - 135:03vão refletir as necessidades dos proprietários de escravos.
-
135:03 - 135:05Numa sociedade, novamente, que é baseada
-
135:05 - 135:11no poder de certas pessoas para controlar o lucro
-
135:11 - 135:14das vidas e do trabalho de milhões de outros,
-
135:14 - 135:16a cultura intelectual dominante vai
-
135:16 - 135:19refletir as necessidades do grupo dominante.
-
135:19 - 135:22Portanto, se olhar de uma forma abrangente,
-
135:22 - 135:25as ideias que penetram a psicologia
-
135:25 - 135:28e sociologia, história
-
135:28 - 135:31e economia política e ciência política
-
135:31 - 135:35fundamentalmente refletem certos interesses da elite.
-
135:35 - 135:38E os acadêmicos que questionam muito
-
135:38 - 135:41tendem a ficar de lado
-
135:41 - 135:44ou são vistos como "radicais".
-
135:44 - 135:46Os valores dominantes de uma cultura
-
135:46 - 135:48tendem a suportar e perpetuar
-
135:48 - 135:50o que é recompensado por essa cultura.
-
135:50 - 135:52E numa sociedade em que sucesso
-
135:52 - 135:55e status são medidos por riqueza material,
-
135:55 - 135:57e não por contribuição social,
-
135:57 - 136:02é fácil enxergar por que o mundo é como é hoje.
-
136:02 - 136:04Lidamos com um distúrbio no sistema de valores
-
136:04 - 136:06completamente desnatural,
-
136:06 - 136:09em que a prioridade da saúde pessoal e social
-
136:09 - 136:12tornou-se secundária às noções prejudiciais
-
136:12 - 136:15da riqueza artificial e crescimento ilimitado.
-
136:15 - 136:17E, como um vírus, esse distúrbio agora
-
136:17 - 136:20permeia cada faceta do governo,
-
136:20 - 136:24mídia de notícias, entretenimento e até mesmo a academia.
-
136:24 - 136:26E embutidos em sua estrutura
-
136:26 - 136:28existem mecanismos de proteção
-
136:28 - 136:30contra qualquer coisa que possa interferir.
-
136:30 - 136:33Adeptos da religião mercantil-monetária,
-
136:33 - 136:36os guardiões voluntários do status quo
-
136:36 - 136:40procuram sempre meios de evitar qualquer forma de pensamento
-
136:40 - 136:43que possa interferir em suas crenças.
-
136:43 - 136:47O artifício mais comum é a falsa dicotomia.
-
136:47 - 136:50Se você não é republicano, então deve ser democrata.
-
136:50 - 136:53Se não é cristão, deve ser satanista.
-
136:53 - 136:55E se você acha que a sociedade pode melhorar muito
-
136:55 - 136:57e considerar talvez até, sei lá,
-
136:57 - 136:59cuidar de todo mundo,
-
136:59 - 137:01então você é apenas um utopista.
-
137:01 - 137:04E o pior de todos:
-
137:04 - 137:06se você não é a favor do livre mercado
-
137:06 - 137:09só pode ser contra a liberdade.
-
137:09 - 137:11Eu acredito na liberdade!
-
137:11 - 137:13Toda vez que você ouvir a palavra "liberdade"
-
137:13 - 137:15ser dita em qualquer lugar, ou "intervenção do governo"
-
137:15 - 137:20em qualquer lugar, pode traduzir como:
-
137:20 - 137:23"bloquear a maximização da transformação do dinheiro
-
137:23 - 137:27em mais dinheiro para os detentores de capital privado".
-
137:28 - 137:30É isso. Qualquer outra coisa eles dirão:
-
137:30 - 137:31"precisamos de mais mercadorias para as pessoas",
-
137:31 - 137:36"é a liberdade contra a tirania" etc.
-
137:36 - 137:38Sempre que ouvir isso, pode decifrar dessa maneira,
-
137:38 - 137:41e você encontrará uma correlação de um para um
-
137:41 - 137:43toda vez que usarem isso.
-
137:43 - 137:46De certo modo, podemos chamar isso de
-
137:46 - 137:51uma sintaxe. Uma sintaxe dominante da compreensão e do valor.
