Return to Video

Quando defender uma posição — e quando a deixar passar

  • 0:02 - 0:08
    Este verão, voltei a Ohio
    para um casamento de família,
  • 0:09 - 0:11
    e quando lá estava,
  • 0:11 - 0:14
    havia um encontro
    com Anna e Elsa de "Frozen."
  • 0:14 - 0:17
    Não a Anna e a Elsa de "Frozen,"
  • 0:17 - 0:20
    porque não era um evento
    aprovado pela Disney.
  • 0:20 - 0:24
    Estas duas empresárias
    organizavam festas de princesas.
  • 0:25 - 0:26
    A vossa filha vai fazer cinco anos?
  • 0:26 - 0:30
    Elas cantam umas músicas,
    espalham pó de fada, é formidável.
  • 0:30 - 0:34
    Elas não iam perder a oportunidade
  • 0:34 - 0:36
    que foi o fenómeno "Frozen."
  • 0:36 - 0:39
    Então, foram contratadas
    por uma loja de brinquedos,
  • 0:39 - 0:40
    As crianças chegam num sábado de manhã,
  • 0:40 - 0:44
    compram artigos da Disney
    e tiram uma fotografia com as princesas,
  • 0:44 - 0:45
    acabando assim o dia.
  • 0:45 - 0:48
    É como o Pai Natal
    sem restrições sazonais.
  • 0:48 - 0:49
    (Risos)
  • 0:50 - 0:54
    A minha sobrinha Samantha
    de três anos, estava muito entusiasmada.
  • 0:54 - 0:59
    Não se ralava se estas duas mulheres
    autografavam pósteres e livros coloridos
  • 0:59 - 1:03
    como Rainha da Neve e princesa Ana
    só com um N,
  • 1:03 - 1:05
    por causa dos direitos de autor.
  • 1:05 - 1:06
    (Risos)
  • 1:06 - 1:11
    Segundo a minha sobrinha e as mais de
    200 crianças no estacionamento nesse dia,
  • 1:11 - 1:15
    elas eram a Anna e a Elsa
    do filme "Frozen."
  • 1:16 - 1:22
    Estava um sol escaldante numa manhã
    de sábado em Agosto, em Ohio.
  • 1:22 - 1:24
    Chegámos lá ás 10 horas,
    à hora marcada para o início,
  • 1:24 - 1:27
    e entregaram-nos o número 59.
  • 1:27 - 1:32
    Às 11 horas tinham chamado
    os números 21 a 25.
  • 1:32 - 1:34
    Aquilo iria levar algum tempo,
  • 1:34 - 1:38
    e nenhuma pintura facial grátis
    ou tatuagem temporária
  • 1:38 - 1:42
    impediam o desespero
    que estava a ocorrer fora da loja.
  • 1:41 - 1:42
    (Risos)
  • 1:43 - 1:47
    Às 12:30 fomos chamados:
  • 1:47 - 1:49
    "Do 56 ao 63, se faz favor."
  • 1:50 - 1:53
    Ao entrar, era um cenário
    que só vos posso descrever
  • 1:53 - 1:56
    dizendo que parecia que a Noruega
    tinha vomitado.
  • 1:56 - 1:57
    (Risos)
  • 1:58 - 2:02
    Havia cartão cortado em forma
    de flores de neve a cobrir o chão,
  • 2:02 - 2:07
    purpurina em todas as superfícies planas,
    e pingentes de gelo em todas as paredes.
  • 2:08 - 2:10
    Enquanto esperávamos na fila.
  • 2:10 - 2:12
    para dar á minha sobrinha uma vista melhor
  • 2:12 - 2:14
    do que as costas da mãe do número 58,
  • 2:14 - 2:16
    eu coloquei-a em cima dos meus ombros,
  • 2:16 - 2:19
    e ela imediatamente arrebitou
    ao ver as princesas.
  • 2:20 - 2:22
    Ao avançarmos na fila,
    o seu entusiasmo aumentava
  • 2:22 - 2:25
    e, quando finalmente chegámos
    á frente da fila,
  • 2:25 - 2:28
    e o número 58 desenrolou o póster dela
    para ser autografado pelas princesas,
  • 2:28 - 2:32
    eu pude literalmente sentir
    o entusiasmo a percorrer o corpo dela.
