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Como vamos ressuscitar a rã Rheobatrachus e o tigre-da-tasmânia| Michael Archer | TEDxDeExtinction

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    Queria testar esta pergunta
    em que todos estamos interessados:
  • 0:08 - 0:10
    A extinção é um processo irreversível?
  • 0:10 - 0:13
    Estou concentrado em dois projetos
    de que vos quero falar.
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    Um é o Projeto Tigre-da-tasmânia
  • 0:15 - 0:18
    e penso que todos sabem
    o que é um tigre-da-tasmânia.
  • 0:18 - 0:20
    O outro é o Projeto Lazarus
  • 0:20 - 0:23
    e este é sobre a rã Rheobatrachus.
  • 0:23 - 0:24
    Seria natural perguntarem
  • 0:24 - 0:27
    porque é que nos concentrámos
    nestes dois animais.
  • 0:28 - 0:32
    Primeiro, cada um deles
    representa uma família única.
  • 0:32 - 0:34
    Perdemos uma família inteira.
  • 0:34 - 0:37
    Desapareceu um enorme pedaço
    do genoma global.
  • 0:37 - 0:38
    Gostava de o recuperar.
  • 0:38 - 0:42
    A segunda razão é que fomos nós
    que matámos estes seres.
  • 0:42 - 0:47
    No caso do tigre-da-tasmânia,
    abatemos todos os que encontrámos.
  • 0:47 - 0:49
    Chacinámo-los a todos.
  • 0:49 - 0:54
    No caso da rã Rheobatrachus,
    podemos tê-la matado com fungicidas.
  • 0:54 - 0:57
    Há um fungo terrível
    que passeia pelo mundo,
  • 0:57 - 0:59
    chamado fungo quitrídio
  • 0:59 - 1:01
    que está a atacar as rãs do mundo inteiro.
  • 1:01 - 1:03
    Pensamos que foi provavelmente
    o que afetou esta rã
  • 1:03 - 1:06
    e são os homens que estão
    a espalhar este fungo.
  • 1:06 - 1:09
    Isto representa uma questão ética
    muito importante
  • 1:09 - 1:11
    e penso que já ouviram falar nisso
    muitas vezes
  • 1:11 - 1:12
    quando este tópico é abordado.
  • 1:12 - 1:14
    Eu penso que o importante
  • 1:14 - 1:18
    é que, se é evidente
    que exterminámos estas espécies,
  • 1:18 - 1:21
    temos não só uma obrigação moral
  • 1:21 - 1:23
    de ver o que podemos fazer
  • 1:23 - 1:27
    mas temos um imperativo moral
    de tentar fazer o que pudermos.
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    Vou falar-vos do Projeto Lazarus.
  • 1:30 - 1:33
    Trata-se duma rã.
    Vocês pensam... uma rã.
  • 1:33 - 1:36
    Pois é, mas não é uma rã qualquer.
  • 1:37 - 1:40
    Ao contrário duma rã vulgar,
    que põe os ovos na água,
  • 1:40 - 1:42
    vai-se embora e deseja
    boa sorte às rãzinhas,
  • 1:42 - 1:46
    esta rã engolia os ovos fertilizados,
  • 1:46 - 1:49
    engolia-os e guardava-os no estômago,
    onde devia estar a comida,
  • 1:49 - 1:54
    mas não digeria os ovos,
    transformava o estômago num útero.
  • 1:54 - 1:57
    Era no estômago que os ovos
    davam origem aos girinos
  • 1:57 - 2:01
    e era no estômago que os girinos
    evoluíam em rãs
  • 2:01 - 2:03
    e cresciam no estômago
  • 2:03 - 2:07
    até a pobre rã quase rebentar.
  • 2:07 - 2:11
    Ela tossia um pouco, tinha um soluço
    e saía um jorro de pequenas rãs.
  • 2:11 - 2:14
    Quando os biólogos viram isto,
    ficaram parvos.
  • 2:14 - 2:16
    Pensaram: "Isto é incrível.
  • 2:16 - 2:19
    "Não conhecemos nenhum animal,
    muito menos uma rã,
  • 2:20 - 2:22
    "que transforme um órgão do corpo noutro".
  • 2:22 - 2:25
    Podem imaginar, o mundo médico
    também ficou desvairado.
