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A bela realidade do autismo | Guy Shahar | TEDxWandsworth

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    O autismo é uma deficiência
    de desenvolvimento pra vida toda,
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    na qual a pessoa afetada
    não possui a habilidade natural
  • 0:15 - 0:18
    de como interagir com outras pessoas,
  • 0:18 - 0:23
    sofre de várias questões sensoriais
    que envolvem luzes, sons, etc.,
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    e às vezes é totalmente incapaz
    de controlar suas emoções,
  • 0:27 - 0:29
    entre outras coisas.
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    Pelo menos, foi isso que nos disseram.
  • 0:31 - 0:34
    Como a maioria dos pais de autistas,
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    era nisso que acreditávamos,
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    até que nossa experiência
    nos deu uma perspectiva diferente.
  • 0:40 - 0:41
    Pouco depois de completar um ano,
  • 0:41 - 0:46
    meu filho, Daniel, passou a mostrar
    alguns comportamentos incomuns.
  • 0:46 - 0:49
    Ele começou a se esquecer das palavras
    que já tinha aprendido
  • 0:49 - 0:52
    e a passar mais tempo olhando pro nada.
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    No início, achávamos
    que ele estava apenas pensando,
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    mas aquilo foi se tornando
    um distanciamento cada vez maior,
  • 0:59 - 1:03
    até que ele chegou ao ponto de passar
    a maior parte do tempo deitado no chão,
  • 1:03 - 1:07
    rolando um carrinho de brinquedo
    pra frente e pra trás em frente ao rosto.
  • 1:08 - 1:11
    Não havia qualquer comunicação
    nem contato visual àquela altura
  • 1:11 - 1:16
    e, se tentássemos interagir com ele,
    principalmente chamando-o pelo nome,
  • 1:16 - 1:20
    ele simplesmente resmungava
    e voltava ao que estava fazendo.
  • 1:20 - 1:22
    Ele inclusive havia perdido a capacidade
  • 1:22 - 1:25
    de pronunciar consoantes
    e de comer alimentos sólidos.
  • 1:25 - 1:29
    Tivemos de voltar a dar a ele
    comida pastosa, de colher,
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    enquanto ele assistia a desenhos animados.
  • 1:31 - 1:35
    Ele se tornou propenso aos mais intensos
    e prolongados colapsos nervosos
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    e, uma vez que começavam,
    não podíamos fazer nada para consolá-lo.
  • 1:39 - 1:41
    Era absolutamente angustiante,
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    principalmente quando ele recorria
    ao autoflagelo por se sentir frustrado.
  • 1:47 - 1:50
    Era um caso claro de autismo regressivo,
  • 1:50 - 1:52
    mas os médicos disseram
    para não nos preocuparmos.
  • 1:52 - 1:55
    Disseram que cada criança
    tem sua curva de desenvolvimento,
  • 1:55 - 1:56
    que bastava ficarmos de olho nele
  • 1:56 - 1:59
    e, se ainda preocupados
    após uns dois anos,
  • 1:59 - 2:01
    poderíamos voltar e conversar com eles.
  • 2:02 - 2:06
    Não conseguíamos imaginar
    mais dois anos de tamanha incerteza
  • 2:06 - 2:10
    e, após um longo e exaustivo
    processo de insistência
  • 2:10 - 2:13
    e diversos meses mais
    numa lista de espera,
  • 2:13 - 2:16
    conseguimos finalmente
    uma consulta com um pediatra,
  • 2:16 - 2:20
    que deu início ao processo
    de avaliação e diagnóstico de autismo,
  • 2:20 - 2:23
    mas sem nada que realmente
    nos ajudasse nesse meio-tempo.
  • 2:25 - 2:26
    Não fazíamos ideia
  • 2:26 - 2:30
    de como gerenciar essa mudança inesperada
    no desenvolvimento do nosso filho,
  • 2:30 - 2:32
    mas parecia que os profissionais
    de saúde também não.
  • 2:33 - 2:36
    Então, uma das decisões
    mais importantes que tomamos
  • 2:36 - 2:39
    foi deixar os procedimentos
    médicos tradicionais
  • 2:39 - 2:41
    e encontrar nossa própria forma
    de tratar nosso filho.