-
137:51 - 137:54Ela impera pelo desconhecimento de sua existência por parte deles
-
137:54 - 137:56de modo que talvez digam: "não foi isso que eu quis dizer!".
-
137:56 - 137:58Mas, de fato, é isso o que eles fazem.
-
137:58 - 138:00Assim como você pode falar uma gramática
-
138:00 - 138:02e há regras gramaticais que você segue
-
138:02 - 138:04sem reconhecer quais são essas regras...
-
138:04 - 138:08O que temos é o que chamo de "sintaxe dos valores dominantes"
-
138:08 - 138:12que causam isso. Portanto, toda vez que usarem as palavras
-
138:12 - 138:15"intervenção do governo", "falta de liberdade", "liberdade",
-
138:15 - 138:18"progresso" ou "desenvolvimento"
-
138:18 - 138:23você pode decifrar todas para este significado.
-
138:23 - 138:26Claro, quando você ouve a palavra "liberdade"
-
138:26 - 138:28tende a ser na mesma frase
-
138:28 - 138:30de uma coisa chamada "democracia".
-
138:30 - 138:33É fascinante como as pessoas de hoje parecem acreditar
-
138:33 - 138:35que elas verdadeiramente têm qualquer
-
138:35 - 138:38influência no que seus governos fazem,
-
138:38 - 138:40esquecendo que a natureza do
-
138:40 - 138:43nosso sistema põe tudo a venda.
-
138:43 - 138:46O único voto que conta é o monetário
-
138:46 - 138:48e não importa quanto qualquer
-
138:48 - 138:51ativista grite a respeito de ética e responsabilidade.
-
138:51 - 138:55Num sistema de mercado, cada político, cada legislação
-
138:55 - 138:58e, portanto, cada governo, está a venda.
-
138:58 - 139:02E mesmo com o resgate bancário de $20 trilhões
-
139:02 - 139:04iniciado em 2007,
-
139:04 - 139:06uma quantidade de dinheiro que poderia ter mudado,
-
139:06 - 139:09digamos, a infraestrutura energética global
-
139:09 - 139:10para métodos completamente renováveis
-
139:10 - 139:13em vez de ir para uma série de instituições
-
139:13 - 139:15que literalmente não ajudam a sociedade em nada.
-
139:15 - 139:17Instituições que poderiam ser
-
139:17 - 139:20removidas amanhã sem chances de defesa...
-
139:20 - 139:22O condicionamento cego de que a política
-
139:22 - 139:28e os políticos existem para o bem-estar público continua.
-
139:28 - 139:31O fato é que a política é um negócio
-
139:31 - 139:34igual a qualquer outro num sistema de mercado
-
139:34 - 139:38e eles se preocupam primeiramente com seus próprios interesses.
-
139:38 - 139:43Sinceramente, não acredito na ação política.
-
139:43 - 139:46Acho que o sistema se contrai e expande como ele bem deseja.
-
139:46 - 139:48Ele se adapta a essas mudanças.
-
139:48 - 139:50Vejo o movimento de direitos civis como uma acomodação
-
139:50 - 139:52por parte daqueles que são donos do país.
-
139:52 - 139:55Eles só enxergam os próprios interesses.
-
139:55 - 139:58Percebem que um pouco de liberdade parece bom,
-
139:58 - 140:01uma ilusão de liberdade, e dão às pessoas um dia de voto por ano,
-
140:01 - 140:04para que tenham a ilusão de uma escolha sem sentido.
-
140:04 - 140:08Escolha sem sentido. E lá vamos nós, como escravos, e dizemos:
-
140:08 - 140:11"Oh, eu votei". Os limites do debate neste país foram estabelecidos
-
140:11 - 140:13antes mesmo de começar o debate, e todos
-
140:13 - 140:15os outros são marginalizados e tratados como
-
140:15 - 140:18comunistas ou algum tipo de pessoa desleal,
-
140:18 - 140:20um "maluco", esta é a palavra...
-
140:20 - 140:22E agora isto é "conspiração". Note que eles fizeram isso.
-
140:22 - 140:25Algo que não deveria ser levado em consideração nem por um minuto:
-
140:25 - 140:28que pessoas poderosas podem se unir e traçar um plano!
-
140:28 - 140:33Isto não acontece! Você é um "maluco"! Um "amante de conspirações"!
