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Mudar sempre e persistir incansavelmente | Sandra Boteguim | TEDxRiodoSul

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    Nós seremos convidados a tomar decisões
    que podem mudar o rumo da vida da gente.
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    Quer seja ter um filho,
    a escola que a gente vai cursar,
  • 0:28 - 0:31
    onde a gente vai morar,
    os trabalhos que a gente vai ter.
  • 0:31 - 0:33
    Nesses momentos,
    não adianta muito ajudar.
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    A gente tem que olhar
    dentro da alma da gente
  • 0:36 - 0:38
    e ver o que nos agrada,
    o que é que nos diz,
  • 0:38 - 0:39
    e aí decidir.
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    Eu comecei a trabalhar
    com 15 anos no Citibank.
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    Naquela época, não existia e-mail,
    não existia "workflow",
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    existiam algumas meninas que levavam
    papéis de um lado pro outro.
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    De um departamento pro outro.
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    Eu podia, simplesmente, levar papéis,
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    ou podia acreditar que eu estava ajudando
    a fazer um fechamento de câmbio,
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    ajudando a fazer uma operação de CDB.
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    E, com isso, eu comecei a aprender
    o que as pessoas faziam.
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    Eu não só levava papel,
    mas eu tinha a oportunidade de aprender
  • 1:08 - 1:12
    o que as pessoas estavam fazendo,
    e a oportunidade de ajudá-las,
  • 1:12 - 1:14
    caso fosse preciso.
  • 1:15 - 1:18
    E também de me organizar.
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    Então eu não precisava sair
    correndo a cada papel,
  • 1:20 - 1:23
    mas eu sabia a que momento
    eu devia fazer cada coisa.
  • 1:24 - 1:30
    Com isso, fui aprendendo, chegou a época
    em que eu ia fazer a minha faculdade.
  • 1:30 - 1:33
    Eu trabalhava de dia, estudava de noite,
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    e eu não queria fazer cursinho.
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    Decidi que eu ia fazer economia,
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    estudava em escola estadual,
    sempre estudei em escola estadual,
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    e comecei a fazer cursinho
    de finais de semana.
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    Algumas pessoas às vezes dizem: "É difícil
    estudar, porque tenho que trabalhar".
  • 1:48 - 1:53
    Mas para mim era viável
    estudar à noite e trabalhar de dia,
  • 1:53 - 1:55
    e aos finais de semana,
    ao longo de uns quatro meses,
  • 1:55 - 1:57
    eu fiz cursinho aos finais de semana.
  • 1:57 - 1:59
    É possível perguntarem assim:
  • 1:59 - 2:01
    "Que horas você namora?"
    "Que horas encontra os amigos?"
  • 2:01 - 2:04
    Obviamente nesse período,
    eu não fazia nada disso.
  • 2:04 - 2:06
    Mas o namoro aguentou.
  • 2:06 - 2:10
    Consegui entrar na faculdade,
    cursei a faculdade toda,
  • 2:10 - 2:14
    fui trabalhando, e logo o banco
    me promoveu à secretária.
  • 2:14 - 2:18
    E aí tinha uma outra decisão importante:
  • 2:18 - 2:19
    ao decidir ser secretária,
  • 2:19 - 2:23
    a função de secretária naquela época,
    logo ganhava bons salários,
  • 2:23 - 2:25
    porém ela tinha uma carreira limitada.
  • 2:25 - 2:27
    Não era o que eu queria pra mim.
  • 2:27 - 2:29
    Aí eu pedi ao banco que fosse
    pra uma outra função,
  • 2:29 - 2:32
    que eu queria ser trainner,
    que eu queria ser operadora,
  • 2:32 - 2:34
    que eu queria fazer outras coisas.
  • 2:34 - 2:36
    E aí, eu comecei a ter outras atividades.
  • 2:36 - 2:38
    Levava um pouquinho
    mais de tempo pra receber,
  • 2:38 - 2:40
    mas eu sabia que eu ia
    aprender muito mais.
  • 2:42 - 2:46
    Fui trabalhando,
    exercendo essas atividades,
  • 2:46 - 2:50
    até que concluí a faculdade,
    e a faculdade nos sugeriu...
  • 2:51 - 2:53
    Quase ao final da faculdade,
  • 2:53 - 2:57
    alguns professores chamaram
    dez alunos da faculdade
  • 2:57 - 3:01
    e sugeriram se a gente poderia organizar
    um grupo pra estudar pro mestrado.
