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O que acontece quando uma cidade fica sem espaço para os mortos | Alison Killing | TEDxGroningen

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    Tenho uma oportunidade
    de investimento para vocês,
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    ignorada, mas potencialmente lucrativa.
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    Nos últimos 10 anos, no Reino Unido,
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    o retorno dos talhões para sepulturas
  • 0:28 - 0:32
    ultrapassou o mercado imobiliário,
    na proporção de uns três para um.
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    Estão a construir-se cemitérios
    com talhões para venda a investidores
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    e o preço inicial é de 3900 libras.
  • 0:40 - 0:44
    Calcula-se que vão atingir
    um crescimento de 40%.
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    A maior vantagem é que isto
    é um mercado de procura permanente.
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    Esta é uma verdadeira proposta.
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    Há empresas que estão
    a propor este investimento
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    mas o meu interesse nisso
    é muito diferente.
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    Sou arquiteta e "designer" urbanista
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    e, no último ano e meio,
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    tenho observado as abordagens à morte
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    e em como isso tem modelado
    as nossas cidades e os seus edifícios.
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    No verão, fiz a primeira exposição
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    sobre a morte e a arquitetura em Veneza
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    a que chamei "Morte em Veneza".
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    Como a morte é um assunto
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    que muita gente considera
    pouco agradável para uma conversa,
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    a exposição foi planeada
    para ser divertida.
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    O meu vídeo não está a correr.
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    Podem arranjar o vídeo?
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    Já está? Ótimo!
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    Como achamos um assunto
    pouco agradável,
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    concebemos a exposição
    para ser divertida,
  • 1:41 - 1:43
    para as pessoas lhes prestarem atenção.
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    Uma das nossas exposições
    era um mapa interativo de Londres
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    que mostrava como grande parte
    dos terremos da cidade
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    estão consagrados à morte.
  • 1:52 - 1:54
    Quando passam a mão por cima do mapa,
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    aparece o nome do espaço,
    do edifício ou do cemitério.
  • 1:59 - 2:02
    Aquelas formas brancas que vemos
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    são os hospitais e os lares de idosos,
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    as casas mortuárias
    e os cemitérios da cidade.
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    Na maioria, são cemitérios.
  • 2:10 - 2:15
    Queríamos mostrar que,
    apesar de a morte e a sepultura
  • 2:15 - 2:17
    serem coisas em que não pensamos,
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    estão à nossa volta
    e são partes importantes das cidades.
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    Morrem cerca de meio milhão de pessoas
    no Reino Unido, por ano
  • 2:25 - 2:28
    e dessas, cerca de um quarto
    querem ser sepultadas.
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    Mas o Reino Unido, tal como
    muitos países da Europa Ocidental,
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    está a ficar sem espaço para sepulturas,
  • 2:34 - 2:36
    especialmente nas principais cidades.
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    A Grande Autoridade de Londres
    tem consciência disso já há tempos
  • 2:40 - 2:43
    e a principal consequência
    do crescimento da população,
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    é que os cemitérios existentes
    estão quase cheios.
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    Há o hábito no Reino Unido
    de as sepulturas serem perpétuas.
  • 2:51 - 2:52
    Também há a pressão urbanística.
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    As pessoas querem usar
    os mesmos terrenos
  • 2:55 - 2:58
    para construir casas,
    escritórios ou lojas.
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    Por isso, arranjam algumas soluções.
  • 3:01 - 3:04
    Por exemplo, talvez se possam
    usar as sepulturas, ao fim de 50 anos.
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    Ou sepultar as pessoas,
    em quatro camadas sobrepostas,
  • 3:07 - 3:10
    quatro pessoas sepultadas no mesmo local
  • 3:10 - 3:13
    e podemos usar o terreno
    mais eficazmente, desse modo.
  • 3:13 - 3:16
    Dessa forma, Londres ainda
    terá espaço para sepultar pessoas
  • 3:16 - 3:18
    num futuro próximo.
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    Mas, tradicionalmente, os cemitérios
    não têm sido objeto de preocupação
  • 3:24 - 3:25
    da autoridade local.
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    O surpreendente é que não há
    qualquer obrigação legal
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    de alguém providenciar
    espaço para sepulturas no Reino Unido.
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    Tradicionalmente, isso tem sido feito
    por organizações privadas e religiosas,
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    como igrejas, mesquitas e sinagogas.
  • 3:40 - 3:44
    Mas também, por vezes,
    por grupos com fins lucrativos
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    que têm querido entrar nessa área.
