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Como é ser um pai transgênero

  • 0:01 - 0:04
    Certa manhã, fui à mercearia
    e um funcionário me cumprimentou:
  • 0:04 - 0:07
    "Bom dia, senhor, posso ajudá-lo?"
  • 0:07 - 0:09
    Eu disse: "Não, obrigado".
  • 0:10 - 0:11
    Ele sorriu e seguimos nossos caminhos.
  • 0:11 - 0:14
    Peguei um pacote de cereais
    e saí da mercearia.
  • 0:14 - 0:16
    Passei pelo "drive-through"
    de uma cafeteria local.
  • 0:16 - 0:19
    Depois de fazer meu pedido,
    a voz do outro lado disse:
  • 0:19 - 0:22
    "Obrigado, senhora. Dirija com cuidado".
  • 0:22 - 0:26
    Em menos de uma hora, fui chamado
    de "senhor" e de "senhora".
  • 0:27 - 0:29
    Para mim, nenhuma
    dessas pessoas estava errada,
  • 0:29 - 0:31
    mas elas também não estavam
    totalmente certas.
  • 0:32 - 0:36
    Esta gracinha é minha filha Elliot,
    de quase dois anos.
  • 0:36 - 0:38
    É, pois é.
  • 0:39 - 0:40
    Nos últimos dois anos,
  • 0:40 - 0:43
    esta criança me forçou a repensar
    o mundo e a maneira como faço parte dele.
  • 0:43 - 0:48
    Eu me identifico como transgênero
    e como pai: um pai transgênero.
  • 0:48 - 0:50
    (Risos)
  • 0:51 - 0:52
    (Aplausos)
  • 0:52 - 0:54
    (Vivas)
  • 0:54 - 0:56
    (Aplausos)
  • 1:00 - 1:03
    Como podem ver, levei o tema
    deste ano bem a sério
  • 1:03 - 1:04
    (Risos)
  • 1:04 - 1:07
    como qualquer boa piada
    de pai deveria ser.
  • 1:08 - 1:10
    Eu me identifico especificamente
    como não binário.
  • 1:10 - 1:12
    Há muitas maneiras
    de viver sendo não binário,
  • 1:12 - 1:16
    mas, para mim, não me identifico
    como homem nem como mulher.
  • 1:16 - 1:19
    Eu me sinto no meio e, às vezes,
    fora desse binário de gênero.
  • 1:20 - 1:21
    Ficar de fora desse binário de gênero
  • 1:21 - 1:25
    significa ser chamado de "senhor"
    e de "senhora" em menos de uma hora,
  • 1:25 - 1:27
    ao fazer coisas cotidianas,
    como comprar cereais.
  • 1:28 - 1:30
    Mas, no meio, é onde fico
    mais confortável.
  • 1:30 - 1:34
    Este espaço onde posso ser homem e mulher
    parece ser o mais correto e autêntico.
  • 1:35 - 1:38
    Mas não significa que essas interações
    não causem desconforto.
  • 1:38 - 1:41
    O desconforto pode variar
    do pequeno aborrecimento
  • 1:41 - 1:42
    à sensação de insegurança física.
  • 1:42 - 1:44
    Como no bar da faculdade,
  • 1:44 - 1:46
    quando um segurança
    me tirou de lá pela nuca
  • 1:46 - 1:48
    e me expulsou do banheiro feminino.
  • 1:49 - 1:52
    Mas, para mim, autenticidade
    não significa "conforto".
  • 1:52 - 1:55
    Significa gerenciar e negociar
    o desconforto da vida cotidiana,
  • 1:55 - 1:56
    até mesmo quando não for seguro.
  • 1:57 - 1:59
    Quando minha experiência como transgênero
  • 1:59 - 2:01
    entrou em conflito
    com minha identidade paterna,
  • 2:01 - 2:04
    passei a entender como eu era vulnerável
  • 2:04 - 2:07
    e como isso me impedia de ser eu mesmo.
  • 2:08 - 2:12
    A maioria das pessoas não pensa muito
    em como serão chamadas por seus filhos,
  • 2:12 - 2:14
    além de palavras específicas,
  • 2:14 - 2:18
    ou variações sobre um tema de gênero
    como "mamãe", "mãe", ou "papai", "pai".
