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Deveríamos ser capazes de patentear um gene humano?

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    Foi numa tarde do outono de 2005.
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    Estava a trabalhar na ACLU como
    consultora científica da organização.
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    Eu realmente adorava o meu trabalho,
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    mas estava a ter um daqueles dias
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    em que me sentia um pouco
    desencorajada.
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    Por isso fui até ao escritório
    do meu colega Chris Hansen.
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    O Chris estava na ACLU
    há mais de 30 anos,
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    por isso tinha um conhecimento
    e visão institucional profundos.
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    Expliquei ao Chris que estava
    a sentir-me um pouco limitada.
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    Tinha investigado
    uma série de questões
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    na interseção da ciência
    com as liberdades civis,
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    super interessantes.
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    Mas queria que a ACLU se envolvesse
    muito mais nesses assuntos,
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    de uma forma que pudesse
    realmente fazer a diferença.
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    Então o Chris foi direto e disse-me:
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    "Bem, de todos esses assuntos que
    investigaste, quais estão no top 5?"
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    "Bem, há a discriminação genética,
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    "e tecnologias reprodutoras,
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    "os biobancos, e...
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    "oh, há um assunto muito giro,
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    "o MRI funcional e usá-lo
    para deteção de mentiras e..
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    "ah, e claro, há a patente de genes."
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    "Patente de genes?"
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    "Sim, patentes de genes humanos."
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    "Não!
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    "Estás a dizer-me que o Governo do E.U.A.
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    "têm emitido patentes de partes do
    corpo humano?
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    "Não pode ser."
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    Regressei ao meu escritório
    e enviei ao Chris três artigos.
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    Vinte minutos depois,
    ele irrompeu pelo meu escritório.
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    "Meus deus! Tens razão!
    Quem é que podemos processar?"
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    (Risos)
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    O Chris é um advogado brilhante,
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    mas não sabia quase nada
    sobre direito de patentes
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    e nada sobre genética.
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    Eu sabia algo sobre genética,
    mas nem sequer era advogada,
  • 1:48 - 1:50
    quanto mais advogada de patentes.
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    Por isso tínhamos claramente muito
    a aprender antes de propormos uma ação.
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    Primeiro, precisávamos de entender
    exatamente o que era patenteado,
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    quando alguém patenteava um gene.
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    As patentes de genes contêm
    normalmente dezenas de pedidos,
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    mas os mais controversos
    são os chamados "ADN isolado",
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    nomeadamente, um pedaço de ADN
    que é removido de uma célula.
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    Os proponentes de patentes
    de genes dizem:
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    "Veem? Não patenteámos o gene
    no vosso corpo,
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    "patenteámos um gene isolado."
  • 2:21 - 2:23
    E isso é verdade,
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    mas o problema é que qualquer uso
    do gene requer que ele esteja isolado.
  • 2:31 - 2:35
    E as patentes não eram apenas sobre
    um gene particular que eles isolavam,
  • 2:35 - 2:38
    mas sobre qualquer versão possível
    daquele gene.
  • 2:38 - 2:40
    Então o que é que isto significa?
  • 2:40 - 2:43
    Significa que não podemos dar
    o nosso gene a um médico
  • 2:43 - 2:45
    e pedir-lhe para analisá-lo
  • 2:45 - 2:48
    — para ver, por exemplo,
    se tem alguma mutação —
  • 2:48 - 2:50
    sem a permissão do titular da patente.
  • 2:50 - 2:55
    Significa que o titular da patente
    tem o direito de impedir qualquer pessoa
  • 2:55 - 2:58
    de usar aquele gene
    em investigação ou testes clínicos.
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    Permitir que os titulares de patentes,
  • 3:01 - 3:02
    muitas vezes empresas privadas,
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    fechem partes do genoma humano
    estava a afetar os pacientes.
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    Pensem na Abigail,
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    uma rapariga de 10 anos
    com síndroma QT longo,
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    uma doença coronária séria
    que, se não for tratada,
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    pode resultar em morte súbita.
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    A empresa que obteve a patente
    dos dois genes associados a esta doença
  • 3:21 - 3:24
    desenvolveram um teste
    de diagnóstico da síndroma.
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    Mas, entretanto, faliram
    e nunca o ofereceram.
  • 3:27 - 3:29
    Outro laboratório
    tentou oferecer o teste,
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    mas a titular das patentes ameaçou
    processar o laboratório
  • 3:32 - 3:34
    por violação de patente.
  • 3:34 - 3:38
    Em consequência, o teste não esteve
    disponível durante dois anos.
  • 3:38 - 3:40
    Durante este tempo,
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    a Abigail morreu de QT longo
    sem diagnóstico.
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    As patentes de genes eram um problema
    e estavam a afetar os pacientes.
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    Mas existiria uma maneira de desafiá-los?
  • 3:50 - 3:52
    Afinal o Supremo Tribunal
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    tornou claro através de
    uma longa lista de casos
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    que certas coisas não eram patenteáveis.
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    Não podemos patentear
    produtos da natureza:
  • 4:02 - 4:06
    o ar, a água, os minerais,
    os elementos da tabela periódica.
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    Não podemos patentear leis da natureza:
  • 4:10 - 4:13
    a lei da gravidade, E=mc2.
  • 4:13 - 4:18
    São demasiado fundamentais
    e devem permanecer livres para todos
  • 4:18 - 4:20
    sem reserva exclusiva de alguém.