  • 2:43 - 2:45
    Mas isso não pareceu
    muito inteligente na época.
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    Tudo que tínhamos era a internet,
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    cheia de suas promessas loucas
    de milagres e curas,
  • 2:50 - 2:54
    todas com relatos chamativos,
    vídeos comoventes
  • 2:55 - 2:56
    e um alto custo.
  • 2:57 - 2:58
    Por onde começar?
  • 2:58 - 3:03
    Como encontrar algo verdadeiramente útil
    em meio a toda essa onda de marketing?
  • 3:05 - 3:11
    Em tempos difíceis, eu e minha esposa
    tendemos a confiar muito na intuição
  • 3:11 - 3:14
    e, felizmente, tendemos a pensar
    de forma semelhante.
  • 3:14 - 3:19
    Quando encontramos o site
    nada chamativo do Mifne Centre,
  • 3:19 - 3:23
    uma pequena clínica
    num povoado no norte de Israel,
  • 3:23 - 3:28
    especializada no tratamento de famílias
    com crianças autistas, e até bebês,
  • 3:28 - 3:30
    ambos ficamos esperançosos.
  • 3:30 - 3:33
    Não havia nenhuma razão para tanto,
    não sabíamos nada sobre eles,
  • 3:33 - 3:35
    mas ambos tivemos a forte sensação
  • 3:35 - 3:39
    de que aquele era um lugar que poderia
    realmente mudar a vida da nossa família.
  • 3:39 - 3:41
    Então, pesquisamos, conversamos com eles,
  • 3:41 - 3:45
    encontramos outras pessoas
    que estiveram lá e conversamos com elas
  • 3:45 - 3:49
    e, por fim, decidimos tentar
    e ir lá pessoalmente.
  • 3:49 - 3:51
    Eu me lembro que no caminho
  • 3:51 - 3:55
    de Tel Aviv até o povoado de Rosh Pina,
    aonde precisávamos chegar,
  • 3:55 - 3:57
    de repente me vi cheio de dúvidas.
  • 3:57 - 3:58
    De repente, comecei a pensar:
  • 3:58 - 4:02
    "Bem, e se chegarmos lá
    e não houver nenhuma clínica?
  • 4:02 - 4:05
    E se for um grande jogo de marketing
    para pegarem todo nosso dinheiro
  • 4:05 - 4:07
    e ficarmos sem nada
    para tentar outra coisa?"
  • 4:08 - 4:09
    Felizmente, não foi assim.
  • 4:09 - 4:12
    Felizmente, a clínica existia,
  • 4:12 - 4:15
    e eles passaram as três semanas seguintes
    cuidando da nossa família.
  • 4:16 - 4:20
    Aparentemente, não havia nada
    de incrível no que eles faziam.
  • 4:20 - 4:24
    Basicamente só brincavam com ele,
    individualmente, numa sala,
  • 4:24 - 4:26
    seis horas por dia, ele e um terapeuta,
  • 4:26 - 4:29
    e os terapeutas revezam-se
    mais ou menos de hora em hora.
  • 4:29 - 4:35
    Mas eles faziam isso de forma a criar
    um ambiente naquela sala
  • 4:35 - 4:41
    livre da sobrecarga
    de estímulos sensoriais
  • 4:41 - 4:43
    que estariam sendo lançados
    sobre ele no dia a dia comum
  • 4:43 - 4:47
    e que não seriam nada de mais para nós,
  • 4:47 - 4:50
    mas que ele processava de forma diferente.
  • 4:50 - 4:52
    Mas talvez o mais importante
  • 4:52 - 4:57
    é que era um ambiente livre dos gatilhos
    emocionais supersutis do estresse,
  • 4:57 - 5:01
    que também seriam lançados sobre ele,
    os quais nem sequer perceberíamos.
  • 5:01 - 5:05
    Seriam coisas tipo
    nossas expectativas não expressas,
  • 5:05 - 5:09
    decepções, dúvidas, medos sobre o futuro,
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    preocupações e todo esse tipo de coisa.
