Return to Video

Como salvar um tubarão sobre o qual nada sabemos?

  • 0:00 - 0:03
    Os tubarões-frade são criaturas fantásticas. Simplesmente magníficos.
  • 0:03 - 0:05
    Atingem 10 metros de comprimento.
  • 0:05 - 0:07
    Dizem que alguns são maiores.
  • 0:07 - 0:09
    Podem pesar até 2 toneladas.
  • 0:09 - 0:11
    Dizem que alguns pesam até 5 toneladas.
  • 0:11 - 0:13
    São o segundo maior peixe do mundo.
  • 0:13 - 0:16
    São também animais inofensivos, que se alimentam de plâncton.
  • 0:16 - 0:18
    E pensa-se que são capazes
  • 0:18 - 0:21
    de filtrar 1 Km cúbico de água por hora
  • 0:21 - 0:24
    e alimentar-se de 30 Kg de zooplâncton por dia para sobreviver.
  • 0:24 - 0:26
    São criaturas fantásticas.
  • 0:26 - 0:29
    E temos muita sorte na Irlanda, temos bastantes tubarões-frade
  • 0:29 - 0:31
    e muitas oportunidades para os estudar.
  • 0:31 - 0:33
    Eram também muito importantes para as comunidades costeiras
  • 0:33 - 0:35
    há umas centenas de anos,
  • 0:35 - 0:38
    especialmente na região à volta de Claddagh, Duff, Connemara,
  • 0:38 - 0:40
    onde os agricultores de subsistência costumavam navegar
  • 0:40 - 0:42
    nos seus barcos à vela e barcos abertos
  • 0:42 - 0:44
    às vezes para longe da costa, até um local chamado Banco do Peixe-Sol,
  • 0:44 - 0:46
    a cerca de 30 milhas a oeste da Ilha Achill,
  • 0:46 - 0:48
    para matar tubarões-frade.
  • 0:48 - 0:50
    Esta é uma antiga xilogravura dos sécs. XVIII, XIX.
  • 0:50 - 0:53
    Eles eram muito importantes pelo óleo que se extraía do seu fígado.
  • 0:53 - 0:55
    Um terço do tubarão-frade é o fígado, e está cheio de óleo.
  • 0:55 - 0:57
    Extraem-se muitos litros de óleo do seu fígado.
  • 0:57 - 0:59
    E esse óleo era usado especialmente na iluminação,
  • 0:59 - 1:01
    mas também em curativos para feridas e outras coisas.
  • 1:01 - 1:03
    Em 1742 os candeeiros de rua
  • 1:03 - 1:05
    de Galway, Dublin e Waterford
  • 1:05 - 1:07
    funcionavam com óleo de peixe-sol.
  • 1:07 - 1:09
    E "peixe-sol" é um dos nomes dos tubarões-frade.
  • 1:09 - 1:11
    Portanto, eram animais incrivelmente importantes.
  • 1:11 - 1:14
    Andam por aí há muito, foram muito importantes para as comunidades costeiras.
  • 1:14 - 1:17
    Provavelmente, a pesca de tubarões-frade melhor documentada no mundo
  • 1:17 - 1:19
    é a da Ilha de Achill.
  • 1:19 - 1:21
    Esta é a Baía de Keem, na Ilha de Achill.
  • 1:21 - 1:24
    Os tubarões costumavam entrar na baía.
  • 1:24 - 1:27
    Os pescadores amarravam uma rede fora do promontório,
  • 1:27 - 1:29
    estendiam-na ao longo de outra rede.
  • 1:29 - 1:32
    E quando o tubarão se aproximava, batia na rede, ela caía sobre ele.
  • 1:32 - 1:34
    Frequentemente, ele afundava-se e sufocava.
  • 1:34 - 1:37
    Ou, por vezes, eles partiam nos seus pequenos barcos a remos
  • 1:37 - 1:39
    e matavam-nos com uma lança na parte de trás do pescoço.
  • 1:39 - 1:42
    Depois rebocavam os tubarões até Purteen Harbor,
  • 1:42 - 1:44
    ferviam-nos, usavam o óleo.
  • 1:44 - 1:47
    Também costumavam usar a carne como fertilizante
  • 1:47 - 1:51
    e retiravam as barbatanas dos tubarões.
  • 1:51 - 1:53
    Esta é provavelmente a maior ameaça aos tubarões em todo o mundo --
  • 1:53 - 1:55
    a remoção das barbatanas.
  • 1:55 - 1:57
    Frequentemente estamos todos assustados com os tubarões graças ao "Jaws".
