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Sobre viver! | Ricardo Trajano | TEDxCentroUniversitárioNewtonPaiva

  • 0:10 - 0:13
    A única pessoa
    que não deveria estar aqui sou eu.
  • 0:14 - 0:18
    Eu fui declarado morto
    no dia 11 de julho de 1973.
  • 0:19 - 0:22
    Esse comunicado com uma tarja preta,
  • 0:22 - 0:25
    estava pregado no mural da minha faculdade
  • 0:25 - 0:26
    e dizia o seguinte:
  • 0:26 - 0:30
    "A Universidade Católica de Petrópolis
    comunica com pesar
  • 0:31 - 0:35
    o falecimento do aluno
    do curso de engenharia, Ricardo Trajano,
  • 0:36 - 0:38
    no desastre aéreo da Varig,
  • 0:38 - 0:42
    ocorrido em Paris
    no dia 11 de julho passado".
  • 0:43 - 0:47
    A primeira notícia é que não havia
    nenhum passageiro sobrevivente nesse voo.
  • 0:48 - 0:52
    Era um Boeing 707 da Varig
  • 0:52 - 0:54
    que partiu do Rio de Janeiro
  • 0:55 - 0:59
    faria uma escala em Paris
    e chegaria ao seu destino que era Londres.
  • 1:00 - 1:04
    Os jornais já tinham publicado a notícia
  • 1:05 - 1:07
    as rádios, a televisão,
  • 1:07 - 1:10
    e foi essa a notícia
    que a minha família recebeu.
  • 1:11 - 1:15
    Foi uma tragédia: 123 mortos...
  • 1:16 - 1:17
    E era desesperador,
  • 1:18 - 1:22
    porque meu pai já estava
    encomendando meu sepultamento.
  • 1:22 - 1:26
    E minha mãe, por motivos não naturais,
  • 1:26 - 1:28
    não acreditava.
  • 1:29 - 1:31
    Mas como vocês estão vendo,
  • 1:31 - 1:32
    eu não morri.
  • 1:33 - 1:36
    Eu fui o único passageiro
    sobrevivente nesse voo.
  • 1:36 - 1:39
    Eu costumo dizer que eu estou no lucro
  • 1:39 - 1:42
    e no crédito da vida
    há muitos e muitos anos.
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    Mas eu não apenas sobrevivi,
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    eu comecei a pensar muito sobre a vida,
  • 1:50 - 1:55
    sobre os meus relacionamentos
    e principalmente nos valores de vida.
  • 1:56 - 1:57
    Eu tinha 21 anos,
  • 1:59 - 2:02
    era minha primeira viagem,
    o meu sonho era conhecer Londres.
  • 2:03 - 2:05
    O avião lotado,
  • 2:06 - 2:08
    o voo tranquilo.
  • 2:08 - 2:11
    E faltando cerca de 5 minutos
    para chegar na escala em Paris
  • 2:12 - 2:13
    no aeroporto de Orly,
  • 2:14 - 2:17
    eu estava sentado lá atrás,
    lá no fundo, na penúltima fileira,
  • 2:18 - 2:23
    e atrás de mim começou uma fumaça
    pequena, na projeção da toalete.
  • 2:23 - 2:25
    O comissário foi lá.
  • 2:25 - 2:28
    E eu, por puro instinto, impulso,
  • 2:28 - 2:30
    tirei meu cinto
    e fui andando para a frente.
  • 2:31 - 2:34
    Todos os passageiros
    permaneceram sentados.
  • 2:35 - 2:37
    E quando eu cheguei lá na frente,
  • 2:37 - 2:40
    lá não tinha ainda
    o menor sinal de fumaça,
  • 2:40 - 2:43
    o comissário-chefe me viu
    e me deu uma bronca:
  • 2:43 - 2:46
    "Pô, garoto, o que você
    está fazendo aí em pé, cara?
  • 2:46 - 2:48
    Você não está vendo
    que o avião está chegando?
  • 2:48 - 2:53
    É proibido você ficar aqui,
    volta imediatamente pro seu lugar".
  • 2:54 - 2:56
    Eu olhei para a cara dele,
  • 2:56 - 2:58
    parecia que não estava falando comigo.
  • 2:59 - 3:03
    Na verdade, eu desobedeci, literalmente,
    a ordem dele, eu transgredi!