  • 2:18 - 2:21
    Mas, para mim, os modos
    possíveis dessa criança,
  • 2:21 - 2:24
    que será um adolescente
    e depois um adulto na vida real,
  • 2:24 - 2:28
    me chamar pelo resto de nossas vidas
    era extremamente assustador e emocionante.
  • 2:29 - 2:32
    Passei nove meses lutando com a realidade
    de ser chamado de "mamãe"
  • 2:32 - 2:34
    ou de algo que não se parecia nada comigo.
  • 2:35 - 2:38
    Não importava quantas vezes
    ou quantas versões de "mãe" eu tentava,
  • 2:38 - 2:40
    sempre parecia forçado
    e profundamente desconfortável.
  • 2:41 - 2:45
    Eu sabia que ser chamado de "mãe"
    seria mais aceitável para a maioria.
  • 2:45 - 2:47
    A ideia de ter duas mães
    não é muito recente,
  • 2:47 - 2:49
    principalmente onde moramos.
  • 2:50 - 2:51
    Tentei outras palavras.
  • 2:51 - 2:54
    Quando eu experimentava
    "papai", parecia melhor.
  • 2:55 - 2:56
    Melhor, mas não perfeito.
  • 2:57 - 2:59
    Parecia um par de sapatos
    de que gostamos muito,
  • 2:59 - 3:01
    mas que precisamos usar e nos acostumar.
  • 3:02 - 3:05
    Eu sabia que a ideia de ter nascido
    mulher e ser chamado de "papai"
  • 3:05 - 3:08
    seria um caminho mais difícil,
    com muito mais momentos desconfortáveis.
  • 3:08 - 3:11
    Mas, antes de eu perceber,
    tinha chegado a hora
  • 3:11 - 3:14
    e Elliot veio chorando ao mundo,
    como a maioria dos bebês,
  • 3:14 - 3:16
    e minha nova identidade como pai começou.
  • 3:16 - 3:19
    Decidi me tornar pai, e nossa nova
    família enfrentou o mundo.
  • 3:20 - 3:23
    Quando as pessoas nos conhecem,
    uma das coisas mais comuns
  • 3:23 - 3:25
    é elas me chamarem de "mãe".
  • 3:25 - 3:28
    Quando me chamam assim,
    a interação pode ocorrer de várias formas.
  • 3:28 - 3:32
    Desenhei este mapa para ajudar
    a ilustrar minhas opções.
  • 3:32 - 3:33
    (Risos)
  • 3:33 - 3:36
    A opção um é ignorar
    o que as pessoas presumem
  • 3:36 - 3:39
    e permitir que elas continuem
    se referindo a mim como "mãe",
  • 3:39 - 3:44
    o que não é estranho para os outros,
    mas é normalmente muito estranho para nós.
  • 3:44 - 3:47
    Geralmente, isso me faz restringir
    minha interação com essas pessoas.
  • 3:47 - 3:49
    Opção um.
  • 3:49 - 3:52
    A opção dois é parar e corrigi-las
  • 3:52 - 3:53
    e dizer algo do tipo:
  • 3:53 - 3:56
    "Na verdade, sou o pai de Elliot",
    ou "Elliot me chama de papai".
  • 3:56 - 3:59
    Quando faço isso, acontece
    uma dessas duas coisas:
  • 4:00 - 4:03
    As pessoas entendem e dizem
    algo como: "Ah, está bem".
  • 4:03 - 4:04
    E seguem em frente.
  • 4:04 - 4:07
    Ou respondem desculpando-se muito,
  • 4:07 - 4:10
    porque se sentem mal, constrangidas,
    culpadas ou estranhas.
  • 4:10 - 4:14
    Mas, muitas vezes, as pessoas
    ficam muito confusas,
  • 4:14 - 4:17
    levantam os olhos com um olhar
    intenso e dizem algo como:
  • 4:17 - 4:19
    "Isso significa que você quer mudar?
  • 4:19 - 4:21
    Quer ser homem?"
  • 4:21 - 4:22
    Ou dizem coisas como:
  • 4:22 - 4:24
    "Como ela pode ser pai?
  • 4:24 - 4:25
    Só homens podem ser pais".
  • 4:26 - 4:29
    A opção um é muitas vezes
    o caminho mais fácil.
  • 4:29 - 4:31
    A opção dois é sempre a mais autêntica.
  • 4:31 - 4:35
    Todos esses cenários envolvem um nível
    de desconforto, mesmo no melhor caso.