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    Não tínhamos vocalizado essas coisas,
    mas ele as teria percebido intuitivamente,
  • 5:16 - 5:19
    e se desestabilizaria
    constantemente com isso.
  • 5:20 - 5:23
    Ao não mais ser desestabilizado
    por essas coisas,
  • 5:24 - 5:29
    a terapeuta teve a oportunidade de evocar
    seu senso interior de confiança
  • 5:29 - 5:34
    e seu senso interior de querer formar
    uma relação com outra pessoa
  • 5:34 - 5:38
    e obter alguma satisfação dessa relação.
  • 5:38 - 5:41
    Isso foi fundamental fazê-lo se abrir
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    e, com isso,
  • 5:42 - 5:47
    ela pôde trabalhar a tolerância dele
    às diversas fontes de estresse
  • 5:47 - 5:52
    para que, ao fim, ele pudesse passar
    cada vez mais tempo fora da sala,
  • 5:52 - 5:55
    desenvolvendo a força interior
    que ele estava criando ali dentro.
  • 5:56 - 5:58
    Mas isso era para o futuro.
  • 5:58 - 6:01
    Os resultados imediatos
    também foram impressionantes.
  • 6:01 - 6:03
    Algumas horas depois de chegarmos,
  • 6:03 - 6:07
    eles conseguiram colocá-lo sentado à mesa,
    com uma colher na mão,
  • 6:07 - 6:10
    comendo sozinho alimentos sólidos,
    com um grande sorriso no rosto.
  • 6:11 - 6:13
    Isso era inimaginável.
  • 6:13 - 6:16
    Houve contratempos e desafios
    no caminho, é claro,
  • 6:16 - 6:20
    como é de se esperar quando a qualidade
    de vida de alguém é transformada,
  • 6:20 - 6:24
    mas, a partir daquele dia,
    a trajetória foi uma constante ascendente.
  • 6:24 - 6:27
    Enquanto estivemos lá,
    também fomos capacitados,
  • 6:27 - 6:30
    intensamente, para implementarmos
    esse método em casa,
  • 6:30 - 6:34
    o que fizemos com o auxílio
    de outro terapeuta particular,
  • 6:34 - 6:36
    que também conhecia o método.
  • 6:36 - 6:41
    Pouco depois, as crises retrocederam,
    ele ficou mais estável e equilibrado
  • 6:41 - 6:44
    e, pela primeira vez,
    pelo que podíamos lembrar,
  • 6:44 - 6:48
    conseguimos criar uma relação realmente
    significativa com nosso filho.
  • 6:50 - 6:54
    Eles nos disseram que, após seis meses,
    ele começaria a voltar a falar
  • 6:54 - 6:56
    e, após uns quatro meses,
  • 6:56 - 6:59
    ele começou a entender
    o que falávamos com ele
  • 6:59 - 7:02
    e a usar palavras soltas.
  • 7:02 - 7:06
    Esse vídeo é um exemplo
    de o quanto ele se desenvolveu
  • 7:06 - 7:10
    apenas cinco meses depois de voltar
    de Israel, com dois anos e meio.
  • 7:12 - 7:14
    (Vídeo) Guy Shahar: É um macaco?
  • 7:14 - 7:15
    Daniel: Não.
  • 7:15 - 7:17
    GS: É um elefante?
  • 7:18 - 7:20
    Elefante?
  • 7:22 - 7:25
    GS: Não. É um passarinho?
  • 7:25 - 7:26
    Daniel: Não.
  • 7:26 - 7:28
    GS: É um macaco?
  • 7:30 - 7:31
    (Daniel rindo)
  • 7:31 - 7:34
    GS: É um cachorrinho! Au-au!
  • 7:35 - 7:38
    (No palco) GS: Alguns anos atrás,
    ele entrou numa escola regular,
  • 7:38 - 7:40
    onde ele é bem cuidado,
  • 7:40 - 7:45
    e basicamente ele é um menino
    de sete anos alegre e equilibrado.
  • 7:46 - 7:48
    Temos alguns desafios e dificuldades,
  • 7:48 - 7:50
    mas nada que se compare
  • 7:50 - 7:53
    ao que fomos levados a acreditar
    que teríamos de enfrentar.