  • 3:04 - 3:06
    E continuei andando, cheguei lá na frente.
  • 3:07 - 3:11
    Tinha dois comissários
    na divisória da cabine, em pé,
  • 3:12 - 3:14
    desesperados, gritando,
  • 3:14 - 3:20
    porque a fumaça, ela foi muito rápida,
    ela já tinha tomado conta de todo o avião.
  • 3:19 - 3:21
    ela estava lá na frente também.
  • 3:22 - 3:26
    E era uma fumaça
    negra, preta, tóxica, densa.
  • 3:27 - 3:29
    Parecia fumaça de pneu queimando, sabe?
  • 3:30 - 3:33
    E quando fui ver os comissários novamente,
    não consegui vê-los.
  • 3:35 - 3:38
    Muito escuro, e percebi
    que eles tinham parado de gritar.
  • 3:38 - 3:40
    Provavelmente já estavam morrendo.
  • 3:40 - 3:43
    E fiquei encostado na divisória, também.
  • 3:43 - 3:46
    Não enxergava um palmo na minha frente.
  • 3:46 - 3:48
    Parecia que eu estava debaixo da terra.
  • 3:49 - 3:51
    E aí me veio a sensação da morte.
  • 3:51 - 3:55
    Veio um flashback na minha cabeça,
    aquele filme em fração de segundos.
  • 3:56 - 3:59
    Eu me despedindo da vida,
    meus amigos, minha família,
  • 3:59 - 4:01
    e senti a morte me abraçando.
  • 4:02 - 4:04
    Nesse momento, o avião inclinou muito.
  • 4:05 - 4:09
    Eles estavam procurando, na verdade,
    um pouso para fazer,
  • 4:09 - 4:12
    porque se eles continuassem
    até o aeroporto,
  • 4:12 - 4:14
    provavelmente ele poderia explodir no ar,
  • 4:15 - 4:18
    e a cabine de comando
    já estava cheia de fumaça, também.
  • 4:18 - 4:21
    Eles não enxergavam mais os instrumentos.
  • 4:21 - 4:25
    E aí, de repente, fizeram um pouso forçado
    numa plantação de cebolas.
  • 4:25 - 4:28
    E assim que eles fizeram o pouso,
  • 4:28 - 4:29
    pararam o avião,
  • 4:29 - 4:31
    eu apaguei,
  • 4:32 - 4:34
    perdi os sentidos,
  • 4:34 - 4:36
    e o teto todo do avião
  • 4:38 - 4:40
    foi caindo em chamas.
  • 4:41 - 4:44
    Aquelas placas,
    aquela fuselagem do avião, do teto,
  • 4:44 - 4:47
    foi caindo em cima de todas as pessoas,
  • 4:47 - 4:51
    carbonizando todas as pessoas,
    queimando todas as pessoas.
  • 4:52 - 4:56
    E caiu uma placa grande nas minhas costas;
    eu estava desacordado e não senti.
  • 4:56 - 4:59
    E aí eu queria abrir só um parêntese
    para contar uma coisa.
  • 4:59 - 5:02
    Uns anos atrás,
    eu encontrei com um amigo meu,
  • 5:04 - 5:07
    ele tem um lado espiritual fortíssimo,
  • 5:07 - 5:09
    ele lê muito.
  • 5:09 - 5:10
    Ele é um cara fora da curva.
  • 5:12 - 5:15
    E aí ele queria saber
    esses momentos de aflição que eu passei,
  • 5:15 - 5:16
    que falei há pouco para vocês,
  • 5:16 - 5:19
    e falei: "Puxa, eu senti
    a morte me abraçando".
  • 5:19 - 5:22
    Ele falou: "Ricardo, não era
    a morte te abraçando, cara,
  • 5:22 - 5:24
    era a vida te protegendo!"
  • 5:27 - 5:31
    Eu dei um abraço nele, emocionado,
  • 5:31 - 5:37
    e falei: "Cara, eu fiquei esses anos todos
    pensando que era a morte me abraçando,
  • 5:37 - 5:39
    e você vem aqui e me desmonta,
  • 5:39 - 5:42
    me fala a pura realidade, cara,
    era a vida me protegendo.
  • 5:43 - 5:44
    Que coisa mais linda!"
