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Como salvar um tubarão sobre o qual nada sabemos?

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    Os tubarões-frade
    são criaturas fantásticas.
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    Simplesmente magníficos.
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    Atingem 10 metros de comprimento.
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    Diz-se que alguns são maiores.
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    Podem pesar até 2 toneladas.
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    Diz-se que alguns pesam até 5 toneladas.
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    São o segundo maior peixe do mundo.
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    São também animais inofensivos,
    que se alimentam de plâncton.
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    Pensa-se que são capazes de filtrar
    1 km cúbico de água por hora
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    e alimentam-se de 30 kg de zooplâncton
    por dia para sobreviver.
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    São criaturas fantásticas.
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    Na Irlanda, temos
    bastantes tubarões-frade
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    e muitas oportunidades para os estudar.
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    Eram muito importantes
    para as comunidades costeiras
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    há umas centenas de anos,
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    especialmente na região
    de Claddagh, Duff, Connemara,
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    onde os agricultores
    de subsistência navegavam
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    nos seus barcos à vela e barcos abertos
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    para longe da costa,
    até um local chamado Banco do Peixe-Sol,
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    a 30 milhas a oeste da Ilha Achill,
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    para matar tubarões-frade.
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    Esta é uma xilogravura
    do século XVIII-XIX.
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    Eles eram muito importantes
    pelo óleo extraído do fígado.
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    Um terço do tubarão-frade
    é o fígado, cheio de óleo.
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    Extraem-se muitos litros
    de óleo do fígado.
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    Esse óleo era usado na iluminação,
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    em curativos para feridas etc.
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    Em 1742 os candeeiros de rua
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    de Galway, Dublin e Waterford
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    funcionavam com óleo de peixe-sol.
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    "Peixe-sol" é um dos nomes
    dos tubarões-frade.
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    Eram animais muito importantes.
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    Existem há muito, foram muito importantes
    para as comunidades costeiras.
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    A pesca de tubarões-frade
    melhor documentada no mundo
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    é talvez a da Ilha de Achill.
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    Esta é a Baía de Keem, na Ilha de Achill.
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    Os tubarões costumavam entrar na baía.
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    Os pescadores amarravam
    uma rede fora do promontório,
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    estendiam-na ao longo de outra rede.
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    Quando o tubarão se aproximava,
    batia na rede, ela caía sobre ele.
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    Frequentemente,
    ele afundava-se e sufocava.
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    Ou, por vezes, eles partiam
    nos seus barquinhos a remos
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    e matavam-nos com uma lança
    na parte de trás do pescoço.
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    Depois rebocavam os tubarões
    até Purteen Harbor,
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    ferviam-nos, usavam o óleo.
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    Também costumavam
    usar a carne como fertilizante
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    e retiravam as barbatanas dos tubarões.
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    Essa é talvez a maior ameaça
    aos tubarões em todo o mundo
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    — a remoção das barbatanas.
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    Todos temos medo dos tubarões
    graças ao "Tubarão".
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    O tubarões talvez matem
    cinco ou seis pessoas por ano.
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    Morreu alguém recentemente, não foi?
    Há umas semanas.
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    Nós matamos cerca de 100 milhões (?)
    de tubarões por ano.
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    Não sei qual é o balanço,
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    mas penso que os tubarões devem
    recear-nos do que nós a eles.
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    É uma pesca que ficou bem documentada,
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    e como podem ver aqui,
    teve um pico nos anos 50,
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    quando matavam 1500 tubarões por ano.
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    Entrou em declínio rapidamente
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    — um clássico de expansão
    e retração da pesca —
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    o que sugere o esgotamento de stocks
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    ou uma taxa de reprodução baixa.
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    Mataram cerca de 12 000 tubarões
    neste período,
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    amarrando um cabo de manilha
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    para além da extremidade
    da Baía de Keem, na Ilha de Achill.
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    Os tubarões foram mortos
    até meados dos anos 80,
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    especialmente junto de locais
    como Dunmore East em County Waterford.
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    Cerca de 2500 a 3000 tubarões
    foram mortos até 1985,
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    muitos por navios noruegueses.
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    Estes são navios noruegueses
    de caça ao tubarão-frade.
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    A linha preta no cesto da gávea
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    significa que é um navio
    de pesca ao tubarão
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    e não um navio de pesca à baleia.
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    A importância dos tubarões-frade
    para as comunidades costeiras
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    é reconhecida pela língua.
