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Dicionário de língua de sinais para surdos | Hanelle Fourie | TEDxCapeTown

  • 0:16 - 0:20
    Temos o conhecimento de que golfinhos
    podem se comunicar uns com os outros,
  • 0:20 - 0:24
    mas pesquisas recentes mostraram
    que golfinhos usam pulsos e assoviam
  • 0:24 - 0:27
    de uma forma muito sofisticada,
  • 0:27 - 0:31
    e eles sabem conversar em turnos
  • 0:31 - 0:32
    e não interrompem um ao outro,
  • 0:33 - 0:35
    semelhante à forma como os humanos fazem.
  • 0:35 - 0:37
    Então vamos imaginar por um momento
  • 0:37 - 0:42
    que estamos mapeando todos os sons
    dos golfinhos para palavras em inglês,
  • 0:42 - 0:46
    e com isso criando um dicionário
    inglês para "Golfinhês".
  • 0:46 - 0:49
    Isso significa que poderemos
    nos comunicar com os golfinhos,
  • 0:49 - 0:55
    mas, essencialmente, temos apenas metade
    de um dicionário, ou de uma só língua
  • 0:56 - 1:00
    porque não existe uma sessão
    "Golfinhês para inglês"
  • 1:00 - 1:02
    que facilitaria a comunicação
    dos golfinhos conosco.
  • 1:03 - 1:05
    Isto acontece apenas porque não imaginamos
  • 1:05 - 1:08
    como organizar os pulsos
    e assovios de forma lógica,
  • 1:08 - 1:09
    então eles não podem ser arranjados.
  • 1:10 - 1:14
    Os golfinhos realmente não podem
    usar o nosso dicionário.
  • 1:14 - 1:19
    Se esse é um cenário que potencialmente
    pode existir no reino animal,
  • 1:20 - 1:22
    o que pensariam se eu dissesse
  • 1:22 - 1:27
    que essa mesma situação tem existido
    no nosso mundo por anos?
  • 1:28 - 1:33
    Eu gostaria que vocês considerassem
    a comunidade surda e suas linguagens,
  • 1:33 - 1:35
    a língua de sinais,
  • 1:35 - 1:40
    e que por muitos anos, apenas dicionários
    de uma língua estavam disponíveis
  • 1:40 - 1:43
    para surdos usuários de língua de sinais.
  • 1:43 - 1:47
    Isso acontece porque a língua de sinais
    não tem uma forma escrita.
  • 1:47 - 1:49
    Em um dicionário impresso,
  • 1:49 - 1:53
    os sinais geralmente são mostrados
    como figuras ou desenhos.
  • 1:53 - 1:56
    Mas a imagem mostra o sinal como um todo
  • 1:56 - 1:59
    ao invés de componentes individuais
  • 1:59 - 2:03
    e são difíceis de organizar
    logicamente ou de localizar,
  • 2:03 - 2:07
    estes dicionários geralmente têm sido
    impressos como listas de palavras
  • 2:07 - 2:10
    com as palavras arranjadas
    alfabeticamente de um lado
  • 2:10 - 2:13
    com as figuras dos sinais próximas a elas.
  • 2:13 - 2:17
    Estes dicionários
    não apresentam qualquer uso
  • 2:17 - 2:20
    para qualquer pessoa
    que queira localizar sinais.
  • 2:22 - 2:26
    Eu sou uma lexicógrafa
    apaixonada por linguagens.
  • 2:27 - 2:28
    Relaxem, a maioria das pessoas reagem
  • 2:28 - 2:32
    com o que faço na vida como: "lexico-quê?"
  • 2:32 - 2:36
    Mas isso é fácil e nós vamos
    imaginar juntos.
  • 2:36 - 2:40
    "Lexicó" remete a léxico ou vocabulário,
  • 2:40 - 2:41
    e a segunda parte da palavra
  • 2:41 - 2:45
    é a mesma como em biógrafo ou cartógrafo.
  • 2:45 - 2:48
    Em outras palavras,
    alguém que escreve algo.
  • 2:48 - 2:52
    Dessa forma, um lexicógrafo
    é alguém que escreve dicionários.