  • 5:45 - 5:47
    E aí, eu dei entrada no hospital.
  • 5:48 - 5:50
    cheguei no hospital sem roupa.
  • 5:51 - 5:54
    e me confundiram com um comissário,
  • 5:54 - 5:56
    o Sérgio Balbino.
  • 5:56 - 5:58
    Meu porte físico
    era muito parecido com o dele,
  • 5:58 - 6:02
    então eu era o Sérgio Balbino
    e o Ricardo tinha morrido.
  • 6:03 - 6:05
    A primeira notícia
    que foi para o Brasil foi essa,
  • 6:05 - 6:07
    minha família desesperada,
  • 6:08 - 6:11
    minha mãe era a única
    que acreditava que eu estava vivo.
  • 6:12 - 6:14
    E aí eu fiquei 30 horas em coma.
  • 6:15 - 6:18
    Nesse período todo que eu fiquei em coma,
  • 6:19 - 6:23
    pedi uma folha de papel e uma caneta,
  • 6:24 - 6:29
    e eu, desacordado,
    com uma letra tremida de criança,
  • 6:29 - 6:34
    coloquei o nome do meu pai,
    telefones, endereço.
  • 6:35 - 6:38
    Eu psicografei esse bilhete,
    eu estava desacordado.
  • 6:38 - 6:42
    Os caras pegaram esse bilhete,
    foram na lista de tripulantes
  • 6:43 - 6:45
    e não acharam o meu nome.
  • 6:45 - 6:48
    E aí foram na lista de passageiros
    apenas para dar uma checada,
  • 6:49 - 6:52
    e de repente veem meu nome lá:
    Ricardo Trajano. Mas como?
  • 6:52 - 6:56
    Como que esse passageiro estava
    lá na frente junto com os comissários?
  • 6:56 - 7:00
    E os passageiros todos sentados
    e mortos nas poltronas?
  • 7:01 - 7:03
    Imediatamente a Varig liga lá para casa:
  • 7:04 - 7:07
    "Olha, nós queríamos comunicar
    que seu filho..."
  • 7:07 - 7:08
    meu pai atendeu o telefone,
  • 7:09 - 7:12
    "nós queríamos comunicar
    que se filho está mal
  • 7:13 - 7:14
    mas está vivo".
  • 7:15 - 7:17
    Gente, de um velório
    que estava lá em casa,
  • 7:17 - 7:20
    virou uma grande festa!
  • 7:21 - 7:24
    Minha mãe se levantou do sofá,
    apontou para todo mundo e falou:
  • 7:24 - 7:26
    "Eu não falei que meu filho estava vivo?"
  • 7:26 - 7:28
    (Risos)
  • 7:29 - 7:32
    Eu acordei depois dessas 30 horas,
    que eu estava em coma,
  • 7:32 - 7:35
    acordei no hospital
    não entendendo absolutamente nada,
  • 7:36 - 7:40
    todo entubado
    e sentindo muita dor nas costas.
  • 7:41 - 7:43
    Olhei pras minhas costas, toda queimada,
  • 7:43 - 7:46
    minhas nádegas, minhas coxas,
  • 7:46 - 7:48
    tudo queimado.
  • 7:48 - 7:51
    A primeira reação que eu tive
    foi olhar para as minhas mãos,
  • 7:52 - 7:54
    colocar a mão no rosto
    para ver se estava queimado,
  • 7:54 - 7:56
    e examinar meu amigo aqui.
  • 7:56 - 7:59
    Olhei, levantei,
    estava tudo bonitinho no lugar
  • 7:59 - 8:01
    e falei: "Porra, beleza!"
  • 8:01 - 8:02
    (Risos)
  • 8:02 - 8:06
    Gente, foi um "porra, beleza", na hora,
  • 8:07 - 8:08
    me soou tão lírico,
  • 8:10 - 8:12
    foi tão espontâneo, sério.
  • 8:13 - 8:17
    E foi o momento inicial
    de todo um pensamento,
  • 8:17 - 8:21
    e uma energia positiva
    que caminharam comigo
  • 8:21 - 8:26
    ao longo de toda a minha
    difícil e lenta recuperação.
  • 8:27 - 8:29
    Quanto ao meu estado de saúde,
  • 8:29 - 8:31
    os médicos não me davam
    uma semana de vida.