  • 1:57 - 1:59
    Talvez 5 ou 6 pessoas sejam mortas
  • 1:59 - 2:01
    por tubarões todos os anos.
  • 2:01 - 2:04
    Morreu alguém recentemente, não foi? Há poucas semanas.
  • 2:04 - 2:07
    Nós matamos cerca de 100 milhões de tubarões por ano.
  • 2:07 - 2:09
    Não sei qual é o balanço,
  • 2:09 - 2:12
    mas penso que os tubarões têm mais direito a recear-nos do que nós a eles.
  • 2:12 - 2:14
    É uma pesca que ficou bem documentada,
  • 2:14 - 2:16
    e como podem ver aqui teve um pico nos anos 50,
  • 2:16 - 2:18
    quando matavam 1.500 tubarões por ano.
  • 2:18 - 2:21
    Entrou em declínio rapidamente -- um clássico de crescimento e contração da pesca --,
  • 2:21 - 2:24
    o que sugere o esgotamento de stocks
  • 2:24 - 2:26
    ou uma taxa de reprodução baixa.
  • 2:26 - 2:28
    Mataram cerca de 12.000 tubarões neste período,
  • 2:28 - 2:31
    literalmente amarrando um cabo de manilha
  • 2:31 - 2:33
    para além da extremidade da Baía de Keem,
  • 2:33 - 2:35
    na Ilha de Achill.
  • 2:35 - 2:37
    Os tubarões ainda foram mortos até meados dos anos 80,
  • 2:37 - 2:40
    especialmente junto de locais como Dunmore East em County Waterford.
  • 2:40 - 2:43
    E cerca de 2.500, 3.000 tubarões foram mortos até 1985,
  • 2:43 - 2:45
    muitos por navios noruegueses.
  • 2:45 - 2:48
    O preto, não conseguem vê-lo, mas estes são navios noruegueses de caça ao tubarão-frade,
  • 2:48 - 2:50
    e a linha preta no cesto da gávea
  • 2:50 - 2:52
    significa que este é um navio de pesca ao tubarão
  • 2:52 - 2:54
    e não um navio de pesca à baleia.
  • 2:54 - 2:57
    A importância dos tubarões-frade para as comunidades costeiras
  • 2:57 - 2:59
    é reconhecida pela língua.
  • 2:59 - 3:01
    Não tenho a pretensão de saber irlandês,
  • 3:01 - 3:04
    mas em Kerry eles eram frequentemente conhecidos como "Ainmhide na seolta",
  • 3:04 - 3:06
    o monstro com as velas.
  • 3:06 - 3:09
    E outra designação seria "Liop an da lapa",
  • 3:09 - 3:12
    a fera desajeitada de duas barbatanas.
  • 3:12 - 3:15
    "Liabhan mor", sugerindo um animal grande.
  • 3:15 - 3:17
    Ou o meu favorito, "Liabhan chor greine",
  • 3:17 - 3:19
    o grande peixe do sol.
  • 3:19 - 3:21
    Trata-se de um nome encantador e evocativo.
  • 3:21 - 3:24
    Na Ilha de Tory, que é um lugar estranho, de qualquer modo, eram conhecidos como "muldoons",
  • 3:24 - 3:26
    e ninguém parece saber porquê.
  • 3:26 - 3:28
    Espero que não esteja aqui ninguém de Tory; um lugar encantador.
  • 3:28 - 3:31
    Mas mais vulgarmente, por toda a ilha,
  • 3:31 - 3:33
    eram conhecidos como peixe-sol.
  • 3:33 - 3:36
    E isto representa o seu hábito de se aquecerem à superfície quando há sol.
  • 3:36 - 3:39
    Há a grande preocupação de que os tubarões-frade sejam extintos
  • 3:39 - 3:41
    em todo o mundo.
  • 3:41 - 3:43
    Alguns dizem que não se trata de declínio populacional.
  • 3:43 - 3:45
    Pode ser uma alteração na distribuição do plâncton.
  • 3:45 - 3:47
    E sugeriu-se que os tubarões-frade constituiriam
  • 3:47 - 3:49
    fantásticos indicadores da mudança climática,
  • 3:49 - 3:51
    porque basicamente são registadores contínuos de plâncton
  • 3:51 - 3:53
    nadando de um lado para o outro com a boca aberta.
  • 3:53 - 3:56
    Agora constam como espécie vulnerável na lista da IUCN.
  • 3:56 - 3:59
    Também existem movimentos na Europa para tentar deter a sua caça.