  • 4:35 - 4:38
    Com o tempo, minha capacidade
    de navegar neste mapa complicado
  • 4:38 - 4:39
    tem ficado mais fácil.
  • 4:39 - 4:41
    Mas o desconforto ainda está lá.
  • 4:42 - 4:46
    Não vou ficar aqui e fingir
    que domino isso, muito pelo contrário.
  • 4:46 - 4:49
    Há dias em que ainda permito
    que a opção um aconteça,
  • 4:49 - 4:51
    porque a opção dois
    é muito difícil ou arriscada.
  • 4:52 - 4:55
    Não dá para ter certeza
    da reação de ninguém,
  • 4:55 - 4:58
    e quero ter certeza de que
    as pessoas têm boas intenções,
  • 4:58 - 5:00
    que elas são boas.
  • 5:00 - 5:03
    Mas vivemos em um mundo
    onde a opinião de alguém sobre mim
  • 5:03 - 5:05
    pode ser recebida
    com sérias ameaças para mim
  • 5:05 - 5:08
    ou para a segurança emocional
    e física de minha família.
  • 5:08 - 5:11
    Então, peso os prós e contras,
  • 5:12 - 5:16
    e, às vezes, a segurança de minha família
    vem antes de minha própria autenticidade.
  • 5:17 - 5:20
    Mas, apesar desse risco,
    sei que, conforme Elliot cresce
  • 5:20 - 5:22
    e desenvolve sua consciência
    e habilidades linguísticas,
  • 5:22 - 5:25
    se eu não corrigir as pessoas, ela o fará.
  • 5:26 - 5:29
    Não quero que meus medos
    e inseguranças sejam colocados nela
  • 5:29 - 5:32
    para reprimir seu espírito
    e fazê-la questionar sua própria voz.
  • 5:32 - 5:35
    Preciso modelar a ação,
    a autenticidade e a vulnerabilidade,
  • 5:35 - 5:39
    o que significa se apoiar nos momentos
    desconfortáveis de ser chamado de "mãe",
  • 5:39 - 5:41
    tomar partido e dizer: "Não, sou pai.
  • 5:41 - 5:44
    Tenho até as piadas de pai
    para provar isso".
  • 5:44 - 5:45
    (Risos)
  • 5:46 - 5:50
    Já houve muitos momentos desconfortáveis
    e até mesmo alguns dolorosos.
  • 5:50 - 5:52
    Mas também houve,
    em apenas dois breves anos,
  • 5:52 - 5:55
    momentos de validação e, às vezes,
    de transformação em minha jornada como pai
  • 5:55 - 5:58
    e em meu caminho rumo à autenticidade.
  • 5:58 - 6:00
    Com nosso primeiro ultrassom,
  • 6:00 - 6:03
    decidimos que queríamos
    saber o sexo do bebê.
  • 6:03 - 6:07
    O técnico viu uma vulva, bateu
    as palavras "É uma menina" na tela,
  • 6:07 - 6:09
    deu uma cópia para nós e fomos embora.
  • 6:09 - 6:12
    Compartilhamos a foto com nossas famílias,
  • 6:12 - 6:15
    e, logo depois, minha mãe apareceu
    em nossa casa com uma sacola cheia.
  • 6:15 - 6:17
    E não estou exagerando.
  • 6:17 - 6:22
    Era desta altura, cheia, transbordando
    de roupas e brinquedos cor-de-rosa.
  • 6:23 - 6:26
    Eu estava um pouco aborrecido
    por me defrontar com muitas coisas rosa,
  • 6:26 - 6:28
    tendo estudado gênero
  • 6:28 - 6:31
    e passado incontáveis horas ensinando
    sobre isso em oficinas e salas de aula.
  • 6:31 - 6:35
    Eu pensava que sabia muito
    sobre a construção social de gênero,
  • 6:35 - 6:37
    sobre como o machismo
    é uma desvalorização do feminino
  • 6:37 - 6:40
    e se manifesta explícita e implicitamente.
  • 6:41 - 6:45
    Mas essa situação, essa aversão
    a uma sacola cheia de coisas cor-de-rosa
  • 6:45 - 6:49
    me forçou a explorar minha rejeição
    de coisas altamente feminizadas
  • 6:49 - 6:50
    no mundo de minha filha.
  • 6:51 - 6:54
    Percebi que eu estava
    reforçando o machismo
  • 6:54 - 6:56
    e as normas culturais
    que eu ensinava como problemáticas.