-
140:34 - 140:37E de todos os mecanismos de defesa deste sistema,
-
140:37 - 140:40existem dois que surgem frequentemente.
-
140:40 - 140:44O primeiro é a ideia de que o sistema tem sido a "causa"
-
140:44 - 140:47do progresso material que vemos neste planeta.
-
140:47 - 140:49Bem... Não.
-
140:49 - 140:52Existem basicamente duas causas principais
-
140:52 - 140:55que criaram e aumentaram a chamada "riqueza"
-
140:55 - 140:57e o crescimento populacional que vemos hoje.
-
140:58 - 141:01A primeira: o avanço exponencial da tecnologia produtiva,
-
141:01 - 141:04graças à engenhosidade científica.
-
141:04 - 141:09Segunda: a descoberta de uma fonte energética abundante de hidrocarbonetos
-
141:09 - 141:13que é a base atual de todo o sistema socioeconômico.
-
141:13 - 141:15O livre mercado, capitalismo,
-
141:15 - 141:18sistema mercantil-monetário, seja lá como você chamar,
-
141:18 - 141:21nada fez senão aproveitar a onda desses adventos
-
141:21 - 141:25com um sistema distorcido e um método grosseiro
-
141:25 - 141:30e desigual de utilização e distribuição destes frutos.
-
141:30 - 141:34A segunda defesa é um viés social agressivo
-
141:34 - 141:36gerado por anos de propaganda,
-
141:36 - 141:39que vê qualquer outro sistema social
-
141:39 - 141:41como uma rota para a chamada "tirania",
-
141:41 - 141:45em que vários nomes surgem como Stalin, Mao, Hitler...
-
141:45 - 141:47E o número de mortes que eles geraram.
-
141:47 - 141:50Por mais despóticos que esses homens tenham sido,
-
141:50 - 141:54junto com a abordagem social que perpetuaram,
-
141:54 - 141:56quando o assunto é o jogo da morte,
-
141:56 - 141:58quando o assunto é o assassinato diário,
-
141:58 - 142:00sistemático e em massa de seres humanos,
-
142:00 - 142:05nada na história se compara ao que temos hoje.
-
142:05 - 142:10Fome -- durante todo o último século de nossa história
-
142:10 - 142:13ela não foi causada pela falta de comida.
-
142:13 - 142:16Ela foi causada pela pobreza relativa.
-
142:16 - 142:20Os recursos econômicos foram tão desigualmente distribuídos
-
142:20 - 142:24que os pobres simplesmente não tinham dinheiro suficiente
-
142:24 - 142:26para comprar a comida que estaria
-
142:26 - 142:29disponível se eles pudessem pagar por ela.
-
142:30 - 142:32Isso poderia ser um exemplo de violência estrutural.
-
142:32 - 142:37Outro exemplo: na África e em outras áreas,
-
142:37 - 142:40me focarei particularmente na África,
-
142:40 - 142:43dezenas de milhões de pessoas estão morrendo pela AIDS.
-
142:43 - 142:45Por que eles estão morrendo?
-
142:45 - 142:47Não é porque não sabemos como tratar a AIDS.
-
142:47 - 142:51Nós temos milhões de pessoas em países ricos
-
142:51 - 142:55se mantendo incrivelmente saudáveis porque
-
142:55 - 142:57eles têm medicamentos para tratar isso.
-
142:57 - 143:00As pessoas na África, morrendo pela AIDS,
-
143:00 - 143:03não estão morrendo por causa do vírus HIV...
-
143:03 - 143:06Estão morrendo porque eles não têm dinheiro para
-
143:06 - 143:09pagar pelos remédios que poderiam mantê-los vivos.
-
143:09 - 143:11Gandhi percebeu isso. Ele disse:
-
143:11 - 143:16"a mais mortal forma de violência é a pobreza".
-
143:16 - 143:18E isso é absolutamente certo.
-
143:18 - 143:23Pobreza mata mais pessoas do que todas as guerras na história.
-
143:23 - 143:26Mais pessoas do que todos assassinatos na história.
-
143:26 - 143:29Mais do que todos os suicídios na história...
-
143:29 - 143:32A violência estrutural não apenas mata mais pessoas
-
143:32 - 143:35do que toda violência comportamental somada,
-
143:35 - 143:38a violência estrutural é também
-
143:38 - 143:41a maior causa da violência comportamental.
