Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM
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0:13 - 0:16A primeira vez que eu vi um TED,
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0:16 - 0:18pensei: "Eu quero fazer isso!"
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0:19 - 0:22Eu olhei e pensei:
"Ainda vou fazer isso!", -
0:22 - 0:26sem ter ideia do que ia
me trazer até aqui. -
0:26 - 0:29Quando o convite chegou,
eu fiquei superanimada -
0:30 - 0:34por ter mais um item riscado
na lista de coisas que eu quero fazer. -
0:35 - 0:38Chegou a hora de decidir sobre o que falar
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0:38 - 0:41e eu girei em torno disso por semanas,
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0:41 - 0:44até entender que o que me trouxe aqui
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0:44 - 0:45foi a minha história.
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0:46 - 0:48Uma vez me perguntaram
se eu gostava do Natal -
0:49 - 0:52e eu falei que sim, que não achava
o Natal uma coisa ruim, -
0:52 - 0:54só achava um pouco triste.
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0:55 - 1:00E aí é que está, não é que a minha
história seja completamente triste, -
1:00 - 1:02mas tudo que me transformou até hoje,
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1:03 - 1:06ou é resultado de alguma
coisa que deu errado -
1:06 - 1:09ou de alguma coisa que é,
de certa forma, triste. -
1:09 - 1:12Por isso, talvez, eu nunca
tenha enxergado a tristeza -
1:12 - 1:15como algo que é só ruim.
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1:16 - 1:19Há uma grande vantagem em ser
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1:20 - 1:21uma criança silenciada.
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1:23 - 1:27Eu nunca fui uma criança...
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1:28 - 1:29Perdi a palavra.
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1:29 - 1:32Eu sempre fui uma criança introspectiva.
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1:32 - 1:35Eu tenho poucas fotos minhas
antes dos cinco anos, -
1:35 - 1:36talvez umas dez,
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1:36 - 1:38e, em nenhuma delas, eu apareço sorrindo.
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1:38 - 1:40Minha mãe fala que eu não sorria
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1:40 - 1:42porque eu já sabia que viver é difícil.
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1:43 - 1:45E há uma grande vantagem
em ser uma criança assim. -
1:46 - 1:49Você se torna expert em observar pessoas
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1:50 - 1:52e interpretar reações.
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1:52 - 1:55Isso é quase que uma habilidade
de ler pensamento. -
1:56 - 1:57Então eu consigo saber
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1:57 - 2:00se alguma coisa está estranha
até em conversa por texto. -
2:01 - 2:03E eu digo criança silenciada
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2:03 - 2:06porque hoje eu sei que não era timidez.
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2:07 - 2:08Claro que estou tensa por estar aqui
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2:08 - 2:10exposta ao julgamento de 100 pessoas,
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2:10 - 2:12mas não é timidez.
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2:13 - 2:15Embora a minha família
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2:15 - 2:18nunca tenha acumulado posses,
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2:19 - 2:21meu pai sempre fez questão
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2:21 - 2:23de morar perto do centro.
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2:23 - 2:25Então eu cresci num bom bairro,
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2:25 - 2:28porque ele não queria depender
de transporte público. -
2:28 - 2:30Então eu estudei numa boa escola estadual,
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2:30 - 2:33depois eu ganhei bolsa de estudos
numa escola particular, -
2:33 - 2:37bolsa de estudos de inglês,
bolsa de estudos no cursinho -
2:37 - 2:40e até morei e comi com bolsa de estudos
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2:40 - 2:41na universidade federal.
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2:42 - 2:43Talvez por isso, hoje,
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2:43 - 2:47eu ache um pouco estranho pagar conta,
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2:47 - 2:52mas também sinto uma certa
satisfação em fazer isso. -
2:52 - 2:54Não de ver o dinheiro indo embora,
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2:54 - 2:56mas de saber que eu tenho o dinheiro
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2:56 - 2:58pra pagar as minhas contas.
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2:58 - 3:00E todas essas bolsas estão relacionadas
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3:00 - 3:02a um aprendizado que meus pais,
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3:02 - 3:04talvez sem perceber, me deixaram:
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3:05 - 3:08"Pra cada não que, com certeza,
você vai receber, -
3:08 - 3:11tenha laços com alguém que traga o sim".
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3:12 - 3:13Na maior parte da minha adolescência,
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3:13 - 3:15meus pais não tinham dinheiro,
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3:15 - 3:17mas eles conheciam pessoas.
