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O que a minha mãe me disse: sobrevivente do Holocausto | Edith Eva Eger | TEDxLaJolla

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    Seria um privilégio para mim
    se me permitissem,
  • 0:18 - 0:21
    durante os poucos minutos
    que me concederam,
  • 0:22 - 0:24
    ser a vossa mamã,
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    ser a vossa avó,
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    ser a vossa bisavó.
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    (Risos)
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    Tenho aqui quatro gerações.
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    É uma felicidade estar aqui convosco.
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    Se me permitirem,
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    vou levar-vos numa viagem.
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    Quero contar-vos
    o que a minha mãe me disse
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    que mudou totalmente a minha vida
  • 0:50 - 0:53
    — o passado e o presente.
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    A época é 1944.
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    O meu pai, a minha irmã Magda e eu,
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    e a minha mamã
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    estávamos a caminho de Auschwitz.
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    A minha mãe abraçou-me e disse-me:
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    "Não sabemos para onde vamos.
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    "Não sabemos o que vai acontecer.
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    "Mas lembra-te,
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    "Ninguém te pode tirar
    o que puseres aqui na tua cabeça".
  • 1:28 - 1:31
    E foi isso que aconteceu.
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    Chegámos a Auschwitz.
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    Vi a tabuleta, eu não sabia onde estava.
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    O meu pai foi separado,
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    e eu fiquei em frente do Doutor Mengele,
    "o Anjo da Morte".
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    Ele apontou para aminha mãe
    para ela ir para a esquerda
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    e a minha irmã e eu para a direita.
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    Eu fui atrás da minha mãe.
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    Ele agarrou-me, olhou-me nos olhos,
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    com um olhar que jamais esquecerei
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    e disse: "Vais voltar a ver
    a tua mãe daqui a pouco.
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    "Ela foi só tomar um duche",
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    e atirou-me para o outro lado,
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    que significava a vida.
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    Sofri durante muitos anos
    a culpa e a vergonha do sobrevivente,
  • 2:20 - 2:23
    pensando: "Porquê eu?"
  • 2:23 - 2:29
    Havia pessoas muito
    mais bonitas do que eu.
  • 2:30 - 2:33
    Eu tinha duas irmãs muito bonitas
  • 2:33 - 2:37
    e, depois dessas duas irmãs bonitas,
    os meus pais queriam um filho.
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    Adivinhem o que aconteceu.
  • 2:39 - 2:40
    Apareci eu.
  • 2:40 - 2:43
    Eu era o benjamim da família.
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    As minhas irmãs levavam-me a passear,
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    vendavam-me os olhos
    porque eu era estrábica.
  • 2:50 - 2:52
    Hoje, falo em escolas.
  • 2:52 - 2:55
    Tento orientar as preciosas crianças
  • 2:55 - 2:58
    para que não permitam a ninguém
    que definam o que elas são.
  • 2:58 - 3:02
    Somos todos belos
    porque Deus não faz sucata.
  • 3:02 - 3:07
    Assim, eu estava a perguntar
    — chamava-se Birkenau —
  • 3:07 - 3:11
    Perguntei a uma das detidas:
    "Quando é que vejo a minha mãe?"
  • 3:11 - 3:15
    Ela apontou para uma chaminé
    e disse-me friamente:
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    "Ela está a ser queimada ali".
  • 3:18 - 3:20
    Não havia socorro do lado de fora,
  • 3:20 - 3:25
    mas ainda tinha o meu espírito
    e a minha irmã Magda.
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    Ela era a mais bonita da família,
    a mais sensual.