-
143:43 - 143:46ALÉM DO PICO
-
143:47 - 143:51Petróleo é a fundação e também,
-
143:51 - 143:55na atualidade, a base da civilização humana.
-
143:55 - 144:00Há 10 calorias de hidrocarbonetos, petróleo e gás natural,
-
144:00 - 144:04para cada caloria de comida que comemos no mundo industrializado.
-
144:04 - 144:07Fertilizantes são feitos de gás natural.
-
144:07 - 144:09Pesticidas são feitos do petróleo.
-
144:09 - 144:12Você dirige uma máquina movida a petróleo para plantar, arar,
-
144:12 - 144:14irrigar, colher, transportar, embalar. Você embala a comida
-
144:14 - 144:17em plástico. Isso é petróleo. Todo plástico vem do petróleo.
-
144:17 - 144:19Existem 26 litros de petróleo em cada pneu.
-
144:19 - 144:23Petróleo está em todo lugar, é onipresente. E é por causa
-
144:23 - 144:25do petróleo que existem 7 bilhões de pessoas, ou
-
144:25 - 144:28quase 7 bilhões, no planeta nesse exato momento.
-
144:28 - 144:30O surgimento dessa energia barata e fácil,
-
144:30 - 144:32a qual é equivalente, por sinal, a
-
144:32 - 144:36bilhões de escravos trabalhando sem parar,
-
144:36 - 144:40mudou o mundo de maneira tão radical no último século
-
144:40 - 144:43que a população aumentou 10 vezes.
-
144:43 - 144:48Mas, próximo de 2050, o suprimento de petróleo será capaz
-
144:48 - 144:50de suportar menos da metade da população do mundo
-
144:50 - 144:52de hoje com seu atual estilo de vida.
-
144:52 - 144:57Então, o nível de ajuste para viver diferente é enorme.
-
144:57 - 145:01O mundo hoje usa seis barris de petróleo para cada barril descoberto.
-
145:01 - 145:03Cinco anos atrás eram quatro
-
145:03 - 145:05barris de petróleo para cada barril descoberto.
-
145:05 - 145:07Daqui um ano, estaremos usando
-
145:07 - 145:09oito barris de petróleo para cada barril descoberto.
-
145:09 - 145:11O que me perturba é
-
145:11 - 145:16a total falta de empenho dos governos e líderes
-
145:16 - 145:20industriais ao redor do mundo em fazer algo diferente.
-
145:20 - 145:24Nós temos tentativas de construir mais energia eólica
-
145:24 - 145:27e talvez algumas tentativas com as marés...
-
145:27 - 145:31Tivemos tentativas de fazer carros um pouco mais eficientes.
-
145:31 - 145:34Mas nada que realmente aparenta uma
-
145:34 - 145:36revolução surgindo. Essas são todas tentativas minúsculas
-
145:36 - 145:38e acho isso tudo realmente assustador.
-
145:38 - 145:42E os governos, que são conduzidos por esses economistas,
-
145:42 - 145:45os quais realmente não gostam do que estamos falando,
-
145:45 - 145:50tentam incentivar o consumismo para resgatar a prosperidade do passado
-
145:50 - 145:53na esperança em restaurar o passado.
-
145:53 - 145:57Estão imprimindo ainda mais dinheiro sem pensar em efeitos colaterais.
-
145:57 - 145:59Logo, se a economia melhorar e
-
145:59 - 146:01se recuperar, e o famoso crescimento voltar
-
146:01 - 146:03não vai durar muito tempo, pois
-
146:04 - 146:07dentro de um curto período de tempo, contado em meses,
-
146:07 - 146:11ao invés de anos, irá encontrar a barreira do suprimento novamente.
-
146:11 - 146:13Terá outro choque de preços
-
146:13 - 146:15e uma recessão ainda mais profunda. Logo, eu acho
-
146:15 - 146:17que estamos entrando numa série de ciclos viciosos.
-
146:17 - 146:19Você tem um crescimento econômico subindo, pico
-
146:19 - 146:21de preço, tudo para de funcionar. É onde estamos agora.
-
146:21 - 146:25A seguir, começa a subir de novo mas o que temos agora é
-
146:25 - 146:29essa situação, em que não teremos mais como produzir energia barata.