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3:18 - 3:22Minha mãe poderia dar aulas
de networking com base em empatia. -
3:23 - 3:26E ela nunca foi a uma reunião
minha na escola, -
3:26 - 3:28mas todas as vezes
que ela foi até a escola -
3:28 - 3:30é porque eu estava sofrendo bullying.
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3:31 - 3:32Essa palavra não existia na época,
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3:32 - 3:34pelo menos não aqui no Brasil.
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3:35 - 3:38E é uma pena, porque problema
que não tem nome não existe. -
3:38 - 3:39Não tem por que buscar solução
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3:39 - 3:41pra problema que não existe.
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3:42 - 3:44Lembro que, quando eu tinha uns oito anos,
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3:44 - 3:47a professora pediu pra eu buscar
um copo de água pra ela. -
3:47 - 3:51Quando eu voltei, ela estava
passando sermão na turma -
3:51 - 3:53pelas situações que eu estava
vivendo dentro da sala. -
3:53 - 3:55Eu não entrei!
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3:55 - 3:56Eu fiquei do lado de fora,
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3:56 - 3:58esperando ela terminar sem que me vissem.
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3:59 - 4:02Ela terminou com: "Nós todos
vamos morrer e virar pó". -
4:04 - 4:08Desde então, passou
a me incomodar muito ser o assunto. -
4:08 - 4:10Uma coisa que me incomodava muito,
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4:10 - 4:12uma frase que me incomodava muito era:
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4:12 - 4:14"Nós estávamos falando de você".
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4:17 - 4:22Eu sou filha do meio, de dois irmãos,
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4:22 - 4:24e eu perdi as contas
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4:24 - 4:27de quantas vezes ouvi minha mãe falar:
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4:27 - 4:29"Vocês não são diferentes de ninguém.
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4:29 - 4:32Tudo que eles podem, vocês podem".
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4:32 - 4:36Na época, eu percebia
que alguma coisa na primeira frase -
4:36 - 4:39contradizia a segunda e vice-versa,
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4:39 - 4:40mas eu não entendia o quê.
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4:41 - 4:45Hoje, eu sei que,
se existe nós e existe eles, -
4:45 - 4:47nós éramos diferentes, sim.
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4:47 - 4:49Nós só não éramos piores
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4:49 - 4:51como queriam que a gente acreditasse.
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4:53 - 4:57Eu e minha irmã sempre gostamos
de uma certa boneca, -
4:57 - 5:00que era caríssima na época.
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5:00 - 5:03Então eu tinha uma, ela tinha outra,
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5:03 - 5:06e a gente tinha o marido
de cada uma delas. -
5:07 - 5:09As nossas bonecas,
em todas as brincadeiras, -
5:09 - 5:12sempre eram muito independentes,
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5:12 - 5:14eram executivas,
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5:14 - 5:16e o marido não tinha nome,
não tinha profissão. -
5:16 - 5:19O nome era o que vinha
escrito na caixinha. -
5:19 - 5:21(Risos)
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5:21 - 5:24E ninguém ensinou isso
pra gente lá em casa, -
5:24 - 5:26mas eu sou de uma família matriarcal,
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5:26 - 5:29então cresci ouvindo
as mulheres da minha família -
5:29 - 5:34dizendo que a gente
não deveria depender de homens. -
5:37 - 5:39Acho que eu me perdi um pouco aqui.
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5:41 - 5:45Um dia, eu cismei
que a gente tinha que ter -
5:45 - 5:48uma boneca daquelas
diferente como a gente. -
5:48 - 5:51Aí a minha mãe rodou a cidade inteira
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5:51 - 5:53nas lojas de brinquedo,
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5:53 - 5:57mas o melhor que ela conseguiu
foi uma boneca de cabelo marrom. -
5:58 - 6:00E ela falava. Aquela boneca era caríssima.
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6:01 - 6:03Eu ainda tenho ela e ela fala.
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6:05 - 6:07Eu ganhei a minha.
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6:07 - 6:09Então, com dez anos,
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6:10 - 6:11eu estava buscando uma coisa
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6:11 - 6:14que hoje também tem nome:
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6:14 - 6:16representatividade.
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6:17 - 6:19Eu cheguei na adolescência
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6:19 - 6:22e eu me achava
a menina mais feia do mundo. -
6:22 - 6:25Eu ouvia piadinha sobre a minha aparência
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6:25 - 6:26quando eu andava na rua.