  • 3:59 - 4:02
    Existe agora uma proibição da sua captura e pesca
  • 4:02 - 4:04
    e até a pesca dos que forem apanhados incidentalmente.
  • 4:04 - 4:06
    Eles não são protegidos na Irlanda.
  • 4:06 - 4:08
    De facto, eles não têm qualquer proteção legislativa na Irlanda,
  • 4:08 - 4:10
    apesar disso ser importante para a espécie
  • 4:10 - 4:13
    e apesar do contexto histórico em que os tubarões-frade se inserem.
  • 4:14 - 4:16
    Sabemos muito pouco acerca deles.
  • 4:16 - 4:18
    E a maior parte do que sabemos
  • 4:18 - 4:20
    baseia-se no seu hábito de vir à superfície.
  • 4:20 - 4:22
    E tentamos adivinhar o que eles estão a fazer
  • 4:22 - 4:24
    a partir do seu comportamento à superfície.
  • 4:24 - 4:27
    Só no ano passado descobri, numa conferência na Ilha de Man,
  • 4:27 - 4:30
    como é raro viver num sítio
  • 4:30 - 4:33
    onde os tubarões-frade regularmente, frequentemente e previsivelmente
  • 4:33 - 4:35
    vêm à superfície para ficar ao sol.
  • 4:35 - 4:37
    E é uma oportunidade científica fantástica
  • 4:37 - 4:39
    ver e sentir os tubarões-frade
  • 4:39 - 4:41
    e eles são criaturas incríveis.
  • 4:41 - 4:44
    E isso dá-nos uma oportunidade fantástica para os estudarmos, para termos acesso a eles.
  • 4:44 - 4:47
    Então, o que temos feito nos últimos anos -- mas o último ano foi um grande ano --
  • 4:47 - 4:50
    foi começar a marcar tubarões
  • 4:50 - 4:52
    para tentarmos ter alguma ideia
  • 4:52 - 4:54
    sobre fidelidade a locais e movimentos e coisas assim.
  • 4:54 - 4:56
    Concentrámo-nos principalmente
  • 4:56 - 4:58
    em North Donegal e West Kerry,
  • 4:58 - 5:01
    as duas áreas onde estive prioritariamente ativo.
  • 5:01 - 5:03
    E marcámo-los muito simplesmente, nada de alta tecnologia,
  • 5:03 - 5:05
    com uma vara grande, longa.
  • 5:05 - 5:07
    Isto é uma cana de pesca
  • 5:07 - 5:09
    com uma etiqueta na extremidade.
  • 5:09 - 5:12
    Sobe-se para o barco e marca-se o tubarão.
  • 5:12 - 5:14
    E fomos muito eficazes.
  • 5:14 - 5:16
    Marcámos 105 tubarões no verão passado.
  • 5:16 - 5:18
    Conseguimos 50 em três dias
  • 5:18 - 5:20
    ao largo da Península de Inishowen.
  • 5:20 - 5:23
    Metade do desafio está em chegar lá, estar no sítio certo no momento certo.
  • 5:23 - 5:25
    Mas é uma técnica muito simples e fácil.
  • 5:25 - 5:27
    Vou mostrar-vos como eles são.
  • 5:27 - 5:29
    Usamos uma câmara telescópica no barco
  • 5:29 - 5:31
    para filmarmos realmente o tubarão.
  • 5:31 - 5:33
    Primeiro tentamos determinar o género do tubarão.
  • 5:33 - 5:36
    Também utilizámos algumas etiquetas de satélite, portanto também usámos alta tecnlogia.
  • 5:36 - 5:38
    Estas são etiquetas de arquivo.
  • 5:38 - 5:40
    O que fazem é armazenar dados.
  • 5:40 - 5:42
    Uma etiqueta de satélite só funciona quando está em contacto com o ar, sem água,
  • 5:42 - 5:44
    e pode enviar um sinal para o satélite.
  • 5:44 - 5:47
    Evidentemente, os tubarões, os peixes, estão submersos a maior parte do tempo.
  • 5:47 - 5:50
    Assim, esta etiqueta fornece a localização do tubarão
  • 5:50 - 5:53
    dependendo do tempo e da posição do sol,
  • 5:53 - 5:55
    mais a temperatura da água e a profundidade.
  • 5:55 - 5:58
    E nós temos como que reconstituir o caminho.
  • 5:58 - 6:01
    Programa-se a etiqueta para se libertar do tubarão após um determinado período.
  • 6:01 - 6:03
    Neste caso foram 8 meses
  • 6:03 - 6:07
    literalmente até ao dia em que a etiqueta se libertou, emergiu, disse olá ao satélite
  • 6:07 - 6:10
    e enviou, não os dados todos, mas os suficientes para utilizarmos.