  • 3:30 - 3:33
    Quando nos raparam o cabelo todo,
  • 3:33 - 3:38
    ela veio ter comigo, com os cabelos
    na palma da mão e disse: "Que tal estou?"
  • 3:38 - 3:41
    É uma pergunta duma mulher húngara
  • 3:41 - 3:43
    — somos muito vaidosas —
  • 3:44 - 3:46
    e eu percebi, descobri
  • 3:46 - 3:52
    que em Auschwitz descobriam-se aspetos
    que eu nunca tinha imaginado.
  • 3:52 - 3:55
    Em vez de dizer a Magda
    qual era o aspeto dela,
  • 3:55 - 4:00
    encontrei alguma coisa
    que ela ainda tinha e disse-lhe:
  • 4:00 - 4:03
    "Magda, tens uns olhos muito bonitos.
  • 4:04 - 4:06
    "E sabes? Nunca os tinha visto bem
  • 4:06 - 4:10
    "quando tinhas o cabelo
    a tapar os olhos".
  • 4:10 - 4:14
    Penso que vocês
    vão confraternizar esta noite.
  • 4:14 - 4:18
    Escolham bem as palavras
    que põem na vossa cabeça
  • 4:18 - 4:21
    para darem ânimo a alguém
  • 4:21 - 4:25
    e verem de que modo
    eu posso ser o vosso guia esta noite.
  • 4:30 - 4:32
    O doutor Mengele
  • 4:33 - 4:36
    apareceu nas nossas barracas
  • 4:36 - 4:38
    à procura de talentos.
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    As minhas amigas propuseram-me a mim
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    porque eu andava a aprender bailado.
  • 4:49 - 4:52
    Eu era uma boa ginasta.
  • 4:52 - 4:57
    Tinha dançado para o presidente
    da Hungria, o almirante Horthy
  • 4:57 - 5:01
    e encontrei-me em frente
    do doutor Mengele, a dançar.
  • 5:01 - 5:06
    De novo, mantinha a cabeça fria
    e podia controlar tudo.
  • 5:07 - 5:10
    Fiz de conta que a música era Tchaikovsky
  • 5:10 - 5:15
    e eu estava a dançar o Romeu e Julieta
    na Ópera de Budapeste.
  • 5:16 - 5:20
    Ele deu-me um pedaço de pão
    que eu partilhei com as minhas amigas.
  • 5:20 - 5:23
    A vida era muito difícil em Auschwitz
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    porque nunca sabíamos
    o que ia acontecer a seguir.
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    Não sabíamos, quando tomávamos um duche,
  • 5:30 - 5:35
    se era água ou gás que ia sair.
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    Depois, tínhamos de conseguir sobreviver.
  • 5:42 - 5:47
    Lembro-me de me manter em formatura
    todos os dias, às quatro da manhã.
  • 5:49 - 5:53
    Comecei a fantasiar sobre o meu namorado.
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    Dizia para comigo:
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    "Se sobreviver hoje,
    amanhã estarei livre."
  • 5:59 - 6:02
    Amanhã, amanhã — sempre a olhar em frente.
  • 6:02 - 6:05
    Em vez de dizer: "Porquê eu?"
  • 6:05 - 6:08
    aprendi a dizer:
    "E agora?" e "E a seguir?"
  • 6:08 - 6:13
    Tinha uma enorme curiosidade
    que era tão poderosa
  • 6:13 - 6:19
    que consegui prosseguir,
    um dia de cada vez.
  • 6:19 - 6:22
    Mas tínhamos de nos ajudar
    umas às outras;
  • 6:22 - 6:25
    de outro modo, nunca teríamos conseguido,
  • 6:25 - 6:27
    A cooperação era o nome do jogo.
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    Não a competição, não o domínio,
  • 6:30 - 6:33
    porque tudo o que tínhamos
    era umas às outras,
  • 6:33 - 6:37
    e tudo o que temos agora
    é uns aos outros.
  • 6:37 - 6:39
    Em dezembro,
  • 6:41 - 6:43
    levaram-me de Auschwitz.
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    Passei a ser uma operária escrava,
  • 6:45 - 6:49
    e fui transportada para um sítio
    chamado Mauthausen,
  • 6:49 - 6:51
    numa marcha da morte.
  • 6:52 - 6:56
    Numa marcha da morte, se pararmos,
    somos logo abatidas a tiro.
  • 6:57 - 7:01
    Quando estava quase a desfalecer,
  • 7:01 - 7:04
    as minhas amigas, com quem
    eu tinha repartido o pão,
  • 7:05 - 7:09
    vieram ter comigo e formaram
    uma cadeirinha com os braços
  • 7:09 - 7:11
    e transportaram-me, para eu não ser morta.
  • 7:11 - 7:13
    Não é espantoso?
  • 7:13 - 7:18
    Que as piores situações
    façam sair o melhor de dentro de nós?
  • 7:19 - 7:25
    Fui libertada a 4 de maio
    — estamos quase lá — de 1945,
  • 7:25 - 7:28
    pela 7.ª Infantaria.
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    Fui tão privilegiada
  • 7:31 - 7:36
    que hoje trabalho com os militares,
    em "stress" pós-traumático.
  • 7:36 - 7:40
    Fui convidada para Fort Carson,
    na cidade de Colorado.
  • 7:40 - 7:46
    Quando lá cheguei, percebi
    que é a sede da 71.ª Infantaria.
  • 7:47 - 7:49
    Estão a ver as voltas que a vida dá?
  • 7:49 - 7:53
    E hoje, presente aqui à vossa frente,
  • 7:53 - 7:57
    posso dizer-vos que só tenho gratidão.
  • 7:57 - 8:02
    Por vezes, parece que só apreciamos