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    Olham para o pequeno tamanho
    de uma sepultura
  • 3:50 - 3:52
    e para o seu alto preço,
  • 3:52 - 3:54
    e parece que há ali dinheiro a valer.
  • 3:54 - 3:58
    Assim, se quiserem criar
    o vosso cemitério,
  • 3:58 - 4:00
    até podem.
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    Havia um casal no sul de Gales
  • 4:02 - 4:05
    que tinham uma casa rural
    e uma série de terrenos à roda dela.
  • 4:05 - 4:07
    Queriam rentabilizar os terrenos.
  • 4:07 - 4:09
    Tinham uma série de ideias.
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    Primeiro pensaram fazer
    um parque de caravanas,
  • 4:12 - 4:14
    mas o município não permitiu.
  • 4:14 - 4:16
    Depois quiseram fazer
    um centro de aquacultura
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    e o município também não permitiu.
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    Depois, tiveram a ideia
    de fazer um cemitério
  • 4:20 - 4:23
    e calcularam que,
    se fizessem isso,
  • 4:23 - 4:25
    podiam aumentar
    o valor do seu terreno
  • 4:25 - 4:30
    de umas 95 000 libras
    para mais de um milhão de libras.
  • 4:31 - 4:35
    Mas, para voltar à ideia
    de tirar lucros de um cemitério,
  • 4:35 - 4:38
    é uma ideia um pouco bizarra.
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    O que acontece é que o alto custo
    desses talhões para sepulturas
  • 4:42 - 4:44
    é muito enganador.
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    Parece que são caros,
  • 4:46 - 4:50
    mas o custo reflete o facto
    de que é preciso manter a sepultura
  • 4:50 - 4:53
    ou seja, é preciso cortar as ervas
    durante 50 anos.
  • 4:53 - 4:56
    Isso significa que é muito difícil
    ganhar dinheiro com os cemitérios.
  • 4:56 - 4:59
    É essa a razão por que normalmente
    eles são geridos pelo município
  • 4:59 - 5:01
    ou por um grupo sem fins lucrativos.
  • 5:01 - 5:04
    Mas, adiante, o município
    autorizou aquelas pessoas
  • 5:04 - 5:06
    e elas estão agora a tentar
    construir o seu cemitério.
  • 5:06 - 5:09
    Vou explicar como é que isso funciona.
  • 5:09 - 5:12
    Se quisermos construir qualquer coisa
    no Reino Unido,
  • 5:12 - 5:14
    como um cemitério, por exemplo,
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    primeiro temos de apresentar
    um projeto para aprovação.
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    Se eu quiser construir um edifício
    de escritórios para um cliente,
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    ou se quiser ampliar a minha casa
  • 5:23 - 5:27
    ou se tiver uma loja e quiser
    transformá-la num escritório,
  • 5:27 - 5:29
    tenho de fazer uma data de desenhos
  • 5:29 - 5:31
    e apresentá-los ao município,
    para aprovação.
  • 5:31 - 5:35
    Eles vão analisar coisas como
    isso se encaixa no ambiente.
  • 5:35 - 5:37
    Vão observar qual o aspeto que tem.
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    Mas também vão pensar
    qual o impacto que vai ter
  • 5:41 - 5:42
    no ambiente local.
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    Vão pensar em coisas como
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    se vai causar poluição,
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    ou se vai provocar
    muita afluência de trânsito
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    a essa coisa que queremos construir.
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    Mas também há coisas boas.
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    Vão ver se acrescentam serviços locais,
    como lojas nos bairros
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    que as pessoas vão gostar de usar.
  • 5:58 - 6:01
    Vão pesar as vantagens e os inconvenientes
  • 6:01 - 6:03
    e depois, tomam uma decisão.
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    É assim que funciona, se quisermos
    construir um grande cemitério.
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    E se eu tiver um pedaço de terreno
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    e só quiser sepultar
    umas cinco ou seis pessoas?
  • 6:13 - 6:17
    Bom, não é preciso autorização
    de ninguém!
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    Quase não há regulamentação
    no Reino Unido, para sepulturas
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    e o pouco que há refere-se
    a não poluir os cursos de água,
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    não poluir rios ou água subterrânea.
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    Se quisermos fazer um mini-cemitério,
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    podemos fazê-lo.
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    Mas quem é que vai
    fazer uma coisa dessas?
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    Se for uma família aristocrática
    que tiver uma grande propriedade,
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    há a possibilidade de construir aí
    um mausoléu
  • 6:45 - 6:47
    e sepultar aí a família.