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    Não tenho a pretensão de saber irlandês,
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    mas em Kerry eles eram frequentemente
    conhecidos como "ainmhide na seolta",
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    o "monstro com as velas".
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    Outra designação era "liop an da lapa",
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    a "fera desajeitada de duas barbatanas".
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    "Liabhan mor", sugerindo um animal grande,
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    ou o meu favorito, "liabhan chor greine",
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    o "grande peixe do sol".
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    É um nome encantador e evocativo.
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    Na Ilha de Tory, que é um lugar estranho,
    eram conhecidos como "muldoons",
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    e ninguém parece saber porquê.
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    Espero que não esteja aqui
    ninguém de Tory, um local encantador.
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    Mas mais vulgarmente, por toda a ilha,
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    eram conhecidos como "peixe-sol",
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    o que representa o hábito de se
    aquecerem à superfície quando há sol.
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    Há a grande preocupação de que
    os tubarões-frade se extingam
  • 3:40 - 3:41
    em todo o mundo.
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    Pode não se tratar
    de declínio populacional.
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    Talvez a alteração
    na distribuição do plâncton.
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    Os tubarões-frade poderão ser
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    fantásticos indicadores
    da mudança climática,
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    porque são registadores
    contínuos de plâncton
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    nadando de um lado para o outro
    com a boca aberta.
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    Constam como espécie vulnerável
    na lista da IUCN.
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    Também há movimentos na Europa
    para proibir a sua caça.
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    Há agora uma proibição
    da sua captura e pesca,
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    mesmo dos que forem
    apanhados incidentalmente.
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    Não são protegidos na Irlanda.
  • 4:06 - 4:08
    Não têm qualquer proteção
    legislativa na Irlanda,
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    apesar disso ser importante para a espécie
  • 4:10 - 4:14
    e apesar do contexto histórico
    em que os tubarões-frade se inserem.
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    Sabemos muito pouco acerca deles.
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    A maior parte do que sabemos
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    baseia-se no seu hábito
    de vir à superfície.
  • 4:21 - 4:23
    Tentamos adivinhar
    o que eles estão a fazer
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    pelo seu comportamento à superfície.
  • 4:25 - 4:28
    Só no ano passado descobri,
    numa conferência na Ilha de Man,
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    como é invulgar viver num sítio
  • 4:30 - 4:33
    onde os tubarões-frade
    vêm à superfície para apanhar sol.
  • 4:33 - 4:36
    de modo regular, frequente e previsível,
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    É uma oportunidade científica fantástica
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    ver e sentir os tubarões-frade.
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    São criaturas incríveis.
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    Isso dá-nos uma ótima oportunidade
    para os estudarmos.
  • 4:45 - 4:47
    Nos últimos anos
    — o último ano foi um grande ano —
  • 4:47 - 4:50
    começámos a marcar os tubarões,
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    para tentar ter alguma ideia
  • 4:52 - 4:54
    sobre fidelidade a locais
    e movimentos e coisas assim.
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    Concentrámo-nos principalmente
  • 4:56 - 4:58
    em North Donegal e West Kerry,
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    as duas áreas onde
    estive mais ativo.
  • 5:01 - 5:04
    Marcámo-los muito simplesmente,
    nada de alta tecnologia,
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    com uma vara grande, longa.
  • 5:06 - 5:08
    Isto é uma cana de pesca
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    com uma etiqueta na extremidade.
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    Sobe-se para o barco e marca-se o tubarão.
  • 5:12 - 5:14
    Fomos muito eficazes.
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    Marcámos 105 tubarões no verão passado.
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    Conseguimos 50 em três dias
    ao largo da Península de Inishowen.
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    Metade do desafio está em chegar lá,
    estar no sítio certo no momento certo.
  • 5:24 - 5:26
    Mas é uma técnica muito simples e fácil.
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    Vou mostrar-vos como eles são.
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    Usamos uma câmara telescópica no barco
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    para filmarmos o tubarão.
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    Primeiro tentamos determinar
    o sexo do tubarão.
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    Também usámos etiquetas de satélite,
    portanto também usámos alta tecnlogia.
  • 5:37 - 5:40
    Estas são etiquetas de arquivo.
    Armazenam dados.
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    Estas etiquetas só funcionam
    quando em contacto com o ar, sem água,
  • 5:43 - 5:45
    e podem enviar um sinal para o satélite.
