O que quase morrer me ensinou sobre viver
-
0:01 - 0:04Foi na primavera de 2011,
-
0:04 - 0:07e tal como eles gostam de dizer
em discursos de formatura, -
0:07 - 0:10eu estava a preparar-me
para entrar no mundo real. -
0:11 - 0:14Tinha-me recentemente
formado na universidade -
0:14 - 0:17e fui para Paris para começar
o meu primeiro emprego. -
0:17 - 0:21O meu sonho era tornar-me
correspondente de guerra, -
0:21 - 0:23mas o mundo real que encontrei
-
0:23 - 0:28levou-me a um tipo de zona
de conflito bem diferente. -
0:29 - 0:31Aos 22 anos de idade,
-
0:31 - 0:34fui diagnosticada com leucemia.
-
0:35 - 0:38Os médicos disseram-me, a mim
e aos meus pais, diretamente, -
0:39 - 0:43que eu tinha cerca de 35% de hipóteses
de sobrevivência a longo prazo. -
0:44 - 0:49Eu não consegui entender
o significado daquele prognóstico. -
0:49 - 0:54Mas percebi que a realidade e a vida
que tinha imaginado para mim mesma -
0:54 - 0:56tinham sido destruídas.
-
0:56 - 1:01Da noite para o dia, perdi o meu emprego,
o meu apartamento, a minha independência, -
1:01 - 1:05e tornei-me na paciente número 5624.
-
1:07 - 1:10Durante os quatro anos seguintes
de quimioterapia, um ensaio clínico -
1:10 - 1:12e um transplante de medula óssea,
-
1:12 - 1:14o hospital tornou-se a minha casa,
-
1:14 - 1:18a minha cama, o lugar
onde vivia o tempo todo. -
1:18 - 1:22Como era improvável que eu
alguma vez fosse melhorar, -
1:22 - 1:25tive de aceitar a minha nova realidade.
-
1:25 - 1:28E adaptei-me.
-
1:28 - 1:32Tornei-me fluente em gíria médica,
-
1:32 - 1:36fiz amizades com um grupo
de outros pacientes jovens com cancro, -
1:37 - 1:41criei uma vasta coleção de perucas néon
-
1:41 - 1:47e aprendi a usar o meu poste
intravenoso rolante como um "skate". -
1:48 - 1:51Até realizei o meu sonho de me tornar
correspondente de guerra, -
1:51 - 1:54embora não da forma que eu esperava.
-
1:54 - 1:56Começou com um blogue,
-
1:56 - 1:59relatando a partir das linhas da frente
da minha cama do hospital, -
1:59 - 2:02e transformou-se numa coluna
que escrevia para o New York Times, -
2:02 - 2:05chamada "Life, Interrupted".
-
2:05 - 2:06(Aplausos)
-
2:06 - 2:07Obrigada.
-
2:07 - 2:09(Aplausos)
-
2:10 - 2:12Mas sobretudo,
-
2:12 - 2:15concentrava-me em sobreviver.
-
2:16 - 2:18E - alerta de "spoiler" -
-
2:19 - 2:20(Risos)
-
2:21 - 2:23sobrevivi, sim.
-
2:23 - 2:26(Aplausos)
-
2:28 - 2:31Graças a um exército
de seres humanos solidários, -
2:31 - 2:35não estou apenas aqui,
estou curada do meu cancro. -
2:35 - 2:36(Aplausos)
-
2:36 - 2:37Obrigada.
-
2:37 - 2:39(Aplausos)
-
2:40 - 2:44Quando passamos por
uma experiência traumática assim, -
2:44 - 2:46as pessoas tratam-nos de outro modo.
-
2:46 - 2:50Começam por nos dizer
o quão inspiradores somos. -
2:50 - 2:53Dizem que somos uns guerreiros.