  • 3:01 - 3:05
    A faculdade também tinha
    poucos mestrandos,
  • 3:05 - 3:09
    e eles achavam que, se nos ajudassem,
    a gente teria potencial pra cursar.
  • 3:09 - 3:13
    Novamente, os finais de semana
    estavam sacrificados.
  • 3:13 - 3:16
    Trabalhava de dia,
    estudava de noite na faculdade,
  • 3:16 - 3:19
    e, aos finais de semana,
    nos preparávamos pro mestrado.
  • 3:19 - 3:25
    No último mês antes do exame do mestrado,
    cinco amigos saímos de férias
  • 3:26 - 3:30
    e passávamos todos os dias,
    de domingo a domingo,
  • 3:30 - 3:32
    nos preparando pra prestar o exame.
  • 3:32 - 3:35
    Entrei no mestrado, mas perdi o namorado.
  • 3:35 - 3:37
    Aí já era demais, não dava.
  • 3:37 - 3:40
    Era muito tempo
    só estudando, só trabalhando.
  • 3:40 - 3:41
    E aí ficamos sem namorar.
  • 3:41 - 3:43
    Mas foi uma boa decisão.
  • 3:43 - 3:47
    Passado um tempo, voltamos a namorar,
    nos casamos e tivemos uma filha.
  • 3:47 - 3:52
    Passados dois anos, era impressionante
    a gente ver, morávamos em São Paulo,
  • 3:52 - 3:56
    sou paulistana,
    nascida na cidade de São Paulo,
  • 3:56 - 4:01
    e havia uma quantidade enorme
    de crianças, naquela época,
  • 4:01 - 4:05
    que limpavam para-brisa de carro,
  • 4:05 - 4:07
    pediam esmola,
  • 4:07 - 4:09
    e a minha filha lá ia estudar.
  • 4:09 - 4:14
    E eu pensava: daqui há alguns anos
    vai ser impossível, ela estar trabalhando,
  • 4:14 - 4:16
    e um monte de gente roubando.
  • 4:16 - 4:19
    Não era difícil imaginar o que ia
    acontecer em São Paulo e no Brasil,
  • 4:19 - 4:22
    e é o que acontece nos dias de hoje.
  • 4:22 - 4:24
    Daí, decidimos mudar pra Blumenau.
  • 4:24 - 4:25
    Mudei pra Blumenau,
  • 4:25 - 4:29
    vim trabalhar numa agência
    do Citibank aqui em Blumenau.
  • 4:29 - 4:31
    E, aqui vim trabalhando,
  • 4:31 - 4:34
    e eu já estava formando
    quase 16 anos de Citibank,
  • 4:34 - 4:37
    e me incomodava virar
    uma plaquinha do Citibank.
  • 4:37 - 4:39
    Era muito cômodo, era confortável,
  • 4:39 - 4:42
    e naquela época era muito comum
    as pessoas entrarem num banco
  • 4:42 - 4:44
    e se aposentarem no mesmo banco.
  • 4:44 - 4:47
    Mas isso para mim não era
    bastante confortável,
  • 4:47 - 4:49
    isso me incomodava bastante.
  • 4:49 - 4:52
    Até porque, aí tenho
    que voltar um pouquinho,
  • 4:52 - 4:54
    logo que eu entrei no Citibank,
  • 4:56 - 4:57
    era uma época de muita transformação,
  • 4:57 - 5:00
    começavam a surgir
    os primeiros computadores,
  • 5:00 - 5:03
    e aí começou um processo
    de demissão de várias pessoas,
  • 5:03 - 5:07
    que pra mim, que tinha 15 anos,
    pessoas de 40 anos eram velhos.
  • 5:07 - 5:11
    E aqueles velhos todos estavam sendo
    mandados embora e morriam, né?
  • 5:11 - 5:15
    Porque... E morriam de verdade, não é?
  • 5:15 - 5:19
    Tinham infarto e tudo porque não tinham
    onde trabalhar e não tinham o que fazer.
  • 5:19 - 5:21
    E eu dizia: "Isso não vai
    acontecer comigo,
  • 5:21 - 5:23
    eu vou me preparar a vida toda
  • 5:23 - 5:27
    e vou me aposentar aos 40 anos, eu paro
    de trabalhar e vou ter o que fazer".