  • 5:45 - 5:48
    Mas os tubarões estão submersos
    a maior parte do tempo.
  • 5:48 - 5:51
    Assim, esta etiqueta fornece
    a localização do tubarão
  • 5:51 - 5:54
    consoante o tempo e a posição do sol,
  • 5:54 - 5:56
    mais a temperatura da água
    e a profundidade.
  • 5:56 - 5:58
    E nós temos como
    que reconstituir o caminho.
  • 5:58 - 6:02
    Programa-se a etiqueta para se soltar
    do tubarão após um certo período.
  • 6:02 - 6:05
    Neste caso, a etiqueta soltou-se
    e emergiu ao fim de 8 meses,
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    disse olá ao satélite
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    e enviou, não os dados todos,
    mas os suficientes para utilizarmos.
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    Esta é a única forma de percebermos
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    o comportamento e os movimentos
    quando estão debaixo da água.
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    Estes são alguns mapas que fizemos.
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    Aquele, podem ver que marcámos
    ambos ao largo de Kerry.
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    Basicamente ele passou
    os últimos 8 meses, em águas irlandesas.
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    No dia de Natal estava no limite
    da plataforma continental.
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    Este é um que ainda não confrontámos
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    com a temperatura do mar
    e a profundidade da água,
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    mas o segundo tubarão
    passou a maior parte do tempo
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    no mar da Irlanda ou à sua volta.
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    Colegas da Ilha de Man,
    no ano passado, marcaram um tubarão
  • 6:38 - 6:42
    que fez o percurso da Ilha de Man
    até à Nova Escócia em cerca de 90 dias.
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    São 9500 km. Nunca pensámos
    que isso acontecesse.
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    Outro colega, nos EUA,
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    marcou uns 20 tubarões
    ao largo de Massachusetts
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    mas as etiquetas não funcionaram.
  • 6:50 - 6:53
    Só sabe onde os marcou
    e onde as etiquetas se soltaram
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    Essas etiquetas soltaram-se nas Caraíbas
    e até no Brasil.
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    Pensávamos que estes tubarões
    eram animais de zonas temperadas
  • 7:00 - 7:02
    e que apenas viviam na nossa latitude.
  • 7:02 - 7:04
    Mas, obviamente,
    também atravessam o Equador.
  • 7:04 - 7:06
    São coisas tão simples como estas,
  • 7:06 - 7:09
    que estamos a tentar aprender
    sobre os tubarões-frade.
  • 7:10 - 7:11
    Uma coisa que eu penso
  • 7:11 - 7:13
    que é muito estranha e surpreendente
  • 7:13 - 7:17
    é quão baixa é a diversidade
    genética dos tubarões.
  • 7:17 - 7:20
    Não sou geneticista, portanto
    não vou finger que percebo de genética.
  • 7:20 - 7:22
    Por isso é que é tão bom ter colaboração.
  • 7:22 - 7:25
    Como sou uma pessoa de trabalho de campo,
  • 7:25 - 7:27
    tenho ataques de pânico
    se passar demasiadas horas
  • 7:27 - 7:29
    num laboratório com uma bata branca.
  • 7:29 - 7:32
    Portanto, trabalhamos com geneticistas
    que percebem disso.
  • 7:32 - 7:35
    Quando analisaram a genética
    dos tubarões-frade
  • 7:35 - 7:38
    descobriram que a diversidade
    era incrivelmente baixa.
  • 7:38 - 7:39
    Se observarem a primeira linha,
  • 7:39 - 7:43
    veem que todas estas diferentes espécies
    de tubarões são muito similares.
  • 7:43 - 7:45
    Penso que isto significa
    que são todos tubarões
  • 7:45 - 7:47
    e que proveem de um antepssado comum.
  • 7:47 - 7:50
    Se observarem a diversidade de nucleótido,
  • 7:50 - 7:52
    que é uma característica genética
    transmitida pelos pais,
  • 7:52 - 7:55
    veem que os tubarões-frade,
    se olharem para o primeiro estudo,
  • 7:55 - 7:58
    têm uma ordem de grandeza
    de menor diversidade
  • 7:58 - 8:00
    do que outras espécies de tubarões.
  • 8:00 - 8:02
    Este trabalho foi feito em 2006.
  • 8:02 - 8:05
    Antes de 2006 não fazíamos ideia
    da variabilidade genética dos tubarões-frade.