  • 2:32 - 2:35
    Francamente, naquele momento,
    eu também estava muito entusiasmada.
  • 2:35 - 2:37
    (Risos)
  • 2:36 - 2:39
    Quero dizer, a decadência escandinava
    era hipnotizadora.
  • 2:39 - 2:41
    (Risos)
  • 2:41 - 2:43
    Então, chegámos á frente da fila,
  • 2:43 - 2:45
    e a secretária extenuada
    olha para a minha sobrinha e diz:
  • 2:45 - 2:48
    "Olá, querida. És a próxima!
  • 2:48 - 2:51
    "Queres descer ou queres ficar
    nos ombros do teu pai para a fotografia?"
  • 2:51 - 2:53
    (Risos)
  • 2:53 - 2:57
    Eu fiquei congelada,
    na ausência de uma palavra melhor.
  • 2:57 - 2:59
    (Risos)
  • 2:59 - 3:03
    É impressionante como, inesperadamente,
    estamos perante a pergunta:
  • 3:03 - 3:05
    "Quem sou eu?
  • 3:05 - 3:08
    "Sou uma tia? Ou sou uma ativista?"
  • 3:08 - 3:12
    Milhões de pessoas viram o meu vídeo
    sobre como ter uma conversa difícil,
  • 3:12 - 3:14
    e aqui estava uma, mesmo á minha frente.
  • 3:14 - 3:15
    Ao mesmo tempo,
  • 3:15 - 3:18
    na minha vida, não há nada
    mais importante do que as crianças.
  • 3:18 - 3:22
    Assim, encontrei-me numa situação
    em que nos encontramos tantas vezes,
  • 3:22 - 3:26
    Dividida entre duas coisas,
    duas escolhas impossíveis.
  • 3:26 - 3:28
    Seria e u uma ativista?
  • 3:28 - 3:32
    Tirava a minha sobrinha dos meus ombros,
    virava-me para a empregada
  • 3:32 - 3:35
    e explicava-lhe que, de facto,
    eu era tia dela e não o seu pai,
  • 3:35 - 3:38
    e que ela deveria ter mais cuidado
  • 3:38 - 3:41
    e não tirar conclusões
    baseadas em cortes de cabelo
  • 3:41 - 3:42
    e passeios em ombros.
  • 3:42 - 3:44
    (Risos)
  • 3:44 - 3:48
    E, se o fizesse, perder o que, até aí,
  • 3:48 - 3:50
    tinha sido o melhor momento
    da vida da minha sobrinha.
  • 3:51 - 3:53
    Ou devia ser uma tia?
  • 3:53 - 3:56
    Esquecer aquele comentário,
    tirar milhões de fotografias
  • 3:56 - 4:00
    e, por instantes, não me deixar distrair
    daquele momento de pura alegria.
  • 4:01 - 4:03
    E, ao fazer isso,
  • 4:03 - 4:06
    sair com a vergonha
    de não me ter defendido,
  • 4:06 - 4:08
    especialmente em frente da minha sobrinha.
  • 4:09 - 4:10
    Quem era eu?
  • 4:11 - 4:15
    O que era mais importante?
    Qual era o papel que tinha mais valor?
  • 4:15 - 4:18
    Seria uma tia? Ou uma ativista?
  • 4:18 - 4:21
    Eu tinha uma fracção
    de segundo para decidir.
  • 4:23 - 4:24
    Nós aprendemos hoje
  • 4:24 - 4:28
    que vivemos num mundo
    de constante e crescente polaridade.
  • 4:28 - 4:32
    É tudo a preto e branco,
    nós e eles, certo e errado.
  • 4:33 - 4:38
    Não há meio termo,
    não há cinzento, apenas polaridade.
  • 4:38 - 4:41
    A polaridade é um estado
    em que duas ideias ou opiniões
  • 4:41 - 4:43
    são completamente opostas uma à outra;
  • 4:43 - 4:45
    numa oposição diametral.
  • 4:46 - 4:48
    De que lado estão vocês?
  • 4:48 - 4:51
    São inequivocamente e sem dúvida
    anti-guerra, pró-aborto,
  • 4:51 - 4:52
    contra a pena de morte,
  • 4:52 - 4:55
    a favor da regulamentação de armas,
    de fronteiras abertas
  • 4:55 - 4:57
    e pró-sindicatos?
