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Normose: a patologia da normalidade | Roberto Crema | TEDxLaçador

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    Eu estou sendo psicoterapeuta
    há mais de 40 anos.
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    Eu quero lhe dizer que, além da neurose,
  • 0:28 - 0:31
    além da psicose,
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    existe uma doença terrível.
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    De fato, é uma doença nefasta,
  • 0:42 - 0:45
    que Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e eu
  • 0:46 - 0:49
    denominamos de "normose",
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    a patologia da normalidade.
  • 0:58 - 1:05
    E eu devo dizer que talvez este
    seja um dos encantamentos
  • 1:05 - 1:10
    deste grande encontro, TEDxLaçador:
  • 1:10 - 1:17
    é que a normose está sendo
    pontuada desde o início.
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    O que é a normose?
  • 1:22 - 1:25
    São hábitos, atitudes,
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    um conjunto de comportamentos
    dotados de consenso social,
  • 1:32 - 1:39
    patogênicos e patológicos
    em algum sentido, em alguma medida.
  • 1:40 - 1:43
    A guerra legal, por exemplo.
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    É um exemplo, talvez o mais mortífero,
    do que é a normose.
  • 1:51 - 1:53
    Até onde eu posso compreender,
  • 1:53 - 1:58
    existem dois fundamentos,
    os mais importantes, da normose.
  • 1:59 - 2:02
    Um é o situacional, sistêmico.
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    O outro é o evolutivo.
  • 2:07 - 2:11
    O sistêmico, o situacional
  • 2:13 - 2:18
    diz respeito ao fato
    de que nem sempre a normose existiu,
  • 2:18 - 2:21
    nem sempre ela existirá.
  • 2:21 - 2:25
    A normose é uma doença típica
  • 2:25 - 2:31
    de momentos em que nós convivemos
    dentro de um contexto
  • 2:32 - 2:37
    onde predomina a violência,
  • 2:37 - 2:43
    a falta de escuta, a falta de cuidado,
    a falta de responsabilidade,
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    onde predomina a corrupção,
    a desumanidade,
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    numa só palavra, o egocentrismo.
  • 2:52 - 2:54
    Então isso é normal?
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    É se adaptar a um sistema doente
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    e mantê-lo.
  • 3:00 - 3:06
    Eu tenho sido um operário,
    há mais de 31 anos,
  • 3:06 - 3:09
    da Universidade Internacional da Paz,
  • 3:09 - 3:11
    Unipaz.
  • 3:11 - 3:15
    E as pessoas pensam
    que paz é estar numa boa;
  • 3:15 - 3:18
    que paz é ausência de conflitos.
  • 3:18 - 3:19
    Não!
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    Paz é bom combate.
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    O oposto da paz, como afirma
    a sabedoria chinesa, é a estagnação.
  • 3:32 - 3:37
    ♪ Quantas guerras terei que vencer
    por um pouco de paz. ♪
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    Há que militar pela paz.
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    Mas com outras armas.
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    As armas da consciência,
    da responsabilidade,
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    do amor compassivo.
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    Então, da mesma forma, saúde
    não é ausência de sintomas.
  • 4:02 - 4:08
    Às vezes a pessoa saudável é aquela
    que tem capacidade de apresentar sintomas.
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    Sintomas conscientes.
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    Às vezes até mesmo
    um desespero consciente, lúcido,
  • 4:19 - 4:23
    uma indignação justa.
  • 4:26 - 4:30
    Isso me faz lembrar
    de uma parábola familiar.
  • 4:31 - 4:35
    Quando a minha filha Isabela tinha 5 anos,
  • 4:35 - 4:39
    e hoje ela tem 34 e tem um garotinho de 8,
  • 4:40 - 4:42
    a mãe lhe perguntou:
  • 4:42 - 4:45
    "Qual a princesa que você mais gosta?
  • 4:45 - 4:49
    A Gata Borralheira, a Cinderela,
    a Bela Adormecida?"
  • 4:50 - 4:53
    Ela pensou e respondeu:
  • 4:53 - 4:56
    "Eu gosto de todas as que desmaiam".
  • 5:00 - 5:02
    Eu também. Eu também.
  • 5:03 - 5:06
    Eu respeito muito pessoas que desmaiam.
  • 5:07 - 5:13
    Às vezes porque têm a sensibilidade
    de sentir, na própria pele,
  • 5:13 - 5:20
    a dor, as contradições,
    que os normóticos não sentem.