  • 5:27 - 5:29
    E de fato, fui me preparando a vida toda,
  • 5:29 - 5:31
    pra parar de trabalhar
    e arrumar o que fazer.
  • 5:31 - 5:37
    Estava aqui em Blumenau,
    quando começamos a pensar:
  • 5:37 - 5:40
    "O que vou fazer
    na minha segunda carreira?"
  • 5:40 - 5:42
    Não dá pra ser bancária a vida toda.
  • 5:42 - 5:45
    Bancária é uma atividade
    onde você mata um leão por dia,
  • 5:45 - 5:48
    e quando você consegue matar
    um leão por dia, as pessoas perguntam:
  • 5:48 - 5:50
    "Dois acho que é possível,
    talvez uns três..."
  • 5:50 - 5:52
    Então, cada vez você
    vai ter que fazer mais, mais,
  • 5:52 - 5:55
    não é uma atividade
    de gente velha, de verdade.
  • 5:55 - 5:58
    Hoje em dia, 40
    não é mais tão velho, mas...
  • 5:58 - 5:59
    (Risos)
  • 5:59 - 6:03
    assim, aos 60, 70, de fato,
    um bancário de 60 anos é inviável.
  • 6:03 - 6:07
    Aí, bom, continuava trabalhando,
    acabei o meu mestrado,
  • 6:07 - 6:10
    já estava grávida do meu segundo filho,
  • 6:10 - 6:13
    quando recebi um convite
    pra ir pro Banco Nacional.
  • 6:14 - 6:18
    Era um desafio bastante complicado,
    o Banco Nacional era um banco quebrando,
  • 6:18 - 6:20
    um banco brasileiro,
  • 6:20 - 6:23
    havia incontáveis boatos
    de que ele ia quebrar,
  • 6:23 - 6:25
    o Citibank era um banco sólido,
  • 6:25 - 6:28
    mas eu não queria
    virar chapinha do Citibank,
  • 6:28 - 6:31
    aí disse: "Não. Vou pro Banco Nacional".
  • 6:31 - 6:34
    Fui pra lá, conheci o banco,
    começamos a trabalhar,
  • 6:34 - 6:38
    virei diretora de produtos
    e continuei trabalhando.
  • 6:38 - 6:43
    Voltei pra São Paulo, obviamente
    não dava mais pra trabalhar em Blumenau,
  • 6:44 - 6:47
    o sistema financeiro brasileiro
    todo é em São Paulo...
  • 6:47 - 6:51
    Aí voltei pra lá,
    mas aí o casamento acabou.
  • 6:51 - 6:58
    E aí continuei, continuei trabalhando,
    e o meu segundo filho já tinha nascido.
  • 6:58 - 7:02
    Um dia, recebi o convite
    pra trabalhar no BankBoston.
  • 7:02 - 7:08
    Um banco pequeno, sem nenhuma tradição
    de produto de "cash management".
  • 7:08 - 7:11
    Produtos de cash management
    são produtos de serviço,
  • 7:11 - 7:15
    cobranças, pagamentos,
    que requer rede de agências,
  • 7:15 - 7:16
    e que todo mundo dizia:
  • 7:16 - 7:20
    "É impossível ser um grande banco
    de serviços, sem ter rede de agências".
  • 7:20 - 7:23
    Era um desafio importante,
    porque eu acreditava que era possível,
  • 7:23 - 7:27
    mas tinha que ter alguma coisa a mais,
    eu sou movida a desafios,
  • 7:27 - 7:30
    eu acredito que ninguém
    pode fazer sucesso,
  • 7:30 - 7:33
    ninguém pode ser bem-sucedido, se estiver
    fazendo aquilo que todo mundo faz.
  • 7:34 - 7:36
    Se você estiver numa multidão,
  • 7:36 - 7:39
    e numa fazenda as pessoas
    dizem ser uma vaca cabeceira,
  • 7:39 - 7:41
    se todas as vacas
    tiverem o mesmo tamanho,
  • 7:41 - 7:43
    se todas elas são iguais,
    todas são iguais.
  • 7:43 - 7:46
    Se tiver uma cabeceira,
    uma que saia de cima,
  • 7:46 - 7:47
    é aquela que você vai ver.
  • 7:47 - 7:50
    Se você estiver fazendo o que todo
    mundo faz, ninguém vai lhe notar.
