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Title:
Uma economia circular para o sal, que mantém os rios limpos
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Description:
Durante o inverno de 2018-2019, um milhão de toneladas de sal foram usadas apenas nas estradas geladas do estado da Pensilvânia. O sal de usos industriais como esse geralmente acaba em rios de água doce, tornando a água não potável e contribuindo para uma crescente crise global. Como podemos proteger melhor esses preciosos recursos naturais? A físico-química orgânica Tina Arrowood compartilha um plano de três etapas para manter o sal fora dos rios, e criar uma economia circular de sal que transforme subprodutos industriais em recursos valiosos.
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Speaker:
Tina Arrowood
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Crescendo no norte de Wisconsin,
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desenvolvi naturalmente
uma conexão com o Rio Mississippi.
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Quando era pequena,
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minha irmã e eu competíamos
para ver quem soletrava
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"M-i-s-s-i-s-s-i-p-p-i" mais rápido.
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Durante o ensino fundamental,
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aprendi sobre os primeiros
exploradores e suas expedições,
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Marquette e Joliet, e como usaram
os Grandes Lagos e o Rio Mississippi
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e seus afluentes
para descobrir o Centro-Oeste
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e mapear uma rota comercial
para o Golfo do México.
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Na faculdade,
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tinha a sorte de ver o Rio Mississippi
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pela janela do meu laboratório de pesquisa
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na Universidade de Minnesota.
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Durante esse período de cinco anos,
conheci o Rio Mississippi.
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Eu conheci sua natureza temperamental,
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onde inundava as margens em um momento
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e, logo em seguida,
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dava para ver suas costas secas.
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Hoje, como físico-química orgânica,
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estou comprometida em usar meu treinamento
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para ajudar a proteger rios,
como o Mississippi,
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do excesso de sal que pode
advir da atividade humana.
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Porque o sal pode contaminar
os rios de água doce.
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Eles têm níveis de sal de apenas 0,05%.
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E a este nível, a ingestão é segura.
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Mas a maioria da água em nosso planeta
está localizada em nossos oceanos
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e eles têm um nível
de salinidade superior a 3%.
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Se alguém a ingerisse,
ficaria doente muito rápido.
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Então, se quisermos comparar
o volume relativo de água do oceano
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ao da água de rio que há no nosso planeta;
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e digamos que conseguimos
colocar a água do oceano
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em uma piscina olímpica;
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então a água de rio do planeta
caberia num jarro de 3,7 litros.
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Podem ver que é um recurso precioso.
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Mas, nós o tratamos como tal?
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Ou o tratamos como aquele velho tapete
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que colocamos na porta na frente
e usamos para limpar nossos pés?
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Tratar os rios assim
tem consequências graves.
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Vamos dar uma olhada.
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Vejamos o que apenas uma colher
de chá de sal pode fazer:
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se a adicionarmos
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a esta piscina olímpica com água do mar,
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a água permanecerá a mesma.
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Mas se adicionamos a mesma quantidade
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a este jarro de 3,7 litros de água do rio,
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de repente, ela se torna
salgada demais para beber.
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Então, o ponto aqui é,
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como o volume dos rios é pequeno
comparado ao dos oceanos,
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eles são especialmente
vulneráveis à atividade humana
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e precisamos protegê-los com cuidado.
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Recentemente, pesquisei na literatura
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estudando a saúde dos rios no mundo todo.
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Eu imaginava ver rios doentes
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em regiões de escassez de água
e forte desenvolvimento industrial.
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E vi isso no norte da China e na Índia.
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Mas me surpreendi lendo um artigo de 2018
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que dizia que havia 232 locais
de amostragem de rios
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em todos os Estados Unidos.
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E desses lugares,
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37% com níveis crescentes de salinidade.
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O que foi mais surpreendente
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é que aqueles com os maiores aumentos
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foram encontrados na parte leste
dos Estados Unidos,
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e não no árido sudoeste.
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Os autores deste artigo postulam
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que isso pode ser devido ao uso
de sal para descongelar estradas.
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Potencialmente, outra fonte deste sal
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viria de águas residuais
industriais salgadas.
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Como vocês veem, atividades humanas
podem converter nossos rios de água doce
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em água similar a dos nossos oceanos.
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Precisamos agir e fazer algo
antes que seja tarde demais.
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E eu tenho uma proposta.
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Podemos usar um mecanismo
de defesa do rio em três etapas,
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e se os usuários
de água industrial o adotarem,
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deixaremos nossos rios
numa situação muito mais segura.
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Isso envolve, número um:
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extrair menos água dos nossos rios
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implementando operações de reciclagem
e reutilização de água.
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Número dois:
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precisamos tirar o sal dessas águas
residuais industriais salgadas,
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recuperá-lo e reutilizá-lo em outros fins.
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E número três: precisamos fazer
com que os consumidores de sal,
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que atualmente o extraem das minas,
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passem a consumir o sal
de fontes de sal reciclado.
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Esse mecanismo de defesa
em três etapas já está em ação.
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É isso que o norte da China
e a Índia estão implementando
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para ajudar a reabilitar os rios.
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Mas a proposta aqui
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é usar esse mecanismo de defesa
para proteger nossos rios
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e não precisarmos reabilitá-los.
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A boa notícia é que temos
tecnologia para fazer isso,
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usando membranas,
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que podem separar sal e água.
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Elas existem há vários anos
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e são feitas com materiais poliméricos
que se separam com base no tamanho
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ou na carga.
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As membranas usadas pra separar sal e água
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os separam normalmente com base na carga.
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São carregadas negativamente
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e ajudam a repelir os íons cloreto
com carga negativa
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presentes nesse sal dissolvido.
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Então, como eu disse,
essas membranas existem há vários anos
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e, atualmente, purificam 25 milhões
de galões de água a cada minuto.