  • 8:31 - 8:34
    A minha primeira radiografia
    é como se fosse um atestado de óbito,
  • 8:34 - 8:36
    radiografia de pulmão.
  • 8:37 - 8:39
    Mas desde os primeiros dias de internação
  • 8:41 - 8:42
    e já muito debilitado,
  • 8:43 - 8:45
    eu procurava extrair,
  • 8:46 - 8:50
    dentro daquele ambiente pesado,
    conturbado que era um CTI,
  • 8:51 - 8:54
    as coisas boas que me rodeavam.
  • 8:55 - 8:59
    Eram coisas aparentemente banais,
  • 9:00 - 9:04
    mas carregadas de uma força,
    de uma energia, de um otimismo,
  • 9:05 - 9:09
    que me alimentava enormemente
  • 9:10 - 9:16
    e que me davam forças para lutar pela vida
    que parecia estar próxima do fim.
  • 9:17 - 9:22
    E essas coisas, eram coisas, tipo,
    meus pais faziam cartazes,
  • 9:23 - 9:26
    faziam frases escritas com caneta pilot,
  • 9:26 - 9:27
    entregavam para a enfermeira.
  • 9:27 - 9:31
    Eles não podiam entrar no CTI.
    E a enfermeira me mostrava as frases.
  • 9:31 - 9:36
    "Vamos lá, Ricardo! Força, Ricardo!
    Ricardo, você vai sair dessa!"
  • 9:36 - 9:38
    Frases bobas, não é verdade?
  • 9:38 - 9:41
    Mas que para mim, ali, naquele momento,
  • 9:41 - 9:45
    eram frases cheias de energia, fé,
  • 9:46 - 9:48
    esperança.
  • 9:48 - 9:50
    Eu ficava esperando, todo santo dia,
  • 9:50 - 9:53
    ela chegar com uma frase dessas
    diferente pra mim.
  • 9:54 - 9:56
    Ficava contando as horas no relógio.
  • 9:56 - 9:58
    Aquilo era meu alimento.
  • 9:58 - 10:01
    Da mesma forma, as cartas que eu recebia.
  • 10:02 - 10:06
    Recebia cartas dos meus parentes,
    meus amigos, do mundo inteiro,
  • 10:06 - 10:08
    cartas de pessoas que eu não conhecia,
    me mandando força!
  • 10:09 - 10:13
    E as fitas cassete?
    Vocês sabem o que é fita cassete?
  • 10:13 - 10:14
    O papo é meio pré-histórico aqui.
  • 10:15 - 10:18
    Eram fitas que você tinha
    e ouvia música, som e tal.
  • 10:19 - 10:22
    E eu tinha um gravador cassete,
    mas eu não podia ouvir,
  • 10:22 - 10:23
    eu estava no meio do CTI.
  • 10:24 - 10:27
    E aí tive a ideia
    de pegar um estetoscópio,
  • 10:27 - 10:31
    colocar ele aqui e a boca do estetoscópio
    colocar no gravador.
  • 10:31 - 10:35
    E ficava ouvindo música, meus amigos,
  • 10:35 - 10:38
    os Rolling Stones, Angie!
  • 10:39 - 10:40
    Cara,
  • 10:41 - 10:43
    Eu só lamento uma coisa.
  • 10:43 - 10:47
    Não ter tido a ideia
    de ter patenteado esse meu invento.
  • 10:48 - 10:51
    Eu fui o inventor
    do "walkman" hospitalar.
  • 10:51 - 10:53
    (Risos)
  • 10:53 - 10:57
    De todas essas coisas
    que eu falei para vocês agora,
  • 10:58 - 11:02
    eu chego à conclusão
    de que nós somos seres
  • 11:03 - 11:06
    essencialmente simples.
  • 11:07 - 11:09
    A nossa natureza é simples.
  • 11:09 - 11:11
    Não importa o quanto você tem,
  • 11:11 - 11:13
    o quanto você é,
  • 11:13 - 11:15
    ou se vem aquele cara para você e fala:
  • 11:15 - 11:17
    "Pô meu amigo, você sabe
    com quem você está falando?"
  • 11:17 - 11:20
    Isso não vale nada, absolutamente nada.
  • 11:21 - 11:25
    Nos momentos mais difíceis,
    importantes da nossa vida,
  • 11:26 - 11:29
    a simplicidade é tudo
  • 11:30 - 11:32
    A nossa essência é simples.