  • 2:25 - 2:27
    Poderíamos compreender
  • 2:27 - 2:30
    como é que a rã punha
    aquela barriga a funcionar?
  • 2:30 - 2:33
    Haveria informações
    que precisávamos de compreender
  • 2:33 - 2:36
    ou poderíamos usar em nosso proveito?
  • 2:36 - 2:39
    Não estou a sugerir que queremos
    criar bebés no estômago
  • 2:39 - 2:41
    mas sugiro que é possível
  • 2:41 - 2:44
    podermos querer gerir
    a secreção gástrica.
  • 2:44 - 2:47
    Mas, quando andavam todos
    tão entusiasmados com isto, bang!
  • 2:47 - 2:48
    extinguiu-se.
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    Liguei ao meu amigo,
  • 2:50 - 2:53
    o Professor Mike Tyler,
    da Universidade de Adelaide.
  • 2:53 - 2:56
    Era a última pessoa que tivera
    uma colónia daquelas rãs,
  • 2:57 - 2:58
    no seu laboratório.
  • 2:58 - 3:01
    Disse-lhe: "Mike, por acaso..."
    — isto foi há 30 ou 40 anos —
  • 3:01 - 3:05
    "Por acaso, guardaste qualquer
    tecido congelado desta rã?"
  • 3:05 - 3:06
    Ele ficou a pensar,
  • 3:06 - 3:10
    foi ao congelador de 20 graus negativos,
  • 3:10 - 3:12
    e procurou em tudo
    o que havia no frigorífico.
  • 3:12 - 3:16
    Lá no fundo, havia um boião
    que continha tecidos dessas rãs.
  • 3:17 - 3:18
    Foi animador
  • 3:18 - 3:21
    mas não havia razão para esperar
    que aquilo funcionasse,
  • 3:21 - 3:25
    porque os tecidos não tinham
    sido tratados com anticongelante,
  • 3:25 - 3:29
    com crioprotetores,
    quando tinham sido congelados.
  • 3:29 - 3:32
    Como sabem, quando a água congela,
    aumenta de volume
  • 3:32 - 3:34
    e o mesmo acontece numa célula.
  • 3:34 - 3:36
    Se congelarmos tecidos,
    a água aumenta de volume
  • 3:36 - 3:38
    e danifica ou rebenta
    as membranas das células.
  • 3:38 - 3:40
    Observámos o tecido ao microscópio.
  • 3:40 - 3:43
    Não parecia muito mau.
    As células pareciam intactas.
  • 3:43 - 3:45
    Pensámos: "Vamos experimentar".
  • 3:45 - 3:47
    Fizemos uma coisa a que se chama
  • 3:47 - 3:49
    transplantação nuclear
    de células somáticas.
  • 3:50 - 3:53
    Agarrámos nos ovos duma rã viva,
    duma espécie aparentada,
  • 3:54 - 3:57
    e inativámos o núcleo do ovo.
  • 3:57 - 3:59
    Usámos radiações ultravioletas para isso.
  • 3:59 - 4:04
    Depois, agarrámos nos núcleos mortos
    do tecido morto da rã extinta
  • 4:04 - 4:07
    e inserimos esses núcleos naquele ovo.
  • 4:07 - 4:10
    Isto parece uma espécie
    de projeto de clonagem,
  • 4:10 - 4:11
    como o que produziu a Dolly,
  • 4:12 - 4:13
    mas é muito diferente,
  • 4:13 - 4:16
    porque a Dolly era uma ovelha viva
    com células vivas de ovelhas.
  • 4:16 - 4:19
    Isto era um milagre, mas podia funcionar.
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    Estávamos a agarrar
    num núcleo morto duma espécie extinta
  • 4:22 - 4:24
    e a colocá-lo numa espécie
    totalmente diferente
  • 4:24 - 4:26
    e esperávamos que aquilo funcionasse.
  • 4:26 - 4:28
    Não havia razão
    para esperar que funcionasse,
  • 4:28 - 4:31
    e tentámos centenas e centenas de vezes.
  • 4:31 - 4:34
    Em fevereiro passado, a última vez
    que fizemos essas tentativas,
  • 4:34 - 4:37
    vi começar a acontecer um milagre.