  • 7:50 - 7:53
    Então você tem que fazer
    uma coisa diferente.
  • 7:53 - 7:56
    Eu tinha a oportunidade, se fosse
    pro Boston, de fazer uma coisa diferente.
  • 7:56 - 7:59
    E aí a minha filha
    deu uma ajuda fundamental.
  • 7:59 - 8:01
    Ela me fez três perguntas
    que decidiram por mim.
  • 8:01 - 8:04
    Ela tinha dez anos e me perguntou:
  • 8:06 - 8:07
    "Viaja menos?"
  • 8:07 - 8:09
    Eu viajava muito no Banco Nacional.
  • 8:09 - 8:12
    O Banco Nacional ficava no Rio,
    eu morava em São Paulo,
  • 8:13 - 8:17
    além de todas as viagens
    pelo resto dos núcleos do país.
  • 8:18 - 8:20
    Eu falei: "Não, viaja menos,
    não vou dizer que não viaja nunca,
  • 8:20 - 8:22
    mas obviamente viaja menos".
  • 8:22 - 8:24
    "Ganha menos?"
    Eu disse: "Não".
  • 8:24 - 8:26
    Ela tinha dez anos.
  • 8:26 - 8:30
    Exatamente deste jeito
    ela perguntou: "Ganha menos?"
  • 8:30 - 8:33
    Eu disse: "Não, não vou ficar rica,
    mas, obviamente, ganha mais".
  • 8:33 - 8:36
    "Você gosta de ficar sempre fora de casa,
    e não saber nada que acontece?"
  • 8:36 - 8:37
    Eu disse: "Claro que não!"
  • 8:37 - 8:39
    E, obviamente, ela tinha decidido.
  • 8:39 - 8:42
    Como eu vou dizer
    pra minha filha de dez anos
  • 8:42 - 8:44
    que eu gosto de não saber
    nada do que acontece?
  • 8:44 - 8:45
    Foi uma excelente decisão!
  • 8:45 - 8:50
    Um ano depois, o Banco Nacional quebrou
    e eu estava no BankBoston;
  • 8:50 - 8:53
    com a oportunidade
    de transformar o BankBoston
  • 8:53 - 8:55
    num dos maiores bancos de serviço do país.
  • 8:55 - 8:58
    E, de fato, o BankBoston se tornou,
    ao longo de alguns anos,
  • 8:58 - 9:03
    um dos maiores bancos de serviços do país,
    com uma equipe de pessoas fantásticas.
  • 9:03 - 9:07
    Pessoas que, de fato, trabalhamos juntas,
    de fato desenvolvemos vários produtos,
  • 9:07 - 9:09
    indo nos clientes,
    entendendo o que eles fazem,
  • 9:09 - 9:15
    transformando os produtos não com tanta
    tecnologia, não com tanto dinheiro,
  • 9:15 - 9:19
    mas com muita criatividade,
    com muito esforço, com muito empenho.
  • 9:19 - 9:23
    Cada dia a gente fazia uma coisa
    diferente, uma inovação, alguma coisa,
  • 9:23 - 9:26
    que fazia com que os clientes
    cada vez ficassem mais.
  • 9:26 - 9:31
    Diversas vezes o Bradesco, o Itaú
    procuravam a gente e diziam assim:
  • 9:31 - 9:33
    "Eu tenho certeza que você
    é maior que a gente".
  • 9:33 - 9:34
    "Mas é claro que não!"
  • 9:34 - 9:38
    Com certeza seria melhor eles acharem
    que eu sou pequenininha.
  • 9:38 - 9:39
    "Com certeza vocês são maiores!"
  • 9:39 - 9:42
    Eles diziam: "Se a gente olhar
    que vocês têm o ticket grande
  • 9:42 - 9:46
    e a gente tem o ticket pequeno,
    com certeza você é maior."
  • 9:46 - 9:50
    Bom, com isso foi passando, e com isso
    tanto eu quanto o pessoal da minha equipe
  • 9:50 - 9:52
    recebíamos convite de tudo que é banco.
  • 9:52 - 9:56
    HSBC, Santander, Real...
    Os bancos iam fazendo convite.
  • 9:56 - 10:00
    A minha decisão foi de continuar
    no BankBoston, era muito...
  • 10:00 - 10:01
    trabalhava muito bem,
  • 10:01 - 10:04
    era muito agradável,
    uma equipe fantástica.