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Até mais que isso, na verdade.
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Mas elas podem fazer mais.
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Essas membranas são baseadas
no princípio da osmose reversa.
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Osmose é o processo natural
que acontece em nosso corpo,
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é como nossas células funcionam.
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E nela temos duas câmaras
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que separam dois níveis
de concentração de sal.
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Um com baixa concentração de sal
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e outro com alta.
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E separando as duas câmaras
está a membrana semipermeável.
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Sob o processo de osmose natural,
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a água transporta naturalmente
através dessa membrana
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da área de baixa concentração de sal
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para a de alta,
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até que um equilíbrio seja alcançado.
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A osmose reversa é o inverso
deste processo natural.
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E, para alcançar essa reversão,
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aplicamos uma pressão
no lado de alta concentração,
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dirigindo a água na direção oposta.
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Assim o lado de alta concentração
se torna mais salgado,
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mais concentrado,
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e o de baixa concentração
se torna água purificada.
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Então, usando osmose reversa,
podemos converter um efluente industrial
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em até 95% em água pura,
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deixando apenas 5%
desta mistura salgada concentrada.
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Os 5% dessa mistura não é desperdiçado.
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Então, os cientistas também
desenvolveram membranas
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modificadas para permitir
a passagem de alguns sais
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e não de outros.
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Usando essas membranas,
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comumente referidas como de nanofiltração,
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esta solução salgada concentrada de 5%
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pode ser convertida em sal purificado.
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Então, no total, usando osmose reversa
e membranas de nanofiltração,
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convertemos águas residuais industriais
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em um recurso de água e sal.
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E ao fazermos isso,
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realizamos as etapas um e dois
desse mecanismo de defesa do rio.
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Apresentei isso a vários
usuários de água industrial
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e a resposta comum é:
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"Sim, mas quem vai usar meu sal?"
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É por isso que a etapa
número três é tão importante.
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Precisamos fazer com que pessoas
que usam sal de minas
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tornem-se consumidores de sal reciclado.
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Então, quem são esses consumidores?
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Bem, em 2018 nos Estados Unidos,
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descobri que 43% do sal consumido
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foi usado para degelo de sal nas estradas.
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E 39% pela indústria química.
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Analisemos essas duas aplicações.
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Fiquei chocada!
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Na temporada de inverno 2018-2019,
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um milhão de toneladas de sal
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foram usadas nas estradas
no estado da Pensilvânia.
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É quantidade suficiente
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para preencher dois terços
do prédio Empire State.
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Um milhão de toneladas
de sal extraído da terra,
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usados em nossas estradas
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e depois carregados no meio ambiente
até os nossos rios.
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Portanto, a proposta aqui é
que poderíamos pelo menos
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extrair esse sal de uma água
residual industrial salgada,
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impedir que ele entre em nossos rios
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e usá-lo em nossas estradas.
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Quando ocorrer o derretimento na primavera
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e houver o escoamento de alta salinidade,
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os rios estarão em uma posição melhor
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para se defenderem disso.
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a oportunidade que mais me empolga
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é o conceito de introdução
de sal circular na indústria química.
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A indústria de cloro-álcali é perfeita.
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É a fonte de epóxis,
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de uretanos e solventes
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e produtos úteis usados no dia a dia.
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E usa sal de cloreto de sódio
como principal alimentação.
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A ideia aqui é...
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antes de tudo, vamos
analisar a economia linear.
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Na economia linear,
o sal é adquirido de uma mina,
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passa pelo processo de cloro-álcali,
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é transformado num produto químico básico
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que pode ser convertido
em outro novo produto
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ou um mais funcional.
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Mas durante esse processo de conversão,
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muitas vezes o sal é
regenerado como subproduto
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e acaba nas águas residuais industriais.
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A ideia é poder introduzir circularidade,
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reciclar a água e o sal desses fluxos
de águas residuais industriais,
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das fábricas,
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e enviá-lo para a parte frontal
do processo de cloro-álcali.
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Sal circular.
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Então, qual o impacto disso?
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Bem, vamos pegar um exemplo.
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Da produção mundial
de óxido de propileno,
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50% é feito pelo processo de cloro-álcali.
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De um total de cerca de 5 milhões
de toneladas de óxido de propileno
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anualmente, produzido globalmente.
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São 5 milhões de toneladas
de sal extraído da terra,
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convertidos pelo processo de cloro-álcali
em óxido de propileno,
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e depois durante esse processo,
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5 milhões de toneladas de sal que acabam
em correntes de águas residuais.
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Essa quantidade toda
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é sal suficiente para encher
três prédios Empire State.
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E isso é anualmente.
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Podem ver como o sal circular
pode fornecer uma barreira
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aos nossos rios desta descarga
salgada excessiva.
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"Essas membranas existem há vários anos,
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por que as pessoas não implementam
a reutilização de águas residuais?"
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O ponto principal é que
fica caro implementá-la.
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E em segundo lugar,
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a água nessas regiões é subvalorizada.
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Até que seja tarde demais.
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Se não planejarmos
a sustentabilidade da água doce,
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haverá algumas consequências graves.
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Perguntem a um dos maiores fabricantes
de produtos químicos do mundo,
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que sofreu no ano passado
um golpe de US$ 280 milhões
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devido aos baixos níveis
do Rio Reno na Alemanha.
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Podem perguntar aos moradores
da Cidade do Cabo, África do Sul,
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que viveram uma seca das reservas de água
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e, em seguida, foram solicitados
a não dar a descarga no banheiro.
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temos soluções aqui, com membranas,
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com as quais podemos fornecer água pura,
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fornecer sal puro,
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usando ambas as membranas
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para ajudar a proteger nossos rios
para as gerações futuras.
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