  • 4:38 - 4:41
    Verificámos que a maioria
    dos ovos não resultava,
  • 4:41 - 4:44
    mas, de súbito, um deles
    começou a dividir-se.
  • 4:44 - 4:46
    Foi muito animador.
  • 4:46 - 4:48
    Depois, o ovo dividiu-se de novo,
    e mais uma vez.
  • 4:48 - 4:51
    Em breve, tínhamos um embrião
    de primeira fase
  • 4:51 - 4:54
    com centenas de células a formarem-se.
  • 4:54 - 4:57
    Testámos o ADN de algumas dessas células
  • 4:57 - 5:01
    e o ADN da rã extinta
    estava nessas células.
  • 5:01 - 5:04
    Ficámos entusiasmados.
    Não é um girino, não é uma rã.
  • 5:04 - 5:07
    Mas é um longo caminho,
  • 5:07 - 5:10
    para produzir ou ressuscitar
    uma espécie extinta.
  • 5:10 - 5:12
    São estas as novidades.
  • 5:12 - 5:14
    Ainda não as anunciámos ao público.
  • 5:14 - 5:15
    Estamos entusiasmados.
  • 5:15 - 5:17
    Conseguimos passar este ponto.
  • 5:17 - 5:20
    Agora queremos que estas células
    produzam ácidos gástricos
  • 5:20 - 5:22
    e se transformem naquilo
    que produz os outros tecidos.
  • 5:22 - 5:26
    e produzam um girino e depois uma rã.
  • 5:26 - 5:27
    Reparem neste espaço.
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    Penso que vamos ter uma rã aos saltos
  • 5:30 - 5:32
    feliz por estar de novo no mundo.
  • 5:32 - 5:34
    (Aplausos)
  • 5:34 - 5:35
    Obrigado.
  • 5:35 - 5:37
    (Aplausos)
  • 5:37 - 5:40
    Ainda não o fizemos,
    mas preparem-se para aplaudir.
  • 5:40 - 5:44
    O segundo projeto de que vou falar
    é o Projeto Tigre-da-tasmânia.
  • 5:44 - 5:48
    O tigre-da-tasmânia, para muita gente,
    parece-se com um cão
  • 5:48 - 5:50
    ou talvez com um tigre,
    porque tem riscas.
  • 5:50 - 5:53
    Mas não está relacionado
    com nenhum deles, é um marsupial.
  • 5:53 - 5:57
    Cria os seus filhos numa bolsa,
    como um coala ou um canguru
  • 5:57 - 6:02
    e tem uma longa história,
    uma história fascinante
  • 6:02 - 6:05
    que remonta a 25 milhões de anos.
  • 6:05 - 6:07
    Mas também tem uma história trágica.
  • 6:07 - 6:09
    O primeiro que conhecemos
  • 6:10 - 6:12
    aparece nas antigas florestas
    tropicais da Austrália
  • 6:12 - 6:15
    há uns 25 milhões de anos.
  • 6:15 - 6:17
    A National Geographic Society
  • 6:17 - 6:20
    está a ajudar-nos a explorar
    estes depósitos fósseis.
  • 6:20 - 6:21
    Isto é Riversleigh.
  • 6:21 - 6:24
    Nestas rochas fósseis
    há animais espantosos.
  • 6:24 - 6:26
    Encontrámos leões marsupiais.
  • 6:26 - 6:29
    Encontrámos cangurus carnívoros.
  • 6:29 - 6:32
    Não são como os cangurus que conhecemos,
    são cangurus que comem carne.
  • 6:32 - 6:35
    Encontrámos a maior ave do mundo,
  • 6:35 - 6:37
    maior do que aquela coisa
    que havia em Madagáscar
  • 6:37 - 6:39
    e também era um comedor de carne.
  • 6:39 - 6:41
    Era um pato estranho, gigantesco.
  • 6:41 - 6:44
    E os crocodilos, nessa época,
    tinham comportamentos diferentes.
  • 6:44 - 6:47
    Pensamos nos crocodilos de atalaia,
    instalados numa poça de água.
  • 6:47 - 6:50
    Estes crocodilos estavam em terra
  • 6:50 - 6:55
    e até subiam às árvores
    e saltavam sobre as presas no chão.