  • 11:34 - 11:37
    E aí, fiquei três meses hospitalizado.
  • 11:38 - 11:42
    Foi um processo lento e gradual,
    eu emagreci cerca de 15 quilos.
  • 11:43 - 11:46
    Seis meses depois
    eu tinha voltado para a faculdade,
  • 11:49 - 11:51
    E jogando basquete,
  • 11:51 - 11:54
    e o mais importante, não fiquei
    com nenhum tipo de sequela,
  • 11:54 - 11:56
    mas me faltava uma única coisa:
  • 11:56 - 11:59
    terminar a minha viagem
    que foi interrompida.
  • 12:01 - 12:06
    E aí, como bom ariano,
    teimoso e cabeça dura como eu sou,
  • 12:07 - 12:11
    um ano depois,
    eu voltei na mesma agência da Varig,
  • 12:12 - 12:13
    (Risos)
  • 12:13 - 12:15
    cheguei para a atendente e falei:
  • 12:15 - 12:19
    "Olha eu gostaria de uma passagem
    para Londres com escala em Paris".
  • 12:19 - 12:22
    A mulher mandou o preço logo,
    e imediatamente eu falei:
  • 12:22 - 12:23
    "Não, você não está entendendo.
  • 12:23 - 12:24
    (Risos)
  • 12:24 - 12:27
    Sabe aquele acidente
    que teve um ano atrás?
  • 12:28 - 12:31
    E sobreviveu apenas um passageiro?
    Esse passageiro sou eu.
  • 12:32 - 12:34
    Você não acha que a Varig ...
  • 12:34 - 12:38
    Eu paguei a minha passagem "cash"
    ida e volta para a Varig
  • 12:38 - 12:40
    e nem cheguei
    na primeira escala da ida!
  • 12:40 - 12:42
    (Risos)
  • 12:42 - 12:44
    Você não acha que a Varig
    tinha que me dar outra passagem?"
  • 12:44 - 12:47
    Ela arregalou os olhos e falou:
    "Mas foi você?"
  • 12:47 - 12:49
    Me deu um abraço supercarinhoso.
  • 12:49 - 12:51
    Minutos depois,
    eu estava com a passagem no bolso.
  • 12:51 - 12:53
    A Varig me deu outra passagem.
  • 12:53 - 12:57
    No dia do embarque, eu embarquei
    com grande amigo meu, Mauricio Valladares.
  • 12:58 - 13:04
    E a Varig soube que nós íamos embarcar
    e imediatamente nos deu um "upgrade".
  • 13:04 - 13:07
    Não é isso que vocês falam?
    Uma primeira classe.
  • 13:07 - 13:10
    E aí, já dentro do avião,
  • 13:11 - 13:14
    eles serviam para a gente
    antes do avião levantar voo.
  • 13:14 - 13:20
    Eles serviam para a gente
    uísque, caviar, champanhe, vinho.
  • 13:21 - 13:22
    E nós tomando todas!
  • 13:23 - 13:24
    (Risos)
  • 13:24 - 13:26
    Quando o avião decolou,
  • 13:26 - 13:31
    o Mauricio já mamado,
    calibrado, falou para mim:
  • 13:31 - 13:34
    "Ricardo, é o seguinte,
    se você se levantar daí,
  • 13:34 - 13:37
    mesmo que você for no banheiro,
    vou atrás de você!"
  • 13:37 - 13:39
    (Risos)
  • 13:41 - 13:43
    Gente, de todos esses estudos,
  • 13:45 - 13:47
    essas estatísticas que eu vejo,
  • 13:48 - 13:53
    a probabilidade de acontecer
    um acidente aéreo é mínima.
  • 13:54 - 13:58
    É de um acidente
    para cada três milhões de voos, ou seja,
  • 13:59 - 14:03
    eu pego uma pessoa, coloco ela para viajar
    todos os dias dentro de um avião,
  • 14:03 - 14:07
    ela vai precisar de 8,1 mil anos
    para que aconteça um acidente com ela.
  • 14:07 - 14:10
    Mas eu? Eu estava num desses voos.
  • 14:11 - 14:14
    E algumas pessoas me perguntam:
  • 14:14 - 14:16
    "Pô, Ricardo, mas que destino".
