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Além de "menino" ou "menina": como rótulos salvam vidas | Alex Myers | TEDxPiscataquaRiver

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    Você é menino ou menina?
  • 0:12 - 0:16
    Me faziam essa pergunta o tempo todo
    quando eu era criança.
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    Você é menino ou menina?
  • 0:18 - 0:22
    Essa pergunta me encantava,
  • 0:22 - 0:25
    me assustava, me confundia
    e me incomodava
  • 0:25 - 0:27
    na mesma intensidade.
  • 0:27 - 0:31
    Ela me encantava porque, se alguém
    me fazia essa pergunta,
  • 0:31 - 0:34
    significava, pelo menos,
    que eu não parecia totalmente menina.
  • 0:34 - 0:36
    Mas me assustava pois eu não sabia
    o significado disso.
  • 0:36 - 0:39
    Por que eu não me parecia
    como as outras meninas?
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    Mas, principalmente, me incomodava muito
  • 0:42 - 0:46
    porque eu não sabia
    responder a essa pergunta.
  • 0:46 - 0:47
    Quando eu era criança,
  • 0:47 - 0:50
    não havia palavras
    além de "menino" ou "menina".
  • 0:50 - 0:53
    A melhor resposta
    que eu podia dar era "diferente",
  • 0:53 - 0:57
    e isso nem chegava à profundidade
    ou nuance do que eu sentia.
  • 0:57 - 1:02
    Quando chamamos algo
    de diferente, esquisito ou estranho,
  • 1:02 - 1:04
    significa que não entendemos.
  • 1:04 - 1:06
    Quando conhecemos algo,
  • 1:06 - 1:07
    quando nos preocupamos com ele,
  • 1:07 - 1:08
    quando o amamos,
  • 1:08 - 1:10
    damos um nome a ele.
  • 1:11 - 1:14
    Lembro-me de ser
    uma criança muito pequena,
  • 1:14 - 1:17
    de ir para a cama à noite,
    me cobrir até a cabeça
  • 1:17 - 1:20
    e orar a Deus para Ele me tornar menino.
  • 1:20 - 1:23
    Levaria anos e anos para eu descobrir
  • 1:23 - 1:26
    que não precisava ser
    transformada em outra pessoa.
  • 1:26 - 1:28
    Eu só precisava de palavras melhores.
  • 1:29 - 1:31
    Seria aos 17 anos
  • 1:31 - 1:34
    que eu finalmente encontraria
    a primeira palavra certa:
  • 1:34 - 1:36
    "transgênero".
  • 1:36 - 1:40
    Ela me mostrou a magia
    de uma palavra certa,
  • 1:40 - 1:43
    como pode desbloquear algo dentro de nós,
  • 1:43 - 1:48
    validar e permitir que seja.
  • 1:48 - 1:50
    A melhor coisa sobre transgênero?
  • 1:50 - 1:54
    A resposta que me deu à pergunta:
    "Você é menino ou menina?"
  • 1:54 - 1:56
    "Sim, sou transgênero."
  • 1:56 - 1:57
    (Risos)
  • 1:57 - 1:59
    As pessoas nem sempre
    gostam dessa resposta.
  • 2:00 - 2:04
    Nos 22 anos desde minha revelação
    como transgênero,
  • 2:04 - 2:08
    passei muito tempo discutindo,
    debatendo e pensando sobre esse termo.
  • 2:08 - 2:10
    Em 1995, quando me revelei,
  • 2:10 - 2:13
    "transgênero" era uma palavra
    totalmente nova
  • 2:13 - 2:18
    que substituiu termos
    como transexual, travesti, travestido,
  • 2:18 - 2:22
    que agora parecem arcaicos
    e felizmente obsoletos.
  • 2:22 - 2:25
    Mas, desde então, como devem ter notado,
  • 2:25 - 2:29
    houve uma espécie de explosão
    de terminologia de gênero.
  • 2:29 - 2:34
    Temos termos como: não binário,
    gênero sem conformidade, gênero fluido,
  • 2:34 - 2:39
    bicha, gênero expansivo,
    terceiro gênero, agênero
  • 2:39 - 2:42
    e provavelmente muito mais
    do que jamais ouvi falar.
  • 2:42 - 2:46
    Ao percorrer o país e dar palestras
    sobre identidade de gênero,
  • 2:46 - 2:50
    encontro muitas vezes hostilidade
    e animosidade em relação a esses termos,
  • 2:50 - 2:54
    como a atitude das pessoas:
    "Por que você não consegue se decidir?"
  • 2:54 - 2:56
    "Por que 'transgênero'
    não é bom o bastante?"
  • 2:56 - 2:58
    "Você precisa mesmo de mais termos?"
  • 2:58 - 3:01
    As pessoas até dizem: "Isso faz vocês
    parecerem bobos e frívolos
  • 3:01 - 3:04
    se continuarem inventando palavras novas".
  • 3:04 - 3:08
    Dou palestras e ouço um gemido na plateia
  • 3:08 - 3:13
    quando incluo outra letra
    à sigla LGBTQIAA+.