  • 5:20 - 5:24
    Pessoas que me procuraram
    com a doença do pânico, por exemplo,
  • 5:24 - 5:27
    todas eram pessoas sensíveis,
  • 5:27 - 5:29
    pra não dizer sensitivas;
  • 5:29 - 5:34
    que captavam, tinham portais
    abertos à percepção.
  • 5:35 - 5:37
    Um medo que não é apenas o seu medo.
  • 5:37 - 5:40
    É o medo do sistema familiar.
  • 5:40 - 5:44
    É o medo de uma humanidade
    num grupo de risco de extinção.
  • 5:46 - 5:52
    É o medo de animais sendo dizimados,
  • 5:52 - 5:57
    de florestas sendo desertificadas.
  • 5:57 - 5:59
    E essas pessoas desmaiam!
  • 6:01 - 6:08
    Eu respeito muito pessoas denominadas
    de psicóticas e de neuróticas.
  • 6:09 - 6:12
    Nem todo mundo tem
    competência pra enlouquecer.
  • 6:14 - 6:19
    É por isso que, na África,
    as pessoas que são consideradas loucas
  • 6:19 - 6:22
    são também consideradas santas.
  • 6:22 - 6:25
    Porque elas são
    como um para-raios que capta
  • 6:25 - 6:30
    as contradições culturais, sistêmicas.
  • 6:30 - 6:32
    E às vezes naufragam.
  • 6:32 - 6:36
    E como já disse Laing,
  • 6:36 - 6:42
    a diferença entre um santo e um louco
  • 6:42 - 6:48
    é que o santo sabe nadar
    onde o outro não sabe
  • 6:48 - 6:49
    e naufraga.
  • 6:49 - 6:52
    Talvez essas pessoas,
    pelo menos em grande medida,
  • 6:52 - 6:58
    que nós chamamos de psicóticas,
    sejam santos fracassados.
  • 7:00 - 7:02
    Eu respeito muito os neuróticos,
  • 7:02 - 7:06
    que pelo menos têm a decência de ter
    uma dor de consciência, uma insônia.
  • 7:07 - 7:11
    O problema é a normose,
    é gente que não se importa.
  • 7:15 - 7:17
    É uma desumanidade.
  • 7:20 - 7:26
    Então eu penso numa ocasião em que eu vim
    dar um seminário aqui em Porto Alegre,
  • 7:26 - 7:32
    e o taxista, ao saber que eu era
    psicoterapeuta, me disse:
  • 7:32 - 7:35
    "Doutor, eu tenho
    um problema na minha casa.
  • 7:35 - 7:37
    O meu filho é bom.
  • 7:37 - 7:42
    Ele é gentil. Ele se levanta
    pra uma pessoa mais idosa sentar.
  • 7:42 - 7:44
    Ele não xinga.
  • 7:44 - 7:46
    Ele é bom...
  • 7:46 - 7:48
    Ele é alvo de bullying.
  • 7:48 - 7:52
    As pessoas caçoam, ridicularizam
    meu filho, o que eu faço com meu filho?
  • 7:52 - 7:53
    Ele é bom".
  • 7:54 - 7:59
    Vocês compreendem o que eu
    estou querendo dizer por normose?
  • 8:03 - 8:10
    Então eu devo dizer que todas as pessoas
    que eu respeito e admiro
  • 8:10 - 8:12
    são, todas, desajustadas.
  • 8:14 - 8:20
    Felizmente! Como este time fabuloso
    que organizou este encontro!
  • 8:20 - 8:23
    (Aplausos)
  • 8:28 - 8:30
    Que nadam contra a correnteza.
  • 8:31 - 8:36
    Neste momento, há que sofrer
    de um desajustamento.
  • 8:37 - 8:42
    Então, vocês falaram da normose,
  • 8:42 - 8:47
    do machismo, do racismo, da homofobia,
  • 8:47 - 8:50
    de diversas exclusões.
  • 8:50 - 8:52
    Normose...
  • 8:52 - 8:56
    Poderíamos falar da normose ambiental.
  • 8:56 - 8:59
    Da normose da ultraespecialização,
  • 8:59 - 9:02
    que é uma pessoa que sabe
    quase tudo de quase nada.