  • 7:54 - 7:58
    Mas esta palestra não é
    sobre meu filho nem minha família.
  • 7:58 - 8:01
    Não é para exibir
    nossas supostas conquistas
  • 8:01 - 8:03
    ou algum tipo de vitória
    contra adversidades,
  • 8:03 - 8:05
    porque não é isso.
  • 8:06 - 8:10
    Nossa história traz questões
    muito mais profundas que isso.
  • 8:10 - 8:15
    Porque se, como fomos levados a acreditar,
    o autismo é uma condição pra vida inteira
  • 8:15 - 8:18
    e se ele é caracterizado
    por problemas sensoriais
  • 8:18 - 8:21
    e problemas na regulação
    das emoções, etc.,
  • 8:21 - 8:25
    então como é possível que esse menino,
    num período tão curto de tempo,
  • 8:25 - 8:30
    tenha passado de totalmente resistente
    a qualquer forma de comunicação,
  • 8:30 - 8:34
    totalmente dependente dos outros
    para suas necessidades mais básicas,
  • 8:34 - 8:39
    ao indivíduo agradável, calmo
    e completamente engajado que vocês viram?
  • 8:41 - 8:45
    Não acredito que o Daniel
    tenha sido curado do autismo.
  • 8:45 - 8:48
    Acho que o autismo é pra vida toda,
  • 8:48 - 8:51
    mas era a natureza dessa condição
    que antes não compreendíamos.
  • 8:52 - 8:56
    Vemos pessoas com autismo
    geralmente com problemas sensoriais, etc.,
  • 8:56 - 9:01
    e presumimos que essas coisas
    sejam parte do autismo ou um sintoma dele,
  • 9:01 - 9:03
    ou que o cérebro dos autistas
    seja de alguma forma programado
  • 9:04 - 9:06
    para ser suscetível a esses problemas.
  • 9:06 - 9:10
    Mas e se essas coisas
    não fizerem parte do autismo?
  • 9:10 - 9:12
    E se a condição de autista,
  • 9:12 - 9:14
    por natureza,
  • 9:14 - 9:17
    não for uma incapacidade ou deficiência,
  • 9:17 - 9:22
    mas apenas uma profunda sensibilidade,
    no sentido mais positivo possível,
  • 9:22 - 9:24
    que, no ambiente adequado,
  • 9:24 - 9:27
    pudesse levar a uma vida
    produtiva e impressionante,
  • 9:27 - 9:30
    com grande valor a oferecer
    ao restante de nós?
  • 9:32 - 9:33
    Em minha experiência,
  • 9:33 - 9:35
    vejo a condição autista
  • 9:35 - 9:39
    como uma de benevolência
    e idealismo genuínos e altruístas.
  • 9:40 - 9:44
    Não vejo a criança autista
    como separada de seu ambiente.
  • 9:44 - 9:45
    É exatamente o oposto.
  • 9:45 - 9:48
    Vejo-a tão profundamente
    conectada com seu ambiente
  • 9:48 - 9:52
    que é quase impossível para ela
    não ficar sobrecarregada por ele.
  • 9:53 - 9:55
    Daí a necessidade
    de algum tipo de proteção.
  • 9:56 - 9:58
    Conforme a força interior
    do meu filho foi crescendo,
  • 9:59 - 10:01
    como resultado da terapia
    que estávamos proporcionando a ele,
  • 10:01 - 10:04
    e a necessidade de proteção
    foi diminuindo,
  • 10:04 - 10:08
    passamos a ver essa interconectividade
    com o que acontecia ao redor dele
  • 10:08 - 10:09
    realmente se destacar.
  • 10:10 - 10:15
    Qualquer sinal de dor
    ou agitação em outra pessoa
  • 10:15 - 10:17
    tornava-se uma fonte de dor
    e de agitação para ele.
  • 10:19 - 10:22
    Até uma história, até uma imagem
    num livro de histórias,
  • 10:22 - 10:25
    de alguém parecendo triste ou aborrecido
  • 10:25 - 10:27
    era quase insuportável para ele.
  • 10:27 - 10:32
    Tínhamos um livro lindo sobre um gato
    e um cão que viviam juntos.