  • 10:04 - 10:07
    Pessoas do banco, de modo geral,
    que trabalhávamos juntos,
  • 10:07 - 10:10
    dava uma enorme satisfação
    ver a pessoa da portaria dizer:
  • 10:10 - 10:12
    "Olha, o cliente tal falou isso".
  • 10:12 - 10:16
    O garçom do restaurante dizer: "Olha,
    Sandra, aconteceu isso", não sei o quê.
  • 10:16 - 10:18
    Então, era um banco
    em que trabalhávamos juntos.
  • 10:18 - 10:22
    Talvez não junto com todas as pessoas,
    mas, pelo menos com a nossa equipe,
  • 10:22 - 10:24
    trabalhava bastante junto.
  • 10:24 - 10:27
    Virei vice-presidente do BankBoston,
  • 10:27 - 10:30
    quando o Banco Itaú comprou o BankBoston.
  • 10:31 - 10:34
    Pra mim, eu tinha certeza
    que sairia do Banco Itaú
  • 10:34 - 10:38
    porque todos os estatutários,
    são aqueles que assinam pelo banco,
  • 10:38 - 10:40
    invariavelmente, saem do banco.
  • 10:41 - 10:46
    Fui convidada a ficar e, caso eu ficasse,
    o banco faria uma única área de produtos.
  • 10:46 - 10:50
    Se eu não ficasse, eles iriam deixar
    as áreas todas quebradas.
  • 10:50 - 10:52
    Eles tinham várias áreas de produtos.
  • 10:53 - 10:56
    Em respeito a todos os meus funcionários
    e a tudo que a gente tinha feito junto,
  • 10:56 - 10:58
    eu achei que eu tinha que ficar.
  • 10:58 - 11:00
    Por mais que eu já tivesse
    a fazenda em Rio do Sul,
  • 11:00 - 11:03
    por mais que desde os 40 anos
  • 11:03 - 11:06
    a gente já tinha um plano
    de vir pra cá, de fazer a fazenda,
  • 11:06 - 11:08
    todo fim de semana a gente já vinha pra cá
  • 11:08 - 11:12
    pra poder um dia realizar o plano de sair,
  • 11:12 - 11:15
    mais uma vez eu tinha que postergar
    o plano da aposentadoria
  • 11:15 - 11:18
    e ficar no Banco Itaú.
  • 11:18 - 11:21
    Uma fantástica experiência,
    um banco grande,
  • 11:21 - 11:23
    um banco com muitas coisas pra fazer,
  • 11:23 - 11:25
    um banco com muita tecnologia.
  • 11:25 - 11:29
    E trabalhamos até que em 2008,
    fui diagnosticada com câncer,
  • 11:29 - 11:33
    mas continuei trabalhando,
    mesmo com câncer, mesmo no hospital
  • 11:33 - 11:35
    ainda respondia e-mail, fazia tudo.
  • 11:35 - 11:38
    E superei, já faz dez anos,
    e nunca tive nada.
  • 11:41 - 11:43
    Passou mais dois anos, resolvi sair.
  • 11:43 - 11:46
    Aí já era hora de sair,
    já tinha feito o que tinha que fazer.
  • 11:46 - 11:49
    Já tinha feito, inclusive,
    a fusão com o Unibanco.
  • 11:49 - 11:52
    Fusão é juntar os dois bancos,
    que é outra experiência fantástica.
  • 11:52 - 11:55
    Juntei os dois bancos,
    já tinha tudo sido feito.
  • 11:55 - 11:58
    Aí era hora de aposentar,
    realmente aposentei.
  • 11:58 - 12:01
    Já estava aqui, fiquei aqui
    quase uns seis meses,
  • 12:01 - 12:06
    quando fui convidada
    pra montar o banco Original.
  • 12:06 - 12:10
    Era um banco totalmente digital, do nada,
  • 12:10 - 12:12
    que não tinha coisa nenhuma;
    começar do zero.
  • 12:12 - 12:16
    Um desafio fantástico,
    outra coisa que ninguém nunca fez, né?
  • 12:16 - 12:18
    Outra coisa que tinha como fazer.
  • 12:18 - 12:19
    Aí voltei.
  • 12:19 - 12:22
    Voltei, fiquei mais dois anos,
    montei o banco.