  • 3:13 - 3:14
    (Risos)
  • 3:14 - 3:17
    Entendo que pode ser confuso,
  • 3:17 - 3:20
    talvez irritante ou até extremo.
  • 3:20 - 3:22
    Mas espero poder convencê-los
  • 3:22 - 3:26
    de que essa proliferação de linguagem
    é extremamente importante.
  • 3:26 - 3:29
    A linguagem é muito poderosa.
  • 3:30 - 3:32
    Por quê?
  • 3:32 - 3:35
    Acho que é porque a linguagem está
    profundamente ligada à natureza humana.
  • 3:35 - 3:40
    O cérebro é modelado para aprender,
    usar e adquirir a linguagem.
  • 3:40 - 3:42
    O inverso disso também é verdadeiro.
  • 3:42 - 3:45
    Conforme aprendemos, usamos e adquirimos
    a linguagem, ela o padroniza
  • 3:45 - 3:49
    e cria novos sulcos mentais
    com os quais podemos pensar.
  • 3:49 - 3:54
    Adoro pensar no incrível ciclo de feedback
    que trata da identidade de gênero,
  • 3:54 - 3:55
    a sinergia dele.
  • 3:55 - 3:57
    Criamos todos esses novos termos,
  • 3:57 - 3:58
    os empregamos,
  • 3:58 - 4:00
    tornam-se parte
    de nosso vocabulário diário
  • 4:00 - 4:01
    e geram dentro de nós
  • 4:01 - 4:07
    uma nova percepção e adaptabilidade
    sobre a identidade de gênero.
  • 4:07 - 4:09
    Isso não acontece apenas
    para cada um de nós,
  • 4:09 - 4:12
    mas coletivamente, como sociedade,
  • 4:12 - 4:14
    usamos esses novos termos
  • 4:14 - 4:18
    e começamos a ter um novo entendimento
    e uma nova compreensão sobre gênero.
  • 4:20 - 4:23
    Admito que, às vezes, sinto
    que estou travando uma batalha difícil
  • 4:23 - 4:26
    enquanto tento levar as pessoas
    a adotar uma nova terminologia.
  • 4:26 - 4:28
    A resposta que mais ouço é:
  • 4:28 - 4:30
    "Rótulos são terríveis,
    são muito perigosos,
  • 4:30 - 4:33
    e não devemos tentar rotular as pessoas".
  • 4:33 - 4:35
    Tudo bem, devidamente anotado.
  • 4:35 - 4:39
    Minha posição é esta:
    rótulos são muito importantes.
  • 4:39 - 4:42
    Rótulos, na verdade, salvam vidas.
  • 4:43 - 4:46
    Vou lhes dar um exemplo histórico disso.
  • 4:46 - 4:48
    Se voltarmos à Idade Média,
  • 4:48 - 4:50
    chegaremos a uma época
  • 4:50 - 4:52
    em que não existe uma palavra
    para homossexualidade
  • 4:52 - 4:56
    e nenhum entendimento
    da homossexualidade como identidade,
  • 4:56 - 5:01
    orientação sexual como parte
    de quem somos como ser humano.
  • 5:03 - 5:05
    Sabe-se que, às vezes,
    homens fazem sexo com homens
  • 5:05 - 5:09
    e, em menor escala, que, às vezes,
    mulheres fazem sexo com mulheres.
  • 5:09 - 5:12
    Mas se fala ou escreve a respeito
  • 5:12 - 5:16
    com expressões depreciativas
    como "aquele pecado terrível"
  • 5:16 - 5:18
    ou "o vício não mencionável".
  • 5:19 - 5:23
    Se você fosse uma pessoa
    que dormiu com outro homem
  • 5:23 - 5:26
    e fosse se confessar,
  • 5:26 - 5:29
    confessaria o pecado da "luxúria",
  • 5:29 - 5:34
    uma espécie de termo genérico
    para todo tipo de pecado sexual.
  • 5:34 - 5:38
    Estou lhes contando isso porque é,
    na verdade, pelo confessionário
  • 5:38 - 5:41
    que começamos a ver linguagem
    a respeito de sexualidade.
  • 5:41 - 5:43
    É meio estranho.
  • 5:43 - 5:45
    Mas havia um problema na Idade Média.
  • 5:45 - 5:48
    Essas pessoas entravam
    e confessavam luxúria,
  • 5:48 - 5:51
    e o padre ficava numa posição
    extremamente embaraçosa.
  • 5:51 - 5:54
    Ele tinha que fazer uma série de perguntas
  • 5:54 - 5:57
    para determinar a penitência correta:
  • 5:57 - 5:58
    "O que exatamente você fez?"
  • 5:58 - 6:01
    "Com quem você fez isso?"
  • 6:01 - 6:02
    "Onde você estava?"
  • 6:02 - 6:05
    Se a pessoa não fosse comunicativa,
    o padre teria que pressionar um pouco:
  • 6:05 - 6:08
    "Preciso saber: você fez isso ou aquilo?"