  • 14:16 - 14:20
    E eu prontamente respondo,
    eu falo: "Gente, destino?
  • 14:20 - 14:22
    Nós construímos o nosso destino, cara".
  • 14:23 - 14:26
    Eu escolhi a minha passagem,
    escolhi a companhia aérea,
  • 14:26 - 14:29
    escolhi o dia do voo,
    escolhi o lugar que foi vital para mim.
  • 14:29 - 14:32
    E uma sucessão de coisas
    da qual eu fui o protagonista.
  • 14:33 - 14:35
    O que quero dizer para você, meu amigo,
  • 14:35 - 14:38
    não adianta você ficar em casa,
    de braços cruzados,
  • 14:38 - 14:42
    esperando a vida,
    acontecer alguma coisa.
  • 14:42 - 14:46
    Ou lá numa praia,
    debaixo de um lindo coqueiro,
  • 14:46 - 14:48
    esperando as coisas caírem do céu.
  • 14:48 - 14:51
    O máximo que vai cair
    é um coco na sua cabeça.
  • 14:52 - 14:56
    E as pessoas que acreditam
    que o destino já está traçado, gente,
  • 14:56 - 15:00
    elas olham para os dois lados
    antes de atravessar a rua.
  • 15:01 - 15:05
    Portanto, eu não me vitimizo,
    jamais me vitimizei.
  • 15:06 - 15:08
    Tem um pensamento que eu adoro,
    que diz o seguinte:
  • 15:09 - 15:11
    "Nunca se dê por vencido,
  • 15:12 - 15:15
    porque quando você pensa que tudo acabou,
  • 15:16 - 15:18
    é o momento onde tudo recomeça".
  • 15:18 - 15:22
    E muito em cima disso,
    eu tenho certeza absoluta
  • 15:22 - 15:25
    que é possível recomeçarmos a vida
  • 15:27 - 15:30
    após uma queda,
    literalmente o que aconteceu comigo.
  • 15:30 - 15:33
    Após um trauma, após um fracasso,
    até mesmo após uma perda.
  • 15:34 - 15:38
    Eu, Ricardo, vivo o presente.
  • 15:39 - 15:43
    O passado para mim já foi,
    já era, não volta mais.
  • 15:43 - 15:47
    O futuro, eu não sei o que vai acontecer,
  • 15:47 - 15:49
    não sei o que vai acontecer
    amanhã comigo.
  • 15:49 - 15:51
    Eu achava que a felicidade,
  • 15:51 - 15:53
    a minha felicidade estava lá
    junto com o futuro.
  • 15:54 - 15:59
    E eu comecei a perceber
    que a minha felicidade está aqui,
  • 15:59 - 16:02
    nesse momento, está aqui dentro de mim.
  • 16:02 - 16:07
    Ser feliz não é eu ter uma vida perfeita
    ou quase que perfeita.
  • 16:08 - 16:11
    Felicidade é só questão de ser!
  • 16:12 - 16:13
    Quando eu estava no hospital,
  • 16:14 - 16:17
    eu procurava tomar
    o meu melhor remédio todos os dias,
  • 16:17 - 16:19
    a minha superdose diária,
  • 16:19 - 16:23
    que eram aqueles cartazes dos meus pais,
    aquelas fitas, aquelas cartas.
  • 16:23 - 16:26
    Eu canalizava aquilo tudo
    pra um pensamento só:
  • 16:26 - 16:29
    eu vou sair daqui,
    eu tenho que sair daqui.
  • 16:29 - 16:31
    Sabem para que que eu queria?
  • 16:31 - 16:35
    Para dar um abraço e um beijo
    nas pessoas que eu mais amava.
  • 16:35 - 16:39
    Isso era o meu combustível de vida,
    isso era tudo para mim.
  • 16:40 - 16:42
    Hoje eu já sou um sessentão,
  • 16:42 - 16:46
    eu era um engenheiro civil,
    agora sou engenheiro "si vira".
  • 16:47 - 16:50
    Trabalho com comércio,
    tenho que matar um leão todos os dias.
  • 16:51 - 16:52
    Mas não desisto.
  • 16:52 - 16:57
    Procuro manter o foco,
    ter atitude e tocar essa vida, gente.
  • 16:57 - 16:59
    Essa vida,
    que isso aqui é um grande palco.
