Como construir um futuro resiliente utilizando sabedoria ancestral
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0:01 - 0:04Quando vocês imaginam
as maravilhas arquitetónicas do mundo, -
0:04 - 0:06o que veem?
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0:06 - 0:08A grandiosidade das Pirâmides de Gizé
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0:08 - 0:12ou talvez os incríveis aquedutos
da Roma antiga? -
0:12 - 0:16Ambos são façanhas incríveis
da inovação humana. -
0:16 - 0:19Enquanto arquiteta,
sempre me perguntei: -
0:19 - 0:22Porque é que monumentalizamos
as maravilhas antigas -
0:22 - 0:25de civilizações há tanto tempo
desaparecidas? -
0:26 - 0:30Tenho viajado pelo mundo,
para estudar as inovações ancestrais, -
0:30 - 0:31e eis o que encontrei:
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0:31 - 0:36tecnologias indígenas de culturas
vivas, que ainda estão em uso. -
0:36 - 0:40Talvez nunca tenham ouvido falar
de algumas destas culturas. -
0:40 - 0:45Vivem nos locais mais remotos do planeta,
onde enfrentam extremos ambientais -
0:45 - 0:49— tais como secas desérticas
e inundações frequentes — -
0:49 - 0:51há várias gerações.
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0:51 - 0:53Há uns anos, viajei
para o norte da Índia, -
0:53 - 0:56para um local com vista
para as planícies do Bangladexe, -
0:56 - 0:58onde vivem os khasi,
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0:58 - 1:03numa floresta que recebe mais chuvas
do que qualquer outro local da Terra. -
1:03 - 1:05Durante a estação das monções,
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1:05 - 1:09as viagens por entre as aldeias
são interrompidas por estas enchentes, -
1:09 - 1:11que transformam toda esta paisagem
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1:11 - 1:15de uma cobertura florestal
para ilhas isoladas. -
1:15 - 1:18Esta tribo das montanhas
criou pontes de raízes vivas -
1:18 - 1:22— orientando as raízes das árvores
e entrelaçando-as — -
1:22 - 1:25de tal modo que quase
não é possível abarcá-las -
1:25 - 1:27por entre esta armação
cuidadosamente entrelaçada. -
1:27 - 1:31Múltiplas gerações de homens,
mulheres e crianças khasi -
1:31 - 1:33vão tomando conta das raízes
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1:33 - 1:35à medida que crescem
em direção ao outro lado, -
1:35 - 1:37onde são então plantadas,
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1:37 - 1:40para formar uma estrutura
que ficará mais forte com o tempo. -
1:40 - 1:45Esta tradição de 1500 anos,
de cultivar pontes de raízes vivas, -
1:45 - 1:49já produziu 75
destas estruturas incríveis. -
1:49 - 1:52E embora demorem 50 anos
a desenvolver-se, -
1:52 - 1:56duram séculos nesta paisagem.
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1:56 - 2:00Em todo o planeta, vi culturas
que têm convivido com as enchentes -
2:01 - 2:03durante milhares de anos,
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2:03 - 2:05graças ao desenvolvimento
destas tecnologias antigas -
2:05 - 2:07que lhes permitem trabalhar com água.
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2:07 - 2:10Nas zonas húmidas do sul do Iraque,
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2:10 - 2:14— que são formados pela confluência
dos rios Tigre e Eufrates — -
2:14 - 2:18vive uma civilização única,
de base aquática. -
2:18 - 2:19Durante seis mil anos,
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2:19 - 2:23os maʿdān têm tido aldeias
flutuantes em ilhas artificiais -
2:23 - 2:26que são construídas a partir
de uma única espécie de bambu, -
2:26 - 2:28que cresce à sua volta.