  • 9:03 - 9:04
    (Risos)
  • 9:05 - 9:07
    E que este auditório está pegando fogo
  • 9:07 - 9:09
    e cada um está olhando
    o "minimum minimorum" e não percebe,
  • 9:09 - 9:11
    a sua existência não tem um sentido.
  • 9:11 - 9:14
    Nós estamos numa globalização inexorável,
  • 9:14 - 9:19
    uma pessoa que é meramente
    especialista é incompetente.
  • 9:20 - 9:26
    Mas não se trata de fazer
    apologia do generalista;
  • 9:26 - 9:28
    não são [essas] as funções
    dos computadores?
  • 9:30 - 9:34
    Talvez haja um conceito nessa educação
  • 9:34 - 9:37
    que aqui também tem sido apontada
  • 9:38 - 9:42
    como sendo uma possibilidade de solução,
  • 9:42 - 9:44
    que eu tenho chamado de vocação.
  • 9:44 - 9:50
    É a voz mais profunda do desejo
    que os trouxe à encarnação.
  • 9:51 - 9:54
    É o que nos traz num palco como este.
  • 9:55 - 9:58
    Aqui nós estamos honrando
    uma promessa que fizemos.
  • 9:59 - 10:02
    Nós não viemos aqui
    apenas pra um piquenique.
  • 10:03 - 10:06
    Nós viemos contar uma história.
  • 10:07 - 10:09
    E só você pode contar a sua.
  • 10:09 - 10:12
    Se você não contá-la, ela se perderá.
  • 10:15 - 10:21
    Então, um fundamento
    da normose é o situacional.
  • 10:23 - 10:25
    Há um outro, muito importante.
  • 10:26 - 10:27
    É o evolutivo.
  • 10:27 - 10:30
    Também tem sido falado hoje.
  • 10:32 - 10:35
    É a questão que precisamos nos fazer.
  • 10:35 - 10:39
    O que diferencia a espécie humana
    de outras espécies?
  • 10:41 - 10:47
    O que nos diferencia de um pássaro,
  • 10:47 - 10:49
    de uma serpente, de um macaco?
  • 10:51 - 10:55
    Eu penso num amigo nosso, da Unipaz,
  • 10:56 - 11:00
    um prêmio Nobel alternativo
    em economia de país em desenvolvimento,
  • 11:00 - 11:04
    Manfred Max-Neef, chileno.
  • 11:04 - 11:06
    Quando eu o conheci em Mendoza,
  • 11:06 - 11:08
    ele nos dizia que desde menino
  • 11:08 - 11:13
    ele queria saber em que o ser humano
    se diferenciava das outras espécies.
  • 11:13 - 11:15
    É a inteligência? Não.
  • 11:15 - 11:16
    É a linguagem? Não.
  • 11:16 - 11:18
    É cultura. Não.
  • 11:18 - 11:21
    É humor. Não.
  • 11:22 - 11:24
    E um dia, conversando com seu pai,
  • 11:24 - 11:26
    a quem ele muito respeitava,
  • 11:26 - 11:29
    seu pai lhe disse: "Não será
    a estupidez, meu filho?"
  • 11:30 - 11:31
    (Risos)
  • 11:31 - 11:35
    Acendeu uma luzinha e ele diz
    que se tornou o primeiro "estupidólogo".
  • 11:35 - 11:37
    (Risos)
  • 11:37 - 11:40
    A "estupidologia" é uma ciência
    que precisamos estudar.
  • 11:40 - 11:43
    Ela se diferencia, por exemplo,
    da imbecilidade,
  • 11:43 - 11:49
    que é absolutamente ingênua.
  • 11:49 - 11:54
    Eu gosto de lembrar do Rolando Toro,
    criador da biodança, um grande irmão,
  • 11:54 - 12:00
    ele nos dizia que é preciso ser
    um idiota hipotalâmico,
  • 12:00 - 12:03
    ser um bom animal,
    dar férias pro córtex cerebral.
  • 12:04 - 12:07
    A questão é a estupidez,
  • 12:07 - 12:10
    porque ela se reveste de racionalidade.
  • 12:10 - 12:13
    Uma pessoa pode ser altamente estúpida
  • 12:13 - 12:16
    e altamente racional;
  • 12:16 - 12:20
    ter diplomas em
    universidades qualificadas;
  • 12:21 - 12:25
    e fazer como uma pessoa
    que está falando sobre desenvolvimento,
  • 12:25 - 12:29
    com gráficos, tabelas sofisticadas,
  • 12:29 - 12:35
    ou como uma pessoa que está sentada
    no galho de uma árvore, serrando-o.