-
2:53 - 2:55Chamam-nos de heróis,
-
2:55 - 2:58alguém que viveu
a jornada do herói mítico, -
2:58 - 3:00que enfrentou provas impossíveis
-
3:00 - 3:03e, contra todas as expetativas,
viveu para contar a história, -
3:03 - 3:07regressando melhores e mais corajosos
por aquilo que passámos. -
3:08 - 3:12Isto, sem dúvida, coincide
com a minha experiência. -
3:12 - 3:15O cancro transformou
totalmente a minha vida. -
3:15 - 3:18Saí do hospital a saber
exatamente quem eu era, -
3:18 - 3:20e o que eu queria fazer no mundo.
-
3:20 - 3:23E agora, todos os dias quando o sol nasce,
-
3:23 - 3:25bebo um grande copo de sumo de aipo,
-
3:25 - 3:28e de seguida faço 90 minutos de ioga.
-
3:29 - 3:34Depois, escrevo 50 coisas
das quais estou grata num papel enrolado -
3:35 - 3:39que dobro num grou de origami
e atiro pela janela. -
3:39 - 3:41(Risos)
-
3:41 - 3:44Estão mesmo a acreditar nisto?
-
3:44 - 3:46(Risos)
-
3:46 - 3:49Eu não faço nada destas coisas.
-
3:49 - 3:54Odeio ioga, e não tenho ideia
de como dobrar um grou de origami. -
3:54 - 3:55(Risos)
-
3:55 - 3:57A verdade é que, para mim,
-
3:58 - 4:00a parte mais difícil
da minha experiência com o cancro -
4:00 - 4:03começou assim que o cancro desapareceu.
-
4:04 - 4:07Aquela jornada heroica
do sobrevivente que vemos nos filmes -
4:07 - 4:10e que vemos a encenar no Instagram
-
4:10 - 4:11é um mito.
-
4:11 - 4:13Não é apenas falso, é perigoso.
-
4:13 - 4:17porque esquece os problemas
bastante reais da recuperação. -
4:18 - 4:23Não me interpretem mal,
estou incrivelmente grata por estar viva, -
4:23 - 4:27e, infelizmente, estou ciente
de que esta luta é um privilégio -
4:27 - 4:29que muitos não chegam a experienciar.
-
4:29 - 4:32Mas é importante dizer-vos
-
4:32 - 4:37o que esta projeção de heroísmo
e expetativa de gratidão constante -
4:37 - 4:40faz a pessoas que estão
a tentar recuperar. -
4:40 - 4:44Porque estar curado não é onde
o trabalho de recuperação termina. -
4:45 - 4:47É onde ele começa.
-
4:48 - 4:52Nunca esquecerei o dia
em que tive alta do hospital, -
4:52 - 4:55finalmente com o tratamento concluído.
-
4:55 - 5:01Aqueles quatro anos de quimioterapia
tinham prejudicado a minha relação -
5:01 - 5:03com o meu namorado de há muito tempo,
-
5:03 - 5:06e pouco tempo antes
ele tinha-se afastado. -
5:06 - 5:09Quando entrei no meu apartamento,
estava tudo silencioso. -
5:10 - 5:12Estranhamente.
-
5:12 - 5:15A pessoa a quem eu queria ligar
nesse momento, -
5:15 - 5:19a pessoa que eu sabia
que iria perceber tudo, -
5:19 - 5:20era a minha amiga Melissa.
-
5:20 - 5:23Era uma colega doente com cancro,
-
5:23 - 5:26mas tinha morrido três semanas antes.
-
5:27 - 5:30Enquanto fiquei ali à entrada
do meu apartamento, -
5:30 - 5:31queria chorar.
-
5:31 - 5:35Mas estava demasiado
cansada para chorar. -
5:35 - 5:37A adrenalina tinha desaparecido.
-
5:37 - 5:39Sentia-me como se a estrutura interna
-
5:40 - 5:42que me sustentara
desde o meu diagnóstico -
5:42 - 5:44de repente se tivesse desmoronado.
-
5:44 - 5:51Eu tinha passado os últimos 1500 dias
sempre a trabalhar para atingir uma meta: -
5:51 - 5:53para sobreviver.
