Deveríamos simplificar a ortografia? | Karina Galperin | TEDxRiodelaPlata
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0:10 - 0:15Perdemos muito tempo na escola,
aprendendo ortografia. -
0:15 - 0:22As crianças continuam perdendo
muito tempo na escola com ortografia. -
0:22 - 0:27Por isso quero compartilhar
com vocês uma pergunta. -
0:27 - 0:31Precisamos de uma nova ortografia?
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0:31 - 0:33Eu acho que sim. Precisamos.
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0:33 - 0:38Ou melhor, acho que precisamos
simplificar a que já temos. -
0:38 - 0:43Nem a pergunta nem a resposta
são novas em nossa língua. -
0:43 - 0:47Elas ressurgem de século em século
já faz muito tempo. -
0:47 - 0:53Desde que, em 1492, na primeira gramática
da língua castelhana, -
0:53 - 0:58Antonio de Nebrija definiu para nossa
ortografia um princípio claro e simples: -
0:58 - 1:01temos que escrever como pronunciamos
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1:01 - 1:04e pronunciar como escrevemos.
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1:04 - 1:07A cada som deveria corresponder uma letra.
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1:07 - 1:10Cada letra deveria
representar um único som. -
1:10 - 1:17E as que não representam nenhum som
deveriam ser eliminadas. -
1:17 - 1:19Esse critério, o critério fonético,
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1:19 - 1:23que diz que temos que escrever
conforme pronunciamos, -
1:23 - 1:28está e não está na base
da ortografia que usamos hoje. -
1:28 - 1:32Está, porque o espanhol,
diferentemente de outras línguas, -
1:32 - 1:34como o inglês e o francês,
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1:34 - 1:36sempre teve uma resistência forte
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1:36 - 1:41a escrever muito diferente
de como pronunciamos. -
1:41 - 1:44Mas não está, porque, quando no século 18
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1:44 - 1:47foi decidido como iríamos
uniformizar nossa escrita -
1:47 - 1:52outro critério orientou
boa parte das decisões. -
1:52 - 1:55Esse outro critério foi o etimológico,
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1:55 - 1:57o que diz que temos que escrever
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1:57 - 2:00conforme as palavras eram escritas
em sua língua original, -
2:00 - 2:02em latim, em grego.
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2:02 - 2:06E assim continuamos com "h" mudo,
que escrevemos mas não pronunciamos. -
2:06 - 2:09Assim, ficamos com "b" longo e "v" curto,
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2:09 - 2:12que, ao contrário
do que muita gente acredita, -
2:12 - 2:16nunca se diferenciaram
na pronúncia do castelhano. -
2:16 - 2:20Assim, ficamos com o "g", que às vezes
soa áspero, como em "gente", -
2:20 - 2:23e às vezes soa suave, como em "gato".
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2:23 - 2:27Assim ficamos com "c", "s" e "z",
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2:27 - 2:30três letras que em alguns lugares
correspondem a um som, -
2:30 - 2:35e em outros a dois, mas em nenhum a três.
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2:35 - 2:37Não estou falando nada
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2:37 - 2:40que vocês não saibam
por experiência própria. -
2:40 - 2:43Todos nós fomos à escola.
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2:43 - 2:48Todos nós investimos grandes
quantidades de tempo de aprendizado, -
2:48 - 2:53grandes quantidades desse tempo
de cérebro plástico e infantil -
2:53 - 2:55em ditados,
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2:55 - 3:00na memorização de regras ortográficas
cheias de exceções. -
3:00 - 3:04Nos transmitiram de muitas formas,
implícitas e explícitas, -
3:04 - 3:06a ideia de que na ortografia
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3:06 - 3:10havia algo fundamental
para nossa formação. -
3:10 - 3:13Mas eu tenho a sensação
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3:13 - 3:17de que os professores não se perguntaram
por que era tão importante. -
3:17 - 3:20Inclusive, não fizeram
uma pergunta anterior. -
3:20 - 3:23Qual era a função da ortografia?