  • 6:10 - 6:12
    E esta é a única maneira de realmente percebermos
  • 6:12 - 6:15
    o comportamento e os movimentos quando estão debaixo da água.
  • 6:15 - 6:18
    E aqui estão alguns mapas que fizemos.
  • 6:18 - 6:21
    Aquele, podem ver que marcámos ambos ao largo de Kerry.
  • 6:21 - 6:24
    E basicamente ele passou o tempo todo, os últimos 8 meses, em águas irlandesas.
  • 6:24 - 6:26
    No dia de Natal estava no limite da plataforma continental.
  • 6:26 - 6:28
    E aqui está um que ainda não confrontámos
  • 6:28 - 6:30
    com a temperatura da superfície do mar e a profundidade da água,
  • 6:30 - 6:32
    mas, novamente, o segundo tubarão praticamente passou a maior parte do tempo
  • 6:32 - 6:34
    em redor e no interior do mar da Irlanda.
  • 6:34 - 6:36
    Colegas da Ilha de Man, no ano passado,
  • 6:36 - 6:38
    marcaram um tubarão
  • 6:38 - 6:41
    que fez todo o percurso da Ilha de Man até à Nova Escócia em cerca de 90 dias.
  • 6:41 - 6:44
    São 9.500 km. Nunca pensámos que isso acontecesse.
  • 6:44 - 6:46
    Outro colega, nos Estados Unidos,
  • 6:46 - 6:49
    marcou cerca de 20 tubarões ao largo de Massachusetts, e essas etiquetas não funcionaram.
  • 6:49 - 6:51
    Tudo o que ele sabe é onde os marcou
  • 6:51 - 6:53
    e onde as etiquetas se soltaram.
  • 6:53 - 6:55
    E as etiquetas dele soltaram-se nas Caraíbas
  • 6:55 - 6:57
    e até no Brasil.
  • 6:57 - 6:59
    Nós pensávamos que os tubarões-frade eram animais de zonas temperadas
  • 6:59 - 7:01
    e que apenas viviam na nossa latitude.
  • 7:01 - 7:04
    Mas o facto é que obviamente também atravessam o Equador.
  • 7:04 - 7:06
    Então, coisas tão simples como estas,
  • 7:06 - 7:08
    é o que estamos a tentar aprender sobre os tubarões-frade.
  • 7:08 - 7:11
    Uma coisa que eu penso
  • 7:11 - 7:13
    que é muito estranha e surpreendente
  • 7:13 - 7:16
    é quão baixa é a diversidade genética dos tubarões.
  • 7:16 - 7:19
    Não sou geneticista, portanto não vou fingir que percebo de genética.
  • 7:19 - 7:22
    Por isso é que é tão bom ter colaboração.
  • 7:22 - 7:24
    Dado que sou uma pessoa de trabalho de campo,
  • 7:24 - 7:26
    tenho ataques de pânico se tenho de passar demasiadas horas
  • 7:26 - 7:29
    num laboratório com uma bata branca -- tirem-me daqui.
  • 7:29 - 7:32
    Portanto, podemos trabalhar com geneticistas que percebem disso.
  • 7:32 - 7:34
    Quando eles analisaram a genética dos tubarões-frade
  • 7:34 - 7:37
    descobriram que a diversidade era incrivelmente baixa.
  • 7:37 - 7:39
    Realmente, se observarem a primeira linha,
  • 7:39 - 7:42
    podem ver que todas estas diferentes espécies de tubarões são muito similares.
  • 7:42 - 7:44
    Penso que isto significa, basicamente, que são todos tubarões
  • 7:44 - 7:46
    e que provieram de um ancestral comum.
  • 7:46 - 7:49
    Se observarem a diversidade de nucleótido,
  • 7:49 - 7:52
    que é uma característica genética transmitida pelos pais,
  • 7:52 - 7:55
    podem ver que os tubarões-frade, se olharem para o primeiro estudo,
  • 7:55 - 7:57
    têm uma ordem de grandeza de menor diversidade
  • 7:57 - 7:59
    do que outras espécies de tubarões.
  • 7:59 - 8:01
    E vejam que este trabalho foi feito em 2006.
  • 8:01 - 8:04
    Antes de 2006 não fazíamos ideia da variabilidade genética dos tubarões-frade.
  • 8:04 - 8:07
    Não fazíamos ideia. Dividir-se-iam em diferentes populações?
  • 8:07 - 8:09
    Havia subpopulações?