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6:26 - 6:29Eu lembro de rezar perguntando a Deus
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6:29 - 6:31porque ele não tinha me feito bonita
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6:31 - 6:33em vez de inteligente.
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6:33 - 6:35Eu fui estudar numa escola particular
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6:36 - 6:38e, pra me irritar, os meninos da turma
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6:38 - 6:41escreviam o meu nome
junto com o deles no quadro -
6:41 - 6:43dentro de um coração.
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6:43 - 6:47Depois de um tempo, eu aprendi
a só levantar, apagar, -
6:48 - 6:49e sentar sem falar nada.
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6:50 - 6:51Aquilo me irritava muito.
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6:51 - 6:54Pra eles era só brincadeira.
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6:54 - 6:57Apesar disso, eu sempre fui
a única da turma -
6:57 - 7:00que conversava com todo mundo.
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7:00 - 7:02Eu podia escolher com qual grupo
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7:02 - 7:05eu ia merendar no recreio.
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7:06 - 7:11Porque isso de não sentir
pertencimento tem uma vantagem. -
7:11 - 7:14Você passa a circular por vários grupos
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7:14 - 7:16tentando se encontrar.
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7:18 - 7:20Me perdi de novo.
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7:20 - 7:22(Risos)
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7:22 - 7:28Então eu aprendi a conviver
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7:29 - 7:32em lugares e entre pessoas
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7:32 - 7:35que às vezes eram hostis comigo.
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7:37 - 7:41Passada a adolescência, veio o vestibular,
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7:41 - 7:43e eu estava determinada a entrar
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7:43 - 7:45na Universidade Federal de Minas Gerais,
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7:45 - 7:47no curso de Arquitetura e Urbanismo.
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7:47 - 7:50Eu sempre soube que eu queria
fazer arquitetura e urbanismo. -
7:50 - 7:53Meu pai chegava com o jornal
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7:53 - 7:56e eu corria pra pegar
o caderno de anúncios -
7:56 - 8:02e ficava horas em cima das plantas
dos imóveis e dos prédios. -
8:04 - 8:07Eu fiz o vestibular e eu não passei.
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8:07 - 8:09Só dependia de mim, e eu não passei.
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8:10 - 8:12Aquilo me trouxe
um sofrimento muito grande, -
8:12 - 8:14porque eu tinha um plano.
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8:14 - 8:17Eu cresci no interior,
então meu plano era: -
8:17 - 8:19ir pra capital, estudar,
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8:19 - 8:21voltar pra casa da minha mãe
no fim de semana -
8:21 - 8:24e socializar o mínimo possível.
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8:24 - 8:26E deu errado.
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8:27 - 8:28Então, no ano seguinte,
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8:28 - 8:32eu resolvi que faria vestibular
pra duas universidades, -
8:33 - 8:34e lembro disto até hoje:
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8:34 - 8:37por quatro pontos, eu não passei de novo,
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8:37 - 8:39por quatro pontos na segunda fase
eu não passei, de novo, -
8:39 - 8:41na Universidade Federal de Minas Gerais.
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8:41 - 8:45Mas eu era a primeira na lista de espera
da Universidade Federal de Viçosa. -
8:46 - 8:48O que, pra mim, era a mesma coisa
que não ter passado. -
8:48 - 8:52Não tinha glória em estar
numa lista de espera. -
8:52 - 8:54Tudo que eu queria era
que não me chamassem -
8:54 - 8:58porque ficava a seis horas
de distância da casa da minha mãe -
8:58 - 9:01e eu não ia conseguir
executar o meu plano. -
9:01 - 9:03Mas me chamaram.
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9:03 - 9:07Essa foi a primeira grande
virada da minha vida. -
9:10 - 9:13Eu entrei e, nos primeiros três meses,
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9:13 - 9:15eu só conseguia pensar
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9:15 - 9:18em quando eu poderia pedir transferência.
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9:19 - 9:24Depois de três meses, eu percebi
que não era tão ruim assim. -
9:25 - 9:28Depois de um tempo, eu percebi
que ninguém se importava muito -
9:28 - 9:34se você era alto, magro, obeso,
inteligente, não tão inteligente. -
9:34 - 9:37As pessoas eram muito diferentes entre si
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9:37 - 9:41e todo mundo conversava muito
entre todo mundo, -
9:41 - 9:43com todo mundo, sobre qualquer assunto
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9:43 - 9:45porque não era uma opção.