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3:23 - 3:28Para que serve a ortografia?
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3:28 - 3:30E a verdade é que, quando alguém
se faz essa pergunta, -
3:30 - 3:34a resposta é muito mais simples
e menos transcendental -
3:34 - 3:36do que se costuma acreditar.
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3:36 - 3:40A ortografia serve
para uniformizar a escrita, -
3:40 - 3:42para que todos possamos escrever igual,
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3:42 - 3:48e, portanto, seja mais fácil
nos entender quando lemos. -
3:48 - 3:51Mas em contraposição
com outros aspectos da língua, -
3:51 - 3:53como a pontuação, por exemplo,
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3:53 - 3:59na ortografia não há nenhuma habilidade
expressiva individual envolvida. -
3:59 - 4:01Na pontuação, sim.
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4:01 - 4:05Com a pontuação posso escolher
alterar o sentido de uma frase. -
4:05 - 4:06Com a pontuação
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4:06 - 4:11posso dar um ritmo particular
ao que estou escrevendo. -
4:11 - 4:13Com a ortografia, não.
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4:13 - 4:17Com a ortografia,
ou está bom ou está ruim, -
4:17 - 4:21conforme se ajusta ou não
às normas vigentes. -
4:21 - 4:26Mas então, não seria mais sensato
simplificar as normas vigentes -
4:26 - 4:33para que seja mais fácil ensinar, aprender
e utilizar corretamente a ortografia? -
4:33 - 4:38Não seria mais sensato
simplificar as normas vigentes -
4:38 - 4:39para que todo esse tempo
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4:39 - 4:43que hoje dedicamos ao ensino da ortografia
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4:43 - 4:46pudesse ser dedicado
a outras questões da língua -
4:46 - 4:50cuja complexidade, sim,
merece tempo e esforço? -
4:52 - 4:57O que proponho não é abolir a ortografia,
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4:57 - 5:01não é que cada um escreva como queira.
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5:01 - 5:05A língua é uma ferramenta de uso comum,
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5:05 - 5:11e portanto me parece fundamental
que a usemos seguindo critérios comuns. -
5:11 - 5:13Mas também me parece fundamental
-
5:13 - 5:17que esses critérios comuns
sejam o mais simples possível, -
5:17 - 5:21sobretudo porque,
se simplificamos nossa ortografia, -
5:21 - 5:24não estamos nivelando por baixo.
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5:24 - 5:27Quando se simplifica a ortografia,
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5:27 - 5:31não se diminui em nada
a qualidade da língua. -
5:31 - 5:35Eu trabalho todos os dias
com a literatura do Século de Ouro. -
5:35 - 5:39Leio Garcilaso, Cervantes,
Góngora, Quevedo, -
5:39 - 5:42que às vezes escrevem "hombre" sem "h".
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5:42 - 5:45Às vezes escrevem
"escribir" com "v" curto. -
5:45 - 5:48E para mim é absolutamente claro
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5:48 - 5:53que a diferença entre esses textos
e os nossos é de convenção, -
5:53 - 5:56ou ainda de falta de convenção
na época deles. -
5:56 - 6:00Mas não de qualidade.
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6:00 - 6:02Mas deixem-me voltar aos professores,
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6:02 - 6:06porque são personagens chave
nesta história. -
6:06 - 6:11Eu mencionava há pouco
essa insistência um pouco irreflexiva -
6:11 - 6:13com que os professores
nos esmagam e esmagam -
6:13 - 6:15com a ortografia.
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6:15 - 6:19Mas o certo é que,
estando as coisas como estão, -
6:19 - 6:21isso faz todo sentido.
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6:21 - 6:23Na nossa sociedade,
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6:23 - 6:26a ortografia funciona
como um índice privilegiado -
6:26 - 6:31que permite distinguir o culto do bruto,
o educado do ignorante, -
6:31 - 6:36independentemente do conteúdo
que se está escrevendo. -
6:36 - 6:39Uma pessoa pode conseguir
ou deixar de conseguir um trabalho -
6:39 - 6:42por causa de um "h"
que usou ou deixou de usar. -
6:42 - 6:45Alguém pode ser motivo de piada
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6:45 - 6:48por causa de um "b" mal colocado.