  • 6:55 - 6:59
    Tivemos crocodilos saltadores
    na Austrália, existiram mesmo.
  • 6:59 - 7:00
    (Risos)
  • 7:00 - 7:03
    Mas não saltavam só
    sobre outros animais estranhos,
  • 7:03 - 7:05
    também saltavam sobre
    os tigres-da-tasmânia.
  • 7:05 - 7:09
    Havia cinco tipos diferentes
    de tigres-da-tasmânia nessas florestas
  • 7:09 - 7:13
    que variavam entre um tamanho
    grande, um tamanho médio
  • 7:13 - 7:17
    até um que tinha o tamanho
    de um chihuahua.
  • 7:17 - 7:19
    Paris Hilton podia ter andado
  • 7:19 - 7:21
    com um destes, numa malinha de mão
  • 7:21 - 7:23
    até um crocodilo saltar em cima dela.
  • 7:23 - 7:25
    Era um local fascinante
  • 7:25 - 7:28
    mas, infelizmente,
    a Austrália não se manteve assim.
  • 7:28 - 7:32
    A alteração climática afetou o mundo
    durante um longo período de tempo
  • 7:32 - 7:36
    e, pouco a pouco,
    as florestas desapareceram,
  • 7:36 - 7:37
    o país começou a secar,
  • 7:37 - 7:40
    e o número de tipos de tigres-da-tasmânia
    começou a diminuir
  • 7:40 - 7:43
    até que, há uns cinco milhões de anos,
    só restou um tipo.
  • 7:43 - 7:46
    Há 10 000 anos, tinham
    desaparecido da Nova Guiné
  • 7:46 - 7:53
    e, infelizmente, há uns 4000 anos,
    alguém — não sabemos quem foi —
  • 7:53 - 7:58
    introduziu na Austrália os dingos,
    um tipo muito arcaico de cão.
  • 7:58 - 7:59
    Como vemos,
  • 7:59 - 8:02
    os dingos têm um corpo muito parecido
    com os tigres-da-tasmânia.
  • 8:02 - 8:06
    Essa semelhança significa
    que, provavelmente, eram concorrentes.
  • 8:06 - 8:07
    Comiam o mesmo tipo de alimentos.
  • 8:07 - 8:10
    Até é possível que os aborígenes
    mantivessem alguns dingos
  • 8:10 - 8:12
    como animais domésticos
  • 8:12 - 8:15
    e, por isso, estes tinham vantagem
    na batalha pela sobrevivência.
  • 8:15 - 8:18
    Só sabemos que, pouco depois
    de aparecerem os dingos,
  • 8:18 - 8:21
    os tigres-da-tasmânia extinguiram-se
    no continente australiano.
  • 8:21 - 8:24
    Depois disso, só sobreviveram na Tasmânia.
  • 8:25 - 8:27
    Infelizmente, a história
    do tigre-da-tasmânia
  • 8:28 - 8:31
    piora tristemente com a chegada
    dos europeus em 1788
  • 8:31 - 8:34
    que levaram com eles as coisas
    que consideravam valiosas,
  • 8:34 - 8:36
    o que incluía as ovelhas.
  • 8:37 - 8:40
    Observaram os tigres-da-tasmânia
    na Tasmânia e pensaram
  • 8:40 - 8:42
    que aquilo não ia funcionar.
  • 8:42 - 8:45
    Aquele tipo ia comer as ovelhas todas.
  • 8:45 - 8:47
    Mas não foi o que aconteceu.
  • 8:47 - 8:49
    Os cães selvagens comeram algumas ovelhas
  • 8:49 - 8:51
    mas a culpa caiu nos tigres-da-tasmânia.
  • 8:51 - 8:55
    Imediatamente, o governador
    decretou que era preciso acabar com eles,
  • 8:55 - 8:59
    e pagou às pessoas para matarem
    todos os que vissem.
  • 8:59 - 9:01
    No início dos anos 30,
  • 9:01 - 9:05
    tinham sido chacinados
    3000 a 4000 tigres-da-tasmânia.
  • 9:05 - 9:09
    Foi um desastre,
    ficaram à beira da extinção.
  • 9:09 - 9:12
    Observem esta sequência filmada.