  • 12:37 - 12:41
    Então, Einstein também dizia
  • 12:43 - 12:47
    que pra ele só tinha
    duas coisas infinitas:
  • 12:48 - 12:51
    o universo e a estupidez humana.
  • 12:51 - 12:53
    E ele acrescentava, Einstein:
  • 12:53 - 12:57
    "Com relação ao universo,
    eu ainda tenho minhas dúvidas".
  • 12:57 - 12:58
    (Risos)
  • 13:00 - 13:05
    Mas eu preciso dizer que eu discordo
    de Einstein e de Max-Neef,
  • 13:05 - 13:07
    embora os respeitando
  • 13:07 - 13:13
    e considerando que eles estão apontando,
    não pra característica da espécie,
  • 13:13 - 13:15
    e sim da normose.
  • 13:15 - 13:22
    O ser humano, não é da sua natureza,
    a estupidez, pelo contrário.
  • 13:22 - 13:25
    Nós nascemos pra ser, pra florescer,
  • 13:25 - 13:26
    pra servir.
  • 13:26 - 13:32
    Então, eu prefiro pensar em Confúcio,
  • 13:32 - 13:34
    que há 2,6 mil anos dizia
  • 13:34 - 13:38
    que o que diferencia a nossa espécie
    de outras espécies
  • 13:38 - 13:41
    é o inacabamento, é a incompletude.
  • 13:41 - 13:44
    Nós não nascemos humanos.
  • 13:44 - 13:46
    Nós nos fazemos humanos.
  • 13:46 - 13:50
    Uma tartaruga nasce tartaruga,
    vocês já viram? E vai pro mar.
  • 13:50 - 13:51
    Nós não!
  • 13:53 - 13:55
    Nós nascemos inacabados.
  • 13:55 - 13:59
    Por isso, dizia Confúcio,
    o ser humano necessita de educação.
  • 14:01 - 14:06
    Vocês já ouviram falar de escola
    pra tartarugas? Ou pra tanajuras?
  • 14:08 - 14:11
    É a educação, é o aperfeiçoamento,
    nós somos aperfeiçoáveis.
  • 14:11 - 14:15
    E não se trata apenas
    de cultivar o cérebro;
  • 14:15 - 14:20
    que desde o século 17 parece que é só
    desenvolver um adestramento racional.
  • 14:20 - 14:21
    Não.
  • 14:21 - 14:27
    Trata-se de cultivar
    as dimensões da alma, da psiquê.
  • 14:27 - 14:29
    Desenvolver a inteligência emocional,
  • 14:29 - 14:31
    inteligência relacional,
  • 14:31 - 14:33
    inteligência onírica, dos sonhos.
  • 14:33 - 14:36
    Aprender a ler o livro da noite.
  • 14:38 - 14:44
    Mas é preciso também desenvolver
    uma alfabetização consciencial.
  • 14:46 - 14:52
    Desenvolver a consciência de onde jorram
    os valores de uma ética com coração.
  • 14:53 - 15:00
    O próprio Confúcio resumiu assim
    a sua longa existência:
  • 15:01 - 15:06
    "Aos 15 anos, orientei
    meu coração para aprender.
  • 15:06 - 15:11
    Aos 30, eu plantei meus pés
    firmemente no chão.
  • 15:12 - 15:17
    Aos 40, não mais sofria de perplexidade.
  • 15:17 - 15:22
    Aos 50, eu sabia quais eram
    os preceitos do céu.
  • 15:23 - 15:27
    Aos 60, eu os ouvia com o ouvido do ócio.
  • 15:27 - 15:32
    Aos 70, eu podia seguir
    as indicações do meu próprio coração
  • 15:32 - 15:37
    porque o que eu desejava não mais excedia
    as fronteiras da justiça".
  • 15:38 - 15:43
    O mesmo que os terapeutas de Alexandria
    nos diziam há 2 mil anos:
  • 15:43 - 15:46
    "Você troca de roupa em cinco minutos.
  • 15:46 - 15:50
    Leva-se uma existência inteira
    pra trocar de coração".
  • 15:52 - 15:53
    E essa é a tarefa.
  • 15:53 - 15:59
    Nesse sentido, a normose se refere
    a uma estagnação evolutiva.