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6:48 - 6:50Então, nesse contexto,
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6:50 - 6:55claro que faz sentido dedicar
todo esse tempo à ortografia. -
6:55 - 6:57Mas não podemos esquecer
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6:57 - 7:00que ao longo da história da nossa língua
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7:00 - 7:02foram sempre os professores
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7:02 - 7:06ou indivíduos ligados
ao ensino das primeiras letras -
7:06 - 7:09os que impulsionaram
as reformas ortográficas, -
7:09 - 7:11os que se deram conta
de que em nossa ortografia -
7:11 - 7:15às vezes havia um obstáculo
para a transmissão do conhecimento. -
7:15 - 7:17Em nosso caso, por exemplo,
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7:17 - 7:22Sarmiento, junto com Andrés Bello,
impulsionou a maior reforma ortográfica -
7:22 - 7:25que efetivamente ocorreu
na língua espanhola, -
7:25 - 7:29que foi a do Chile,
em meados do século 19. -
7:31 - 7:36Por que então não assumir
o lugar desses professores -
7:36 - 7:39e começar a avançar em nossa ortografia?
-
7:39 - 7:43Eu aqui, na intimidade de 10 mil pessoas,
-
7:43 - 7:44queria pôr sobre a mesa
-
7:44 - 7:49algumas modificações que me parecem
razoáveis para começar a discutir. -
7:50 - 7:52Eliminemos o "h" mudo.
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7:52 - 7:57Onde escrevemos o "h",
mas não pronunciamos nada, -
7:57 - 7:59não vamos escrever nada. (Aplausos)
-
7:59 - 8:02Me custa acreditar no apego sentimental
-
8:02 - 8:07que pode justificar para alguém todos
os problemas que causam um "h" mudo. -
8:07 - 8:09"B" longo e "v" curto, dizíamos antes,
-
8:09 - 8:12nunca se distinguiram
na língua castelhana. -
8:12 - 8:13(Aplausos)
-
8:13 - 8:15Vamos escolher um. Pode ser qualquer um.
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8:15 - 8:17Podemos sentar, discutir,
-
8:17 - 8:20cada um terá suas preferências,
cada um poderá argumentar. -
8:20 - 8:23Fiquemos com uma, eliminemos a outra.
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8:23 - 8:26"G" e "j", vamos dividir suas funções.
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8:26 - 8:31Que o "g" fique com o som suave
de "gato", "mago", "águila". -
8:31 - 8:34E que o "j" fique com o som áspero.
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8:34 - 8:39"Jarabe", "jirafa", "gente", "argentino".
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8:40 - 8:45E "c", "s" e "z" são um caso interessante
-
8:45 - 8:49porque mostra que o critério
fonético deve ser um guia, -
8:49 - 8:52mas não pode ser um princípio absoluto.
-
8:52 - 8:57Em alguns casos as diferenças
de pronúncia devem ser seguidas. -
8:57 - 9:00Agora, eu dizia antes, "c", "s" e "z",
-
9:00 - 9:03em alguns lugares, correspondem
a um som, em outros a dois, -
9:03 - 9:08se passamos de três letras para duas
ficaremos todos melhor. -
9:10 - 9:14Para alguns, estas mudanças
podem parecer um pouco drásticas. -
9:14 - 9:17Não são tanto assim.
-
9:17 - 9:20A Real Academia Espanhola,
todas as academias de língua -
9:20 - 9:25também acreditam que a ortografia
deve ir se modificando, -
9:25 - 9:30que a língua está ligada à história,
às tradições e aos costumes, -
9:30 - 9:34mas também é uma ferramenta
prática de uso cotidiano, -
9:34 - 9:39e às vezes esse apego à história,
às tradições e aos costumes -
9:39 - 9:44se transforma em um obstáculo
para o uso atual. -
9:45 - 9:48Isso explica, de fato, que nossa língua,
-
9:48 - 9:54muito mais do que as que conhecemos,
que as que temos perto geograficamente, -
9:54 - 9:56foi se modificando historicamente.