  • 9:12 - 9:15
    É triste porque, embora
    seja um animal fascinante
  • 9:16 - 9:21
    e seja espantoso pensar
    que tínhamos a tecnologia para o filmar,
  • 9:21 - 9:24
    antes de ele atingir
    o ponto de extinção,
  • 9:25 - 9:27
    na mesma altura,
  • 9:27 - 9:31
    não nos preocupámos minimamente
    com o bem-estar desta espécie.
  • 9:31 - 9:35
    São imagens do último tigre-da-tasmânia
    sobrevivente, o Benjamin,
  • 9:35 - 9:38
    que vivia no Zoo Beaumaris em Hobart.
  • 9:38 - 9:40
    Juntando o insulto à agressão,
  • 9:40 - 9:43
    depois de quase eliminar esta espécie
    do mundo dos vivos,
  • 9:43 - 9:46
    este animal morreu por negligência.
  • 9:46 - 9:50
    Os tratadores não o recolheram
    numa noite fria em Hobart.
  • 9:50 - 9:54
    Morreu ao frio e, de manhã,
    quando encontraram o corpo de Benjamin,
  • 9:54 - 10:00
    preocuparam-se tão pouco com este animal
    que atiraram o corpo dele para a lixeira.
  • 10:01 - 10:03
    Tinha de acontecer assim?
  • 10:04 - 10:06
    Em 1990, eu estava no Museu Australiano.
  • 10:06 - 10:08
    Estava fascinado
    com os tigres-da-tasmânia.
  • 10:08 - 10:10
    Sempre fui obcecado por estes animais.
  • 10:10 - 10:12
    Estava a estudar as caveiras,
  • 10:12 - 10:15
    a tentar perceber a sua relação
    com outros tipos de animais
  • 10:15 - 10:17
    e vi um boião.
  • 10:17 - 10:21
    No boião havia uma cria
    de tigre-da-tasmânia,
  • 10:21 - 10:23
    talvez com seis meses.
  • 10:23 - 10:25
    O tipo que a encontrara
    tinha matado a mãe dela,
  • 10:26 - 10:29
    tinha apanhado a cria
    e metera-a em álcool.
  • 10:29 - 10:32
    Sou paleontólogo, mas sei
    que o álcool era um preservativo do ADN.
  • 10:32 - 10:37
    Mas aquilo fora em 1990
    e perguntei aos meus amigos geneticistas
  • 10:37 - 10:40
    se podíamos pensar
    em extrair ADN daquela cria,
  • 10:40 - 10:42
    se é que ele ainda existia
  • 10:42 - 10:44
    e depois, algures no futuro,
    podíamos usar esse ADN
  • 10:45 - 10:47
    para fazer reviver o tigre-da-tasmânia.
  • 10:47 - 10:51
    Os geneticistas riram-se,
    mas isto foi seis anos antes da Dolly.
  • 10:51 - 10:54
    A clonagem ainda era ficção científica,
    ainda não tinha acontecido.
  • 10:54 - 10:57
    Mas, de súbito, a clonagem aconteceu.
  • 10:57 - 11:00
    Eu pensei, quando fui diretor
    do Museu Australiano:
  • 11:00 - 11:01
    "Vou experimentar".
  • 11:01 - 11:03
    Reuni uma equipa.
  • 11:03 - 11:05
    Fomos àquela cria
    ver o que é que ela continha
  • 11:05 - 11:08
    e encontrámos ADN de tigre-da-tasmânia.
  • 11:08 - 11:10
    Foi um momento de descoberta.
    Ficámos entusiasmados.
  • 11:10 - 11:13
    Infelizmente, também encontrámos
    muito ADN humano.
  • 11:14 - 11:16
    Todos os curadores anteriores do museu
  • 11:16 - 11:18
    tinham visto aquele espécime maravilhoso
  • 11:18 - 11:21
    tinham metido a mão no boião
    e tinham-no tirado cá para fora:
  • 11:21 - 11:24
    "Uau! olhem para isto",
    e metiam-no de novo no boião,
  • 11:24 - 11:25
    contaminando o espécime.
  • 11:25 - 11:27
    Era um problema.