  • 12:22 - 12:24
    Quando de fato o banco já estava montado,
  • 12:24 - 12:26
    eu já tinha equipe, já tinha gente,
  • 12:26 - 12:28
    aí vim pra cá e já estou aqui
    há cinco anos.
  • 12:28 - 12:31
    E aí, a pergunta que vem é:
    "Como é que esse negócio,
  • 12:31 - 12:35
    de office-girl se vira diretora
    executiva de um grande banco,
  • 12:35 - 12:36
    ou se vira presidente de um banco?"
  • 12:36 - 12:40
    Eu fui presidente do banco Original.
    E se vira presidente de um banco?
  • 12:40 - 12:44
    Olha, eu às vezes pensava assim:
    "É trabalho duro, né?"
  • 12:44 - 12:49
    Varei incontáveis noites em cada plano,
    e aqui, só uma brincadeirinha, né,
  • 12:49 - 12:53
    aqui no Brasil, bancários
    vararam noites e finais de semana
  • 12:53 - 12:56
    pra abrir banco
    com duas moedas, uma moeda.
  • 12:56 - 12:59
    E cada plano era uma invenção diferente.
  • 13:00 - 13:04
    A gente ficou abismado lá no Boston,
    uma vez que recebemos um e-mail que dizia:
  • 13:04 - 13:06
    "Daqui a um ano, haverá o euro".
  • 13:06 - 13:08
    A gente olhava e dizia: "Um ano?!"
  • 13:08 - 13:09
    (Risos)
  • 13:09 - 13:12
    Um ano era pra preparar, que ela seria
    uma única moeda, de todas as moedas.
  • 13:12 - 13:16
    A gente dizia: "Fizemos isso
    em um fim de semana incontáveis vezes".
  • 13:16 - 13:18
    Mas a Europa levou um ano pra fazer...
  • 13:18 - 13:21
    Eles se planejaram, deu tudo certo,
    mas a gente fez várias vezes isso
  • 13:21 - 13:22
    em um fim de semana.
  • 13:23 - 13:27
    Bom, tudo isso, tudo isso,
    talvez eles fossem mais organizados...
  • 13:29 - 13:31
    Mas também lá, eles são
    bancários mais velhos,
  • 13:31 - 13:36
    aqui os bancários têm que ser jovens,
    isso a gente dizia bastante.
  • 13:36 - 13:40
    Dá pra viver em ritmo de plano bastante,
    só que as pessoas morrem.
  • 13:40 - 13:43
    Elas morrem, a gente joga fora,
    começa de novo.
  • 13:45 - 13:50
    Bom, aposentei, vim pra cá
  • 13:50 - 13:53
    e de office-girl virei diretora.
  • 13:53 - 13:55
    Foi com muito trabalho, muito empenho,
  • 13:55 - 13:58
    foi trabalhando em conjunto,
    trabalhando em equipe, foi planejando.
  • 13:58 - 14:02
    Mas eu acho que a coisa mais importante,
    mais importante, é fazer diferente.
  • 14:02 - 14:05
    É não querer fazer igual,
    é sair da zona de conforto,
  • 14:05 - 14:08
    é fazer aquilo que as outras pessoas
    não estão fazendo.
  • 14:08 - 14:10
    É arriscado? Claro que é!
  • 14:10 - 14:12
    Você está fazendo aquilo
    que ninguém está fazendo.
  • 14:12 - 14:15
    É ultraconfortável fazer aquilo
    que as pessoas estão fazendo.
  • 14:15 - 14:17
    Se errar, errou com todo mundo.
  • 14:17 - 14:18
    Porém, se acertar,
  • 14:18 - 14:22
    você acertou com todo mundo,
    não tem nenhum grande diferencial.
  • 14:22 - 14:23
    Pra mim deu certo.
  • 14:23 - 14:26
    E uma carreira bem-sucedida,
    mudar por quê?
  • 14:26 - 14:28
    Mudar porque não dá
    pra ser bancário há 60 anos.
  • 14:28 - 14:30
    De fato, é inviável.
  • 14:30 - 14:34
    E mudando, por que mudar
    pra um mundo que é 100% virtual,
  • 14:34 - 14:38
    num banco tudo é virtual,
    pra um mundo 100% real?
  • 14:39 - 14:43
    Bom, já tinha esse plano
    da fazenda há alguns anos, né?