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9:45 - 9:48Noventa por cento
dos alunos lá são de fora, -
9:48 - 9:50estão a quilômetros de distância de casa.
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9:51 - 9:53Depois de um tempo, percebi
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9:53 - 9:57que, dali, sairiam os melhores amigos
que eu poderia ter na vida. -
9:57 - 10:00E que, depois de cinco anos,
eu não seria a mesma. -
10:00 - 10:03Realmente, são os melhores amigos
que eu tenho na vida. -
10:04 - 10:06A gente está completando
dez anos de formados hoje -
10:06 - 10:09e ninguém acredita,
quando a gente se reúne, -
10:09 - 10:12que aquela turma é a turma de faculdade,
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10:12 - 10:14porque nós somos muito diferentes.
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10:14 - 10:17Então é pouco provável
que nós nos tornaríamos amigos -
10:17 - 10:20fora daquele contexto.
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10:20 - 10:22E, de fato, eu nunca mais fui a mesma.
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10:24 - 10:28Eu aprendi a conviver bem
com o defeito dos outros -
10:28 - 10:31e, se eu podia conviver bem
com o defeito dos outros, -
10:31 - 10:34por que eu não poderia
conviver bem com os meus? -
10:34 - 10:36Aqueles que eu enxergava como defeito
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10:36 - 10:40e aqueles que a sociedade
me apontava como defeito. -
10:41 - 10:44Eu cheguei à conclusão
de que eu não precisava ser perfeita, -
10:44 - 10:46eu não precisava ser completa,
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10:46 - 10:49eu não precisava sorrir sem querer,
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10:49 - 10:52só porque as pessoas achavam
que eu era séria demais, -
10:52 - 10:54e eu não precisava deixar o meu cabelo
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10:54 - 10:57como as pessoas esperavam
que ele deveria estar. -
10:58 - 10:59Eu me formei
-
10:59 - 11:01e voltei pro interior,
pra cidade da minha mãe, -
11:01 - 11:03pra trabalhar com projeto arquitetônico.
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11:03 - 11:06Eu trabalhei com projeto por seis anos.
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11:07 - 11:09Eu ainda sou apaixonada
por projeto arquitetônico, -
11:09 - 11:13mas, depois de um tempo, aquilo
parou de fazer sentido pra mim. -
11:14 - 11:17Meu trabalho não tinha o poder
de impactar a vida das pessoas -
11:17 - 11:20da forma que eu desejava e esperava.
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11:20 - 11:22Eu trabalhava, na maior parte do tempo,
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11:22 - 11:25com residências de alto padrão.
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11:26 - 11:29Eu tinha, de forma frequente,
na minha cabeça, -
11:29 - 11:31uma frase que um tio me falou
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11:34 - 11:36pouco depois que eu me formei
e fui contar pra ele -
11:36 - 11:38que meu trabalho era muito elogiado.
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11:39 - 11:42Ele falou pra mim:
"O bom, pra você, não é suficiente". -
11:43 - 11:47Ele não quis dizer
que eu merecia algo melhor. -
11:47 - 11:50Ele quis dizer que eu teria
que fazer sempre muito melhor, -
11:50 - 11:52se eu quisesse sair do lugar.
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11:53 - 11:56Eu resolvi fazer um concurso público,
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11:56 - 11:58eu passei,
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11:58 - 12:01e essa foi a segunda grande
virada da minha vida. -
12:02 - 12:04Eu fui morar em Belo Horizonte,
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12:04 - 12:05fui morar sozinha,
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12:05 - 12:08e fui trabalhar numa instituição
onde eu acreditava muito -
12:08 - 12:12que eu poderia impactar
a vida de muita gente. -
12:12 - 12:17Mas, depois de um ano, eu percebi
que eu não ia conseguir fazer aquilo, -
12:17 - 12:19mas eu tinha tempo livre
-
12:19 - 12:22pra buscar a transformação fora dali.
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12:22 - 12:25Então eu comecei a procurar por coisas
-
12:25 - 12:28que fizessem sentido pra mim.
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12:28 - 12:31Hoje, eu sei que não é a gente
que encontra o sentido, -
12:31 - 12:35as coisas que fazem sentido
é que encontram a gente. -
12:35 - 12:38Num intervalo muito curto de tempo,
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12:38 - 12:40eu fui convidada a conhecer uma jovem
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12:40 - 12:44que tinha colocado
todo o dinheiro da sua formatura -
12:44 - 12:47numa plataforma virtual
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12:47 - 12:49pra que as pessoas pudessem,
de forma gratuita, -
12:49 - 12:51trocar habilidade e conhecimento
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12:51 - 12:54depois de se conhecer nessa plataforma.