-
5:53 - 5:55E agora que tinha feito isso,
-
5:55 - 6:00percebia que não tinha absolutamente
nenhuma ideia de como viver. -
6:02 - 6:04Em teoria, claro, estava melhor:
-
6:04 - 6:06não tinha leucemia,
-
6:06 - 6:08o meu hemograma voltara ao normal,
-
6:08 - 6:11e deixara de receber
os subsídios de incapacidade. -
6:11 - 6:13Para o resto do mundo,
-
6:13 - 6:17eu claramente já não pertencia
ao reino dos doentes. -
6:18 - 6:22Mas na realidade, nunca me sentira
tão longe de estar bem. -
6:23 - 6:28Toda aquela quimioterapia tinha afetado
permanentemente todo o meu corpo. -
6:28 - 6:31Eu perguntei-me: "Que tipo
de trabalho consigo manter -
6:31 - 6:35"quando preciso de fazer uma sesta
de quatro horas a meio do dia? -
6:35 - 6:38"Quando o meu sistema imunitário em falha
-
6:38 - 6:42"ainda me envia para o serviço
de urgência regularmente?" -
6:42 - 6:46E depois, havia as marcas
psicológicas invisíveis -
6:46 - 6:48que a minha doença me tinha deixado:
-
6:48 - 6:50o medo duma recaída,
-
6:50 - 6:53o sofrimento por processar,
-
6:53 - 6:58os demónios de "stress" pós-traumático
sobre mim durante dias, às vezes semanas. -
6:59 - 7:01Nós falamos de reentrada
-
7:01 - 7:04no contexto da guerra e da prisão.
-
7:05 - 7:07Mas não falamos tanto disso
-
7:07 - 7:11no contexto de outros tipos de
experiências traumáticas, como uma doença. -
7:12 - 7:16Como ninguém me tinha avisado
dos problemas da reentrada, -
7:16 - 7:18pensava que algo devia
estar errado comigo. -
7:19 - 7:21Sentia-me envergonhada,
-
7:21 - 7:24e cheia de culpa,
continuava a lembrar-me -
7:24 - 7:27do quão sortuda eu era
por ainda estar viva, -
7:27 - 7:30quando tantas pessoas como
a minha amiga Melissa não estavam. -
7:30 - 7:34Mas na maioria dos dias, acordava
sentindo-me triste e perdida, -
7:34 - 7:36mal conseguia respirar,
-
7:36 - 7:41Às vezes, até fantasiava
ficar doente outra vez. -
7:42 - 7:43E deixem-me que vos diga,
-
7:43 - 7:47há inúmeras coisas
melhores para fantasiar -
7:47 - 7:50quando temos 20 anos
e recentemente solteiras. -
7:50 - 7:51(Risos)
-
7:52 - 7:55Mas eu sentia falta
do ecossistema do hospital. -
7:55 - 7:59Tal como eu, todos ali
estavam despedaçados. -
7:59 - 8:03Mas, cá fora, entre os vivos,
eu sentia-me como uma impostora, -
8:03 - 8:06abalada e incapaz de funcionar.
-
8:07 - 8:11Também sentia falta da sensação de clareza
que tinha sentido no pico da doença. -
8:12 - 8:17Encarar diretamente a nossa mortalidade
tem o efeito de simplificar as coisas, -
8:17 - 8:20de redirecionar a atenção
para o que realmente é importante. -
8:21 - 8:23Quando eu estava doente,
jurei que, se sobrevivesse, -
8:23 - 8:25tinha de ser para alguma coisa.
-
8:25 - 8:28Tinha de ser para viver uma vida boa,
uma vida aventureira, -
8:28 - 8:30uma vida com significado.
-
8:30 - 8:32Mas a pergunta, assim que fiquei curada,
-
8:33 - 8:34passou a ser: Como?