  • 8:05 - 8:08
    Dividir-se-iam em diferentes populações?
  • 8:08 - 8:10
    Havia subpopulações?
  • 8:10 - 8:12
    Isso é muito importante se quisermos saber
  • 8:12 - 8:14
    qual é o tamanho da população
    e o nível de ameaças.
  • 8:14 - 8:16
    Les Noble, em Aberdeen
  • 8:16 - 8:18
    achou que isto
    era realmente inacreditável.
  • 8:18 - 8:21
    Então, fez outro estudo
  • 8:21 - 8:24
    usando micro satélites,
  • 8:24 - 8:27
    que são muito mais caros,
    que consomem muito mais tempo,
  • 8:27 - 8:30
    e, para sua surpresa,
    obteve resultados quase idênticos.
  • 8:30 - 8:33
    Portanto, parece acontecer
    que os tubarões-frade,
  • 8:33 - 8:36
    por alguma razão, têm
    uma diversidade incrivelmente baixa.
  • 8:36 - 8:39
    Pensa-se que talvez tenha havido
    um gargalo genético, há 12 000 anos,
  • 8:39 - 8:42
    e que isso tenha causado
    uma diversidade muito baixa.
  • 8:42 - 8:44
    Contudo, se observarem os tubarões-baleia,
  • 8:44 - 8:48
    que são outros grandes tubarões
    que se alimentam de plâncton,
  • 8:48 - 8:49
    a sua diversidade é muito maior.
  • 8:49 - 8:51
    Portanto, isto não faz sentido nenhum.
  • 8:51 - 8:54
    Descobriu-se que não havia
    diferenciação genética
  • 8:54 - 8:57
    entre os tubarões-frade existentes
    nos vários oceanos do mundo.
  • 8:57 - 8:58
    Embora se encontrem por todo o mundo,
  • 8:58 - 9:01
    não é possível diferenciar geneticamente
  • 9:01 - 9:04
    os do Pacífico, do Atlântico, da Irlanda,
    da Nova Zelândia, da Árica do Sul.
  • 9:04 - 9:05
    Parecem todos iguais.
  • 9:05 - 9:08
    É surprendente. Não seria de esperar.
  • 9:08 - 9:11
    Não compreendo.
    Não finjo que compreendo.
  • 9:11 - 9:13
    Suspeito que os geneticistas
    também não compreendem,
  • 9:13 - 9:15
    mas eles produzem os números.
  • 9:15 - 9:17
    Portanto, podemos estimar
    o tamanho da população
  • 9:17 - 9:19
    com base na diversidade genética.
  • 9:19 - 9:22
    Rus Hoelzel chegou a um valor
    da população efectiva:
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    8200 animais.
  • 9:24 - 9:25
    Só isso.
  • 9:25 - 9:27
    8000 animais no mundo.
  • 9:27 - 9:30
    Vocês devem pensar:
    "Isso é ridículo. Não é possível".
  • 9:30 - 9:33
    Então, o Les fez um estudo mais preciso
    e chegou ao valor de 9.000.
  • 9:34 - 9:37
    Usando micro satélites diferentes
    obteve resultados diferentes.
  • 9:37 - 9:39
    Mas saltou a média de todos estes estudos
  • 9:39 - 9:41
    — a média é de cerca de 5000,
  • 9:41 - 9:44
    no que, pessoalmente, não acredito,
  • 9:44 - 9:45
    mas eu sou um cético.
  • 9:45 - 9:47
    Mesmo que lancemos mais alguns números,
  • 9:47 - 9:51
    estaremos a falar de uma população efetiva
    de cerca de 20 000 animais.
  • 9:51 - 9:53
    Lembram-se de quantos mataram
    ao largo de Achill
  • 9:53 - 9:55
    nos anos 70 e 50?
  • 9:56 - 10:00
    Isto diz-nos que há um risco real
    de extinção desta espécie
  • 10:00 - 10:02
    devido à reduzida dimensão
    da sua população.
  • 10:03 - 10:06
    Pensa-se que, desses 20 000,
    só 8000 seriam fêmeas.
  • 10:06 - 10:09
    Há apenas 8000 fêmeas
    de tubarão-frade no mundo?
  • 10:09 - 10:11
    Não sei. Não acredito.
  • 10:11 - 10:14
    O problema com isto é que eles
    se viram limitados pelas amostras.