  • 11:27 - 11:29
    Se o objetivo era extrair o ADN
  • 11:29 - 11:32
    e usá-lo para tentar reviver
    o tigre-da-tasmânia,
  • 11:32 - 11:34
    não queríamos que acontecesse
  • 11:34 - 11:36
    quando essa informação
    fosse introduzida na máquina
  • 11:36 - 11:39
    e a roda girasse e as luzes piscassem,
  • 11:39 - 11:43
    obter um horrível filhote,
    magro e enrugado, de um curador.
  • 11:43 - 11:46
    O curador podia ficar muito feliz,
    mas nós não ficaríamos nada felizes.
  • 11:46 - 11:50
    Assim, voltámos àqueles espécimes
    e começámos a procurar,
  • 11:50 - 11:53
    em especial, nos dentes das caveiras,
  • 11:53 - 11:56
    nas partes duras em que os seres humanos
    não conseguem pôr os dedos
  • 11:56 - 11:58
    e encontrámos ADN
    de muito melhor qualidade.
  • 11:58 - 12:00
    Encontrámos genes mitocondriais nucleares.
  • 12:00 - 12:02
    Está lá. Assim, conseguimos.
  • 12:02 - 12:05
    O que é que podemos fazer com ele?
  • 12:05 - 12:07
    George Church, no seu livro "Regenesis",
  • 12:07 - 12:10
    referiu muitas das técnicas
    que estão a avançar rapidamente
  • 12:10 - 12:12
    para trabalhar com ADN fragmentado.
  • 12:12 - 12:16
    Esperamos conseguir obter
    aquele ADN numa forma viável
  • 12:16 - 12:19
    e, depois, tal como fizemos
    no Projeto Lazarus,
  • 12:19 - 12:22
    meter esse ADN num ovo
    duma espécie hospedeira.
  • 12:22 - 12:25
    Tem de ser uma espécie diferente.
    Qual poderá ser?
  • 12:25 - 12:26
    Porque não um diabo-da-tasmânia?
  • 12:26 - 12:29
    São aparentados, embora distantes,
    dos tigres-da-tasmânia.
  • 12:29 - 12:33
    O diabo-da-tasmânia gerará
    um tigre-da-tasmânia.
  • 12:34 - 12:36
    Os críticos deste projeto dizem:
  • 12:36 - 12:40
    "Calma, tigre-da-tasmânia,
    diabo-da-tasmânia? Isso vai acabar mal".
  • 12:41 - 12:43
    Não, não vai. São ambos marsupiais.
  • 12:43 - 12:46
    Dão à luz bebés do tamanho
    de um feijão gelatinoso.
  • 12:46 - 12:50
    O diabo-da-tasmânia nem sequer
    se apercebe de estar a dar à luz.
  • 12:50 - 12:52
    Só vai pensar que deu à luz
  • 12:52 - 12:54
    o diabo-da-tasmânia
    mais feio do mundo,
  • 12:54 - 12:58
    por isso precisará de ajuda
    para o manter.
  • 12:59 - 13:01
    Andrew Pask e os seus colegas
    demonstraram
  • 13:01 - 13:03
    que pode não ser uma perda de tempo.
  • 13:03 - 13:06
    É uma coisa para o futuro,
    ainda lá não chegámos,
  • 13:06 - 13:08
    mas é uma coisa
    em que queremos pensar.
  • 13:08 - 13:11
    Agarraram neste ADN do tigre-da-tasmânia
  • 13:11 - 13:14
    e uniram-no ao genoma de um rato,
  • 13:14 - 13:16
    mas puseram-lhe um marcador,
  • 13:16 - 13:19
    de modo a que tudo o que este ADN
    do tigre-da-tasmânia produzisse
  • 13:19 - 13:23
    aparecesse azul esverdeado
    no bebé do rato.
  • 13:23 - 13:25
    Ou seja, se os tecidos
    do tigre-da-tasmânia
  • 13:25 - 13:27
    fossem produzidos pelo seu próprio ADN
  • 13:27 - 13:29
    seria possível reconhecê-lo.
  • 13:29 - 13:32
    Quando o filhote apareceu, estava
    cheio de tecidos azul esverdeado.
  • 13:33 - 13:35
    Isso diz-nos que podemos
    utilizar esse genoma,
  • 13:35 - 13:37
    metê-lo numa célula viva.
  • 13:37 - 13:40
    Vai produzir material tigre-da-tasmânia.