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9:56 - 10:01Nós, por exemplo, fomos
de "orthographia" para "ortografía", -
10:01 - 10:05fomos de "theatro" para "teatro",
fomos de "quantidad" para "cantidad", -
10:05 - 10:08fomos de "symbolo" para "símbolo".
-
10:08 - 10:13E aos poucos agora começam a se retirar
sigilosamente alguns "h" mudos. -
10:13 - 10:16No Dicionário da Real Academia,
-
10:16 - 10:21"arpa", "armonía", podem
ser escritas com ou sem "h". -
10:21 - 10:24E estamos todos bem.
-
10:25 - 10:28Também me parece
-
10:28 - 10:34que este é um momento particularmente
apropriado para encarar essa discussão. -
10:34 - 10:39Sempre nos dizem que a língua
muda espontaneamente, -
10:39 - 10:41de baixo para cima,
-
10:41 - 10:44que são os usuários
que incorporam palavras novas, -
10:44 - 10:47que introduzem modificações gramaticais,
-
10:47 - 10:51e que a autoridade,
em alguns lugares uma academia, -
10:51 - 10:56em outros lugares um dicionário,
em outros um ministério, -
10:56 - 11:00muito tempo depois, as aceita e incorpora.
-
11:00 - 11:04Isso é certo só para alguns
níveis da língua, -
11:04 - 11:07é certo lexicamente,
para o nível das palavras, -
11:07 - 11:11é menos certo gramaticalmente,
-
11:11 - 11:15e quase, eu diria,
não é certo ortograficamente, -
11:15 - 11:19que sempre, historicamente,
mudou de cima para baixo. -
11:19 - 11:21Foram sempre as instituições
-
11:21 - 11:26que fixaram as normas
e propuseram modificações. -
11:26 - 11:31Por que digo que este é um momento
particularmente apropriado? -
11:31 - 11:33Até hoje,
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11:33 - 11:39a escrita sempre teve um uso muito
mais restrito e privado do que a fala. -
11:40 - 11:44Mas em nossa época,
a época das redes sociais, -
11:44 - 11:47isso está sofrendo
uma mudança revolucionária. -
11:48 - 11:51Nunca se escreveu tanto como agora.
-
11:51 - 11:56Nunca tantos escreveram tanto
aos olhos de tantos. -
11:56 - 11:59E nessas redes sociais, pela primeira vez,
-
11:59 - 12:04estamos vendo em grande escala
usos ortográficos novos. -
12:04 - 12:09Onde inclusive gente
de ortografia impecável, supereducada, -
12:09 - 12:13quando escreve nas redes sociais
se comporta de modo bem parecido -
12:13 - 12:17ao modo como se comporta a maioria
dos usuários das redes sociais. -
12:17 - 12:21Quero dizer, relaxam
na correção ortográfica -
12:21 - 12:25e priorizam a velocidade
e a eficácia na comunicação. -
12:26 - 12:31Por ora, existem usos
caóticos, individuais, -
12:31 - 12:34mas me parece que temos
que prestar atenção neles, -
12:34 - 12:36porque provavelmente estão nos dizendo
-
12:36 - 12:41que uma época que atribui
à escrita um lugar novo -
12:41 - 12:46está pedindo critérios novos
para essa escrita. -
12:46 - 12:51Creio que seria ruim
rejeitá-los, descartá-los, -
12:51 - 12:56porque os identificamos como sintomas
da decadência cultural da nossa época. -
12:56 - 13:01Não. Creio que temos que observá-los,
ordená-los e conduzi-los -
13:01 - 13:07dentro de uma normativa mais afim
com as necessidades de nossos tempos. -
13:08 - 13:12Posso antecipar algumas objeções.