  • 4:57 - 5:00
    Ou são, absoluta e intransigentemente,
  • 5:00 - 5:03
    a favor da guerra, da vida,
    da pena de morte,
  • 5:03 - 5:05
    com a certeza de que a Segunda
    Emenda é absoluta,
  • 5:05 - 5:07
    contra a imigração e a favor do comércio?
  • 5:07 - 5:11
    É tudo ou nada, estão do nosso lado
    ou estão contra nós.
  • 5:11 - 5:12
    Isto é polaridade.
  • 5:12 - 5:17
    O problema com a polaridade
    e os absolutos
  • 5:17 - 5:22
    é que eliminam a individualidade
    da nossa experiência humana
  • 5:22 - 5:26
    e isso torna-se contraditório
    com a nossa natureza humana.
  • 5:27 - 5:29
    Mas, se somos puxados
    nestas duas direcções,
  • 5:29 - 5:31
    mas elas não nos correspondem
  • 5:31 - 5:33
    — a polaridade não é a nossa realidade —
  • 5:33 - 5:35
    para onde vamos?
  • 5:35 - 5:38
    O que há no outro lado desse espectro?
  • 5:38 - 5:42
    Eu não acho que seja
    uma utopia harmoniosa e inatingível.
  • 5:42 - 5:46
    Penso que o contrário
    da polaridade é a dualidade.
  • 5:46 - 5:48
    A dualidade é um estado
    que tem duas partes,
  • 5:48 - 5:52
    mas não em oposição diametral,
  • 5:52 - 5:55
    numa existência simultânea.
  • 5:55 - 5:57
    Não acham que seja possível?
  • 5:57 - 5:59
    Estas são as pessoas que eu conheço:
  • 5:59 - 6:02
    Conheço católicos que são pró aborto,
    feministas que vestem hijabs,
  • 6:02 - 6:04
    veteranos contra a guerra,
  • 6:04 - 6:06
    e membros do NRA que pensam
    que eu devia poder casar.
  • 6:06 - 6:09
    São pessoas que eu conheço,
    são os meus amigos e a família,
  • 6:09 - 6:13
    são a maioria da nossa sociedade,
    são vocês, sou eu.
  • 6:12 - 6:15
    (Aplausos)
  • 6:21 - 6:26
    A dualidade é a capacidade
    de conciliar as duas coisas.
  • 6:26 - 6:31
    Mas a questão é:
    Assumimos a nossa dualidade?
  • 6:31 - 6:34
    Teremos a coragem
    de conciliar ambas as coisas?
  • 6:35 - 6:37
    Eu trabalho num restaurante na cidade,
  • 6:37 - 6:40
    Eu tornei-me muito amiga
    da empregada de limpeza.
  • 6:40 - 6:43
    Eu era empregada de mesa
    e tínhamos uma boa relação,
  • 6:43 - 6:44
    passávamos um bom tempo juntas.
  • 6:44 - 6:48
    O espanhol dela era óptimo
  • 6:48 - 6:51
    porque ela era do México.
  • 6:51 - 6:52
    (Risos)
  • 6:52 - 6:54
    Na verdade, esta frase
    tinha uma contrapartida.
  • 6:54 - 6:58
    O inglês dela era limitado,
    mas muito melhor que o meu espanhol.
  • 7:00 - 7:04
    Mas nós estávamos unidas
    pelas nossas semelhanças,
  • 7:04 - 7:07
    não estávamos separadas
    pelas nossas diferenças.
  • 7:07 - 7:10
    Éramos próximas, apesar de
    virmos de mundos muito diferentes.
  • 7:10 - 7:12
    Ela era do México,
  • 7:12 - 7:14
    deixara a família para trás
    para poder vir para aqui
  • 7:14 - 7:17
    e dar-lhes uma vida melhor.
  • 7:17 - 7:21
    Era uma devota católica conservadora,
  • 7:21 - 7:22
    crente nos valores
    tradicionais de família,
  • 7:22 - 7:24
    nos papéis estereotipados
    do homem e da mulher,
  • 7:24 - 7:27
    e eu era... apenas eu.
  • 7:29 - 7:33
    Mas as coisas que nos uniam eram
    que ela perguntava pela minha namorada,
  • 7:33 - 7:36
    ou partilhava as fotografias
    que tinha da sua família.