  • 2:53 - 2:56
    Eu trabalho para um dicionário
    monolíngue abrangente
  • 2:56 - 2:59
    em linguagens sul-africanas
    conhecidas como afrikaans,
  • 2:59 - 3:00
    e eu amo meu trabalho.
  • 3:01 - 3:03
    Desde alguns anos atrás, desde criança,
  • 3:03 - 3:07
    a primeira vez que vi a língua de sinais
    norte-americana na televisão,
  • 3:07 - 3:10
    fiquei fascinada com a ideia
  • 3:10 - 3:14
    de uma língua que não tem que ser falada.
  • 3:14 - 3:17
    E assim, minhas duas paixões vieram juntas
  • 3:17 - 3:21
    e me levaram a aprender a língua de sinais
    sul-africana, ou ao menos começar,
  • 3:21 - 3:25
    e, em contrapartida. pesquisar
    a lexicografia da língua de sinais,
  • 3:27 - 3:30
    Preciso dizer que a era digital
  • 3:30 - 3:34
    tem trazido grandes mudanças
    na lexicografia da língua de sinais,
  • 3:34 - 3:40
    e existem excelentes dicionários on-line
    que tornam possível localizar um sinal.
  • 3:41 - 3:46
    Eles fazem isso pela quebra de sinais
    em componentes individuais ou fonemas.
  • 3:46 - 3:50
    Antes de irmos ao ponto
    que quero compartilhar com vocês hoje,
  • 3:50 - 3:52
    daremos um passo rápido para trás
  • 3:52 - 3:56
    para certificar de que estamos de acordo
    sobre língua de sinais
  • 3:56 - 3:58
    e ver o que nós sabemos sobre isso,
  • 3:58 - 4:00
    e o que, talvez, não temos certeza.
  • 4:00 - 4:03
    Primeiro, não existe
    uma língua de sinais universal.
  • 4:03 - 4:05
    Ou seja, não existe um só
    sinal na língua de sinais
  • 4:05 - 4:09
    que seja usado por pessoas
    surdas ao redor do mundo.
  • 4:09 - 4:12
    Muitas pessoas ficam
    surpresas ao descobrir isso,
  • 4:12 - 4:14
    e perguntam "Por quê?"
  • 4:14 - 4:16
    A resposta é bem simples:
  • 4:16 - 4:19
    pela mesma razão que não existe
    um sinal na língua falada
  • 4:19 - 4:23
    usado por todas as pessoas ouvintes
    em qualquer lugar do mundo.
  • 4:24 - 4:27
    Afinal de contas, não estamos
    conectados telepaticamente,
  • 4:27 - 4:31
    e as linguagens crescem,
    mudam e se desenvolvem
  • 4:31 - 4:33
    de acordo com a necessidade.
  • 4:33 - 4:35
    O que me traz ao segundo ponto:
  • 4:35 - 4:39
    língua de sinais são, de fato,
    linguagens humanas naturais
  • 4:39 - 4:42
    com sua própria sintaxe e gramática.
  • 4:42 - 4:45
    Elas não estão conectadas
    a nenhuma língua falada específica,
  • 4:45 - 4:49
    e elas são muito mais do que apenas
    uma língua falada com as mãos.
  • 4:50 - 4:54
    Embora o inglês seja falado
    nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha,
  • 4:54 - 4:58
    usuários da língua de sinais
    norte-americana e britânica
  • 4:58 - 5:00
    não necessariamente conseguem
    entender um ao outro.
  • 5:01 - 5:02
    Então com o que vimos até aqui,
  • 5:02 - 5:05
    podemos chegar ao ponto que eu queria
    compartilhar com vocês hoje.
  • 5:06 - 5:09
    No início da minha pesquisa,
    alguns anos atrás,
  • 5:09 - 5:11
    visitei a escola primária
    para crianças surdas,
  • 5:12 - 5:14
    em particular, a educação infantil,
  • 5:14 - 5:17
    que na África do Sul apresenta
    os graus um, dois e três.
  • 5:18 - 5:22
    Eu queria ver quais materiais de suporte
    para linguagem eles tinham disponíveis.
  • 5:22 - 5:26
    Naquele momento, eu tinha
    uma lista de palavras muito básicas.