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2:28 - 2:32O bambu "qasab" é essencial
a todos os aspetos da vida. -
2:32 - 2:35É o alimento do búfalo-de-água,
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2:35 - 2:37é a partir dele que se faz farinha
-
2:37 - 2:42e é o material de construção
destas ilhas flutuantes e biodegradáveis -
2:42 - 2:44e das suas casas,
tão semelhantes a catedrais, -
2:44 - 2:47que são construídas
em apenas três dias. -
2:48 - 2:52Quando seca, o bambu "qasab"
pode ser agrupado em colunas, -
2:52 - 2:56pode ser entrelaçado para formar
soalhos, telhados ou paredes, -
2:56 - 2:59e também pode ser usado
para fazer cordas -
2:59 - 3:04com que se prendem
estes edifícios sem usar pregos. -
3:04 - 3:08As aldeias dos maʿdān
são construídas no pântano, -
3:08 - 3:10como tem sido feito há gerações,
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3:10 - 3:16em ilhas que se mantêm flutuantes
durante mais de 25 anos. -
3:16 - 3:20Apesar de a atenção do mundo
estar voltada para a pandemia, -
3:20 - 3:22as cidades continuam a afundar-se,
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3:22 - 3:25e os níveis do oceano
continuam a subir. -
3:25 - 3:28Sem dúvida, as soluções
de alta tecnologia vão ajudar-nos -
3:28 - 3:30a resolver alguns destes problemas,
-
3:30 - 3:32porém, na nossa pressa
em direção ao futuro, -
3:32 - 3:34tendemos a esquecer-nos do passado.
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3:34 - 3:38Noutras partes do mundo, onde os rios
estão contaminados pelos esgotos, -
3:38 - 3:41há uma cidade com 15 milhões de pessoas
-
3:41 - 3:44que limpa a água residual
com as planícies de inundação. -
3:45 - 3:47Na periferia de Calcutá,
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3:47 - 3:51— cercada pela escarpa
fumegante do lixo da cidade -
3:51 - 3:54e cruzada pelas suas estradas —
-
3:54 - 3:57existe uma tecnologia indígena
de 300 viveiros de peixe -
3:57 - 4:01que limpa a água enquanto
produz o respetivo alimento. -
4:01 - 4:05E, por meio da combinação
da luz solar e do esgoto, -
4:05 - 4:09e da simbiose entre algas e bactérias,
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4:09 - 4:11a água residual é decomposta.
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4:11 - 4:14Os viveiros de peixe
continuam a limpar a água -
4:14 - 4:16num processo que demora
aproximadamente 30 dias. -
4:17 - 4:21Esta inovação não é apenas
um modelo de purificação -
4:21 - 4:24livre de produtos químicos e carvão.
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4:25 - 4:28Uma vez que o centro de Calcutá
não tem tratamento formal, -
4:28 - 4:32esta é a única maneira de a cidade
limpar a água que segue rio abaixo -
4:32 - 4:35antes de entrar na baía de Bengala.
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4:35 - 4:39O que me parece tão incrível
nesta infraestrutura -
4:39 - 4:43é que, à medida que cidades
em todo o mundo, na Ásia e na Europa, -
4:43 - 4:46começam a replicar este mesmo sistema,
-
4:46 - 4:51Calcutá está a lutar para impedir
que ele seja deslocado pela urbanização. -
4:51 - 4:55Então, para lidar com inundações
de uma forma completamente diferente, -
4:55 - 4:59a tribo tofinu desenvolveu
a maior aldeia lacustre em África. -
5:00 - 5:03Ganvié, que significa "sobrevivemos",
-
5:03 - 5:07é feita de casas de palafitas organizadas
em torno de um sistema de canais -
5:07 - 5:10em que se pode navegar com canoas.
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5:10 - 5:14E a praça real encontra-se
entre 3000 edifícios de palafitas -
5:14 - 5:17que incluem um posto dos correios,
-
5:17 - 5:20um banco, uma mesquita
e até alguns bares, -
5:20 - 5:25— tudo isso rodeado
por 12 mil viveiros de peixes -
5:25 - 5:27ou "acadjas" de mangues.
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5:27 - 5:30Este recife artificial,
sem componentes químicos, -
5:30 - 5:33cobre quase metade da lagoa
-
5:33 - 5:36e alimenta o milhão de pessoas
que vive à sua volta. -
5:36 - 5:38Eis o que me surpreende:
-
5:38 - 5:43embora uma "acadja" individual
seja quase insignificante, -
5:43 - 5:46quando multiplicada por 12 mil,
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5:46 - 5:51cria uma tecnologia indígena
à escala de uma aquacultura industrial, -
5:51 - 5:55que é a maior ameaça
aos nossos ecossistemas de mangues, -
5:55 - 5:59mas esta tecnologia cria
mais biodiversidade do que antes. -
6:00 - 6:03No início deste ano,
quando regressei à Austrália, -
6:03 - 6:05aconteceu uma coisa de doidos.