  • 8:09 - 8:11
    E, claro, isso é muito importante se quisermos saber
  • 8:11 - 8:13
    qual é o tamanho da população e o nível de ameaça sobre os animais.
  • 8:14 - 8:16
    Les Noble, em Aberdeen
  • 8:16 - 8:18
    achou que isto era realmente inacreditável.
  • 8:18 - 8:21
    Então, fez outro estudo
  • 8:21 - 8:24
    usando micro satélites,
  • 8:24 - 8:27
    que são muito mais caros, que consomem muito mais tempo,
  • 8:27 - 8:30
    e, para sua surpresa, obteve resultados quase idênticos.
  • 8:30 - 8:32
    Portanto, parece acontecer
  • 8:32 - 8:35
    que os tubarões-frade, por alguma razão, têm uma diversidade incrivelmente baixa.
  • 8:35 - 8:37
    E pensa-se que talvez tenha havido um gargalo genético,
  • 8:37 - 8:39
    há 12.000 anos,
  • 8:39 - 8:42
    e que isso tenha causado uma diversidade muito baixa.
  • 8:42 - 8:44
    E, contudo, se observarem os tubarões-baleia,
  • 8:44 - 8:47
    que são outros grandes tubarões que se alimentam de plâncton,
  • 8:47 - 8:49
    a sua diversidade é muito maior.
  • 8:49 - 8:51
    Portanto, isto não faz sentido nenhum.
  • 8:51 - 8:53
    Eles descobriram que não havia diferenciação genética
  • 8:53 - 8:56
    entre os tubarões-frade existentes nos vários oceanos do mundo.
  • 8:56 - 8:58
    Portanto, apesar de se encontrarem tubarões-frade por todo o mundo,
  • 8:58 - 9:00
    não é possível diferenciar geneticamente
  • 9:00 - 9:03
    um do Pacífico, do Atlântico, da Nova Zelândia, ou da Irlanda, da Árica do Sul.
  • 9:03 - 9:05
    Basicamente, todos parecem iguais.
  • 9:05 - 9:08
    Mas, novamente, é surprendente. Isso não seria expectável.
  • 9:08 - 9:10
    Não compreendo. Não finjo compreender isto.
  • 9:10 - 9:12
    E suspeito que muitos geneticistas também não compreendem,
  • 9:12 - 9:14
    mas eles produzem os números.
  • 9:14 - 9:16
    Portanto, realmente podemos estimar o tamanho da população
  • 9:16 - 9:18
    com base na diversidade genética.
  • 9:18 - 9:21
    E Rus Hoelzel chegou a um valor da população efectiva:
  • 9:21 - 9:23
    8.200 animais.
  • 9:23 - 9:25
    Só isso.
  • 9:25 - 9:27
    8.000 animais no mundo.
  • 9:27 - 9:29
    Vocês estão a pensar: "Isso é ridículo. Não é possível".
  • 9:29 - 9:31
    Então, o Les fez um estudo mais preciso
  • 9:31 - 9:33
    e chegou ao valor de 9.000.
  • 9:33 - 9:36
    Usando micro satélites diferentes obteve resultados diferentes.
  • 9:36 - 9:39
    Mas a média de todos estes estudos surgiu --
  • 9:39 - 9:41
    a média é de cerca de 5.000,
  • 9:41 - 9:43
    no que, pessoalmente, não acredito,
  • 9:43 - 9:45
    mas, aí está, eu sou um cético.
  • 9:45 - 9:47
    Mas mesmo que lancemos mais alguns números,
  • 9:47 - 9:50
    provavelmente estaremos a falar de uma população efetiva de cerca de 20.000 animais.
  • 9:50 - 9:52
    Lembram-se de quantos mataram ao largo de Achill
  • 9:52 - 9:55
    nos anos 70 e 50?
  • 9:55 - 9:57
    Então, o que isso nos diz realmente
  • 9:57 - 10:00
    é que existe um risco real de extinção desta espécie
  • 10:00 - 10:02
    devido à reduzida dimensão da sua população.
  • 10:02 - 10:05
    De facto, desses 20.000, 8.000 seriam fêmeas.
  • 10:05 - 10:08
    Há apenas 8.000 fêmeas de tubarão-frade no mundo?
  • 10:08 - 10:10
    Não sei. Não acredito.
  • 10:10 - 10:12
    O problema com isto
  • 10:12 - 10:14
    é que eles se viram limitados pelas amostras.
  • 10:14 - 10:16
    Não conseguiram amostras suficientes
  • 10:16 - 10:18
    para explorar a vertente genética
  • 10:18 - 10:20
    com detalhe suficiente.
