Os insultos de Shakespeare
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0:15 - 0:18Porque é que nos encolhemos
quando ouvimos dizer "Shakespeare"? -
0:18 - 0:21Se me perguntam, normalmente
é por causa das suas palavras. -
0:21 - 0:23Todos aqueles "vós"
e "vossos" e "portantos" -
0:23 - 0:27e "quem sois vós"
são mais do que irritantes. -
0:27 - 0:30Mas temos que refletir,
porque é que ele é tão popular? -
0:31 - 0:33Porque é que as peças dele
foram representadas, -
0:33 - 0:35mais do que as de qualquer
outro dramaturgo? -
0:35 - 0:37É por causa das suas palavras.
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0:38 - 0:41Nos finais do século XVI
e princípios do século XVII, -
0:41 - 0:44era a melhor ferramenta
que uma pessoa tinha -
0:44 - 0:46e havia muito de que falar.
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0:46 - 0:49Mas, a maior parte era muito deprimente.
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0:49 - 0:52Estão a ver, com a Peste Negra
e isso tudo... -
0:52 - 0:55Shakespeare usa muitas palavras.
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0:55 - 0:59Uma das suas proezas mais impressionantes
é a utilização de insultos. -
0:59 - 1:02Unificavam todo o público;
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1:02 - 1:03onde quer que estivesse,
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1:03 - 1:06toda a gente se ria
com o que se passava no palco. -
1:06 - 1:10As palavras, mais precisamente um diálogo,
num quadro dramático -
1:10 - 1:12são utilizadas
por muitas razões diferentes: -
1:12 - 1:14para situar o ambiente da cena,
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1:14 - 1:17para dar melhor atmosfera ao ambiente
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1:17 - 1:20e para estabelecer relações
entre as personagens. -
1:21 - 1:25Os insultos conseguem isso
de forma rápida e incisiva. -
1:26 - 1:28Comecemos por "Hamlet".
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1:28 - 1:30Pouco antes deste diálogo,
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1:30 - 1:35Polonius é o pai de Ofélia,
que está apaixonada pelo Príncipe Hamlet. -
1:35 - 1:37O rei Cláudio está a tentar perceber
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1:37 - 1:40porque é que o Príncipe Hamlet
está a agir como um louco -
1:40 - 1:42desde que o rei casou
com a mãe do Príncipe Hamlet. -
1:42 - 1:48Polónio oferece-se para usar a sua filha
para obter informações do Príncipe Hamlet. -
1:48 - 1:51Passamos para o Ato II, Cena 2.
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1:51 - 1:54Polónio: "Conheceis-me, Senhor?"
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1:54 - 1:58Hamlet: "Muito bem.
És traficante de peixe". -
1:58 - 2:01Polónio: "Eu cá não, senhor".
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2:01 - 2:04Hamlet: "Preferia que fosses
um homem honesto". -
2:05 - 2:08Ora bem, mesmo sem sabermos
o que significa "traficante de peixe", -
2:08 - 2:11podemos usar algumas pistas do contexto.
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2:11 - 2:16Uma: Polónio reagiu de forma negativa,
portanto deve ser uma coisa má. -
2:16 - 2:20Duas: O peixe cheira mal,
por isso deve ser uma coisa má. -
2:20 - 2:24Três: Traficante não parece ser
uma palavra boa. -
2:24 - 2:27Portanto, mesmo que
não saibamos o significado, -
2:27 - 2:29começamos a construir
uma certa caracterização -
2:29 - 2:32da relação entre Hamlet e Polónio,
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2:32 - 2:34que não era boa.
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2:34 - 2:36Mas se aprofundarmos mais um pouco,
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2:36 - 2:39"traficante de peixe" significa
um intermediário de certo tipo, -
2:39 - 2:42e, neste quadro, significaria um chulo,
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2:42 - 2:46como se Polónio estivesse a utilizar
a sua filha para ganhar dinheiro, -
2:46 - 2:49coisa que ele está a fazer
para agradar ao rei. -
2:49 - 2:53Isto permite-nos ver que Hamlet
não é tão louco como afirma, -
2:53 - 2:57e intensifica a animosidade
entre aquelas duas personagens. -
2:57 - 2:59Querem outro exemplo?
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2:59 - 3:02"Romeu e Julieta" têm alguns
dos melhores insultos -
3:02 - 3:04de todas as peças de Shakespeare.
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3:04 - 3:06É uma peça sobre dois clãs,
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3:06 - 3:09e dois apaixonados mal-aventurados
que se suicidam. -
3:09 - 3:11Bem, antes das escaramuças,
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3:11 - 3:14sabemos que houve troca
de insultos graves. -
3:14 - 3:16E não ficaremos desiludidos.
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3:16 - 3:19No Ato I Cena 1, logo a partir do início,
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3:19 - 3:21ficamos a par do nível
de desconfiança e ódio -
3:21 - 3:25revelado pelos membros das duas famílias,
os Capuleto e os Montecchio. -
3:26 - 3:29Gregório: "Franzo o sobrolho
sempre que passo por eles -
3:29 - 3:31"e eles que pensem o que quiserem".