  • 6:57 - 7:00
    Não importa o quanto eu acreditava
    na neutralidade de gênero na teoria,
  • 7:00 - 7:05
    na prática, a ausência de feminilidade
    não é neutralidade, é masculinidade.
  • 7:06 - 7:09
    Se eu vestir meu bebê
    apenas de verde, azul e cinza,
  • 7:09 - 7:13
    o mundo externo não vai achar:
    "Ah, é uma graça de bebê sem gênero".
  • 7:13 - 7:16
    As pessoas vão achar:
    "Ah, que menino bonitinho".
  • 7:17 - 7:21
    Então, minha compreensão teórica de gênero
    e meu mundo como pai entraram em conflito.
  • 7:21 - 7:24
    Sim, quero que minha filha experimente
    uma diversidade de cores e brinquedos.
  • 7:24 - 7:28
    Quero que ela explore um ambiente
    equilibrado que faça sentido a ela.
  • 7:28 - 7:31
    Até escolhemos um nome neutro
    para nossa criança nascida menina.
  • 7:31 - 7:35
    Mas a neutralidade de gênero
    é muito mais fácil como um esforço teórico
  • 7:35 - 7:36
    do que como prático.
  • 7:37 - 7:39
    Em minhas tentativas de criar
    neutralidade de gênero,
  • 7:39 - 7:43
    eu estava privilegiando sem querer
    a masculinidade sobre a feminilidade.
  • 7:43 - 7:47
    Em vez de reduzir ou eliminar
    a feminilidade de nossas vidas,
  • 7:47 - 7:49
    fazemos um esforço conjunto
    para glorificá-la.
  • 7:49 - 7:52
    Temos cor-de-rosa
    entre a variedade de cores,
  • 7:52 - 7:56
    equilibramos as gracinhas com os bonitões
    e as lindas com os fortes e inteligentes
  • 7:56 - 7:59
    e trabalhamos duro para não associar
    nenhuma palavra a gênero.
  • 7:59 - 8:01
    Valorizamos a feminilidade
    e a masculinidade
  • 8:01 - 8:03
    ao mesmo tempo
    que somos altamente críticos.
  • 8:03 - 8:07
    Fazemos o melhor para não fazê-la
    se sentir limitada por papéis de gênero.
  • 8:07 - 8:09
    Fazemos tudo isso na esperança de modelar
  • 8:09 - 8:12
    uma relação saudável e fortalecida
    com o gênero para nossa filha.
  • 8:13 - 8:16
    Esse trabalho para desenvolver
    essa relação para Elliot
  • 8:16 - 8:20
    me fez repensar e avaliar como
    eu permitia o machismo se manifestar
  • 8:20 - 8:21
    em minha própria identidade de gênero.
  • 8:22 - 8:24
    Comecei a reavaliar
    como eu rejeitava a feminilidade
  • 8:24 - 8:27
    para justificar uma masculinidade
    que não era saudável,
  • 8:27 - 8:29
    ou algo que eu queria transmitir.
  • 8:30 - 8:33
    Fazer essa autoavaliação
    significava rejeitar a opção um.
  • 8:33 - 8:35
    Não dava para ignorar e continuar.
  • 8:35 - 8:36
    Eu tinha que escolher a opção dois.
  • 8:37 - 8:39
    Eu tinha que lidar com
    minhas partes desconfortáveis
  • 8:39 - 8:41
    para chegar ao meu mais autêntico eu.
  • 8:41 - 8:45
    Eu precisava cair na real sobre
    o desconforto que tenho com meu corpo.
  • 8:46 - 8:50
    É muito comum os transgêneros
    se sentirem desconfortáveis em seu corpo,
  • 8:50 - 8:52
    e esse desconforto pode variar
    de debilitante a irritante
  • 8:52 - 8:54
    e tudo o mais nesse meio.
  • 8:54 - 8:57
    Conhecer meu corpo e me sentir
    confortável nele como transgênero
  • 8:57 - 8:59
    tem sido uma longa jornada.
  • 8:59 - 9:03
    Sempre lutei com as partes de meu corpo
    definidas como mais femininas:
  • 9:03 - 9:06
    meu peito, meus quadris, minha voz.