  • 10:20 - 10:23
    Então, de onde se obtêm amostras
  • 10:23 - 10:25
    para a análise genética?
  • 10:25 - 10:27
    Bem, uma fonte óbvia são os tubarões mortos.
  • 10:27 - 10:29
    Tubarões mortos que dão à praia.
  • 10:29 - 10:32
    Podemos obter 2 ou 3 tubarões mortos que dão à praia na Irlanda por ano,
  • 10:32 - 10:34
    se tivermos sorte.
  • 10:34 - 10:36
    Outra fonte seria a captura incidental durante a pesca.
  • 10:36 - 10:39
    Estavamos a conseguir muito poucos apanhados nas redes de superfície.
  • 10:39 - 10:42
    Isso agora é proibido, o que é boa notícia para os tubarões.
  • 10:42 - 10:44
    E alguns são apanhados nas redes, nas redes de arrasto.
  • 10:44 - 10:47
    Este é um tubarão trazido para terra em Howth, antes do Natal,
  • 10:47 - 10:50
    ilegalmente, porque isso não é permitido pela lei da U.E.,
  • 10:50 - 10:53
    e foi vendido a 8 € o Kg, como bife de tubarão.
  • 10:53 - 10:56
    Eles até afixaram uma receita na parede, até serem informados de que era ilegal.
  • 10:56 - 10:59
    E foram multados por isso.
  • 10:59 - 11:01
    Assim, se observarem todos aqueles estudos que vos mostrei,
  • 11:01 - 11:04
    o número total de amostras do mundo inteiro
  • 11:04 - 11:06
    é de 86 presentemente.
  • 11:06 - 11:08
    Portanto, é um trabalho muito importante,
  • 11:08 - 11:10
    que permite colocar algumas boas questões,
  • 11:10 - 11:12
    e informar-nos sobre o tamanho da população
  • 11:12 - 11:15
    e subpopulações e estrutura,
  • 11:15 - 11:18
    mas está limitado pela falta de amostras.
  • 11:18 - 11:20
    Agora, quando estávamos a marcar os nossos tubarões --
  • 11:20 - 11:23
    era assim que os marcávamos na proa de um barco insuflável, rapidamente --
  • 11:23 - 11:25
    ocasionalmente os tubarões reagiam.
  • 11:25 - 11:28
    E numa ocasião em que estávamos em Malin Head, em Donegal,
  • 11:28 - 11:31
    um tubarão bateu com a cauda na parte lateral do barco,
  • 11:31 - 11:34
    penso que mais em sobressalto por o barco se ter aproximado dele,
  • 11:34 - 11:36
    do que pela marcação.
  • 11:36 - 11:39
    E foi bom. Molhámo-nos. Não houve problema nenhum.
  • 11:39 - 11:41
    E depois, quando eu e o Emmett
  • 11:41 - 11:43
    voltámos para Malin Head, para o cais,
  • 11:43 - 11:46
    notámos que havia uma substância viscosa preta na parte da frente do barco.
  • 11:46 - 11:48
    E lembrei-me -- eu costumava passar muito tempo em barcos de pesca comercial --
  • 11:48 - 11:50
    lembrei-me de os pescadores me contarem que sabiam sempre
  • 11:50 - 11:52
    quando um tubarão-frade tinha sido apanhado na rede
  • 11:52 - 11:54
    porque ele deixava esta substância preta.
  • 11:54 - 11:56
    Portanto, eu pensei que aquilo devia ter sido do tubarão.
  • 11:56 - 11:58
    Agora, nós tínhamos interesse
  • 11:58 - 12:00
    em obter amostras de tecido para estudos genéticos
  • 12:00 - 12:02
    porque sabíamos que eram muito valiosas.
  • 12:02 - 12:04
    E usávamos métodos convencionais --
  • 12:04 - 12:06
    tenho uma besta, vêem uma besta ali na minha mão,
  • 12:06 - 12:09
    que também usamos para obter amostras de baleias e golfinhos, para estudos genéticos.
  • 12:09 - 12:11
    Então eu tentei aquilo, tentei muitas técnicas.
  • 12:11 - 12:13
    Tudo o que conseguia era quebrar as flechas
  • 12:13 - 12:15
    porque a pele do tubarão é muito dura.
  • 12:15 - 12:17
    Não havia maneira de conseguirmos uma amostra daquilo.
  • 12:17 - 12:20
    Portanto, aquilo não ia resultar.
  • 12:20 - 12:23
    Então, quando eu vi a substância preta na proa do barco,
  • 12:23 - 12:26
    pensei: "Se recebermos o que nos é oferecido..."
