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Title:
Três segredos das pessoas resilientes
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Description:
Todo mundo passa por perdas, mas como lidar com os momentos difíceis que as sucedem? A pesquisadora em resiliência Lucy Hone compartilha três estratégias concebidas com muita dificuldade que visam desenvolver a capacidade de desafiar as adversidades, superar lutas e encarar o que quer que aconteça com graça e coragem.
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Speaker:
Lucy Hone
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Para começar, peço licença
para fazer algumas perguntas.
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Se vocês já perderam alguém
que amavam profundamente,
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se já tiveram o coração partido,
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se já passaram por um divórcio complicado,
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ou se já foram vítima de infidelidade,
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por favor, levantem-se.
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Se não for possível ficar de pé,
vocês podem levantar a mão.
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Por favor, permaneçam de pé
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e deixem a mão levantada.
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Se vocês já viveram um desastre natural,
já sofreram bullying ou foram demitidos,
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levantem-se.
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Se já sofreram um aborto espontâneo,
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se vocês já abortaram
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ou se já lutaram contra a infertilidade,
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por favor, levantem-se.
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Por fim, se vocês, ou qualquer
pessoa que amam,
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tiveram que lidar com alguma
doença mental, demência,
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alguma forma de deficiência física,
ou lidou com suicídio,
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por favor, levantem-se.
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Olhem ao redor.
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Dificuldades não discriminam.
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Se você está vivo,
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terá ou já teve
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que enfrentar tempos difíceis.
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Obrigada a todos, podem se sentar.
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Eu comecei meus estudos
sobre resiliência há uma década
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na Universidade da Pensilvânia,
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na Filadélfia.
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Foi incrível estar lá naquela época,
porque os professores que me treinaram
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tinham acabado de conseguir um contrato
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para treinar 1,1 milhões
de soldados americanos
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para ficarem tão bem mentalmente
quanto estavam fisicamente.
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Como podem imaginar,
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não dá pra ter um público mais cético
que sargentos de treinamento americanos
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voltando do Afeganistão.
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Para alguém como eu,
cuja missão principal na vida é entender
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como podemos tirar melhor proveito
dos resultados acadêmicos
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e levá-los para o dia a dia das pessoas,
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a universidade era um lugar
bem inspirador para se estar.
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Terminei meus estudos nos Estados Unidos
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e depois voltei aqui para casa,
em Christchurch,
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para começar meu doutorado.
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Eu tinha acabado de começar minha pesquisa
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quando aconteceu o terremoto
em Christchurch.
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Então, eu deixei minha pesquisa de lado
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e comecei a trabalhar com minha comunidade
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para ajudá-la durante aquele período
terrível depois do terremoto.
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Trabalhei com todo tipo de organizações,
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de órgãos governamentais a construtoras,
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e todo tipo de grupos comunitários,
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ensinando a todos eles
maneiras de pensar e agir
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que estimulam a resiliência.
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Eu pensei que aquela era minha vocação,
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meu momento de fazer bom uso
de toda aquela pesquisa.
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Mas, infelizmente, eu estava errada.
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Meu verdadeiro teste veio em 2014,
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no final de semana
do Aniversário da Rainha.
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Nós e outras duas famílias
tínhamos decidido
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descer para o lago Ohau
e pedalar até a costa.
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No último minuto,
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minha linda filha Abi, de 12 anos,
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decidiu entrar no carro com a melhor
amiga, Ella, também de 12 anos,
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e a mãe da Ella, Sally,
uma amiga minha muito querida.
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No caminho, quando estavam
viajando por Rakaia
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em Thompsons Track,
um motorista ignorou o sinal de PARE
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e bateu no carro delas,
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matando as três instantaneamente.
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eu me senti arremessada
para o outro lado da equação,
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acordando com uma identidade
completamente nova.
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Ao invés de ser
a especialista em resiliência,
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eu era, de repente, uma mãe em luto.
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Acordar sem saber quem sou,
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tentar entender aquelas
notícias impensáveis,
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meu mundo se quebrou em pedacinhos.
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De repente, sou eu quem precisa
de todo aquele conselho de especialista.
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E digo mais,
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eu não gostei nem um pouco do que escutei.
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Nos dias seguintes à morte de Abi,
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nos disseram que estávamos
à beira do distanciamento familiar.
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Que provavelmente iríamos nos divorciar
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e que corríamos risco
de uma doença mental.
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Lembro-me de ter pensado: "Uau!
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Obrigada, pensei que minha vida
já estivesse uma droga".
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Os panfletos descreviam
os cinco estágios do luto:
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raiva, negociação, negação,
depressão, aceitação.
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O apoio à vítima chegou à nossa porta
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e disse que deveríamos considerar
os próximos cinco anos de luto.
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Eu sei que os panfletos
e as iniciativas tinham boas intenções.