  • 7:36 - 7:39
    Essas eram as coisas que nos uniam.
  • 7:39 - 7:41
    Então um dia, estávamos nas traseiras,
  • 7:41 - 7:44
    a comer o mais depressa que podíamos
    em volta de uma mesa,
  • 7:44 - 7:46
    durante um momento raro de sossego.
  • 7:46 - 7:48
    Apareceu um novo empregado da cozinha
  • 7:48 - 7:50
    — que por acaso era primo dela —
  • 7:50 - 7:52
    e sentou-se com toda
    a arrogância e o machismo
  • 7:52 - 7:55
    que o seu corpo de 20 anos podia ter.
  • 7:55 - 7:56
    (Risos)
  • 7:56 - 8:01
    E perguntou-lhe (em espanhol):
    "A Ash tem namorado?"
  • 8:02 - 8:06
    E ela respondeu (em espanhol):
    "Não. Tem uma namorada."
  • 8:07 - 8:10
    E ele disse (em espanhol):
    "Uma namorada?!?"
  • 8:11 - 8:15
    Ela pousou o garfo,
    olhou-o fixamente e disse:
  • 8:15 - 8:19
    (em espanhol)
    "Sim, uma namorada. Ponto final."
  • 8:19 - 8:25
    O presunçoso sorriso dele rapidamente
    deu lugar a um de respeito maternal,
  • 8:25 - 8:27
    pegou no prato dele, saiu
    e voltou para o trabalho.
  • 8:27 - 8:29
    Ela nunca olhou para mim.
  • 8:30 - 8:32
    Saiu, fez a mesma coisa.
  • 8:32 - 8:34
    Foi uma conversa de 10 segundos,
    uma curta interação.
  • 8:35 - 8:37
    No papel, ela tinha muito mais coisas
    em comum com ele:
  • 8:37 - 8:39
    língua, cultura, história, família,
  • 8:39 - 8:42
    aqui, a comunidade dela
    era a sua boia de salvação,
  • 8:42 - 8:46
    mas o seu guia moral
    ultrapassava isso tudo.
  • 8:47 - 8:50
    Pouco depois, eles estavam
    na cozinha a contar piadas em espanhol,
  • 8:50 - 8:52
    Isso não tinha nada a ver comigo,
  • 8:52 - 8:54
    E isso é a dualidade.
  • 8:55 - 8:59
    Ela não tivera que escolher
    entre a homossexualidade e as suas raízes.
  • 8:59 - 9:02
    Ela não precisara de escolher
    entre a família ou a nossa amizade.
  • 9:02 - 9:05
    Não se tratava de Jesus ou Ash.
  • 9:05 - 9:08
    (Risos)
  • 9:08 - 9:11
    (Aplausos)
  • 9:15 - 9:20
    A sua moral individual
    estava tão enraizada
  • 9:20 - 9:23
    que ela tinha a coragem
    de aceitar ambas as coisas.
  • 9:23 - 9:26
    A nossa integridade moral
    é da nossa responsabilidade
  • 9:26 - 9:28
    e temos que estar preparados
    para a defender,
  • 9:28 - 9:31
    mesmo quando não é conveniente
  • 9:31 - 9:33
    Isso é o que significa ser um aliado,
  • 9:33 - 9:36
    e se quisermos ser um aliado,
    temos que ser um aliado ativo.
  • 9:36 - 9:40
    Temos que fazer perguntas, intervir
    quando ouvimos algo inapropriado,
  • 9:40 - 9:42
    Envolver-nos realmente.
  • 9:42 - 9:47
    Durante anos, uma amiga de família
    tratou a minha namorada por minha amante.
  • 9:47 - 9:48
    (Risos)
  • 9:50 - 9:51
    A sério. Amante?
  • 9:51 - 9:53
    Tão demasiadamente sexual,
  • 9:53 - 9:55
    Tão pornografia gay dos anos 70.
  • 9:55 - 9:57
    (Risos)
  • 9:59 - 10:01
    Mas ela estava a esforçar-se e perguntou.
  • 10:01 - 10:04
    Podia chamar-lhe minha amiga,
  • 10:04 - 10:08
    ou a minha "amiga",
    ou a minha "amiga especial"...
  • 10:08 - 10:09
    (Risos)
  • 10:09 - 10:13
    ... ou ainda pior,
    não ter perguntado nada.