  • 10:14 - 10:16
    Não conseguiram amostras suficientes
  • 10:16 - 10:20
    para explorar a vertente genética
    com detalhe suficiente.
  • 10:20 - 10:23
    Então, de onde se obtêm amostras
  • 10:23 - 10:25
    para a análise genética?
  • 10:25 - 10:28
    Uma fonte óbvia são os tubarões mortos,
  • 10:28 - 10:30
    tubarões mortos que dão à praia.
  • 10:30 - 10:33
    Podemos obter 2 ou 3 tubarões mortos
    que dão à praia na Irlanda por ano,
  • 10:33 - 10:35
    se tivermos sorte.
  • 10:35 - 10:37
    Outra fonte seria a captura incidental
    durante a pesca.
  • 10:37 - 10:40
    Conseguimos muito poucos
    apanhados nas redes de superfície.
  • 10:40 - 10:43
    Isso agora é proibido,
    o que é bom para os tubarões.
  • 10:43 - 10:45
    Alguns são apanhados nas redes de arrasto.
  • 10:45 - 10:48
    Este é um tubarão trazido
    para terra em Howth, antes do Natal,
  • 10:48 - 10:51
    ilegalmente, porque isso
    não é permitido pela lei da UE.
  • 10:51 - 10:54
    Foi vendido a 8 € o kg,
    como bife de tubarão.
  • 10:54 - 10:58
    Afixaram uma receita na parede,
    até serem informados de que era ilegal.
  • 10:58 - 10:59
    E foram multados por isso.
  • 10:59 - 11:02
    Se observarem todos
    os estudos que vos mostrei,
  • 11:02 - 11:05
    o número total de amostras
    do mundo inteiro
  • 11:05 - 11:07
    é atualmente de 86.
  • 11:07 - 11:09
    É um trabalho muito importante,
  • 11:09 - 11:11
    que permite colocar boas questões,
  • 11:11 - 11:13
    e informar-nos sobre
    o tamanho da população,
  • 11:13 - 11:15
    subpopulações e estrutura,
  • 11:15 - 11:18
    mas está limitado pela falta de amostras.
  • 11:18 - 11:20
    Quando estávamos a marcar
    os nossos tubarões
  • 11:20 - 11:24
    — era assim que os marcávamos na proa
    de um barco insuflável, rapidamente —
  • 11:24 - 11:26
    ocasionalmente os tubarões reagiam.
  • 11:26 - 11:29
    Numa ocasião em que estávamos
    em Malin Head, em Donegal,
  • 11:29 - 11:32
    um tubarão bateu com a cauda
    na parte lateral do barco,
  • 11:32 - 11:35
    penso que mais em sobressalto
    por o barco se ter aproximado dele,
  • 11:35 - 11:37
    do que pela marcação.
  • 11:37 - 11:39
    Foi bom. Molhámo-nos.
    Não houve problema nenhum.
  • 11:39 - 11:44
    Depois, quando eu e o Emmett
    voltámos para Malin Head, para o cais,
  • 11:44 - 11:47
    notámos que havia uma substância
    viscosa preta na frente do barco.
  • 11:47 - 11:50
    Lembrei-me de os pescadores
    me contarem que sabiam sempre
  • 11:50 - 11:52
    quando apanhavam um tubarão na rede
  • 11:52 - 11:54
    porque ele deixava esta substância preta.
  • 11:54 - 11:57
    Portanto, eu pensei que aquilo
    devia ter sido do tubarão.
  • 11:57 - 12:00
    Nós tínhamos interesse
    em obter amostras de tecido
  • 12:00 - 12:01
    para estudos genéticos
  • 12:01 - 12:03
    porque sabíamos que eram muito valiosas.
  • 12:03 - 12:04
    E usávamos métodos convencionais.
  • 12:04 - 12:06
    Tenho uma besta —veem-na na minha mão —
  • 12:06 - 12:10
    que também usamos para obter
    amostras de baleias e golfinhos.
  • 12:10 - 12:11
    Tentei aquilo, tentei muitas técnicas.
  • 12:11 - 12:13
    Mas só conseguia quebrar as bestas
  • 12:13 - 12:16
    porque a pele do tubarão é muito dura.
  • 12:16 - 12:18
    Não havia maneira de conseguirmos
    uma amostra daquilo.
  • 12:18 - 12:20
    Portanto, aquilo não ia resultar.
  • 12:20 - 12:23
    Quando vi a substância preta
    na proa do barco, pensei:
  • 12:23 - 12:26
    "Se recebermos o que nos é oferecido..."