  • 6:08 - 6:12
    Isso não era apenas uma linha estranha
    de questionamento para um padre,
  • 6:12 - 6:14
    mas poderia colocar ideias
    na mente da pessoa:
  • 6:14 - 6:17
    "Não fiz isso, mas parece
    uma ótima ideia...
  • 6:17 - 6:18
    Vou experimentar da próxima vez".
  • 6:18 - 6:19
    (Risos)
  • 6:19 - 6:21
    Assim, para contornar esse problema,
  • 6:21 - 6:25
    os padres inventaram subdivisões
    da categoria luxúria,
  • 6:25 - 6:29
    e uma delas era "sodomia".
  • 6:29 - 6:31
    É uma palavra verdadeiramente terrível.
  • 6:31 - 6:35
    Foi usada para justificar
    muita violência contra gays,
  • 6:35 - 6:39
    mas também fez algo incrível e positivo:
  • 6:39 - 6:43
    criou algo do nada;
  • 6:43 - 6:45
    atribuiu uma palavra a um conceito
  • 6:45 - 6:47
    e fez esse conceito existir
  • 6:47 - 6:52
    onde antes havia um vazio
    em nossa linguagem e em nossa mente.
  • 6:52 - 6:55
    Rapidamente após o invento
    da palavra "sodomia",
  • 6:55 - 7:00
    vemos as pessoas começarem a usá-la
    para se referir a si mesmas
  • 7:00 - 7:03
    e, na verdade, para reunir outras pessoas.
  • 7:04 - 7:06
    Rótulos criam solidariedade.
  • 7:06 - 7:10
    Rótulos permitem
    a existência de comunidades.
  • 7:10 - 7:13
    Em minha própria vida,
    esse rótulo era "transgênero".
  • 7:13 - 7:14
    Quando eu era criança,
  • 7:14 - 7:17
    parecia que havia algo errado comigo,
  • 7:17 - 7:18
    que eu era o anormal,
  • 7:18 - 7:20
    e que não havia outra explicação.
  • 7:20 - 7:22
    Eu era apenas esquisito.
  • 7:23 - 7:25
    Mas, quando encontrei
    o rótulo "transgênero"
  • 7:25 - 7:27
    e outras pessoas transgêneras,
  • 7:27 - 7:30
    de repente, soube
    que essa palavra me deixava ver
  • 7:30 - 7:33
    que isso é muito mais do que apenas eu.
  • 7:33 - 7:37
    Não é algo que está em minha mente.
  • 7:37 - 7:41
    Espero que adotemos o poder dos rótulos.
  • 7:41 - 7:42
    Espero que vejamos
  • 7:42 - 7:45
    que, embora a linguagem
    tenha esse peso histórico,
  • 7:45 - 7:48
    e sintamos que temos de seguir
    as regras da gramática,
  • 7:48 - 7:50
    que ela realmente atenda
    às nossas necessidades.
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    A linguagem é útil para nós,
  • 7:52 - 7:54
    e devemos inventar novas palavras,
  • 7:54 - 7:57
    e devemos mudar as regras,
    se elas não nos servirem.
  • 7:57 - 8:02
    Adoro como a comunidade LGBT+
    reformulou palavras antigas,
  • 8:02 - 8:07
    como adotaram termos como "bicha",
    que costumava ter uma conotação negativa,
  • 8:07 - 8:09
    e a transformaram em algo positivo.
  • 8:09 - 8:14
    Adoro como abandonaram termos
    como "transexual" e "homossexual",
  • 8:14 - 8:18
    palavras usadas para nos tratar
    como doentes e "os outros".
  • 8:18 - 8:21
    E adoro como a linguagem
    a respeito de gênero
  • 8:21 - 8:24
    acabou explodindo e assumindo
    um conjunto novo de formas.
  • 8:24 - 8:27
    Estou otimista de que podemos adotá-lo.
  • 8:27 - 8:29
    Acho que precisamos reconhecer
  • 8:29 - 8:35
    que a linguagem não apenas descreve
    ou explica a realidade.
  • 8:35 - 8:37
    Ela a muda.
  • 8:37 - 8:39
    A linguagem é revolucionária.
  • 8:39 - 8:41
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Além de "menino" ou "menina": como rótulos salvam vidas | Alex Myers | TEDxPiscataquaRiver
Description:

"Você é menino ou menina?" foi uma pergunta que Alex Myers ouviu muito quando criança. Por experiência própria e anos educando outras pessoas sobre identidade transgênera, Alex explica como rótulos podem, na verdade, ser libertadores e compartilha uma lição de como a linguagem pode (às vezes sem querer) criar comunidades. Alex Myers é escritor, professor e palestrante. Formado em Phillips Exeter e Harvard, foi o primeiro aluno abertamente transgênero em ambas as instituições. Ensina inglês em Phillips Exeter e é autor de "Revolutionary" (Simon & Schuster, 2014), romance que conta a história de sua antepassada, Deborah Sampson, que se disfarçou de homem para lutar na Guerra de Independência dos Estados Unidos. Alex realiza oficinas e palestras em escolas de todo o país sobre o tema da identidade de gênero e apoio a alunos transgêneros.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
08:50

Portuguese, Brazilian subtitles

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