  • 10:13 - 10:15
    Acreditem, nós teríamos preferido
    que vocês nos perguntassem.
  • 10:15 - 10:21
    Eu teria preferido que ela dissesse amante,
    do que não dizer nada.
  • 10:21 - 10:24
    As pessoas dizem-me muitas vezes:
    "Ash, eu não ligo nenhuma.
  • 10:24 - 10:28
    "Eu não ligo à etnia,
    à religião ou à sexualidade.
  • 10:28 - 10:31
    "Para mim não é importante.
    Eu não vejo isso."
  • 10:32 - 10:37
    Mas eu penso que o oposto de homofobia,
    de racismo e de xenofobia não é amor,
  • 10:37 - 10:39
    é apatia.
  • 10:39 - 10:43
    Se vocês não vêem a minha
    homossexualidade, então não me vêem.
  • 10:43 - 10:46
    Se não vos interessa
    com quem eu durmo,
  • 10:46 - 10:48
    não podem imaginar como me sinto
  • 10:48 - 10:51
    quando caminho pela rua,
    noite dentro, de mão dada com ela,
  • 10:51 - 10:53
    aproximo-me de um grupo de pessoas,
    e tenho que decidir
  • 10:53 - 10:56
    se continuo a segurar-lhe na mão ou não
  • 10:56 - 10:58
    quando o que eu quero fazer
    é apertá-la ainda mais.
  • 10:58 - 11:01
    A pequena vitória que eu sinto
  • 11:01 - 11:04
    quando passo por eles
    e não tenho que largar a mão
  • 11:04 - 11:09
    e a incrível cobardia e frustração
    que sinto quando a solto.
  • 11:09 - 11:11
    Se vocês não vêem esta luta
  • 11:11 - 11:15
    que é única na minha experiência humana
    porque sou homossexual,
  • 11:15 - 11:17
    é porque não me vêem.
  • 11:18 - 11:22
    Se vamos ser aliados,
    eu preciso que me vejam.
  • 11:23 - 11:26
    Como indivíduos, como aliados,
    como seres humanos,
  • 11:26 - 11:29
    precisamos de ser capazes
    de ser ambas as coisas,
  • 11:29 - 11:32
    o bom e o mal,
  • 11:32 - 11:33
    o fácil e o difícil.
  • 11:33 - 11:38
    Não aprendemos a ser
    as duas coisas apenas superficialmente,
  • 11:38 - 11:40
    aprendemos através da luta.
  • 11:40 - 11:43
    E se a dualidade for só o primeiro passo?
  • 11:44 - 11:49
    E se através da compaixão,
    da empatia e da interacção humana,
  • 11:49 - 11:52
    formos capazes de sermos ambas as coisas?
  • 11:52 - 11:54
    Se podemos ser as duas coisas
    podemos ser quatro,
  • 11:54 - 11:58
    se podemos ser quatro, podemos ser oito,
    se podemos ser oito, podemos ser centenas
  • 11:58 - 12:01
    Somos indivíduos complexos,
  • 12:01 - 12:02
    turbilhões de contradição.
  • 12:02 - 12:05
    Vocês, neste momento, são tantas coisas.
  • 12:06 - 12:09
    O que é que podem fazer
    para ser apenas mais algumas?
  • 12:10 - 12:13
    Então, voltando a Toledo, em Ohio,
  • 12:13 - 12:15
    eu estou na frente da fila,
  • 12:15 - 12:18
    a sobrinha nos meus ombros,
    e a secretária esgotada chama-me Pai.
  • 12:18 - 12:23
    Alguma vez foram confundidos
    com o sexo errado?
  • 12:23 - 12:25
    Nem isso sequer.
  • 12:25 - 12:30
    Alguma vez vos chamaram
    uma coisa que não são?
  • 12:31 - 12:34
    Eis o que isso me faz sentir:
  • 12:34 - 12:38
    Fico logo numa tempestade interior
    de emoções contraditórias.
  • 12:38 - 12:43
    Começo a suar, o que é uma mistura
    de raiva e humilhação,
  • 12:43 - 12:46
    Sinto que a loja inteira
    está a olhar para mim
  • 12:46 - 12:49
    e, ao mesmo tempo, sinto-me invisível.