  • 14:43 - 14:47
    A gente já vinha fazendo, e tem essa coisa
    de 100% real, 100% virtual.
  • 14:48 - 14:51
    Dá muito equilíbrio, dá bastante
    controle pras pessoas.
  • 14:51 - 14:54
    Eu tinha, às vezes, a impressão
    de que você chega no banco,
  • 14:54 - 14:57
    tem uma crise, e as coisas vão acontecer.
  • 14:57 - 15:00
    De um dia pro outro, você vai
    conseguir um sistema novo,
  • 15:00 - 15:04
    você vai conseguir um processo diferente,
    você vai conseguir alguma coisa.
  • 15:04 - 15:07
    Não adianta gritar com uma vaca,
    leva nove meses pro bezerro nascer.
  • 15:07 - 15:11
    Não adianta discutir com o milho,
    ele tem o tempo dele pra maturar,
  • 15:11 - 15:13
    pra você poder colher.
  • 15:13 - 15:15
    Essas coisas dão equilíbrio,
    pra você saber
  • 15:15 - 15:18
    que mesmo que você tenha a impressão
    de que você vai gritar com alguém
  • 15:18 - 15:21
    e as coisas vão acontecer,
    tudo tem seu tempo.
  • 15:21 - 15:24
    Você tem que respeitar
    o tempo das pessoas.
  • 15:24 - 15:26
    Você tem que respeitar
    o tempo dos animais.
  • 15:26 - 15:28
    Respeitar o tempo da natureza.
  • 15:28 - 15:31
    Então, essas coisas me davam equilíbrio,
    e ao longo de muitos anos
  • 15:31 - 15:36
    vivi essas duas coisas,
    desde os 40 anos até os 60 anos
  • 15:36 - 15:39
    fui vivendo, assim, dos dois lados.
  • 15:39 - 15:42
    E por que uma fazenda? Por que Rio do Sul?
  • 15:42 - 15:45
    Meu segundo marido era daqui
  • 15:45 - 15:47
    e não só a gente precisa
    manter o homem no campo,
  • 15:47 - 15:51
    mas a gente também precisa trazer
    as pessoas da cidade pro campo,
  • 15:51 - 15:53
    com todos os conhecimentos
    que as pessoas têm.
  • 15:54 - 15:55
    Trabalho é trabalho.
  • 15:55 - 15:58
    Qualquer trabalho depende
    50% de inspiração,
  • 15:58 - 16:03
    50% de criatividade, disciplina,
    trabalho árduo e determinação.
  • 16:03 - 16:07
    Qualquer trabalho é a mesma coisa:
    requer foco, requer metas,
  • 16:07 - 16:08
    requer organização.
  • 16:09 - 16:12
    Tem que ter planejamento,
    tem que ter organização,
  • 16:12 - 16:13
    tem que fazer reunião.
  • 16:13 - 16:16
    E não importa se as pessoas
    são alfabetizadas ou não,
  • 16:16 - 16:18
    não importa se elas têm mestrado ou não.
  • 16:18 - 16:19
    As pessoas entendem.
  • 16:19 - 16:22
    Dá muito orgulho, você conversar
    com uma pessoa
  • 16:22 - 16:24
    e a esposa de um caminhoneiro dizer assim:
  • 16:24 - 16:27
    "Dona Sandra, conseguimos
    ontem 41 carretas,
  • 16:27 - 16:28
    mas amanhã nós vamos fazer mais".
  • 16:28 - 16:31
    Porque todo mundo sabia
    o que aquilo significava,
  • 16:31 - 16:33
    todo mundo sabia o que a gente esperava,
  • 16:33 - 16:34
    e o resultado daquilo.
  • 16:34 - 16:37
    Então não importa se você está
    no meio da Berrini,
  • 16:37 - 16:42
    ou se você está numa fazenda de gado,
    na verdade, as coisas são as mesmas.
  • 16:42 - 16:43
    E agora?
  • 16:43 - 16:46
    Agora a gente tem
    uma fazenda de gado de leite,
  • 16:46 - 16:48
    estamos rumando pra gado de corte.
  • 16:49 - 16:52
    Em inúmeras razões,
    a gente prefere ficar com o corte.
  • 16:52 - 16:55
    Fizemos um grande processo
    de fertirrigação,
  • 16:55 - 16:58
    não chega a ser orgânica,
  • 16:58 - 17:02
    mas a gente reduz bastante o uso de adubo
  • 17:02 - 17:04
    e consegue dar um uso adequado
  • 17:04 - 17:09
    pra todo adubo e pra todo estrume
    que as vacas geram.