  • 12:26 - 12:28
    Então raspei aquilo.
  • 12:28 - 12:31
    Eu tinha um pequeno tubo com álcool
    para enviar aos geneticistas.
  • 12:31 - 12:34
    Raspei a substância
    e enviei-a para Aberdeen.
  • 12:34 - 12:36
    E disse: "Podiam tentar isto".
  • 12:36 - 12:38
    Eles ficaram a dormir durante meses,
  • 12:38 - 12:40
    porque tinhamos uma conferência
    na Ilha de Man.
  • 12:40 - 12:42
    Mas eu continuei a enviar e-mails:
  • 12:42 - 12:43
    "Já pôde analisar o meu lodo?"
  • 12:43 - 12:46
    E ele: "Sim, sim, sim.
    Mais tarde, mais tarde."
  • 12:46 - 12:48
    Mas ele pensou que seria melhor fazê-lo,
  • 12:48 - 12:50
    porque nunca nos tínhamos encontrado
  • 12:50 - 12:52
    e ficava mal visto
    se não fizesse o que lhe pedira.
  • 12:52 - 12:55
    E ficou espantado por conseguirem
    extrair ADN do lodo.
  • 12:55 - 12:57
    Amplificaram-no, testaram-no
  • 12:57 - 12:59
    e descobriram que era realmente
    ADN de tubarão-frade,
  • 12:59 - 13:01
    que fora obtido a partir do lodo.
  • 13:02 - 13:04
    Ficou todo entusiasmado.
  • 13:04 - 13:07
    Ficou conhecido como
    o "lodo de tubarão do Simon".
  • 13:07 - 13:09
    E eu pensei:
    "Posso desenvolver esta ideia."
  • 13:10 - 13:13
    Pensámos em tentar sair
    e conseguir algum lodo.
  • 13:13 - 13:17
    Depois de ter gasto 3500
    em etiquetas de satélite...
  • 13:20 - 13:23
    pensei que podia investir 7,95
    — o preço mantém-se nesse valor —
  • 13:23 - 13:26
    na minha loja local
    de equipamentos, em Kilrush,
  • 13:26 - 13:28
    para comprar uma esfregona
  • 13:28 - 13:30
    e ainda menos dinheiro em toalhetes.
  • 13:30 - 13:33
    Embrulhei o toalhete à volta
    da extremidade da esfregona
  • 13:33 - 13:35
    e fiquei à espera, desesperado
  • 13:35 - 13:38
    por uma oportunidade
  • 13:38 - 13:41
    para apanhar alguns tubarões.
  • 13:41 - 13:42
    Isto foi em agosto,
  • 13:42 - 13:45
    e normalmente o pico de tubarões
    é em junho, julho.
  • 13:45 - 13:48
    E raramente os vemos, raramente
    conseguimos estar no lugar certo
  • 13:48 - 13:50
    para encontrar tubarões em agosto.
  • 13:50 - 13:51
    Portanto, estavamos desesperados.
  • 13:51 - 13:54
    Fomos a correr para Blasket quando
    ouvimos dizer que havia lá tubarões
  • 13:54 - 13:56
    e conseguimos encontrar alguns tubarões.
  • 13:56 - 13:58
    Então, esfregando a esfregona no tubarão
  • 13:58 - 14:01
    quando ele nadava debaixo do barco
  • 14:01 - 14:03
    — está um tubarão
    a passar debaixo do barco —
  • 14:03 - 14:05
    conseguimos colher lodo.
  • 14:05 - 14:06
    Aqui está.
  • 14:06 - 14:09
    Olhem para aquele encantador
    lodo preto de tubarão.
  • 14:09 - 14:12
    Em cerca de meia hora
  • 14:12 - 14:15
    obtivemos cinco amostras,
    de cinco tubarões diferentes,
  • 14:15 - 14:19
    usando o sistema de "amostragem
    de lodo de tubarão do Simon".
  • 14:19 - 14:21
    (Risos)
  • 14:21 - 14:24
    (Aplausos)
  • 14:26 - 14:29
    Já trabalho com baleias e golfinhos
    na Irlanda há 20 anos,
  • 14:29 - 14:31
    e eles são um pouco mais dramáticos.
  • 14:31 - 14:33
    Devem ter visto as fotos
    da baleia-concunda
  • 14:33 - 14:35
    que tirámos há um ou dois meses
    ao largo de County Wexford.