-
13:13 - 13:15Alguns dirão
-
13:15 - 13:20que, se simplificarmos a ortografia,
vamos perder a etimologia. -
13:21 - 13:24A rigor, se quiséssemos
conservar a etimologia -
13:24 - 13:26não o conseguiríamos com a ortografia.
-
13:26 - 13:31Além disso, deveríamos
aprender latim, grego, árabe. -
13:31 - 13:36Com uma ortografia simplificada,
vamos recuperar a etimologia -
13:36 - 13:41no mesmo lugar em que recuperamos agora,
nos dicionários etimológicos. -
13:42 - 13:45Uma segunda objeção seria a dos que dizem:
-
13:45 - 13:49"Se simplificarmos a ortografia,
vamos deixar de distinguir entre si -
13:49 - 13:52palavras que hoje se diferenciam
com uma só letra". -
13:52 - 13:56Isso é verdade, mas não é um problema.
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13:56 - 14:01Nossa língua tem homônimos,
tem palavras com mais de um significado -
14:01 - 14:03e não confundimos:
-
14:03 - 14:06o "banco" onde nos sentamos
com o "banco" onde depositamos dinheiro, -
14:06 - 14:09o "traje" que vestimos
com as coisas que "trajimos". -
14:09 - 14:16Na maioria das situações,
o contexto dissipa qualquer confusão. -
14:17 - 14:20Mas existe uma terceira objeção.
-
14:22 - 14:28Para mim, a mais compreensível.
Inclusive, a mais comovente. -
14:28 - 14:32Que é a dos que dizem: "Não quero mudar.
-
14:32 - 14:36Eu me eduquei assim,
me acostumei dessa maneira. -
14:36 - 14:40Quando leio uma palavra escrita
com ortografia simplificada -
14:40 - 14:42me doem os olhos".
-
14:42 - 14:44(Risos)
-
14:44 - 14:49Essa objeção, em parte, está
dentro de cada um de nós. -
14:50 - 14:51O que acho que devemos fazer?
-
14:51 - 14:54Fazer como sempre se faz nesses casos.
-
14:54 - 14:56As mudanças se fazem para frente.
-
14:56 - 14:59Ensinando para as crianças
as normas novas. -
14:59 - 15:04Para os que não querem, deixamos
escrever como estão acostumados. -
15:04 - 15:08E se espera que o tempo
consolide as novas normas. -
15:09 - 15:15O êxito de toda reforma ortográfica,
que toca em hábitos tão arraigados, -
15:15 - 15:21está na prudência, no consenso,
na gradatividade e na tolerância. -
15:21 - 15:25Mas também não podemos deixar
que o apego aos velhos costumes -
15:25 - 15:28nos impeça de seguir adiante.
-
15:28 - 15:32A melhor homenagem
que podemos fazer ao passado -
15:32 - 15:35é melhorar o que recebemos.
-
15:35 - 15:37Assim, creio que temos
que entrar em um acordo, -
15:37 - 15:40que as academias
têm que entrar em um acordo -
15:40 - 15:43e limpar da nossa ortografia
-
15:43 - 15:49todos esses hábitos que usamos porque
os recebemos, e que não nos servem mais. -
15:49 - 15:53Eu estou convencida
de que, se fizermos isso -
15:53 - 15:57no âmbito modesto,
mas importantíssimo da língua, -
15:57 - 16:00vamos deixar para as próximas gerações
-
16:00 - 16:03um futuro melhor.
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16:03 - 16:06(Aplausos)
- Title:
- Deveríamos simplificar a ortografia? | Karina Galperin | TEDxRiodelaPlata
- Description:
-
Quanto tempo e energia dedicamos para aprender ortografia? Vale a pena?
Que opções temos? Karina tem uma proposta que pode nos surpreender.Karina é doutora em Línguas e Literaturas Românicas da Universidade de Járbard, além de licenciada em letras e em ciências políticas da Universidade de Buenos Aires. É professora na Universidade di Tela e diretora do mestrado em Jornalismo em UTDT/La Nación.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
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- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 16:24