  • 13:40 - 13:41
    Será um risco?
  • 13:41 - 13:43
    Agarramos em porções de um animal
  • 13:43 - 13:46
    misturamo-los na célula
    de um tipo de animal diferente.
  • 13:47 - 13:51
    Vamos obter um Frankenstein?
    Uma estranha quimera híbrida qualquer?
  • 13:51 - 13:53
    A resposta é não.
  • 13:53 - 13:58
    Se o único ADN nuclear na célula híbrida
    for o ADN do tigre-da-tasmânia
  • 13:58 - 14:01
    é a única coisa que sairá
    do outro lado do diabo.
  • 14:02 - 14:05
    Se pudermos fazer isto,
    podemos fazê-lo reviver?
  • 14:05 - 14:07
    Esta é uma pergunta crucial
    para toda a gente.
  • 14:08 - 14:11
    Vai ter de se manter num laboratório
    ou podemos pô-lo onde ele pertence?
  • 14:11 - 14:14
    Podemos pô-lo no trono
    do rei dos animais na Tasmânia,
  • 14:14 - 14:16
    restaurar esse ecossistema?
  • 14:16 - 14:20
    Ou a Tasmânia mudou tanto
    que isso já não é possível?
  • 14:20 - 14:22
    Eu estive na Tasmânia.
  • 14:22 - 14:25
    Estive em muitas das áreas
    onde o tigre-da-tasmânia era vulgar.
  • 14:25 - 14:28
    Falei ali com pessoas,
    como Peter Carter, ali,
  • 14:28 - 14:30
    que, quando falei com ele,
    tinha 90 anos,
  • 14:30 - 14:34
    mas em 1926, este homem
    o pai dele e o irmão dele
  • 14:34 - 14:36
    apanhavam tigres-da-tasmânia.
  • 14:36 - 14:37
    Apanhavam-nos em armadilhas.
  • 14:37 - 14:41
    Quando falei com este homem,
    olhava para os olhos dele e pensava:
  • 14:41 - 14:47
    "Por detrás destes olhos, há um cérebro
    que se lembra dos tigres-da-tasmânia,
  • 14:47 - 14:50
    "ao que é que eles cheiravam,
    o barulho que faziam".
  • 14:50 - 14:52
    Andava com eles presos por uma corda.
  • 14:52 - 14:54
    Tinha experiências pessoais
  • 14:54 - 14:57
    pelas quais eu daria uma perna
    para ter na minha cabeça.
  • 14:57 - 15:00
    Todos gostaríamos de ver
    acontecer uma coisa destas.
  • 15:00 - 15:02
    Adiante, perguntei a Peter se, por acaso,
  • 15:02 - 15:05
    ele nos podia levar aonde
    apanhava os tigres-da-tasmânia.
  • 15:05 - 15:07
    O meu interesse era ver
    se o ambiente tinha mudado.
  • 15:07 - 15:11
    Ficou a pensar, já tinham passado
    quase 80 anos que tinha ido àquela cabana.
  • 15:11 - 15:13
    Levou-nos por um carreiro
  • 15:13 - 15:15
    e ali, mesmo no sítio em que se lembrava,
  • 15:15 - 15:17
    lá estava a cabana.
  • 15:17 - 15:19
    Os olhos encheram-se de lágrimas.
  • 15:19 - 15:21
    Olhou para a cabana e entrou.
  • 15:21 - 15:23
    Lá estavam as tábuas dos lados da cabana
  • 15:23 - 15:26
    onde ele e o pai dele
    e o irmão tinham passado a noite.
  • 15:26 - 15:29
    Disse-me, à medida que as recordações
    chegavam em catadupa:
  • 15:29 - 15:32
    "Lembro-me dos tigres-da-tasmânia
    a rondarem a cabana,
  • 15:32 - 15:33
    "para verem o que estava cá dentro",
  • 15:34 - 15:36
    e disse que eles faziam sons
    como "Hip! Hip! Hip!"
  • 15:36 - 15:40
    Tudo aquilo fazia parte da vida dele
    e daquilo que ele se recordava.
  • 15:40 - 15:43
    A principal pergunta que eu queria
    fazer a Peter era: "Está mudado?"
  • 15:43 - 15:45
    E ele disse que não.