-
8:35 - 8:40Eu tinha 27 anos, sem emprego,
sem companheiro e sem estrutura. -
8:40 - 8:44Desta vez, não tinha protocolos
de tratamento ou instruções de alta -
8:44 - 8:47para me ajudar a orientar
o meu caminho para a frente. -
8:47 - 8:53O que eu tinha era uma caixa de entrada
cheia de mensagens de estranhos -
8:53 - 8:54pela Internet.
-
8:55 - 8:56Ao longo dos anos,
-
8:56 - 8:59pessoas de todo o mundo
tinham lido a minha coluna, -
8:59 - 9:04e tinham respondido com cartas,
comentários e "emails". -
9:04 - 9:09Era uma mistura, como é o caso,
muitas vezes, para os escritores. -
9:10 - 9:13Recebi muitos conselhos não solicitados
-
9:13 - 9:17sobre como curar o meu cancro
com coisas como óleos essenciais. -
9:17 - 9:21Recebi algumas perguntas
sobre o tamanho do meu soutien. -
9:21 - 9:22Mas sobretudo...
-
9:22 - 9:23(Risos)
-
9:23 - 9:29sobretudo, soube de pessoas que,
sob formas diferentes, -
9:29 - 9:31percebiam aquilo por que
eu estava a passar. -
9:32 - 9:35Soube de uma adolescente na Flórida
-
9:35 - 9:37que, como eu, estava a sair
da quimioterapia -
9:37 - 9:41e me escreveu uma mensagem
composta em grande parte de "emojis". -
9:42 - 9:47Soube de um professor de história da arte
reformado em Ohio, chamado Howard, -
9:47 - 9:49que passara muito da sua vida
-
9:49 - 9:52a lutar contra um problema de saúde
misterioso e debilitante, -
9:52 - 9:55que tinha tido desde o tempo
em que era jovem. -
9:55 - 10:00Soube de um preso
no corredor da morte no Texas -
10:00 - 10:03chamado Little GQ
-
10:03 - 10:05- abreviatura de "Gangster Quinn".
-
10:05 - 10:08Ele nunca tinha estado doente
nem um dia na sua vida. -
10:08 - 10:11Faz 1000 flexões de bruços
para começar cada manhã. -
10:11 - 10:14Mas identificou-se com o que
eu descrevi numa coluna -
10:14 - 10:16como o meu "encarceramento",
-
10:16 - 10:20e com a experiência de estar limitado
a uma sala fluorescente minúscula. -
10:22 - 10:26"Eu sei que as nossas situações
são diferentes", escreveu-me, -
10:26 - 10:31"Mas a ameaça da morte espreita
em ambas as nossas sombras". -
10:32 - 10:36Naquelas primeiras semanas solitárias
e nos meses da minha recuperação, -
10:36 - 10:40estes estranhos e as suas palavras
tornaram-se a minha salvação, -
10:40 - 10:43mensagens de pessoas
de tantas origens diferentes, -
10:43 - 10:45com inúmeras experiências diferentes,
-
10:45 - 10:48todas a mostrarem-me a mesma coisa:
-
10:49 - 10:52podemos ser reféns
-
10:52 - 10:55da pior coisa que já nos aconteceu
-
10:55 - 10:58e permitir que isso se aproprie
do resto dos nossos dias, -
10:58 - 11:02ou podemos encontrar
um caminho para a frente. -
11:03 - 11:07Eu sabia que precisava de fazer
algum tipo de diferença. -
11:07 - 11:10Queria estar em movimento outra vez
-
11:10 - 11:15para perceber como me desprender
e como regressar ao mundo. -
11:15 - 11:20E então, decidi fazer uma viagem a sério
-
11:20 - 11:23não a do cancro da treta
-
11:23 - 11:26nem a jornada do herói mítico
em que todos achavam que eu devia estar, -
11:26 - 11:30mas uma viagem real
em que fazemos as malas. -
11:31 - 11:35Pus tudo o que possuía num armazém,
-
11:36 - 11:39aluguei o meu apartamento,
pedi um carro emprestado -
11:39 - 11:44e convenci um amigo muito querido,
mas um pouco malcheiroso -
11:44 - 11:45a juntar-se a mim.