  • 6:47 - 6:49
    Mas o que é mesmo esquisito
  • 6:49 - 6:53
    é que não é preciso ter um bocado
    de terreno de determinado tamanho
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    antes de poder começar
    a sepultar pessoas nele.
  • 6:56 - 6:58
    Isso significa que, tecnicamente,
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    isso aplica-se ao quintal
    da nossa casa, nos subúrbios.
  • 7:01 - 7:03
    (Risos)
  • 7:05 - 7:08
    E se quisermos tentar isso
    lá em casa?
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    Há uns municípios que têm
    orientação na sua página na "web"
  • 7:12 - 7:13
    que vos pode ajudar,
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    A primeira coisa que vos dirão
  • 7:15 - 7:19
    é que precisam de ter uma certidão
    de óbito antes de avançar
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    — não podem matar pessoas
    e enterrá-las no pátio.
  • 7:22 - 7:24
    (Risos)
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    Também dirão que precisam
    de manter um registo
  • 7:28 - 7:30
    do local onde está a sepultura.
  • 7:30 - 7:32
    Mas é praticamente só isso,
    quanto a exigências formais.
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    Eles avisam que os vizinhos
    podem não gostar disso
  • 7:35 - 7:39
    mas, legalmente falando, não há
    praticamente nada que eles possam fazer.
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    No caso de qualquer de vocês
    ainda ter essa ideia de lucro na cabeça,
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    sobre quanto custam esses talhões
    para sepultura
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    e quanto dinheiro podem vir a ganhar,
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    também avisam que pode
    fazer baixar o valor da vossa casa
  • 7:52 - 7:54
    em cerca de 20%.
  • 7:54 - 7:56
    Embora seja mais provável
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    que ninguém queira comprar
    a vossa casa, depois disso.
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    O que eu acho fascinante
    em tudo isto
  • 8:02 - 8:05
    é o facto de que resume, de certo modo,
  • 8:05 - 8:08
    muitas das nossas atitudes
    perante a morte.
  • 8:08 - 8:12
    No Reino Unido, e penso que os números
    na Europa devem ser semelhantes,
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    só uns 30% das pessoas dizem a alguém
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    quais são os seus desejos
    em relação à morte
  • 8:17 - 8:19
    e mesmo quanto às pessoas
    acima dos 75 anos
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    só 45% delas falam sobre isso.
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    As razões que as pessoas dão...
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    pensam que a morte vem longe
  • 8:27 - 8:30
    ou pensam que vão incomodar
    as outras pessoas
  • 8:30 - 8:32
    por falarem nisso.
  • 8:32 - 8:33
    E, de certa forma,
  • 8:33 - 8:37
    há outras pessoas
    que se encarregam dessas coisas.
  • 8:37 - 8:41
    O governo tem montes de regulamentos
    e de burocracia em volta de coisas
  • 8:41 - 8:43
    como um enterro, por exemplo,
  • 8:43 - 8:45
    e há pessoas como os agentes funerários
  • 8:45 - 8:48
    que dedicam o seu trabalho
    a esta questão.
  • 8:48 - 8:50
    Mas, quando se trata
    das nossas cidades,
  • 8:50 - 8:52
    e de pensar como é
    que a morte se encaixa nas cidades
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    há muito menos regulamentação
    menos "design" e menos reflexão
  • 8:56 - 8:58
    do que possamos imaginar.
  • 8:58 - 9:00
    Nós não pensamos nisso
  • 9:00 - 9:03
    mas todas as pessoas que imaginamos
    estão a pensar nisso,
  • 9:03 - 9:05
    também não se preocupam com isso.
  • 9:05 - 9:06
    Obrigada.
  • 9:06 - 9:09
    (Aplausos)
Title:
O que acontece quando uma cidade fica sem espaço para os mortos | Alison Killing | TEDxGroningen
Description:

"Se quiserem criar o vosso cemitério" no Reino Unido, diz Alison Killing, "podem fazê-lo". Ela pensa muito sobre onde morremos e somos sepultados e, nesta palestra, a arquiteta e TED Fellow proporciona uma perspetiva económica e social esclarecedora quanto a uma característica quase esgotada das nossas cidades: o cemitério. Falando especificamente das leis no Reino Unido, ela revela as leis fascinantes, por vezes cómicas, frequentemente contraditórias sobre onde podemos ser sepultados.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:24

Portuguese subtitles

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