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Mas em todo aquele conselho,
eles nos faziam sentir como vítimas,
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completamente arrasados
com o caminho pela frente
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e incapazes de exercer qualquer influência
sobre qualquer que fosse nosso luto.
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Não precisava que me dissessem
que as coisas estavam muito ruins.
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Acreditem, já sabia que as coisas
eram realmente terríveis.
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O que eu mais precisava era de esperança.
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Eu precisava de uma luz
no meio de toda aquela angústia,
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dor e anseio.
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Acima de tudo,
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queria ser um agente participativo
no meu processo de luto.
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Então, decidi dar as costas
àqueles conselhos
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e, ao invés disso, decidi conduzir
uma autoexperimentação.
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Eu pesquisei e tinha as ferramentas.
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Queria saber se elas seriam
mesmo úteis naquele momento
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frente a uma montanha enorme para escalar.
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Mas, neste momento, tenho que confessar
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que não sabia direito se alguma
coisa daquilo iria funcionar.
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A perda de um filho é conhecida
como a mais difícil de suportar.
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Mas agora posso dizer,
depois de cinco anos,
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o que eu já sabia da pesquisa.
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Que você pode se reerguer
de uma dificuldade,
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que há estratégias que funcionam,
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que é bem possível
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fazer você pensar e agir
de certas maneiras
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que ajudarão a abrir caminho
em tempos difíceis.
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Existem coleções enormes
de pesquisas sobre como fazer isso.
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Hoje, vou dividir
com vocês três estratégias.
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Essas foram as principais que adotei
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e que me salvaram nos dias mais difíceis.
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São três estratégias que sustentam
todo o meu trabalho
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e estão todas facilmente
disponíveis a todos nós,
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qualquer um pode aprender.
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Vocês podem aprendê-las agora mesmo.
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pessoas resilientes sabem
que coisas terríveis acontecem.
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Sabem que o sofrimento faz parte da vida.
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Não significa que o apreciem,
elas não estão delirando.
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Só que quando os tempos difíceis chegam,
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elas parecem entender
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que o sofrimento é parte
da existência humana.
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E saber disso impede que você
se sinta discriminado
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quando os tempos difíceis chegam.
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Nem uma única vez tinha me perguntado:
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"Por que eu?"
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Na verdade, me lembro ter pensado:
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"Por que não eu?
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Coisas terríveis acontecem com você,
assim como acontecem com qualquer um.
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Essa é sua vida agora:
é hora de afundar ou nadar".
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A verdadeira tragédia
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é que poucos de nós parecem
compreender isso.
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Parece que vivemos numa época
em que temos o direito a uma vida perfeita
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na qual fotos bonitas e felizes
no Instagram são a regra,
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quando, na verdade,
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como todos vocês mostraram
no começo da minha palestra,
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a verdade é o oposto.
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pessoas resilientes
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sabem escolher cautelosamente
ao que dar atenção.
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Elas têm o hábito de julgar
situações de maneira realista
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e, normalmente, focam
o que elas podem mudar,
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e, de alguma forma, aceitam
as coisas que não podem.
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Essa é uma habilidade vital
para a resiliência e pode ser aprendida.
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Como humanos,
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nós somos muito bons em perceber
ameaças e fraquezas.
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Nós ficamos atentos ao negativo.
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Somos muito bons em percebê-lo.
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Emoções negativas colam
em nós como Velcro,
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enquanto emoções e experiências positivas
parecem quicar como o Teflon.
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Ficar atento nesse sentido é,
na verdade, muito bom para nós,
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e nos serviu muito bem
sob uma perspectiva evolutiva.
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Imaginem por um momento
que sou uma mulher das cavernas,
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e estou saindo da minha caverna pela manhã
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e há um tigre dentes-de-sabre de um lado
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e um belo arco-íris do outro.
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Perceber esse tigre é a chave
da minha sobrevivência.
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O problema é
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que agora nós vivemos em uma era
em que somos constantemente bombardeados
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por ameaças o tempo todo,
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e nosso pobre cérebro
trata cada uma dessas ameaças
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como se ela fosse um tigre.
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O nosso foco na ameaça,
a resposta ao nosso estresse,
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fica ligado permanentemente.
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Pessoas resilientes
não desdenham coisas negativas,
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mas elas também acharam uma maneira
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de se sintonizar no que é bom.
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Um dia, quando dúvidas
ameaçavam tomar conta de mim,
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me lembro claramente de ter pensado:
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"Não, você não será engolida por isso.
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Você tem que aguentar.
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Você ainda tem muito para viver.
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Escolha a vida, não a morte.
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Não perca o que você tem
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para o que você já perdeu".
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Em psicologia, chamamos isso
de "ganho percebido".
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No meu admirável mundo novo,
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isso envolvia tentar encontrar
coisas pelas quais ser grata.