  • 9:06 - 9:09
    Tomei a decisão
    às vezes difícil, às vezes fácil
  • 9:09 - 9:12
    de não tomar hormônios ou fazer
    qualquer cirurgia para mudar isso
  • 9:12 - 9:14
    e me tornar mais masculino
    pelos padrões da sociedade.
  • 9:15 - 9:19
    Embora eu certamente não tenha superado
    todos os sentimentos de insatisfação,
  • 9:19 - 9:21
    percebi que, ao não me envolver
    com esse desconforto
  • 9:21 - 9:24
    e chegar a um lugar positivo
    e afirmativo com meu corpo,
  • 9:24 - 9:28
    eu reforçava o machismo, a transfobia
    e formava a vergonha do corpo.
  • 9:29 - 9:30
    Se eu odiar meu corpo,
  • 9:30 - 9:33
    especificamente as partes
    que a sociedade considera femininas,
  • 9:33 - 9:37
    prejudico a forma como minha filha
    pode ver as possibilidades de seu corpo
  • 9:37 - 9:39
    e suas partes femininas.
  • 9:40 - 9:42
    Se odeio ou me sinto
    desconfortável com meu corpo,
  • 9:42 - 9:44
    como posso esperar
    que minha filha ame o dela?
  • 9:46 - 9:48
    Seria mais fácil para mim
    escolher a opção um:
  • 9:49 - 9:53
    ignorar minha filha quando ela perguntar
    sobre meu corpo ou escondê-lo dela.
  • 9:53 - 9:55
    Mas tenho que escolher
    a opção dois todos os dias.
  • 9:56 - 10:00
    Preciso enfrentar minhas suposições
    de como um corpo de pai pode e deve ser.
  • 10:00 - 10:03
    Trabalho todos os dias para me sentir
    mais confortável neste corpo
  • 10:03 - 10:05
    e no modo como expresso a feminilidade.
  • 10:05 - 10:08
    Falo mais sobre isso, exploro
    a fundo esse desconforto
  • 10:08 - 10:11
    e encontro uma linguagem
    que me deixa confortável.
  • 10:11 - 10:14
    Esse desconforto diário me ajuda
    a construir ação e autenticidade
  • 10:14 - 10:16
    no modo como apareço
    em meu corpo e gênero.
  • 10:17 - 10:19
    Estou trabalhando
    contra limitar a mim mesmo.
  • 10:19 - 10:21
    Quero mostrar a ela
    que um pai pode ter quadris,
  • 10:21 - 10:26
    não precisa ter peito perfeitamente plano,
    nem mesmo deixar crescer a barba.
  • 10:26 - 10:28
    E, quando ela estiver preparada,
  • 10:28 - 10:31
    quero conversar com ela
    sobre minha jornada com meu corpo.
  • 10:31 - 10:33
    Quero que ela veja
    minha busca em ser autêntico
  • 10:33 - 10:36
    mesmo quando for para mostrar a ela
    as partes mais confusas.
  • 10:37 - 10:39
    Temos um pediatra maravilhoso
  • 10:39 - 10:42
    e um bom relacionamento
    com o médico de nossa filha.
  • 10:42 - 10:45
    Como todos sabem,
    embora o médico continua o mesmo,
  • 10:45 - 10:47
    os enfermeiros mudam.
  • 10:47 - 10:50
    Quando Elliot nasceu,
    nós a levamos ao pediatra
  • 10:50 - 10:53
    e conhecemos nossa primeira enfermeira;
    vamos chamá-la de Sarah.
  • 10:53 - 10:55
    Logo de início,
  • 10:55 - 10:58
    dissemos a Sarah que eu seria chamado
    de "pai" e minha parceira de "mãe".
  • 10:58 - 11:00
    Sarah foi uma dessas pessoas que entendeu,
  • 11:00 - 11:03
    e nossas visitas posteriores
    correram muito bem.
  • 11:03 - 11:05
    Um ano depois, Sarah trocou de turno
  • 11:05 - 11:08
    e começamos a trabalhar com uma nova
    enfermeira; vamos chamá-la de Becky.
  • 11:08 - 11:10
    Não tivemos conversas diretas
  • 11:10 - 11:13
    até que Sarah, nossa primeira
    enfermeira, entrou para dizer olá.
  • 11:14 - 11:17
    Sarah é cordial e alegre e disse olá
    para Elliot, para mim e minha esposa
  • 11:17 - 11:20
    e, quando conversava
    com Elliot, disse algo como:
  • 11:20 - 11:22
    "Seu pai está segurando seu brinquedo?"