  • 14:35 - 14:38
    Pensamos sempre em deixar
    um legado ao mundo.
  • 14:38 - 14:41
    E eu estava a pensar em baleias-corcundas
    a saltar e golfinhos.
  • 14:41 - 14:44
    Mas às vezes estas coisas são-nos enviadas
  • 14:44 - 14:46
    e só temos que aceitá-las quando vêm.
  • 14:46 - 14:48
    Portanto, possivelmente
    este vai ser o meu legado,
  • 14:48 - 14:50
    o lodo de tubarão de Simon.
  • 14:50 - 14:52
    Este ano recebemos mais dinheiro
  • 14:52 - 14:54
    para continuarmos
    a recolher mais amostras.
  • 14:54 - 14:58
    Uma coisa muito útil
    é que usamos câmaras telescópicas
  • 14:58 - 15:00
    — esta é a minha colega Joanne com uma —
  • 15:00 - 15:02
    que nos permitem ver por baixo do tubarão.
  • 15:02 - 15:05
    Tentamos ver que os machos têm clásperes,
  • 15:05 - 15:07
    suspensos na parte de trás do tubarão.
  • 15:07 - 15:09
    Portanto, distinguimos
    facilmente o sexo do tubarão.
  • 15:09 - 15:12
    Se pudermos saber o sexo do tubarão,
  • 15:12 - 15:14
    antes de recolhermos a amostra,
  • 15:14 - 15:17
    podemos informar o geneticista
    se foi colhida num macho ou numa fêmea.
  • 15:17 - 15:20
    Porque atualmente
    não há forma de saber geneticamente
  • 15:20 - 15:22
    a diferença entre um macho e uma fêmea,
  • 15:22 - 15:23
    o que acho desconcertante,
  • 15:23 - 15:26
    porque eles não sabem
    que iniciadores procurar.
  • 15:26 - 15:29
    Saber o sexo de um tubarão
    é muito importante
  • 15:29 - 15:32
    para coisas como
    a fiscalização do comércio
  • 15:32 - 15:36
    de tubarões-frade e outras espécies,
  • 15:36 - 15:39
    porque é ilegal comercializar
    quaisquer tubarões.
  • 15:39 - 15:41
    Mas eles são apanhados e estão à venda.
  • 15:41 - 15:43
    Assim, como biólogo de campo,
  • 15:43 - 15:45
    só quero encontrar-me com estes animais.
  • 15:45 - 15:47
    Quero aprender o máximo que puder.
  • 15:47 - 15:50
    Frequentemente os encontros são rápidos
    e muito limitados sazonalmente.
  • 15:50 - 15:53
    Eu só quero aprender o máximo
    que puder logo que possível.
  • 15:53 - 15:57
    Mas não é fantástico
    podermos oferecer estas amostras
  • 15:57 - 16:01
    e oportunidades a outras disciplinas,
    como a genética,
  • 16:01 - 16:03
    que podem beneficiar tanto com isto?
  • 16:03 - 16:07
    Então, como disse, estas coisas
    aparecem de uma forma estranha.
  • 16:07 - 16:09
    Agarrem-nas enquanto podem.
  • 16:09 - 16:11
    Recebo esta como o meu legado científico.
  • 16:11 - 16:14
    Espero conseguir alguma coisa
    mais dramática e romântica antes de morrer.
  • 16:14 - 16:17
    Mas, para já, estou grato por isto.
  • 16:17 - 16:19
    E mantenham-se de olho nos tubarões.
  • 16:19 - 16:22
    Se estiverem interessados, pusemos
    uma página sobre tubarões-frade na web.
  • 16:22 - 16:24
    Obrigado pela vossa atenção.
  • 16:24 - 16:26
    (Aplausos)
Title:
Como salvar um tubarão sobre o qual nada sabemos?
Speaker:
Simon Berrow
Description:

São os segundos maiores peixes do mundo, estão quase extintos, e não sabemos quase nada a seu respeito. No TEDxDublin, Simon Berrow descreve o fascinante tubarão-frade ("O Grande Peixe do Sol", em irlandês), e as formas excecionais — e de maravilhosa baixa tecnologia — com que está a aprender o suficiente para o salvar.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:26
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How do you save a shark you know nothing about?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How do you save a shark you know nothing about?
Ilona Bastos added a translation

Portuguese subtitles

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