  • 12:49 - 12:52
    Quero explodir de raiva,
  • 12:52 - 12:54
    e quero esconder-me debaixo de uma pedra.
  • 12:54 - 12:57
    E acima disso tudo,
    com a frustração de estar a usar
  • 12:57 - 13:01
    uma T-shirt púrpura justa
    que não combina comigo,
  • 13:01 - 13:03
    para que a loja inteira
    possa ver o meu peito,
  • 13:03 - 13:06
    para ter a certeza que este tipo
    de situação não aconteça.
  • 13:06 - 13:08
    (Risos)
  • 13:09 - 13:13
    Mas, apesar dos meus esforços
    para ser vista com o sexo que é o meu,
  • 13:13 - 13:14
    isto ainda acontece.
  • 13:14 - 13:19
    Espero do fundo do coração
    que ninguém tenha ouvido.
  • 13:19 - 13:24
    nem a minha irmã, nem a minha namorada,
    nem principalmente a minha sobrinha.
  • 13:24 - 13:27
    Estou acostumada a este tipo de dor,
  • 13:27 - 13:30
    mas farei o que for preciso
    para a evitar às pessoas que amo.
  • 13:32 - 13:35
    Assim, tiro a minha sobrinha dos ombros,
  • 13:35 - 13:37
    ela corre para a Elsa e a Anna,
  • 13:37 - 13:40
    algo por que ela esperou tanto tempo,
  • 13:40 - 13:41
    e tudo aquilo desaparece.
  • 13:41 - 13:45
    Tudo o que importa
    é o sorriso na cara dela.
  • 13:45 - 13:50
    Quando acabam os 30 segundos pelos quais
    esperámos duas horas e meia,
  • 13:51 - 13:55
    recolhemos as nossas coisas,
    olho para a secretária novamente
  • 13:56 - 13:59
    e ela dá-me um sorriso apologético
    e articula em silêncio:
  • 13:59 - 14:02
    "Desculpe!"
  • 14:03 - 14:07
    A humanidade dela, a sua vontade
    de reconhecer o seu erro,
  • 14:07 - 14:10
    desarmam-me imediatamente
    e eu digo:
  • 14:10 - 14:14
    "Tudo bem, acontece. Mas obrigada."
  • 14:14 - 14:17
    E percebo naquele momento
  • 14:17 - 14:20
    que eu não tenho que escolher
  • 14:20 - 14:24
    entre ser tia ou ativista,
    posso ser as duas coisas.
  • 14:25 - 14:30
    Eu posso viver em dualidade,
    e posso ser as duas coisas.
  • 14:30 - 14:33
    E se eu posso ser as duas coisas
    nessa situação,
  • 14:33 - 14:35
    eu posso ser muitas outras coisas.
  • 14:35 - 14:40
    Enquanto a minha namorada e a minha
    sobrinha dão as mãos e saem pela porta,
  • 14:40 - 14:42
    eu viro-me para a minha irmã e digo:
    "Valeu a pena?"
  • 14:42 - 14:44
    e ela diz: "Estás a brincar?
  • 14:44 - 14:47
    "Viste a expressão na cara dela?
    Este foi o melhor momento da vida dela!"
  • 14:47 - 14:49
    (Risos)
  • 14:49 - 14:52
    "Valeram a pena
    as duas horas e meia no calor,
  • 14:52 - 14:56
    "valeu a pena o livro caro de colorir
    de que nós já tínhamos um exemplar."
  • 14:56 - 14:58
    (Risos)
  • 14:58 - 15:01
    "Até valeu a pena terem-te chamado Pai."
  • 15:02 - 15:04
    (Risos)
  • 15:05 - 15:11
    Pela primeira vez na minha vida,
    valeu mesmo a pena.
  • 15:11 - 15:13
    Obrigada, Boulder.
    Tenham uma boa noite.
  • 15:13 - 15:16
    (Aplausos)
Title:
Quando defender uma posição — e quando a deixar passar
Speaker:
Ash Beckham
Description:

Ash Beckham deparou-se recentemente numa situação que a fez questionar: quem sou eu? Ela sentiu-se dividida entre dois papéis, o de tia e o de ativista. Cada um de nós, por vezes, sente esta luta, diz ela — e apresenta sugestões ousadas para defender a integridade moral quando não é conveniente.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:35

Portuguese subtitles

Revisions