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12:54 - 12:58Eu ouvi de madrugada uma mulher correndo,
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12:58 - 13:00gritando, aos prantos,
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13:01 - 13:03porque ela estava sendo
perseguida por um homem -
13:03 - 13:07e uma padaria abriu
a porta pra ela entrar. -
13:07 - 13:10E eu li, na internet,
um relato de violência sexual -
13:10 - 13:12que me deixou dormindo muito mal
-
13:12 - 13:16e me fez acordar com a certeza
de que algo deveria ter sido feito -
13:17 - 13:19pra que alguém pudesse
ter estado lá por ela, -
13:20 - 13:23e por outras mulheres,
pra que elas pudessem ser livres -
13:23 - 13:25pra realizar o sonho
de mudar a vida de alguém -
13:25 - 13:28como aquela jovem que eu tinha conhecido.
-
13:28 - 13:31E, na época, eu não via impedimento
pra que eu fizesse alguma coisa. -
13:32 - 13:35Eu liguei pra minha irmã, logo cedo,
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13:35 - 13:38e falei pra ela:
"Eu já sei o que eu quero fazer! -
13:38 - 13:41Eu quero construir algo
que seja maior que eu". -
13:43 - 13:45Eu me inscrevi num evento,
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13:46 - 13:48pensei num aplicativo,
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13:48 - 13:49pensei numa história,
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13:51 - 13:53e fui pro evento sem conhecer ninguém.
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13:53 - 13:57Todo mundo era da área
de tecnologia, business ou design. -
13:58 - 14:00E eu hesitei até o último segundo
-
14:00 - 14:02em subir no palco pra tentar
convencer aquelas pessoas -
14:02 - 14:04de que eu tinha uma boa ideia.
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14:04 - 14:06Eu me convenci falando pra mim mesma:
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14:06 - 14:11"Você passou seis anos fazendo
as pessoas pagarem por suas ideias. -
14:11 - 14:12Então sobe lá!"
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14:13 - 14:16Eu subi, contei uma história
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14:16 - 14:18e terminei com:
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14:18 - 14:23"Sabe aquele pedido
de: 'Quando chegar, avisa'? -
14:23 - 14:26Quem é que avisa se a gente não chega?"
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14:27 - 14:30E essa foi a terceira grande
virada da minha vida, -
14:30 - 14:32que é a Malalai.
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14:33 - 14:36Nós surgimos como um aplicativo,
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14:36 - 14:39fomos informados de que somos uma startup
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14:40 - 14:42e o que eu espero hoje é que ela seja,
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14:42 - 14:44acima de tudo, um movimento.
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14:46 - 14:50Eu sou mulher, negra,
arquiteta e urbanista, -
14:50 - 14:52empreendendo na área de tecnologia,
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14:52 - 14:56querendo combater um dos silêncios
mais ensurdecedores que existem, -
14:56 - 14:58que é a violência sexual.
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14:58 - 15:01Eu estou cinco vezes fora da casinha.
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15:02 - 15:04Eu não precisei falar de gênero e cor
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15:04 - 15:07pra que vocês entendessem
tudo o que está por trás -
15:07 - 15:11de todas essas histórias
que eu contei aqui. -
15:14 - 15:17As pessoas ficam surpresas de ver
-
15:17 - 15:21o ponto em que nós conseguimos
chegar com essa solução. -
15:21 - 15:23Eu não sou da área de tecnologia,
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15:23 - 15:28o Henrique, que é meu sócio,
não desenvolvia aplicativos, -
15:28 - 15:33e somos só nós dois, mesmo,
sem investimento. -
15:34 - 15:37E realmente o dinheiro é pouco.
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15:37 - 15:39A maior parte sai do meu bolso,
-
15:39 - 15:41mas eu tenho um trunfo.
-
15:41 - 15:43Eu conheço pessoas.
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15:46 - 15:49Desde que tudo isso
-
15:50 - 15:52começou,
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15:52 - 15:56eu ouvi cinco relatos, pessoalmente,
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15:56 - 15:59eu ouvi cinco relatos
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15:59 - 16:01de ataques
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16:02 - 16:05e tentativas de estupro
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16:06 - 16:07e estupro.
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16:08 - 16:12Eu fui abraçada por incontáveis mulheres
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16:12 - 16:14que eu nunca vi.