  • 10:32 - 10:37
    Um dia, o gato saiu, e o cão ficou
    com fome, comeu a comida do gato.
  • 10:38 - 10:40
    Não conseguimos prosseguir com a história
  • 10:41 - 10:45
    porque, àquela altura, o Daniel gritava:
    "Não!", e fechou o livro com força,
  • 10:45 - 10:47
    e não conseguimos lê-lo
    para ele novamente por semanas.
  • 10:47 - 10:52
    Ele ficou preocupado com como o gato
    se sentiria ao ver sua tigela vazia.
  • 10:53 - 10:56
    Se ele visse outra criança
    com cara de triste na rua,
  • 10:56 - 11:00
    seu instinto o fazia ir até a criança,
    dar-lhe um abraço e até um beijo,
  • 11:01 - 11:03
    e dizer que tudo ficaria bem.
  • 11:03 - 11:04
    Até hoje,
  • 11:04 - 11:08
    quando ele vê um coleguinha na escola
    parecendo triste ou chorando,
  • 11:08 - 11:12
    ele vai chegar em casa, deitar na cama
    e se preocupar com o coleguinha.
  • 11:13 - 11:15
    Como devemos interpretar isso?
  • 11:15 - 11:21
    Será que ele só é
    sensível demais ou afável demais?
  • 11:21 - 11:24
    Será que ele só não entende
    como ver as coisas em perspectiva
  • 11:24 - 11:27
    ou como se comportar da forma correta
    em determinadas situações?
  • 11:28 - 11:30
    Novamente, eu diria o oposto.
  • 11:30 - 11:34
    Vejo esse comportamento como sendo
    motivado pelos instintos do coração dele,
  • 11:34 - 11:37
    que não lhe permitem
    machucar nada nem ninguém,
  • 11:37 - 11:40
    mesmo se o tiverem machucado.
  • 11:40 - 11:42
    Quando não é recíproco
  • 11:42 - 11:45
    e ele pode se tonar alvo
    de chacota ou zombaria
  • 11:45 - 11:48
    simplesmente por ser
    um pouquinho diferente,
  • 11:48 - 11:52
    é totalmente desorientador,
    confuso e doloroso pra ele.
  • 11:53 - 11:56
    Ainda assim, ele insiste que pessoas
    que fazem isso não são más;
  • 11:56 - 12:01
    são pessoas boas que ainda não aprenderam
    a serem a melhor versão de si mesmas.
  • 12:01 - 12:06
    Por outro lado, sempre que ele se vê numa
    dessas situações sociais muito raras
  • 12:06 - 12:12
    em que as pessoas estão presentes
    nessa condição incomum de abertura,
  • 12:12 - 12:17
    aceitação incondicional,
    apoio e positividade,
  • 12:17 - 12:19
    vemos uma criança diferente.
  • 12:19 - 12:24
    Dois anos atrás, nós o levamos
    a um centro de meditação na Índia,
  • 12:24 - 12:28
    e ele se integrou
    tão naturalmente no local
  • 12:28 - 12:30
    que ninguém que olhasse pra ele pensaria
  • 12:30 - 12:34
    que havia qualquer problema,
    muito menos uma deficiência.
  • 12:35 - 12:38
    Era o tipo de ambiente
    em que ele podia se desenvolver,
  • 12:38 - 12:41
    e provavelmente todos poderíamos
  • 12:41 - 12:44
    se estivéssemos prontos pra deixar
    de lado nossos medos e inibições.
  • 12:46 - 12:48
    Então, quem é que tem problemas aqui?
  • 12:48 - 12:52
    Será a pessoa autista,
    que está pronta, ansiando inclusive,
  • 12:52 - 12:57
    para viver num mundo aberto, colaborativo,
    inclusivo, de respeito mútuo e afetuoso?
  • 12:58 - 12:59
    Ou será que somos nós,
  • 12:59 - 13:04
    que criamos um ambiente de medo
    e de competição por toda parte?
  • 13:04 - 13:06
    Será que é a pessoa autista,
  • 13:06 - 13:10
    cujos sentidos aguçados e refinados
    funcionam melhor num ambiente calmo,
  • 13:10 - 13:14
    onde podem ser estimulados e utilizados
    em benefício de todos?