-
146:29 - 146:32Estamos no auge, no declínio da produção de petróleo.
-
146:32 - 146:35De jeito nenhum iremos obter mais petróleo mais rapidamente,
-
146:35 - 146:39ou seja, as coisas fecham, o preço do petróleo cai,
-
146:39 - 146:45o que aconteceu no início de 2009, mas depois veio uma "recuperação",
-
146:45 - 146:47o preço do petróleo começa a voltar.
-
146:47 - 146:49Recentemente, o barril estava beirando os $80
-
146:49 - 146:52e o que vemos é que até mesmo a $80,
-
146:52 - 146:54pessoas estão tendo dificuldades para comprar
-
146:54 - 146:56com o colapso financeiro e econômico.
-
146:56 - 147:01A produção global atual é cerca de 86 milhões de barris por dia.
-
147:01 - 147:04Em 10 anos, você terá cerca de
-
147:04 - 147:0814 milhões de barris por dia tendo que serem substituídos.
-
147:09 - 147:12Não há nada a disposição
-
147:12 - 147:15que possa fornecer nem mesmo 1% dessa demanda.
-
147:15 - 147:17Se não fizermos algo com urgência
-
147:17 - 147:21teremos uma grande deficiência energética.
-
147:21 - 147:25Acho que o grande erro está em não reconhecer
-
147:25 - 147:29uma década antes, ou mais, que um esforço planejado
-
147:29 - 147:30é necessário para desenvolver
-
147:30 - 147:32essas formas sustentáveis de energia.
-
147:32 - 147:35Acredito que nossos netos olharão para o passado
-
147:35 - 147:40com total incredulidade. "Vocês sabiam que
-
147:40 - 147:42estavam lidando com uma mercadoria finita...
-
147:42 - 147:45Como é possível vocês terem construído uma economia
-
147:45 - 147:49sobre algo que iria desaparecer?"
-
147:49 - 147:51Pela primeira vez na história humana,
-
147:51 - 147:55a espécie enfrentará o esgotamento de um recurso chave,
-
147:55 - 147:58central para nosso sistema atual de sobrevivência.
-
147:58 - 148:00E a piada nisso tudo é
-
148:00 - 148:02que mesmo com o petróleo cada vez mais escasso
-
148:02 - 148:05o sistema econômico cegamente forçará
-
148:05 - 148:07seu modelo canceroso de crescimento...
-
148:07 - 148:11Então, as pessoas podem comprar mais carros movidos a petróleo
-
148:11 - 148:16para aumentar o PIB e o número de empregos... Agravando o declínio.
-
148:16 - 148:18Existem soluções para substituírem
-
148:18 - 148:20a estrutura da economia de hidrocarbonetos?
-
148:20 - 148:21É claro.
-
148:22 - 148:24Mas o caminho necessário para se alcançar essas mudanças
-
148:24 - 148:28não se manifestará nos protocolos requeridos pelo sistema de mercado,
-
148:28 - 148:31já que novas soluções só podem
-
148:31 - 148:34ser implementadas através do mecanismo do lucro.
-
148:34 - 148:37As pessoas não estão investindo em energias renováveis
-
148:37 - 148:40porque não há dinheiro nisto em longo e curto prazo.
-
148:40 - 148:43E o comprometimento necessário para isso acontecer
-
148:43 - 148:46só pode ocorrer com uma severa perda financeira.
-
148:46 - 148:49Assim sendo, não há incentivo monetário e dentro desse
-
148:49 - 148:53sistema, se não há incentivo monetário, as coisas não acontecem.
-
148:54 - 148:56E acima disso tudo, o pico do petróleo é
-
148:56 - 148:59apenas uma das muitas consequências a emergir
-
148:59 - 149:03da rota de colisão socioambiental a qual nos dirigimos.
-
149:03 - 149:05A água potável também está diminuindo
-
149:05 - 149:07-- a própria raiz de nossa existência.
-
149:07 - 149:09Atualmente a água está escassa
-
149:09 - 149:11para 2,8 bilhões de pessoas
-
149:12 - 149:16e esta escassez atingirá 4 bilhões em torno de 2030.