-
11:45 - 11:47(Risos)
-
11:47 - 11:51Juntos, o meu cão Óscar e eu
embarcámos numa viagem de carro -
11:51 - 11:55de 24 000 km pelos EUA.
-
11:55 - 12:00Pelo caminho, visitámos alguns
dos estranhos que me tinham escrito. -
12:01 - 12:03Eu precisava dos seus conselhos,
-
12:03 - 12:05e também de lhes dizer, obrigada.
-
12:05 - 12:10Fui a Ohio e fiquei com Howard,
o professor reformado. -
12:11 - 12:14Quando sofremos uma perda ou um trauma,
-
12:14 - 12:17o impulso pode ser
proteger o coração. -
12:17 - 12:21Mas o Howard pediu-me para me abrir
a mim mesma à incerteza, -
12:22 - 12:26às possibilidades
de um novo amor, uma nova perda. -
12:27 - 12:29O Howard nunca se curará da doença.
-
12:29 - 12:33E enquanto jovem, não tinha forma
de prever quanto tempo iria viver. -
12:33 - 12:36Mas isso não o impediu de casar.
-
12:36 - 12:38Howard tem netos agora,
-
12:38 - 12:42e tem aulas de dança semanais
com a sua esposa. -
12:42 - 12:43Quando eu os visitei,
-
12:43 - 12:47eles tinham acabado de festejar
o seu aniversário de 50 anos. -
12:48 - 12:50Na sua carta para mim, ele escrevera:
-
12:50 - 12:53"O significado não se encontra
no reino material; -
12:54 - 12:57"não é no jantar, no 'jazz',
nos 'cocktails' ou nas conversas. -
12:57 - 13:02"O significado é o que resta
quando tudo o mais é removido". -
13:03 - 13:07Fui ao Texas, e visitei o Little GQ
no corredor da morte. -
13:08 - 13:12Ele perguntou-me o que é que eu fizera
para passar aquele tempo todo -
13:12 - 13:14em que ficara num quarto do hospital.
-
13:14 - 13:18Quando lhe contei que ficara
muito boa a jogar Scrabble, -
13:19 - 13:22ele disse: "Eu também!"
e explicou como, -
13:22 - 13:26apesar de passar a maioria
dos dias em isolamento, -
13:26 - 13:30ele e os prisioneiros seus vizinhos
fazem jogos de tabuleiro de papel -
13:30 - 13:33e jogam através das ranhuras
de refeição das suas portas -
13:33 - 13:40- um testemunho da persistência
incrível do espírito humano -
13:40 - 13:44e da nossa capacidade
de nos adaptarmos com criatividade. -
13:44 - 13:47A minha última paragem foi na Flórida,
-
13:47 - 13:50para ver aquela adolescente
que me tinha enviado os "emojis". -
13:51 - 13:54O seu nome é Unique, o que é perfeito,
-
13:54 - 13:58porque ela é a pessoa mais luminosa
e curiosa que eu já conheci. -
13:59 - 14:02Perguntei-lhe o que é que ela
quer fazer a seguir e ela disse: -
14:02 - 14:04"Eu quero ir para a universidade e viajar
-
14:04 - 14:07"e comer comidas estranhas
como polvo, que nunca provei antes, -
14:07 - 14:09"e ir visitar-te a Nova Iorque
-
14:09 - 14:11"e ir acampar, mas tenho medo de insetos,
-
14:11 - 14:13"mas ainda assim quero ir acampar".
-
14:14 - 14:16Eu fiquei maravilhada
-
14:16 - 14:22por ela conseguir ser tão otimista
e tão cheia de planos para o futuro, -
14:22 - 14:24dado tudo por aquilo
que ela tinha passado. -
14:24 - 14:26Mas tal como a Unique me mostrou,
-
14:26 - 14:31é muito mais radical
e perigoso ter esperança, -
14:31 - 14:33do que viver limitado pelo medo.