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16:14 - 16:18Logo eu, a menina de cara fechada
que não ri fácil. -
16:21 - 16:23Eu tenho pra mim que,
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16:23 - 16:25se nada sair como planejado,
-
16:25 - 16:27porque é claro que eu tenho sonho grande
-
16:27 - 16:30pro que a gente está construindo,
-
16:30 - 16:33mas, se nada sair como o planejado,
-
16:33 - 16:37a gente precisa garantir
que está deixando um rastro positivo. -
16:39 - 16:41As pessoas não querem ouvir
-
16:41 - 16:44que, a cada 11 minutos,
uma mulher é estuprada no Brasil. -
16:45 - 16:47É desconfortável, não é cômodo.
-
16:49 - 16:53O que faço hoje não é confortável
pra mim também, -
16:54 - 16:55mas está tudo bem,
-
16:55 - 16:59porque incomodada é meu status permanente.
-
17:01 - 17:05Eu ouvi de uma mulher,
-
17:05 - 17:06diferente como eu,
-
17:07 - 17:09uma frase que me faz pensar
-
17:09 - 17:12que, se nada sair como planejado,
ainda terá valido a pena. -
17:14 - 17:16Ela falou pra mim:
-
17:18 - 17:20"Obrigada!
-
17:20 - 17:24Descobri que não posso aceitar ser menos
do que o melhor que eu posso ser". -
17:26 - 17:30Isso me mostra que ser
exatamente quem eu sou -
17:30 - 17:34e falar a verdade
que as pessoas não querem ouvir -
17:34 - 17:36é revolucionário.
-
17:38 - 17:40Desde que tudo isso começou,
-
17:40 - 17:43se eu disser que eu conheci 100 pessoas,
-
17:44 - 17:49cerca de 80 delas estão
trabalhando pra mudar processos. -
17:50 - 17:54Mais ou menos 20 pessoas
enxergam diferente, -
17:54 - 17:56mas enxergar diferente não é suficiente,
-
17:56 - 17:58você precisa fazer diferente.
-
17:59 - 18:01E essas são cerca de cinco.
-
18:01 - 18:04E é dessas pessoas
que eu gosto de estar perto. -
18:04 - 18:05Essas cinco.
-
18:05 - 18:08Talvez elas não enriqueçam tão rápido,
-
18:08 - 18:12talvez elas não saibam
como o que elas fazem vai virar dinheiro, -
18:12 - 18:17mas elas têm a certeza de que o caminho
é trabalhar pra mudar pessoas. -
18:19 - 18:23A minha batalha pessoal
é pra que meninas saibam -
18:23 - 18:26que as mulheres têm um poder transformador
-
18:26 - 18:28enorme nas mãos.
-
18:29 - 18:31E que, quando elas resolvem agir,
-
18:31 - 18:34isso tem um impacto enorme
em todo mundo -
18:34 - 18:36que está em volta delas.
-
18:36 - 18:37O meu fim é a segurança,
-
18:37 - 18:40mas o meu meio é a liberdade.
-
18:42 - 18:44Isso não é só sobre segurança.
-
18:45 - 18:47É sobre a liberdade de ir até ali,
-
18:47 - 18:50fazer o que tem que ser feito
pra mudar o mundo -
18:51 - 18:55e voltar inteira, sozinha, se for preciso.
-
18:56 - 18:58Eu espero, profundamente,
-
18:58 - 19:01que o futuro seja feminino,
-
19:01 - 19:03porque isso se traduz
num futuro mais humano. -
19:04 - 19:05Obrigada!
-
19:05 - 19:08(Aplausos) (Vivas)
- Title:
- Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM
- Description:
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A cada 11 minutos uma mulher sofre violência sexual no Brasil. Indignada com os relatos da campanha #meuprimeiroassedio e visando a diminuir urgentemente este número gritante, a arquiteta Priscila Gama, de Divinópolis - MG, formada pela Universidade Federal de Viçosa, criou a Malalai, startup que desenvolve tecnologia para prover segurança pessoal às mulheres. Afinal, mulheres sem medo mudam o mundo.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizada de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite https://www.ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:14
Claudia Sander approved Portuguese, Brazilian subtitles for Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM | ||
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Aline Gonçalves edited Portuguese, Brazilian subtitles for Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM | ||
Aline Gonçalves edited Portuguese, Brazilian subtitles for Incomodada é o meu status permanente | Priscila Gama | TEDxUFTM | ||
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