Reforçar a memória — com o sono

Já nos disseram a todos que tivéssemos uma boa noite de sono antes de um teste — finalmente, aqui está a razão para isso. O cientista do sono Matt Walker explica-nos como dormir o suficiente pode influenciar a forma como o nosso cérebro guarda e processa as memórias.

Quer estejam a empinar para um exame

ou a tentar aprender a tocar
um novo instrumento musical

ou até a tentarem aperfeiçoar
um desporto novo,

o sono pode ser
a vossa arma secreta da memória.

[Dormir com Ciência]

Os estudos dizem-nos que o sono
é fundamental para a memória

pelo menos, de três formas diferentes.

Primeiro, sabemos que é preciso
dormir antes de aprender

para preparar o cérebro,

quase como uma esponja seca,

a postos para absorver
novas informações.

E sem sono, os circuitos da memória
no interior do cérebro

ficam ensopados,

e não somos capazes
de absorver novas informações.

Não podemos depositar com eficiência
esses novos vestígios de memória.

Mas não é apenas importante
dormir antes de aprender,

porque também sabemos que
precisamos de dormir depois de aprender

para carregarmos na tecla "guardar"
dessas memórias

para não as esquecermos.

Na verdade, o sono irá
tornar resistentes essas informações

dentro do cérebro,

cimentando essas memórias

na arquitectura da rede neuronal.

E temos começado a descobrir

como é que o sono consegue
esse benefício de consolidação de memória.

O primeiro mecanismo é
um processo de transferência de ficheiros.

E aqui, podemos falar
de duas estruturas diferentes

dentro do cérebro.

A primeira chama-se hipocampo

e o hipocampo fica
no lado esquerdo e no lado direto

do cérebro.

Podem pensar no hipocampo

como se fosse
a caixa de mensagens do cérebro.

É muito bom a receber
novos ficheiros de memória

e a guardá-los.

A segunda estrutura
de que podemos falar

chama-se o córtex.

Este tecido maciço e enrugado
que fica na parte de cima do cérebro.

E durante o sono profundo,

há um mecanismo
de transferência de ficheiros.

Pensem no hipocampo como uma "pen"

e o córtex como o disco rígido.

E durante o dia, vamos
juntando imensos ficheiros,

mas depois durante
o sono profundo, de noite,

devido à capacidade
limitada de armazenamento

temos de transferir esses ficheiros

do hipocampo para o córtex,
o disco rígido do cérebro.

E esse é um dos mecanismos

que o sono profundo parece ter.

Mas há outro mecanismo
que descobrimos

que ajuda a cimentar
essas memórias no cérebro.

E chama-se reprodução.

Há muitos anos,

os cientistas investigaram
como os ratos aprendiam

enquanto corriam num labirinto.

E registavam a actividade
nas centrais de memória dos ratos.

Enquanto o rato corria no labirinto,

células cerebrais diferentes codificavam
partes diferentes do labirinto.

E então, se acrescentássemos um tom
a cada uma das células do cérebro,

o que ouviríamos
enquanto o rato aprendia o labirinto

seria a assinatura dessa memória.

Soaria mais ou menos como...

(Música de piano animada)

Era esta a assinatura da aprendizagem
que conseguíamos ouvir.

Mas então, eles fizeram algo inteligente.

Continuaram a ouvir o cérebro dos ratos
enquanto eles dormiam,

e o que eles ouviram foi extraordinário.

O rato, enquanto dormia,

começou a reproduzir
a mesma assinatura de memória.

Mas agora reproduzia-a
quase dez vezes mais rápido

do que quando estava acordado.

Por isso agora ouviríamos antes...

(Música de piano animada muito rápida)

Essa parece ser a segunda forma

como o sono pode reforçar essas memórias.

O sono reproduz e marca essas memórias

num circuito novo dentro do cérebro,

reforçando a representação dessa memória.

A última forma como o sono
é benéfico para a memória

é a integração e a associação.

Estamos agora a aprender

que o sono é muito mais inteligente
do que alguma vez imaginámos.

O sono não se limita a reforçar
memórias individuais,

o sono consegue interconectar
novas memórias de forma inteligente.

E por consequência,

podemos acordar no dia seguinte,

com uma rede de associações
revista por toda a mente,

conseguimos pensar em soluções
para problemas antes impenetráveis.

E essa é provavelmente a razão

pela qual nunca nos disseram
para ficarmos acordados sobre um assunto.

Em vez disso, dizem-nos
para dormirmos sobre o assunto,

e é precisamente isso
que a ciência nos ensina.