  • 12:26 - 12:28
    Então raspei aquilo.
  • 12:28 - 12:31
    E eu tinha um pequeno tubo com álcool para enviar aos geneticistas.
  • 12:31 - 12:33
    Então, raspei a substância e enviei-a para Aberdeen.
  • 12:33 - 12:35
    E disse: "Podiam tentar isto".
  • 12:35 - 12:37
    E eles ficaram a dormir sobre aquilo durante meses.
  • 12:37 - 12:39
    Isso foi apenas porque tinhamos uma conferência na Ilha de Man.
  • 12:39 - 12:41
    Mas eu continuei a enviar e-mails a dizer:
  • 12:41 - 12:43
    "Já teve oportunidade de analisar o meu lodo?"
  • 12:43 - 12:45
    E ele: "Sim, sim, sim, sim. Mais tarde, mais tarde, mais tarde."
  • 12:45 - 12:47
    De qualquer modo ele pensou que seria melhor fazê-lo,
  • 12:47 - 12:49
    porque nunca nos tínhamos encontrado
  • 12:49 - 12:51
    e ele podia perder a face se não tivesse feito o que lhe tinha pedido.
  • 12:51 - 12:54
    E ele ficou espantado por realmente conseguirem extrair ADN daquela substância.
  • 12:54 - 12:56
    Amplificaram-no e testaram-no
  • 12:56 - 12:58
    e descobriram que, sim, era realmente ADN de tubarão-frade,
  • 12:58 - 13:01
    que fora obtido a partir do lodo.
  • 13:01 - 13:03
    E então ele ficou todo entusiasmado.
  • 13:03 - 13:06
    Ficou conhecido como o lodo de tubarão do Simon.
  • 13:06 - 13:09
    E eu pensei: "Ei, sabem, posso desenvolver esta ideia."
  • 13:09 - 13:11
    Então, pensámos: muito bem, vamos tentar sair
  • 13:11 - 13:13
    e conseguir algum lodo.
  • 13:13 - 13:17
    Então, tendo gasto 3.500 em etiquetas de satélite,
  • 13:19 - 13:22
    pensei que podia investir 7,95 -- o preço mantém-se nesse valor --
  • 13:22 - 13:25
    na minha loja de equipamentos local, em Kilrush,
  • 13:25 - 13:27
    para comprar uma esfregona
  • 13:27 - 13:30
    e ainda menos dinheiro em alguns toalhetes.
  • 13:30 - 13:33
    Embrulhei o toalhete à volta da extremidade da esfregona
  • 13:33 - 13:35
    e fiquei desesperado, desesperado
  • 13:35 - 13:38
    por uma oportunidade
  • 13:38 - 13:40
    para conseguir alguns tubarões.
  • 13:40 - 13:42
    Agora, isto foi em agosto,
  • 13:42 - 13:44
    e normalmente o pico de tubarões é em junho, julho.
  • 13:44 - 13:46
    E raramente os vemos.
  • 13:46 - 13:49
    Raramente conseguimos estar no lugar certo para encontrar tubarões em agosto.
  • 13:49 - 13:51
    Portanto, estavamos desesperados.
  • 13:51 - 13:54
    Então partimos a correr para Blasket logo que ouvimos dizer que havia tubarões lá
  • 13:54 - 13:56
    e conseguimos encontrar alguns tubarões.
  • 13:56 - 13:58
    Então, simplesmente esfregando a esfregona no tubarão
  • 13:58 - 14:00
    quando ele nadava debaixo do barco --
  • 14:00 - 14:02
    vêem, aqui está um tubarão a passar rapidamente debaixo do barco --
  • 14:02 - 14:04
    conseguimos colher lodo.
  • 14:04 - 14:06
    Aqui está.
  • 14:06 - 14:09
    Olhem para aquele encantador lodo preto de tubarão.
  • 14:09 - 14:12
    E em cerca de meia hora
  • 14:12 - 14:15
    obtivemos cinco amostras, de cinco diferentes tubarões,
  • 14:15 - 14:18
    que foram obtidas usando o sistema de amostragem de lodo de tubarão do Simon.
  • 14:18 - 14:20
    (Risos)
  • 14:20 - 14:25
    (Aplausos)
  • 14:25 - 14:28
    Já trabalho com baleias e golfinhos na Irlanda há 20 anos,
  • 14:28 - 14:30
    e eles são um pouco mais dramáticos.
  • 14:30 - 14:32
    Provavelmente vocês viram as imagens da baleia-concunda
  • 14:32 - 14:34
    que tirámos há um ou dois meses ao largo de County Wexford.