  • 5:27 - 5:29
    As palavras eram arranjadas por temática
  • 5:29 - 5:33
    e apresentadas na língua alvo
    para várias áreas de aprendizagem.
  • 5:34 - 5:39
    Mas esta lista, como podem ver,
    não continham figuras e sinais
  • 5:39 - 5:43
    que ajudassem a criar uma conexão
    entre a palavra e o que ela representava.
  • 5:43 - 5:45
    Então era muito óbvio perceber
  • 5:45 - 5:48
    que as crianças não estavam usando a lista
  • 5:48 - 5:52
    porque ela não oferecia ajuda
    para conectar a palavra ao significado.
  • 5:53 - 5:57
    Eu comparei com os belos dicionários
    bilíngues da educação infantil
  • 5:57 - 6:02
    que estão disponíveis em outros idiomas
    e que também incluem pesquisas temáticas.
  • 6:02 - 6:05
    Em outras palavras, na sessão alfabética,
  • 6:05 - 6:08
    eles possuem páginas coloridas por temas
  • 6:08 - 6:10
    nas quais cada palavra em ambos os idiomas
  • 6:10 - 6:15
    aparece próxima a uma figura
    que conceitua o que ela representa.
  • 6:15 - 6:16
    E me perguntei:
  • 6:16 - 6:22
    "Por que não fazemos o mesmo
    com dicionários de língua de sinais
  • 6:22 - 6:26
    para crianças surdas
    da educação infantil?"
  • 6:26 - 6:31
    Tendo em conta a importância dessa fase
    para aprendizagem e alfabetização.
  • 6:32 - 6:38
    Infelizmente, existe uma geração perdida
    mundialmente de adultos surdos
  • 6:38 - 6:41
    que, em média, possuem níveis
    de alfabetização muito baixo
  • 6:41 - 6:43
    e que não gostam de ler.
  • 6:44 - 6:47
    Ainda, é extremamente difícil
    que eles usem dicionários
  • 6:47 - 6:50
    no qual a principal
    via de acesso é uma palavra.
  • 6:50 - 6:52
    Ou seja, é difícil procurar
    por uma palavra
  • 6:52 - 6:55
    se você não está certo de como se soletra.
  • 6:55 - 7:00
    Então, buscar figuras pode ser uma ótima
    forma de aprendizagem para crianças,
  • 7:00 - 7:05
    e também pode ajudar a amenizar
    a ansiedade ou a frustração
  • 7:05 - 7:09
    que os usuários podem sentir ao utilizar
    dicionários pela primeira vez.
  • 7:11 - 7:16
    Outro aspecto que a maioria
    de nós nunca pensou a respeito,
  • 7:16 - 7:21
    é que a aprendizagem de leitura
    baseia-se fortemente em sons e fonética,
  • 7:21 - 7:24
    algo a que crianças surdas não têm acesso.
  • 7:25 - 7:27
    Mas as pesquisas têm mostrado
  • 7:27 - 7:30
    que ao indicar com o dedo
    para a palavra ao soletrar
  • 7:30 - 7:35
    uma ponte pode ser construída
    entre a sua forma escrita e o sinal.
  • 7:36 - 7:40
    Então enquanto crianças ouvintes aprendem
    músicas como "A de árvore e B de bola",
  • 7:41 - 7:44
    esse exemplo tão simples pode
    muito bem beneficiar igualmente
  • 7:44 - 7:49
    o aprendizado de crianças surdas
    de que A é de árvore e B de bola.
  • 7:50 - 7:52
    Com tudo isso em mente,
  • 7:52 - 7:55
    decidi pesquisar a solução
    para esses problemas.
  • 7:56 - 7:57
    E completar a teoria
  • 7:57 - 8:01
    presente em dicionários eletrônicos,
    bilíngues e de língua de sinais
  • 8:01 - 8:05
    com todo o conteúdo disponível
    lado a lado em ambas as linguagens
  • 8:05 - 8:09
    e com conteúdo em formato
    de vídeo para a língua de sinais.
  • 8:09 - 8:13
    O dicionário pode ser igualmente
    disponível em três formas de pesquisa:
  • 8:13 - 8:19
    a busca por imagens,
    por sinais e por palavras.