  • 13:14 - 13:15
    Ou será que somos nós,
  • 13:15 - 13:18
    que nos bombardeamos
    com luzes brilhantes e sons altos,
  • 13:18 - 13:22
    tentando obter uma sensação
    artificial de empolgação,
  • 13:22 - 13:25
    para nos distrairmos
    ou compensarmos a falta de sentido
  • 13:25 - 13:27
    que percebemos em nossas vidas?
  • 13:27 - 13:29
    Será que é a pessoa autista,
  • 13:29 - 13:33
    que só quer levar positividade
    e apoio às outras pessoas?
  • 13:33 - 13:35
    Ou será que somos nós,
  • 13:35 - 13:38
    que enchemos os espaços
    com exemplos de tensão e crueldade
  • 13:38 - 13:41
    com os quais habitualmente nos deleitamos?
  • 13:41 - 13:43
    Adicionamos a isso
    nossa própria crueldade,
  • 13:43 - 13:45
    que direcionamos uns aos outros e a eles,
  • 13:45 - 13:48
    sem perceber que isso
    é intensamente doloroso pra eles.
  • 13:50 - 13:52
    Numa situação como essa,
  • 13:52 - 13:57
    será que é supresa que as pessoas autistas
    às vezes pareçam caladas ou isoladas?
  • 13:58 - 14:00
    Geralmente penso em como nos sentiríamos
  • 14:00 - 14:02
    se tivéssemos que passar
    por uma zona de guerra
  • 14:02 - 14:04
    quando precisássemos ir a algum lugar,
  • 14:04 - 14:07
    com pessoas sendo cruéis
    e implacáveis umas com as outras,
  • 14:07 - 14:11
    com sangue, morte, destruição
    e mutilação em toda parte,
  • 14:11 - 14:15
    e o medo constante de estarmos sujeitos
    a isso tudo a qualquer instante.
  • 14:16 - 14:19
    Quanto tempo levaríamos
    até nos sacudirmos e balançarmos
  • 14:19 - 14:21
    e desenvolvermos aversão
    a alimentos ou outras coisas
  • 14:21 - 14:24
    tentando manter algum grau
    de controle sobre este mundo
  • 14:24 - 14:27
    que se tornou intolerável pra nós?
  • 14:27 - 14:30
    Quanto tempo levaríamos até que nossas
    conexões neurais se realinhassem
  • 14:31 - 14:34
    para se ajustarem ao que se esperara
    de alguém com uma deficiência?
  • 14:35 - 14:38
    A Sociedade Nacional Autista Britânica
  • 14:38 - 14:41
    recentemente publicou
    um filme curto, mas poderoso,
  • 14:41 - 14:43
    que tenta mostrar exatamente isso,
  • 14:43 - 14:45
    exatamente como deve ser
    para uma pessoa autista
  • 14:45 - 14:48
    levar a vida no dia a dia
    e realizar atividades cotidianas.
  • 14:48 - 14:51
    Ele se chama "Too Much Information"
    e faz a seguinte pergunta:
  • 14:51 - 14:55
    "Você conseguiria aguentar mais
    de um minuto dentro de um shopping?"
  • 14:56 - 14:58
    (Barulho de bolsas plásticas)
  • 14:58 - 15:00
    (Moedas caindo no chão)
  • 15:01 - 15:03
    (Mulher sugando sua bebida num canudo)
  • 15:03 - 15:04
    (Balões de gás sendo alisados)
  • 15:04 - 15:06
    (Perfume sendo borrifado)
  • 15:06 - 15:09
    (Um alarme sendo disparado)
  • 15:09 - 15:11
    (Rodas rolando no chão)
  • 15:11 - 15:13
    (Alarme)
  • 15:13 - 15:16
    (Um menino soluçando e chorando)
    Mulher: Está tudo bem, né?
  • 15:16 - 15:18
    Menino: Não sou malcriado.
  • 15:18 - 15:19
    Sou autista.
  • 15:20 - 15:22
    E recebo informações demais.