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6:05 - 6:10As cinzas queimadas dos incêndios
em torno de Sydney choveram sobre nós, -
6:10 - 6:11em Bondi Beach.
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6:11 - 6:14Como estávamos preocupados
com as emissões de carbono -
6:14 - 6:15— e não com transmissões virais —
-
6:15 - 6:17já estávamos a usar máscaras.
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6:17 - 6:20O ar estava muito abafado
por uma coluna de fumo, -
6:20 - 6:24que era tão grande que chegou
à Nova Zelândia. -
6:24 - 6:30Depois, por entre estes incêndios
— que foram os piores que já vimos — -
6:30 - 6:34aconteceu algo inesperado,
mas incrivelmente espantoso. -
6:34 - 6:36As terras ancestrais da Austrália
-
6:36 - 6:40— onde se praticava a agricultura
indígena com queimadas — -
6:40 - 6:42foram salvas, enquanto estes fogos
alastravam à sua volta. -
6:42 - 6:44E estas florestas antigas sobreviveram
-
6:45 - 6:47graças a uma queimada
sazonal e geracional, -
6:47 - 6:53que é a prática aborígene de atear fogos
pequenos, lentos e de baixa temperatura. -
6:53 - 6:56Embora os incêndios
sejam um desastre natural, -
6:56 - 6:59como resultado das alterações climáticas,
-
6:59 - 7:01também são artificiais.
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7:01 - 7:05E o que há de espantoso nisto
é que temos a tecnologia ancestral -
7:05 - 7:10que poderá ajudar a evitá-los,
e utilizamo-la há milhares de anos. -
7:10 - 7:16O que me fascina nestas tecnologias
é o quão complexas são -
7:16 - 7:18e o quão em sintonia estão com a natureza.
-
7:18 - 7:21E, portanto, o quão resilientes
todos nós nos poderíamos tornar -
7:21 - 7:23ao aprender com elas.
-
7:23 - 7:28Muitas vezes, perante uma crise,
construímos muros de defesa. -
7:28 - 7:29Sou arquiteta,
-
7:29 - 7:32e recebi formação para procurar
soluções permanentes -
7:32 - 7:35— cimento, aço, vidro —
-
7:35 - 7:39tudo o que é usado para construir
uma fortaleza contra a natureza. -
7:39 - 7:43Porém, a minha procura de sistemas
ancestrais e tecnologias indígenas -
7:43 - 7:45tem sido diferente.
-
7:45 - 7:51Foi inspirada pela ideia de que podemos
semear a criatividade durante a crise. -
7:51 - 7:54Temos milhares de anos
de conhecimentos ancestrais -
7:54 - 7:56aos quais precisamos de dar ouvidos,
-
7:56 - 7:59para permitir que expandam
o modo como pensamos -
7:59 - 8:01sobre arquitetar com a natureza,
simbioticamente. -
8:01 - 8:04E, ao darmos ouvidos,
ficaremos mais sábios, -
8:04 - 8:08e preparados
para os desafios do século XXI -
8:08 - 8:13que sabemos que ameaçarão
o nosso povo e o nosso planeta. -
8:13 - 8:15Eu vi isto em ação.
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8:15 - 8:16Sei que é possível.
- Title:
- Como construir um futuro resiliente utilizando sabedoria ancestral
- Speaker:
- Julia Watson
- Description:
-
Na sua exploração global em busca de sistemas de "design" indígenas, a arquiteta Julia Watson investiga inovações duradouras que nos poderiam ajudar a combater os desafios das alterações climáticas. Desde aldeias flutuantes até pontes de raízes vivas que, com o tempo, vão ficando mais fortes, Watson apresenta-nos algumas destas soluções resilientes — e mostra como estas nos podem ensinar a projetar com a natureza, em vez de contra ela.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 08:31
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