  • 15:45 - 15:47
    As florestas de faias
    que rodeavam aquela cabana
  • 15:47 - 15:50
    estavam tal e qual como
    quando ele lá estivera, em 1926.
  • 15:50 - 15:51
    Os prados perdiam-se de vista.
  • 15:51 - 15:53
    Era o habitat clássico
    do tigre-da-tasmânia.
  • 15:53 - 15:56
    Os animais naquela área
    eram os mesmos de antigamente
  • 15:56 - 15:58
    quando o tigre-da-tasmânia
    andava por ali.
  • 15:58 - 16:00
    Então, podíamos pô-lo lá de novo? Sim.
  • 16:00 - 16:03
    Era tudo o que faríamos?
    Esta era uma pergunta interessante.
  • 16:03 - 16:06
    Por vezes, podíamos pô-los ali,
  • 16:06 - 16:09
    mas podíamos garantir
    que não voltariam a ficar extintos?
  • 16:09 - 16:11
    Penso que não.
  • 16:11 - 16:14
    Penso que, pouco a pouco, como vemos
    em espécies do mundo inteiro,
  • 16:14 - 16:18
    a vida selvagem cada vez está
    menos segura na Natureza.
  • 16:18 - 16:20
    Gostávamos de pensar o contrário,
    mas é assim mesmo.
  • 16:20 - 16:22
    Precisamos de estratégias paralelas.
  • 16:22 - 16:24
    E há uma que me interessa.
  • 16:24 - 16:27
    Alguns dos tigres-da-tasmânia
    que foram enviados para zoos,
  • 16:27 - 16:29
    santuários, até mesmo para museus,
  • 16:29 - 16:31
    tinham marcas de coleira no pescoço.
  • 16:31 - 16:33
    Tinham sido mantidos
    como animais domésticos
  • 16:33 - 16:35
    e há muitos contos
    e recordações dos bosques
  • 16:35 - 16:38
    de pessoas que os tinham
    como animais de estimação.
  • 16:38 - 16:40
    Dizem que eram maravilhosos,
    amigáveis.
  • 16:40 - 16:44
    Este, em especial, saiu da floresta
    para lamber este rapaz
  • 16:44 - 16:47
    e enrolou-se à volta da fogueira
    para adormecer.
  • 16:47 - 16:48
    Um animal selvagem.
  • 16:48 - 16:52
    Gostava de fazer esta pergunta.
    Precisamos de pensar nisto.
  • 16:52 - 16:54
    Se não fosse ilegal, nessa época,
  • 16:54 - 16:58
    manter os tigres-da-tasmânia
    como animais domésticos,
  • 16:58 - 17:00
    os tigres-da-tasmânia
    ter-se-iam extinguido?
  • 17:00 - 17:02
    Tenho a certeza que não.
  • 17:02 - 17:04
    Precisamos de pensar nisso,
    no mundo de hoje.
  • 17:05 - 17:09
    Será que trazendo os animais
    para perto de nós, apreciando-os,
  • 17:09 - 17:11
    talvez eles não se extingam?
  • 17:11 - 17:13
    Isto é um problema fundamental para nós
  • 17:13 - 17:15
    porque, se não fizermos isso,
  • 17:15 - 17:18
    vamos observar mais animais destes
    a caírem no precipício.
  • 17:18 - 17:20
    Naquilo que me diz respeito,
  • 17:20 - 17:24
    é por isso que estamos a tentar fazer
    estes projetos de inversão da extinção.
  • 17:24 - 17:27
    estamos a tentar repor
    o equilíbrio da Natureza
  • 17:27 - 17:29
    que desequilibrámos.
  • 17:29 - 17:30
    Obrigado.
  • 17:30 - 17:33
    (Aplausos)
Title:
Como vamos ressuscitar a rã Rheobatrachus e o tigre-da-tasmânia| Michael Archer | TEDxDeExtinction
Description:

A rã Rheobatrachus põe os ovos como outra rã qualquer — depois, engole-os para os incubar. Fê-lo assim até se extinguir há 30 anos. O paleontólogo Michael Archer pretende recuperar a rã Rheobatrachus e o Thylacinus cynocephalus, vulgarmente conhecido por tigre-da-tasmânia.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:35

Portuguese subtitles

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