  • 15:25 - 15:30
    GS: Dependendo do ambiente que criamos
    ao redor de uma criança autista,
  • 15:30 - 15:33
    ela tem a capacidade,
    por um lado, de se desenvolver,
  • 15:33 - 15:36
    de se tornar uma fonte de alegria
    e inspiração para nós,
  • 15:36 - 15:40
    e até de nos ajudar a sermos mais
    parecidos com o que gostaríamos de ser.
  • 15:41 - 15:44
    Por outro lado, ela pode se sobrecarregar,
  • 15:44 - 15:46
    chegar ao limite do que pode suportar,
  • 15:46 - 15:49
    se fechar quase que completamente
  • 15:49 - 15:53
    e precisar de alguns cuidados práticos
    que seriam totalmente desnecessários
  • 15:53 - 15:57
    se fôssemos só um pouco mais conscientes
    sobre a forma como ela vivencia o mundo.
  • 16:00 - 16:03
    Não vejo o autismo
    como um conjunto de sintomas.
  • 16:03 - 16:06
    Vejo-o como a bela condição
    que está por trás desses sintomas
  • 16:06 - 16:08
    e os torna necessários
  • 16:08 - 16:11
    somente se o ambiente adequado
    não estiver disponível.
  • 16:12 - 16:16
    É um condição de inocência,
    idealismo, benevolência,
  • 16:16 - 16:19
    e uma facilidade de pôr as necessidades
    dos outros acima das deles.
  • 16:20 - 16:22
    Poderíamos chamar isso de amor.
  • 16:22 - 16:25
    Foi por isso que criei
    o projeto Transforming Autism,
  • 16:25 - 16:28
    para empoderar pais e cuidadores
    de crianças autistas
  • 16:28 - 16:32
    para identificarem esses valores
    e trazê-los para a vida de seus filhos
  • 16:32 - 16:33
    de forma real e prática,
  • 16:33 - 16:36
    para que tenham a chance
    de desenvolver seu pleno potencial.
  • 16:37 - 16:40
    Se conseguíssemos criar
    um mundo em volta deles
  • 16:40 - 16:43
    no qual fôssemos todos
    motivados por tais valores,
  • 16:43 - 16:48
    posso imaginar muitos dos que hoje
    se balançam e não conseguem se comunicar
  • 16:48 - 16:50
    sendo integrados totalmente
    num mundo assim.
  • 16:51 - 16:54
    Alguns deles podem inclusive
    se tornar líderes naturais e pioneiros
  • 16:54 - 16:56
    de absoluta integridade,
  • 16:56 - 16:59
    com o claro objetivo de salvaguardar
    o bem-estar dos outros
  • 16:59 - 17:03
    enquanto o melhor deles consegue aflorar.
  • 17:04 - 17:08
    Pode parecer uma fantasia
    ingênua e clichê,
  • 17:08 - 17:12
    mas será que na verdade não é
    só um ideal esquecido e ignorado
  • 17:12 - 17:15
    que cada um de nós carrega
    silenciosamente dentro de si?
  • 17:16 - 17:20
    Que possamos trazer o máximo possível
    desses valores para as nossas vidas,
  • 17:20 - 17:23
    pelo menos para o benefício
    de nossos filhos autistas.
  • 17:24 - 17:25
    Obrigado.
  • 17:25 - 17:26
    (Aplausos)
Title:
A bela realidade do autismo | Guy Shahar | TEDxWandsworth
Description:

Nesta palestra, Guy usa as experiências e ideias que acumulou como pai de um menino autista, para propor uma perspectiva radicalmente diferente sobre o autismo. Longe de ser uma deficiência caracterizada por um conjunto de dificuldades aceitáveis, ele sugere que a condição subjacente que se manifesta, a qual chamamos de autismo, deve na verdade ser validada.

Guy Shahar é escritor e consultor sobre autismo. Seu projeto, Transforming Autism, traz conscientização sobre os aspectos positivos do transtorno, e capacita outros pais a entenderem e valorizarem seus filhos autistas e a melhorar drasticamente a qualidade de vida deles, criando um ambiente de confiança e amor ao seu redor.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:33

Portuguese, Brazilian subtitles

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