-
14:35 - 14:39Mas a coisa mais importante
que aprendi naquela viagem de carro, -
14:39 - 14:43é que a divisão entre
os doentes e os saudáveis -
14:43 - 14:45não existe.
-
14:45 - 14:48A fronteira é porosa.
-
14:48 - 14:50Enquanto vivemos cada vez mais,
-
14:50 - 14:54sobrevivendo a doenças e lesões
que teriam matado os nossos avós, -
14:54 - 14:55e até os nossos pais,
-
14:55 - 15:00muitos de nós irão viajar
para cá e para lá entre estes domínios, -
15:00 - 15:04passando grande parte da nossa vida
algures entre os dois. -
15:04 - 15:08Estas são as condições
da nossa existência. -
15:08 - 15:13Gostaria de poder dizer que, desde
que voltei para casa da minha viagem, -
15:13 - 15:15me sinto totalmente curada.
-
15:15 - 15:16Não sinto.
-
15:17 - 15:19Mas assim que deixei
de esperar de mim mesma -
15:19 - 15:23que volte a ser a pessoa que era
antes do diagnóstico, -
15:23 - 15:28assim que aprendi a aceitar
o meu corpo e as suas limitações, -
15:28 - 15:31comecei efetivamente a sentir-me melhor.
-
15:31 - 15:35E no fim, acho que esse é o truque:
-
15:35 - 15:39deixar de ver a saúde como binária,
-
15:39 - 15:41entre doente e saudável,
-
15:41 - 15:42boa e má,
-
15:42 - 15:44inteira e destroçada;
-
15:44 - 15:48deixar de pensar que há
um estado de bem-estar belo e perfeito -
15:48 - 15:50para alcançar;
-
15:50 - 15:54e deixar de viver num estado
de insatisfação constante -
15:54 - 15:56até o atingirmos.
-
15:57 - 16:02Cada um de nós
vai ter a vida interrompida, -
16:02 - 16:05quer seja pelo choque
de um diagnóstico -
16:05 - 16:09ou outro tipo de desgosto
ou trauma que nos deite ao chão. -
16:10 - 16:15Precisamos de encontrar formas
de viver no lugar intermédio, -
16:16 - 16:20gerir qualquer que seja o corpo
e mente que de momento tenhamos. -
16:21 - 16:27Às vezes, basta a criatividade
de um jogo de Scrabble artesanal -
16:27 - 16:32ou encontrar aquele tipo de significado
despido no amor da família -
16:32 - 16:34e uma noite na pista de dança do salão,
-
16:34 - 16:37ou aquela esperança radical, perigosa
-
16:37 - 16:40que imagino que um dia
levará a acampar -
16:40 - 16:43uma adolescente aterrorizada com insetos.
-
16:44 - 16:46Se vocês forem capazes de fazer isso,
-
16:46 - 16:50então, submeteram-se
à verdadeira jornada de um herói. -
16:50 - 16:54Alcançaram aquilo que realmente
significa estar bem, -
16:54 - 17:01o que quer dizer: vivos, no sentido
mais desordenado, mais rico e mais completo. -
17:01 - 17:03Obrigada, é tudo o que tenho.
-
17:03 - 17:05(Aplausos)
-
17:06 - 17:07Obrigada.
-
17:07 - 17:10(Aplausos)
- Title:
- O que quase morrer me ensinou sobre viver
- Speaker:
- Suleika Jaouad
- Description:
-
"A parte mais difícil da minha experiência com o cancro começou assim que o cancro desapareceu", diz a autora Suleika Jaouad. Nesta palestra intensa, engraçada e repleta de sabedoria, ela desafia-nos a pensar para além da divisão entre "doente" e "saudável", perguntando-nos: Como é que se recomeça e se encontra sentido depois de a vida ser interrompida?
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:23
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for What almost dying taught me about living | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for What almost dying taught me about living | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for What almost dying taught me about living | ||
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Mariana Gameiro edited Portuguese subtitles for What almost dying taught me about living |