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Pelo menos a nossa garotinha
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não tinha morrido de alguma doença
terrível, de longa duração.
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Morreu de repente, instantaneamente,
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poupando a nós e a ela mesma de dor.
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Nós tivemos um apoio enorme
da nossa família e de amigos
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para superar isso.
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E o mais importante,
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ainda tínhamos dois lindos meninos
para nos dedicarmos,
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que precisavam de nós agora,
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e mereciam ter uma vida normal
e o nosso melhor.
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Ser capaz de mudar o foco da atenção
para também incluir coisas boas
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foi mostrado pela ciência
como uma ótima estratégia.
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Então, em 2005, Martin Seligmann
e seus colegas conduziram um experimento.
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Tudo que eles pediram
para as pessoas fazerem
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foi pensar em três coisas boas
que tinham acontecido em cada dia.
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Eles descobriram, depois de mais
de seis meses desse estudo,
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que aquelas pessoas manifestavam
níveis mais altos de gratidão,
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níveis mais altos de felicidade
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e menos depressão ao longo
dos seis meses de pesquisa.
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Quando você está de luto,
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talvez precise de um lembrete,
ou de permissão para se sentir grato.
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Na nossa cozinha, temos
um pôster rosa neon
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que nos lembra a aceitar as coisas boas.
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No exército americano,
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fizeram isso de modo um pouco diferente.
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Disseram ao exército
para "caçar" coisas boas.
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Encontrem a linguagem
que funcionar melhor, mas seja qual for,
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façam um esforço intencional,
premeditado e contínuo para se sintonizar
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com o que há de bom do mundo.
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pessoas resilientes se perguntam:
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"O que eu estou fazendo está
me ajudando ou me prejudicando?"
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Essa é uma pergunta
muito usada em terapias boas.
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E como isso é poderoso!
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Essa era minha pergunta essencial
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nos dias seguintes da morte das meninas.
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Me fiz essa pergunta inúmeras vezes:
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"Devo ir ao julgamento e ver o motorista?
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Isso me ajudaria ou me prejudicaria?"
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Bem, era óbvio para mim,
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eu decidi ficar longe disso.
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Mas o Trevor, meu marido,
decidiu conhecer o motorista
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um tempo depois.
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Tarde da noite, eu me pegava
absorta em fotos antigas da Abi,
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e ficava cada vez mais triste.
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Eu me perguntava:
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"Sério? Isso está te ajudando
ou te prejudicando?
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Guarde essas fotos,
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vá pra cama dormir,
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seja bondosa com você mesma".
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Essa pergunta pode servir
em muitos contextos diferentes.
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"Será que a maneira como estou pensando
e agindo está me ajudando ou prejudicando
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na minha tentativa de conseguir
aquela promoção,
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passar naquela prova,
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me recuperar de um ataque cardíaco?"
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Muitas situações diferentes.
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Eu escrevo muito sobre resiliência
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e, com o passar dos anos, essa estratégia
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tem mostrado mais feedback
que qualquer outra.
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Recebo rios de cartas e e-mails
de todos os lugares
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de pessoas me falando sobre o impacto
enorme que isso tem tido na vida delas.
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Seja perdoar transgressões
familiares antigas,
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brigas de Natais passados,
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ou simplesmente "trollagem"
em redes sociais,
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seja se perguntar
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se você realmente precisa
de mais uma taça de vinho,
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se perguntar se o que você está fazendo,
a maneira como você está pensando,
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se o jeito que está agindo
está te ajudando ou te prejudicando,
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isso te coloca na posição de controle.
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Isso te dá certo controle
na tomada de decisão.
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Bem simples.
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Elas são de fácil alcance para todos nós,
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a qualquer hora, em qualquer lugar.
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Não é nada extraordinário.
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Resiliência não é uma característica fixa.
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Não é elusiva,
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algo que algumas pessoas têm e outras não.
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Ela exige, na verdade,
um processo simples.
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Apenas a boa vontade para tentá-la.
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Acho que todos passamos
por momentos na vida
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em que nossos caminhos se dividem
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e aquele que acreditávamos estar tomando
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se desvia para direções terríveis
que nunca tínhamos previsto,
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e que certamente não queríamos.
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Aconteceu comigo.
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Foi horrível além do imaginável.
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Se vocês um dia se encontrarem
em uma situação e pensarem:
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"Não tenho como me recuperar disso",
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recomendo que vocês
se apoiem nessas estratégias
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e pensem novamente.
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Não vou fingir
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que seja fácil pensar dessa maneira.
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E não elimina toda a dor.
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Mas se aprendi algo
nos últimos cinco anos,
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é que pensar dessa maneira ajuda.
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Mais do que qualquer outra coisa,
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isso me mostrou que é possível
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viver e estar de luto ao mesmo tempo.
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E eu sempre serei grata por isso.
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