  • 8:19 - 8:22
    E isso significa que nenhuma alfabetização
    é realmente necessária
  • 8:22 - 8:24
    em qualquer dos dicionários
    seja ele bilíngue,
  • 8:24 - 8:29
    na língua escrita ou na língua de sinais
    para começar a usá-lo.
  • 8:29 - 8:32
    Hanno Schreiber é
    um cientista da computação
  • 8:32 - 8:36
    que se graduou com honras ano passado
    na Universidade Stellenbosch.
  • 8:37 - 8:41
    E juntos, começamos a desenvolver
    um dicionário on-line
  • 8:41 - 8:46
    baseado na minha teoria e um banco
    de dados dinâmico desenvolvido por ele.
  • 8:47 - 8:50
    Apesar do protótipo
    estar parado atualmente,
  • 8:50 - 8:52
    a teoria aparentemente funciona.
  • 8:52 - 8:55
    E isso foi reconhecido
    pelo Instituto Nacional para Surdos.
  • 8:56 - 8:58
    Existe um longo caminho pela frente,
  • 8:58 - 9:01
    porque conteúdos originais
    precisam ser criados,
  • 9:01 - 9:02
    que incluem ilustrações
  • 9:02 - 9:06
    assim como definições e exemplos
    em ambas as línguas.
  • 9:06 - 9:10
    E certamente, não com essa
    que vos fala como modelo.
  • 9:10 - 9:11
    (Risos)
  • 9:11 - 9:16
    A última meta é disponibilizar
    gratuitamente para a comunidade surda,
  • 9:17 - 9:22
    pois ela já enfrenta tantos desafios,
    incluindo o financeiro,
  • 9:22 - 9:26
    que seria injusto cobrá-los
    pelo acesso ao recurso
  • 9:26 - 9:29
    de uma linguagem tão vasta,
    mas com poucos recursos.
  • 9:31 - 9:33
    Os surdos podem não conseguir ouvir,
  • 9:33 - 9:36
    mas podem escutar e aprender
  • 9:36 - 9:40
    se tiverem acesso às ferramentas certas.
  • 9:40 - 9:44
    É tão maravilhoso o tanto
    que os surdos têm conquistado,
  • 9:44 - 9:48
    na maioria dos casos,
    com apenas metade de um dicionário.
  • 9:49 - 9:52
    Não acho que a vida deveria
    ser cheia de obstáculos.
  • 9:53 - 9:55
    E acredito que a ideia
    que eu queria trazer hoje
  • 9:55 - 9:58
    pode ser parte do modo
    como nos movemos adiante
  • 9:58 - 10:02
    produzindo recursos acessíveis
    e apropriados para língua de sinais.
  • 10:03 - 10:05
    Eu quero desafiar vocês
  • 10:06 - 10:10
    a pensarem na comunidade surda
    como uma minoria linguística
  • 10:11 - 10:14
    em vez de pensar na surdez
    como uma deficiência.
  • 10:15 - 10:19
    Um surdo apenas fala uma língua diferente.
  • 10:20 - 10:23
    E está na hora de trabalharmos juntos
    em ferramentas apropriadas
  • 10:23 - 10:29
    para que essa "deficiência"
    se torne uma "habilidade" diferente.
  • 10:29 - 10:34
    E que as barreiras de comunicação
    sejam derrubadas de uma vez por todas.
  • 10:35 - 10:36
    Obrigada.
  • 10:36 - 10:39
    (Aplausos)
Title:
Dicionário de língua de sinais para surdos | Hanelle Fourie | TEDxCapeTown
Description:

O portador de surdez não pode ouvir, mas ele pode escutar; mas frequentemente é quem não tem deficiência auditiva que não escuta. Hanelle Fourie explica como sua ideia pode ajudar os ouvintes a compreenderem melhor os surdos.

Hanelle Fourie é uma lexicógrafa e uma linguista entusiasta. Ela devotou sua vida para desenvolver um dicionário eletrônico para a língua de sinais sul-africana. Se desenvolvida com sucesso, esta ferramenta pode ajudar os surdos, ouvintes com audição comprometida, bem como todos os que podem ouvir a aprender e compreender melhor a língua de sinais.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:49

Portuguese, Brazilian subtitles

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