  • 16:01 - 16:06
    São pessoas que não investiram
    no potencial mais propriamente humano.
  • 16:06 - 16:07
    É por isso que eu gosto de confiar
  • 16:07 - 16:11
    que a maior descoberta
    do século 21 será o ser humano.
  • 16:13 - 16:19
    Agora, caso contrário, fica a pergunta:
    haverá século 21 pro ser humano?
  • 16:22 - 16:25
    Nada menos que isto encontra-se em jogo:
  • 16:25 - 16:29
    o futuro das novas gerações.
  • 16:31 - 16:37
    Então, a normose é terrível,
    porque ela é insidiosa, ela é silenciosa,
  • 16:37 - 16:39
    as pessoas não percebem.
  • 16:40 - 16:44
    Não é fácil você se tornar um ser humano.
  • 16:44 - 16:47
    Darwin não entendeu da evolução humana,
    ele era um naturalista.
  • 16:47 - 16:50
    Ele entendeu da evolução
    natural no ser humano,
  • 16:50 - 16:53
    mas o ser humano,
    como dizia Teilhard de Chardin,
  • 16:53 - 16:59
    é o espaço onde a própria natureza
    pode aprender a se conhecer, a se saber,
  • 16:59 - 17:02
    a ser, a sorrir, a orar, a servir.
  • 17:06 - 17:11
    Alguém pediu pro ipê: "Fale-me de Deus".
  • 17:12 - 17:15
    E o ipê floresceu.
  • 17:17 - 17:22
    Talvez só haja uma forma de falar
    sobre o mistério da grande vida:
  • 17:22 - 17:24
    florescendo,
  • 17:25 - 17:30
    como seres humanos
    que potencialmente somos.
  • 17:33 - 17:34
    Então,
  • 17:35 - 17:41
    eu quero ainda falar de uma história
    que nós contamos na Unipaz.
  • 17:42 - 17:46
    Há mais de 30 anos, o Betinho
    aprendeu conosco essa história.
  • 17:47 - 17:53
    Era uma vez uma floresta incendiada.
  • 17:54 - 17:56
    E todos os bichos fugiam, todos, todos.
  • 17:57 - 17:59
    Menos um beija-flor,
  • 18:00 - 18:03
    que pegava duma fonte uma gota d'água
  • 18:03 - 18:05
    e jogava no meio do fogo.
  • 18:05 - 18:09
    E voltava, resilientemente, outra gota,
  • 18:09 - 18:11
    e jogava no meio do fogo.
  • 18:11 - 18:13
    E voltava, com paciência,
  • 18:15 - 18:20
    as asinhas já queimadinhas,
  • 18:20 - 18:21
    e jogava no meio do fogo.
  • 18:21 - 18:23
    Um tatu fujão, vendo aquilo, disse:
  • 18:23 - 18:29
    "Mas, beija-flor, você acha
    que com essas ridículas gotinhas,
  • 18:29 - 18:33
    você vai apagar esse fogaréu infernal?"
  • 18:34 - 18:38
    E o beija-flor responde:
    "Eu sei que não, amigo tatu.
  • 18:38 - 18:41
    Agora, eu estou fazendo a minha parte".
  • 18:44 - 18:48
    Nós estamos todos muito cansados
    de revolucionários.
  • 18:48 - 18:51
    Gente que quer mudar o mundo, a sociedade;
  • 18:51 - 18:55
    às vezes com boas intenções,
    mas sempre de uma maneira arrogante,
  • 18:55 - 18:58
    porque sem ter antes se transformado.
  • 18:59 - 19:02
    Não é nossa tarefa mudar
    o outro, nem o mundo.
  • 19:02 - 19:05
    Cada um de nós é um pedacinho
    de praça pública,
  • 19:05 - 19:10
    e a primeira responsabilidade é introduzir
    um pouco de paz, um pouco de ordem,
  • 19:10 - 19:13
    um pouco de amor
  • 19:13 - 19:17
    nesse pedacinho de mundo que o grande
    mundo confiou a cada um de nós.
  • 19:18 - 19:23
    E se nós não fizermos isso, onde poderemos
    ser facilitadores de transparência?
  • 19:24 - 19:27
    Por isso as revoluções fracassaram
  • 19:28 - 19:30
    e continuam fracassando.