  • 11:22 - 11:25
    Pelo canto do olho, pude ver Becky
    voltar-se bruscamente em sua cadeira
  • 11:25 - 11:27
    e olhar feio para Sarah.
  • 11:28 - 11:30
    E como a conversa mudou
    para o nosso pediatra,
  • 11:30 - 11:34
    vi a interação de Sarah e Becky
    continuar, e foi algo assim:
  • 11:34 - 11:38
    Becky: balançando a cabeça em sinal
    de "não" e murmurando a palavra "mãe";
  • 11:39 - 11:43
    Sarah: balançando a cabeça em sinal
    de "não" e murmurando: "não, pai".
  • 11:43 - 11:45
    (Risos)
  • 11:46 - 11:47
    Estranho, não?
  • 11:47 - 11:51
    Isso aconteceu em total silêncio
    mais algumas vezes até que nos afastamos.
  • 11:52 - 11:54
    Essa interação me marcou.
  • 11:54 - 11:56
    Sarah poderia ter escolhido a opção um,
  • 11:56 - 11:59
    ignorado Becky e a deixado
    me chamar de mãe.
  • 11:59 - 12:01
    Teria sido mais fácil para Sarah.
  • 12:01 - 12:05
    Ela poderia ter devolvido para mim
    a responsabilidade ou não ter dito nada.
  • 12:05 - 12:08
    Mas, naquele momento,
    ela escolheu a opção dois.
  • 12:08 - 12:11
    Ela escolheu enfrentar o que se presumia
    e confirmar minha existência.
  • 12:11 - 12:15
    Ela insistia que uma pessoa com minha voz
    e aparência não podia, de fato, ser pai.
  • 12:15 - 12:17
    E, de modo leve, mas significativo,
  • 12:17 - 12:20
    ela veio em minha defesa e na defesa
    de minha autenticidade e família.
  • 12:22 - 12:26
    Infelizmente, vivemos em um mundo
    que se recusa a reconhecer os transgêneros
  • 12:26 - 12:29
    e sua diversidade em geral.
  • 12:30 - 12:32
    Minha esperança é que,
    quando tivermos uma oportunidade
  • 12:32 - 12:34
    de tomar partido de alguém,
  • 12:34 - 12:37
    todos nós façamos como Sarah,
    mesmo quando houver riscos envolvidos.
  • 12:39 - 12:43
    Há dias em que o risco de ser pai
    não binário parece muito grande.
  • 12:43 - 12:46
    E decidir ser pai tem sido
    realmente difícil.
  • 12:46 - 12:48
    Tenho certeza que continuará
    a ser a experiência
  • 12:48 - 12:50
    mais difícil e gratificante de minha vida.
  • 12:51 - 12:54
    Mas, apesar desse desafio,
    todo dia vale 100% a pena.
  • 12:55 - 12:58
    A cada dia, confirmo
    minha promessa a Elliot
  • 12:58 - 13:00
    e a mesma promessa a mim mesmo:
  • 13:00 - 13:02
    amá-la e amar a mim mesmo
  • 13:02 - 13:05
    com perdão e compaixão,
  • 13:05 - 13:07
    com amor resistente e generosidade,
  • 13:07 - 13:11
    dar espaço ao crescimento,
    ir além do conforto,
  • 13:11 - 13:13
    na esperança de alcançar
    e viver uma vida mais significativa.
  • 13:14 - 13:16
    Sei, na mente e no coração,
  • 13:16 - 13:19
    que haverá dias difíceis, dolorosos
    e desconfortáveis pela frente.
  • 13:19 - 13:21
    A mente e o coração
    também sabem que tudo isso
  • 13:21 - 13:24
    levará a uma vida mais rica e autêntica,
  • 13:24 - 13:26
    da qual eu possa não me arrepender
    quando olhar para trás.
  • 13:26 - 13:27
    Obrigado.
  • 13:27 - 13:29
    (Aplausos)
Title:
Como é ser um pai transgênero
Speaker:
LB Hannahs
Description:

LB Hannahs compartilha, de forma sincera, a experiência de ser pai e transgênero, e o que isso pode nos ensinar sobre autenticidade e defesa. "Autenticidade não significa 'conforto'. Significa gerenciar e negociar o desconforto da vida cotidiana", diz Hannahs.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
13:44

Portuguese, Brazilian subtitles

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