  • 14:34 - 14:37
    E nós pensamos sempre em ter um legado para deixar ao mundo.
  • 14:37 - 14:39
    E eu estava a pensar em baleias-corcundas a saltar
  • 14:39 - 14:41
    e golfinhos.
  • 14:41 - 14:43
    Mas olhem, às vezes estas coisas são-nos enviadas
  • 14:43 - 14:45
    e só temos que aceitá-las quando vêm.
  • 14:45 - 14:47
    Portanto, possivelmente este vai ser o meu legado --
  • 14:47 - 14:49
    o lodo de tubarão de Simon.
  • 14:49 - 14:51
    Então, este ano recebemos mais dinheiro
  • 14:51 - 14:54
    para continuarmos a recolher mais e mais amostras.
  • 14:54 - 14:56
    E uma coisa que é muito útil
  • 14:56 - 14:59
    é que usamos câmaras telescópicas -- esta é a minha colega Joanne com uma --
  • 14:59 - 15:01
    que nos permitem ver realmente por baixo do tubarão.
  • 15:01 - 15:04
    E o que tentamos ver é que os machos têm clásperes,
  • 15:04 - 15:07
    suspensos na parte de trás do tubarão.
  • 15:07 - 15:09
    Portanto, podemos distinguir facilmente o género do tubarão.
  • 15:09 - 15:11
    Então, se pudermos saber o género do tubarão,
  • 15:11 - 15:13
    antes de recolhermos a amostra,
  • 15:13 - 15:16
    podemos informar o geneticista se esta foi retirada de um macho ou de uma fêmea.
  • 15:16 - 15:18
    Porque atualmente não têm forma de geneticamente
  • 15:18 - 15:20
    saber a diferença entre um macho e uma fêmea,
  • 15:20 - 15:22
    o que acho absolutamente desconcertante,
  • 15:22 - 15:25
    porque eles não sabem que iniciadores procurar.
  • 15:25 - 15:27
    E poder saber o género de um tubarão
  • 15:27 - 15:29
    é muito importante
  • 15:29 - 15:32
    para coisas como a fiscalização do comércio
  • 15:32 - 15:36
    de tubarões-frade e outras espécies,
  • 15:36 - 15:38
    porque é ilegal comercializar quaisquer tubarões.
  • 15:38 - 15:40
    E eles são apanhados e estão à venda.
  • 15:40 - 15:42
    Assim, como biólogo de campo,
  • 15:42 - 15:44
    só quero encontrar-me com estes animais.
  • 15:44 - 15:46
    Quero aprender o máximo que puder.
  • 15:46 - 15:49
    Frequentemente os encontros são muito rápidos e estão muito limitados sazonalmente.
  • 15:49 - 15:52
    E só quero aprender o máximo que puder logo que possível.
  • 15:52 - 15:54
    Mas não é fantástico
  • 15:54 - 15:57
    podermos oferecer estas amostras
  • 15:57 - 16:00
    e oportunidades a outras disciplinas, como a genética,
  • 16:00 - 16:03
    que podem beneficiar tanto com isto?
  • 16:03 - 16:05
    Então, como disse,
  • 16:05 - 16:08
    estas coisas são-vos enviadas de formas estranhas. Agarrem-nas enquanto podem.
  • 16:08 - 16:10
    Recebo esta como o meu legado científico.
  • 16:10 - 16:13
    Espero conseguir alguma coisa mais dramática e romântica antes de morrer.
  • 16:13 - 16:16
    Mas, para já, estou grato por isto.
  • 16:16 - 16:18
    E mantenham-se de olho nos tubarões.
  • 16:18 - 16:21
    Se tiverem mais interesse, colocámos uma página sobre tubarões-frade na Web.
  • 16:21 - 16:24
    Obrigado e obrigado pela vossa atenção.
  • 16:24 - 16:26
    (Aplausos)
Title:
Como salvar um tubarão sobre o qual nada sabemos?
Speaker:
Simon Berrow
Description:

São os segundos maiores peixes do mundo, estão quase extintos, e não sabemos quase nada a seu respeito. No TEDxDublin, Simon Berrow descreve o fascinante tubarão-frade ("O Grande Peixe do Sol", em irlandês), e as formas excecionais - e de maravilhosa baixa tecnologia -- pelas quais ele está a aprender o suficiente para o salvar.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:26
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How do you save a shark you know nothing about?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How do you save a shark you know nothing about?
Ilona Bastos added a translation

Portuguese subtitles

Revisions Compare revisions