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3:31 - 3:36Sansão: "Eles não se atrevem,
vou morder o polegar à frente deles, -
3:36 - 3:39"será uma afronta para eles,
se se ficarem". -
3:39 - 3:41Entram Abraão e Baltazar.
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3:41 - 3:45Abraão: "Senhor, é para nós
que mordeis o polegar?" -
3:45 - 3:48Sansão: "Mordo, sim, Senhor".
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3:48 - 3:51Abraão: "Senhor, é para nós
que mordeis o polegar?" -
3:52 - 3:56Como é que esta construção nos ajuda
a perceber o tom ou o carácter? -
3:56 - 3:59Vamos decompô-lo para perceber o insulto.
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3:59 - 4:02Atualmente, morder o polegar
não parece grande coisa -
4:02 - 4:05mas Sansão diz que é um insulto.
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4:05 - 4:07Se eles o dizem, é porque devia ser.
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4:08 - 4:10Isto começa a mostrar-nos
o nível de animosidade -
4:10 - 4:13mesmo entre os homens
que trabalham para os dois clãs. -
4:14 - 4:16Normalmente isto só se faz a alguém
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4:16 - 4:19se quisermos provocá-lo para uma luta,
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4:19 - 4:21o que é exatamente
o que está prestes a acontecer. -
4:22 - 4:26Aprofundando mais, morder o polegar.
na época em que a peça foi escrita. -
4:26 - 4:29é como espetar o dedo médio, hoje.
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4:29 - 4:31Provoca uma reação muito forte,
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4:31 - 4:34portanto, começamos
a sentir a tensão da cena. -
4:34 - 4:38Mais tarde, na mesma cena,
Tebaldo, da Casa dos Capuleto, -
4:38 - 4:41atira uma boa a Benvólio,
da Casa dos Montecchio. -
4:41 - 4:46Tebaldo: "O quê! Estás feito com
esses valentões sem coração? -
4:47 - 4:51"Volta-te, Benvólio,
e enfrenta a tua morte". -
4:51 - 4:54Benvólio: "Eu só quero manter a paz;
abaixa a tua espada -
4:54 - 4:58"ou usa-a para me ajudar
a separar estes homens". -
4:58 - 5:00Tebaldo: "O quê, de espada na mão
e falas de paz! -
5:00 - 5:03"Odeio tanto essa palavra,
como odeio o inferno, -
5:03 - 5:06"todos os Montecchio e a ti também.
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5:06 - 5:07"Toma, cobarde".
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5:08 - 5:11Ok, "valentões sem coração"?
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5:11 - 5:14Ficamos de novo a saber,
não é uma coisa boa. -
5:14 - 5:18As duas famílias odeiam-se mutuamente,
e isto é só deitar lenha na fogueira. -
5:19 - 5:21Mas até que ponto estas ferroadas são más?
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5:21 - 5:23Um valentão sem coração é um cobarde.
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5:23 - 5:27Chamar isso a alguém em frente
dos seus homens, e da família rival, -
5:27 - 5:29significa que vai haver uma luta.
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5:29 - 5:32Tebaldo basicamente provoca Benvólio
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5:32 - 5:35e, a fim de defender a sua honra,
Benvólio tem que lutar. -
5:35 - 5:37Este diálogo dá-nos uma boa ideia
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5:37 - 5:40quanto à caracterização
destas duas personagens. -
5:40 - 5:44Tebaldo acha que os Montecchio
não passam de cães cobardes -
5:44 - 5:46e não lhes tem respeito nenhum,
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5:46 - 5:49reforçando, mais uma vez,
a tensão dramática da cena, -
5:49 - 5:51Ok, atenção agora a um alerta.
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5:51 - 5:55A casmurrice de Tebaldo
e o profundo ódio aos Montecchio -
5:55 - 5:58é aquilo a que os literatos
chamam de "hamartía", -
5:58 - 6:01ou seja, o que causa a sua perda.
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6:01 - 6:02Pois é.
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6:02 - 6:05Ele cai às mãos de Romeu.
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6:05 - 6:10Por isso, quando lerem Shakespeare,
parem e olhem para as palavras -
6:10 - 6:13porque elas estão
a tentar dizer-vos qualquer coisa.
- Title:
- Os insultos de Shakespeare
- Speaker:
- April Gudenrath
- Description:
-
Vejam a lição completa em: http://ed.ted.com/lessons/insults-by-shakespeare
"És um traficante de peixe!" Olhando melhor para as palavras de Shakespeare — especificamente os seus insultos — vemos porque é que ele é conhecido como um dramaturgo mestre cujas palavras transcendem o tempo e atraem audiências do mundo inteiro.
Lição de April Gudenrath, animação de TED-Ed.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TED-Ed
- Duration:
- 06:24
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