  • 19:31 - 19:35
    Eu gosto de falar da conspiração
  • 19:35 - 19:39
    que é respirar conscientemente;
    consigo, com o outro, com os outros,
  • 19:39 - 19:41
    com o mundo e com o mistério.
  • 19:41 - 19:42
    Eu recomendo um livro,
  • 19:42 - 19:46
    "A Conspiração Aquariana",
    de Marilyn Ferguson,
  • 19:46 - 19:50
    que estudou muito esses movimentos
    espontâneos transinstitucionais
  • 19:50 - 19:52
    a partir de Mahatma Gandhi.
  • 19:53 - 19:55
    O beija-flor não tem nenhuma ideologia.
  • 19:55 - 19:56
    Ele não tem bandeiras.
  • 19:56 - 19:58
    Ele não está culpando ninguém.
  • 19:58 - 20:00
    Ele não está empurrando ninguém.
  • 20:00 - 20:02
    Ele faz a parte dele.
  • 20:02 - 20:03
    Isso nós podemos fazer.
  • 20:03 - 20:06
    Nós podemos ficar de pé.
  • 20:06 - 20:07
    Nós podemos fazer a nossa parte.
  • 20:07 - 20:13
    Aliás, desde a manhã eu estou vendo
    beija-flores que vieram,
  • 20:13 - 20:15
    cada um falando da sua gotinha d'água.
  • 20:17 - 20:21
    E todos que estão nesta sala, todos,
  • 20:21 - 20:24
    em algum momento estarão aqui,
    não precisa ser neste palco,
  • 20:24 - 20:30
    mas no palco da sua história de vida,
    contando a sua história
  • 20:30 - 20:33
    e levando a sua gotinha d'água,
  • 20:33 - 20:39
    porque sempre podemos acender uma vela,
    em vez de apenas reclamar da escuridão.
  • 20:41 - 20:46
    Então quero concluir dizendo
    que é tempo mesmo de repensar.
  • 20:47 - 20:49
    É tempo também de não pensar.
  • 20:52 - 20:53
    Meditação.
  • 20:55 - 20:57
    Porque quando a nossa mente se esvazia,
  • 20:57 - 20:59
    a nossa taça transborda.
  • 21:00 - 21:03
    É tempo de renovação.
  • 21:04 - 21:06
    Eu adoro poetas.
  • 21:09 - 21:13
    Eu creio que a gentileza,
  • 21:14 - 21:16
    o amor compassivo e a poesia
  • 21:16 - 21:18
    ainda salvarão o mundo.
  • 21:19 - 21:23
    Eu quero concluir com um poema
    da Cecília Meireles:
  • 21:26 - 21:27
    "Renova-te.
  • 21:28 - 21:30
    Renasce em ti mesmo.
  • 21:31 - 21:34
    Multiplica os teus olhos, para verem mais.
  • 21:36 - 21:39
    Multiplica os teus braços
    para semeares tudo.
  • 21:40 - 21:42
    Destrói os olhos que tiverem visto.
  • 21:42 - 21:45
    Cria outros, para as visões novas.
  • 21:46 - 21:49
    Destrói os braços que tiverem semeado,
  • 21:49 - 21:52
    para se esquecerem de colher.
  • 21:53 - 21:54
    Sê sempre o mesmo.
  • 21:55 - 21:57
    Sempre outro.
  • 21:58 - 22:00
    Mas sempre alto.
  • 22:01 - 22:02
    Sempre longe.
  • 22:03 - 22:06
    E dentro de tudo."
  • 22:07 - 22:08
    Muito obrigado.
  • 22:08 - 22:11
    (Aplausos)
Title:
Normose: a patologia da normalidade | Roberto Crema | TEDxLaçador
Description:

Você já parou para pensar que muitas vezes o que é considerado normal nem sempre é correto? Nesta palestra cativante e inteligente, o psicólogo, antropólogo e mestre em Ciências Humanas Roberto Crema descreve a normose, possivelmente a patologia mais comum hoje em dia, mas ao mesmo também a mais banalizada.

Roberto Crema é psicólogo, antropólogo e mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade de Paris. Formação em diversas escolas humanísticas e transpessoais, criador do enfoque da Síntese Transacional – uma Ecologia do Ser, na perspectiva de uma quinta força em terapia. Reitor da Universidade Internacional da Paz - Rede UNIPAZ. Autor e coautor de 30 livros.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:17

Portuguese, Brazilian subtitles

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