-
149:16 - 149:18Produção de alimentos:
-
149:18 - 149:22a destruição de terras férteis, das quais
-
149:22 - 149:2599,7% de toda comida da humanidade provém,
-
149:25 - 149:29está ocorrendo 40 vezes mais rápido do que sua restauração
-
149:29 - 149:32e nos últimos 40 anos,
-
149:32 - 149:3430% da terra fértil se tornou improdutiva.
-
149:35 - 149:38Para não mencionar que hidrocarbonetos são o suporte principal
-
149:38 - 149:40da agricultura de hoje, e enquanto declinam...
-
149:40 - 149:43Também declina o suprimento de comida.
-
149:43 - 149:44A respeito de recursos em geral
-
149:44 - 149:48no nosso atual padrão de consumo, ao redor de 2030
-
149:48 - 149:51precisaremos de 2 planetas para manter nossas taxas.
-
149:51 - 149:53Isso sem mencionar a contínua destruição
-
149:53 - 149:56da biodiversidade essencial à vida
-
149:56 - 149:58causando espasmos de extinções e
-
149:58 - 150:01desestabilização ambiental ao redor do globo.
-
150:01 - 150:03E com todos esses declínios
-
150:03 - 150:05nós temos um crescimento populacional que beira o exponencial
-
150:05 - 150:08e em 2030 podemos ter mais de
-
150:08 - 150:118 bilhões de pessoas no planeta.
-
150:11 - 150:14Somente a produção de energia precisaria
-
150:14 - 150:18aumentar 44% ao redor de 2030 para atender tal demanda.
-
150:18 - 150:22E novamente, já que o dinheiro é o único iniciador de ação,
-
150:22 - 150:24podemos esperar que qualquer país
-
150:24 - 150:26no planeta será capaz de pagar pelas
-
150:26 - 150:30mudanças massivas necessárias para revolucionar a agricultura,
-
150:30 - 150:33processamento de água, produção de energia e assim por diante?
-
150:33 - 150:35Quando o esquema de dívida em pirâmide global está
-
150:35 - 150:38lentamente paralisando o mundo inteiro...
-
150:38 - 150:39Sem mencionar o fato de que
-
150:39 - 150:41o desemprego atualmente vem
-
150:41 - 150:43se tornando uma normalidade devido à
-
150:43 - 150:46natureza do desemprego tecnológico.
-
150:46 - 150:48Os empregos não irão retornar.
-
150:48 - 150:51Por fim, uma perspectiva social ampla.
-
150:51 - 150:54De 1970 a 2010, a pobreza no
-
150:54 - 150:57planeta dobrou devido a este sistema...
-
150:57 - 150:59E, considerando nosso estado atual,
-
150:59 - 151:01você acha mesmo que não veremos
-
151:01 - 151:03nada além de mais duplicações?
-
151:03 - 151:07Mais sofrimento e mais fome em massa?
-
151:07 - 151:08O INÍCIO
-
151:09 - 151:11Não haverá nenhuma recuperação.
-
151:11 - 151:13Isto não é algum tipo de longa depressão
-
151:13 - 151:16de que nós, algum dia, sairemos.
-
151:16 - 151:18Acho que o que veremos após a próxima rodada
-
151:18 - 151:21de colapsos econômicos será uma enorme agitação civil.
-
151:21 - 151:23Quando os seguros-desemprego deixarem de ser
-
151:23 - 151:26pagos pelos estados, por não haver dinheiro.
-
151:26 - 151:30E quando as coisas ficarem tão ruins, pessoas perderão a confiança
-
151:30 - 151:34nos seus líderes eleitos, elas vão exigir mudanças.
-
151:34 - 151:37Isso se não matarmos uns aos outros no processo
-
151:37 - 151:39ou destruirmos o meio ambiente.
-
151:39 - 151:43Só tenho medo de chegarmos a um ponto sem retorno...
-
151:43 - 151:46E isso me incomoda constantemente.
-
151:46 - 151:50Devemos fazer todo o possível para evitar essa condição.
-
151:51 - 151:56Está claro que estamos à beira de uma grande transição de vida...
-
151:57 - 152:00Enfrentamos agora esta mudança fundamental
-
152:00 - 152:03na vida que conhecemos no último século.
-
152:03 - 152:06Tem de haver uma ligação entre a economia
-
152:06 - 152:08e os recursos deste planeta.