    o que temos quando o perdemos.
  • 8:02 - 8:04
    Cada pedaço de comida,
  • 8:06 - 8:09
    um passeio numa bonita praia.
  • 8:10 - 8:13
    Eu nunca deito fora um pedaço de pão.
  • 8:14 - 8:18
    Se me levarem a jantar,
    provavelmente como as vossas sobras.
  • 8:19 - 8:23
    Para mim, é muito doloroso;
    a minha filha está sempre a dizer-me
  • 8:23 - 8:25
    e o meu querido neto, Jordan.
  • 8:25 - 8:29
    Por favor, quero que as pessoas
    conheçam esta minha preciosidade.
  • 8:29 - 8:33
    Vá lá, levanta-te, Jordan. Jordan!
  • 8:33 - 8:34
    (Aplausos)
  • 8:34 - 8:40
    É a melhor vingança.
    É a melhor vingança — a minha!
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    É tudo.
  • 8:42 - 8:44
    Não só tenho três filhos,
  • 8:44 - 8:50
    tenho cinco netos e três belos bisnetos.
  • 8:51 - 8:54
    É a melhor vingança — a minha!
  • 8:54 - 9:00
    Mas só consegui recuperar
    a alegria e a compaixão
  • 9:01 - 9:04
    depois de ter voltado a Auschwitz,
  • 9:04 - 9:07
    depois de ter regressado ao covil do leão
  • 9:07 - 9:09
    e olhar para o leão de frente,
  • 9:09 - 9:13
    até conseguir, de certa forma,
    recuperar a minha inocência,
  • 9:13 - 9:17
    atribuir a vergonha e a culpa
    ao perpetrador
  • 9:17 - 9:22
    e, finalmente, perdoar-me
    por ter sobrevivido.
  • 9:22 - 9:25
    A vingança dá-nos satisfação
  • 9:26 - 9:29
    mas penso que dura muito pouco tempo.
  • 9:29 - 9:32
    Consome-nos muita energia.
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    Mas o perdão — acreditem —
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    deu-me a suprema liberdade espiritual.
  • 9:42 - 9:46
    Aqui, agora, à vossa frente,
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    posso dizer que me sinto abençoada
  • 9:50 - 9:54
    por poder guiar as pessoas
    da escuridão para a luz,
  • 9:54 - 9:57
    da prisão para a liberdade
  • 9:57 - 10:00
    e descobrir que, porventura,
  • 10:00 - 10:05
    o maior campo de concentração
    está no nosso próprio espírito
  • 10:05 - 10:09
    e a chave está no nosso bolso.
  • 10:10 - 10:13
    O que é que me mantém jovem hoje?
  • 10:14 - 10:16
    Eu vivo no presente
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    porque eu agora posso tocar-vos.
  • 10:19 - 10:23
    Peço-vos para darem as mãos.
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    Todos temos necessidade
    de um contacto físico.
  • 10:25 - 10:29
    Por isso, por favor, deem as mãos!
  • 10:29 - 10:35
    Eu também acredito
    que, tal como posso estar aqui,
  • 10:35 - 10:38
    a olhar para vocês, queridos jovens,
  • 10:38 - 10:40
    vocês são o futuro.
  • 10:41 - 10:47
    Com a TED, com vocês e comigo,
    com todas as nossas diferenças,
  • 10:47 - 10:50
    podemos fortalecer-nos
    e nunca subjugarmos os outros
  • 10:51 - 10:53
    porque isso seria o princípio do fim
  • 10:53 - 10:57
    da bela democracia
    que procurei neste país.
  • 10:58 - 11:02
    Por isso, lembrem-se,
    vocês podem fazer a diferença.
  • 11:03 - 11:06
    Lembrem-se das palavras da minha mãe
  • 11:06 - 11:11
    de que podem tirar-nos tudo
  • 11:11 - 11:14
    exceto o que pomos na nossa cabeça.
  • 11:14 - 11:20
    Tenho esperança de que vocês serão
    muito cuidadosos e seletivos
  • 11:21 - 11:24
    com as palavras que puserem
    na vossa cabeça
  • 11:24 - 11:29
    para que a vossa vida seja
    tão bela como a minha veio a ser
  • 11:30 - 11:34
    e vocês e eu possamos festejar
  • 11:34 - 11:39
    o fantástico presente que Deus nos deu,
    chamado a vida.
  • 11:39 - 11:40
    Obrigada.
  • 11:41 - 11:44
    (Aplausos)
Title:
O que a minha mãe me disse: sobrevivente do Holocausto | Edith Eva Eger | TEDxLaJolla
Description:

Para certas pessoas, pode parecer que a Dra. Edith Eva Eger, sobrevivente de um campo de concentração, perdeu tudo durante a II Guerra Mundial. Mas, para Edith, a sua experiência deu-lhe uma compreensão e uma compaixão pelos outros que a levou a uma vida maravilhosa. Vejam esta palestra inspiradora enquanto ela fala sobre a vingança e sobre o perdão.

A Dra. Edith Eva Eger é sobrevivente do Holocausto, de Auschwitz e de outros campos de concentração. Foi libertada em Gunskirchen, na Áustria, a 4 de maio de 1945, pela 71.ª Infantaria dos EUA. Atualmente, tem uma clínica privada de psicologia em La Jolla, na Califórnia. Apareceu em numerosos programas de televisão, incluindo a Oprah, e foi tema principal de um documentário sobre o Holocausto que apareceu na televisão nacional holandesa. Apresenta uma poderosa mensagem de compaixão, amor e resistência.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:04

Portuguese subtitles

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