  • 17:09 - 17:13
    E agora, estamos num projeto
    junto com o pessoal de Pomerode
  • 17:13 - 17:15
    pra fazer um biodigestor,
    esse ainda está começando.
  • 17:15 - 17:18
    E onde mais a gente vai? Não sei.
  • 17:18 - 17:20
    Não dá também pra parar de trabalhar.
  • 17:20 - 17:24
    Não dá pra trabalhar 40 anos
    ou 60 anos, e esperar viver mais 60.
  • 17:24 - 17:25
    A minha mãe tem 100.
  • 17:26 - 17:28
    (Risos)
  • 17:28 - 17:30
    Bom... É verdade!
  • 17:31 - 17:33
    Portanto, a gente tem
    que, ao longo da vida,
  • 17:33 - 17:35
    ver se a gente está
    fazendo uma coisa adequada,
  • 17:35 - 17:38
    se a gente está sendo feliz,
    se gosta do que está fazendo,
  • 17:38 - 17:39
    e aí continuar.
  • 17:39 - 17:41
    Se a vida mudou, se o cenário mudou,
  • 17:41 - 17:42
    a gente tem que se planejar.
  • 17:42 - 17:45
    Não dá pra ser macaco,
    não dá pra pular de galho em galho,
  • 17:45 - 17:48
    mas também não dá pra ser
    um burro e ficar estacado,
  • 17:48 - 17:50
    porque um dia decidiu
    uma coisa, ficar naquilo.
  • 17:50 - 17:53
    A gente tem que sempre planejar
    e ficar no equilíbrio.
  • 17:53 - 17:55
    A gente persistir e desistir.
  • 17:56 - 17:59
    E encerrando, com a frase do livro
    "A Insustentável Leveza do Ser"
  • 17:59 - 18:01
    de Milan Kundera:
  • 18:01 - 18:05
    "A vida humana só acontece uma vez,
    e a gente jamais vai ter a oportunidade
  • 18:05 - 18:08
    de saber se a gente tomou
    uma boa ou uma má decisão,
  • 18:08 - 18:11
    porque em todas as situações,
    nós só vamos poder decidir uma vez.
  • 18:11 - 18:16
    Nós nunca vamos ter uma segunda,
    uma terceira, uma quarta decisão
  • 18:16 - 18:18
    pra poder decidir
    se a decisão foi boa ou não".
  • 18:19 - 18:21
    Eu sempre acho que a gente
    tem que fazer alguma coisa
  • 18:21 - 18:25
    que nossa alma diga que "Isso é bom",
    aprender com ela e seguir em frente.
  • 18:26 - 18:30
    Então um dia me convidaram pra vir aqui,
    foi uma grande oportunidade de aprender,
  • 18:30 - 18:32
    uma grande oportunidade
    de dizer o que eu fiz na vida.
  • 18:32 - 18:34
    Então, muito obrigada.
  • 18:34 - 18:37
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Mudar sempre e persistir incansavelmente | Sandra Boteguim | TEDxRiodoSul
Description:

Que importância você dá ao trabalho?!

Esse tema pode gerar muitos questionamentos e opiniões, mas afinal o que importa é estar em um local onde você se identifica com a atividade que exerce.
E tem alguém que pode falar sobre a relação do trabalho e a qualidade de vida, pois descobriu que estar de bem consigo é parte desta frase: temos mesmo é que trabalhar muito!

Sandra Boteguim traz para o palco um tema recorrente de forma encantadora!

Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pós-graduada em PDG - Programa de Desenvolvimento Gerencial, tem 45 anos de atuação no mercado financeiro, onde destaca-se: Citibank (Tesouraria e Operações), Banco Nacional (Nichos de mercado e Diretora de Produtos Pessoa Jurídica), Bank of America (Marketing e Vice-Presidente de Produtos), Banco Itaú (Diretora Executiva de Produtos Pessoa Jurídica) e Banco Original (Responsável pelo desenvolvimento do projeto do primeiro Banco Digital). Além dessa bagagem, é administradora da Agropecuária Urucurana: Fazenda Paulista, articulista e palestrante. Momentos de Decisão.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:40

Portuguese, Brazilian subtitles

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