  • 16:59 - 17:01
    isso é um grande palco,
    nós somos os atores.
  • 17:02 - 17:04
    Eu ia adorar se tivesse dois atos,
  • 17:04 - 17:07
    um para poder interpretar,
    outro para poder ensaiar.
  • 17:07 - 17:08
    Ia ser ótimo, né?
  • 17:08 - 17:13
    Mas a cortina, cara, ela só se fecha
    uma vez e acabou o espetáculo!
  • 17:13 - 17:16
    A nossa edição é limitada.
  • 17:17 - 17:20
    E avisa para aquele senhor que gosta
    de botar o dedo na frente e falar:
  • 17:20 - 17:23
    "Você sabe com quem
    você está falando?" Lembram?
  • 17:23 - 17:26
    Avisa pra ele que ele não leva
    nada dessa vida.
  • 17:26 - 17:29
    Muito menos a sua arrogância.
  • 17:30 - 17:33
    Eu queria contar um caso
    que me marcou muito,
  • 17:34 - 17:36
    e me emocionou muito, caso recente,
  • 17:36 - 17:38
    foi com relação a minha mãe,
    aquela velha guerreira
  • 17:38 - 17:40
    que sempre acreditou que eu estava vivo.
  • 17:40 - 17:43
    Mamãe faleceu dois anos e meio atrás,
  • 17:44 - 17:48
    aos 96 anos de idade, lúcida até o fim.
  • 17:49 - 17:52
    E nos últimos dois meses de vida dela,
    ela passou no hospital.
  • 17:52 - 17:54
    Ela morava no Rio,
    eu moro em Belo Horizonte.
  • 17:54 - 17:57
    E sempre que eu podia eu ia lá visitá-la.
  • 17:57 - 17:59
    E numa das últimas vezes
    que eu estive com ela,
  • 17:59 - 18:01
    ela chegou para mim, me deu um beijinho,
  • 18:01 - 18:04
    eu me despedi.
  • 18:04 - 18:07
    Ela falou assim:
    "Ricardo, não vai embora não.
  • 18:07 - 18:10
    Eu quero falar uma coisa que nunca falei
    na época do seu acidente".
  • 18:10 - 18:11
    "Mas o que que foi, mamãe?"
  • 18:11 - 18:13
    É o seguinte:
  • 18:13 - 18:16
    naquele período que as pessoas
    não te davam uma semana de vida,
  • 18:16 - 18:20
    eu tinha que arrancar
    o seu pai do quarto do hotel.
  • 18:20 - 18:25
    Nós pegávamos o metrô
    e nós íamos te visitar todos os dias.
  • 18:25 - 18:29
    Assim que nós saltávamos do metrô,
    tínhamos que fazer uma longa caminhada.
  • 18:29 - 18:34
    O céu azul, verão e o sol iluminando
    minhas mãos o tempo todo.
  • 18:35 - 18:38
    Eu ia andando o tempo todo
    e o sol iluminando minhas mãos.
  • 18:38 - 18:41
    Chegando no hospital,
    fechava minhas mãos,
  • 18:41 - 18:44
    e chegando o mais próximo de você,
  • 18:44 - 18:48
    abria e transmitia
    toda essa energia para você.
  • 18:49 - 18:53
    Gente, eu saí aquele dia do quarto,
    chorando aos prantos,
  • 18:54 - 18:56
    mas com a certeza absoluta
  • 18:56 - 18:58
    que toda essa energia
    me acompanha até hoje
  • 18:59 - 19:00
    e para o resto da minha vida.
  • 19:01 - 19:02
    Obrigado!
  • 19:02 - 19:04
    (Aplausos)
Title:
Sobre viver! | Ricardo Trajano | TEDxCentroUniversitárioNewtonPaiva
Description:

Conheça a história de Ricardo Trajano, que aos 21 anos de idade foi o único passageiro a sobreviver a um acidente de avião que levou 123 vidas.

Nesta palestra, Ricardo fala de sua recuperação física e mental após o acidente, trazendo uma reflexão sobre a retomada de valores e o que realmente importa na vida. Ricardo é pai de duas filhas e descobriu uma nova paixão: fazer palestras para o resto de sua vida.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx”.

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:09

Portuguese, Brazilian subtitles

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