-
152:08 - 152:12Os recursos sendo a fauna e flora,
-
152:12 - 152:15a saúde dos oceanos e todo o resto.
-
152:15 - 152:18Este é um paradigma monetário que só
-
152:18 - 152:22vai acabar depois de ter matado o último ser humano.
-
152:23 - 152:27O grupo interno fará tudo para permanecer no poder.
-
152:27 - 152:30Tenha isso em mente.
-
152:30 - 152:32Usarão o exército, a marinha, mentiras,
-
152:32 - 152:36o que tiverem que usar para ficar no poder.
-
152:36 - 152:38Eles não irão abrir mão
-
152:38 - 152:43porque não conhecem outro sistema que os perpetue.
-
153:36 - 153:41AO VIVO DE NOVA YORK
-
153:52 - 154:00PROTESTOS GLOBAIS PARALISAM A ECONOMIA MUNDIAL
-
154:08 - 154:11LONDRES -- AO VIVO
-
154:11 - 154:14CHINA -- AO VIVO
-
154:14 - 154:17AFRICA DO SUL -- AO VIVO
-
154:17 - 154:21ESPANHA -- AO VIVO
-
154:21 - 154:25RÚSSIA -- AO VIVO
-
154:25 - 154:30CANADÁ -- AO VIVO
-
154:30 - 154:35ARABIA SAUDITA -- AO VIVO
-
154:48 - 154:51TAXAS DE CRIMES DECOLAM NO OCIDENTE
-
154:51 - 154:53NAÇÕES UNIDAS DECLARAM ESTADO DE EMERGÊNCIA GLOBAL
-
154:53 - 154:56DESEMPREGO GLOBAL ATINGE OS 65%
-
154:56 - 154:59CONTINUAM OS TEMORES DE UMA GUERRA MUNDIAL
-
154:59 - 155:02COLAPSO FINANCEIRO AGORA CAUSA ESCASSEZ DE ALIMENTOS
-
156:56 - 157:01PEGUEM DE VOLTA
-
157:30 - 157:34APESAR DE NENHUMA VIOLÊNCIA TER SIDO RELATADA,
-
157:34 - 157:37OS PROTESTOS SEM PRECEDENTES CONTINUAM...
-
157:37 - 157:41PARECE QUE O EQUIVALENTE A TRILHÕES DE DÓLARES
-
157:41 - 157:44ESTÃO SENDO SISTEMATICAMENTE RETIRADOS DAS CONTAS BANCÁRIAS
-
157:44 - 157:46EM TODO O MUNDO E EM SEGUIDA
-
157:46 - 157:50ESTÃO SENDO EXPLICITAMENTE DESPEJADOS
-
157:50 - 157:53EM FRENTE DOS BANCOS CENTRAIS DO MUNDO TODO.
-
158:48 - 158:54ESTE É O SEU MUNDO
-
158:56 - 159:03ESTE É O NOSSO MUNDO
-
159:04 - 159:11A REVOLUÇÃO É AGORA
-
159:12 - 159:22WWW.THEZEITGEISTMOVEMENT.COM
- Title:
- ZEITGEIST: MOVING FORWARD | OFFICIAL RELEASE | 2011
- Description:
-
This is the Official Online (Youtube) Release of "Zeitgeist: Moving Forward" by Peter Joseph. [30 subtitles pending]
On Jan. 15th, 2011, "Zeitgeist: Moving Forward" was released theatrically to sold out crowds in 60 countries; 31 languages; 295 cities and 341 Venues. It has been noted as the largest non-profit independent film release in history.
This is a non-commercial work and is available online for free viewing and no restrictions apply to uploading/download/posting/linking - as long as no money is exchanged.
A Free DVD Torrent of the full 2 hr and 42 min film in 30 languages is also made available through the main website [below], with instructions on how one can download and burn the movie to DVD themselves. His other films are also freely available in this format.
Website:
www.zeitgeistmovingforward.com
www.zeitgeistmovie.comRelease Map:
http://zeitgeistmovingforward.com/zmap$5 DVD:
http://zeitgeistmovingforward.com/dvdMovement:
www.thezeitgeistmovement.com - Video Language:
- Greek
- Duration:
- 02:41:25