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    Pareceu-nos que o ADN,
  • 4:23 - 4:25
    a mais fundamental estrutura da vida,
  • 4:25 - 4:28
    os códigos para a produção
    de todas as nossas proteínas,
  • 4:28 - 4:31
    tanto é um produto da natureza
    como uma lei da natureza,
  • 4:31 - 4:34
    independentemente
    de estar nos nossos corpos
  • 4:34 - 4:36
    ou no fundo de um tubo de ensaios.
  • 4:36 - 4:38
    À medida que remexíamos neste assunto,
  • 4:38 - 4:42
    viajámos por todo o país para conversar
    com muitos peritos distintos:
  • 4:43 - 4:46
    cientistas, pessoal médico, juristas,
    advogados de patentes.
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    A maioria concordou que estávamos certos
    numa perspetiva da política
  • 4:51 - 4:54
    e, pelo menos em teoria,
    numa perspetiva do direito.
  • 4:54 - 4:56
    Todos pensavam
  • 4:56 - 4:59
    que as nossas hipóteses de vencer
    o desafio das patentes de genes
  • 4:59 - 5:01
    eram zero.
  • 5:02 - 5:03
    E porquê?
  • 5:03 - 5:06
    O serviço de patentes
    tinha emitido as patentes
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    durante mais de 20 anos.
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    Existiam literalmente milhares
    de patentes de genes humanos.
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    O serviço de patentes estava
    profundamente enraizado no "status quo",
  • 5:17 - 5:20
    a indústria de biotecnologia crescera
    em torno desta prática
  • 5:20 - 5:23
    e a legislação para proibir patentes
    de genes fora apresentada,
  • 5:23 - 5:25
    ano após ano, ao Congresso,
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    sem quaisquer resultados.
  • 5:27 - 5:30
    Portanto, em síntese:
  • 5:30 - 5:33
    os tribunais não estavam abertos
    a anular estas patentes.
  • 5:33 - 5:38
    Mas, nem os Chris nem eu somos do tipo
    de fugir de um desafio
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    e ouvir dizer "Não basta ter razão"
  • 5:41 - 5:44
    era uma razão adicional
    para prosseguir com esta batalha.
  • 5:44 - 5:47
    Portanto decidimos construir o processo.
  • 5:47 - 5:51
    Os casos de patentes costumam ser:
    "Empresa A processa Empresa B"
  • 5:51 - 5:54
    sobre assuntos técnicos
    muito específicos e obscuros.
  • 5:55 - 5:57
    Não estávamos interessados
    nesse tipo de caso
  • 5:57 - 5:59
    e pensámos que este caso
    era muito maior do que isso,
  • 5:59 - 6:02
    era sobre liberdade científica,
    progresso médico,
  • 6:02 - 6:04
    os direitos dos pacientes.
  • 6:04 - 6:07
    Por isso decidimos que íamos
    construir um processo
  • 6:07 - 6:09
    que não era o processo
    habitual de patentes,
  • 6:10 - 6:12
    mas mais um processo de direitos civis.
  • 6:13 - 6:16
    Propusemo-nos identificar um titular
    de uma patente sobre genes
  • 6:16 - 6:18
    que estivesse a defender
    vigorosamente as suas patentes
  • 6:18 - 6:22
    e depois organizar uma ampla coligação
    de queixosos e de peritos
  • 6:22 - 6:24
    que pudessem dizer em tribunal
  • 6:24 - 6:28
    de que forma as patentes estavam a lesar
    os pacientes e a inovação.
  • 6:29 - 6:33
    Achámos que o candidato ideal
    para processar era a Myriad Genetics,
  • 6:33 - 6:36
    uma empresa sediada
    em Salt Lake City, no Utah.
  • 6:37 - 6:39
    A Myriad detinha patentes de dois genes,
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    os genes BRCA1 e BRCA2.
  • 6:43 - 6:46
    Considera-se que as mulheres
    com certas mutações nestes genes
  • 6:46 - 6:49
    têm um risco significativo
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    de desenvolver cancro da mama e do ovário.
  • 6:52 - 6:54
    A Myriad usava as suas patentes
  • 6:54 - 6:58
    para manter um completo monopólio
    de testes BCRA nos E.U.A.
  • 6:59 - 7:03
    Forçou a parar múltiplos laboratórios
    que ofereciam testes BRCA.
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    Cobrava imenso dinheiro pelos seus testes,
  • 7:05 - 7:07
    mais de 3000 dólares.
  • 7:07 - 7:10
    Tinha deixado de partilhar
    os seus dados clínicos
  • 7:10 - 7:12
    com a comunidade científica internacional.
  • 7:13 - 7:14
    E, talvez o pior de tudo,
  • 7:14 - 7:18
    durante um período de vários anos,
  • 7:18 - 7:22
    a Myriad recusou-se a atualizar os testes
    de modo a incluir as mutações adicionais
  • 7:22 - 7:25
    que tinham sido identificadas por
    uma equipa de investigadores em França.
  • 7:25 - 7:27
    Estima-se que, ao longo desse período,
  • 7:28 - 7:29
    durante muito anos,
  • 7:29 - 7:33
    cerca de 12% das mulheres
    que realizaram o teste
  • 7:33 - 7:35
    receberam um resultado errado,
  • 7:36 - 7:40
    um resultado negativo que
    devia ter sido positivo.
  • 7:41 - 7:43
    Esta é Kathleen Maxian.
  • 7:44 - 7:48
    A irmã de Kathleen, a Eileen, desenvolveu
    cancro da mama aos 40 anos
  • 7:48 - 7:50
    e fez o teste na Myriad.
  • 7:50 - 7:52
    O teste deu negativo.
  • 7:52 - 7:53
    A família ficou aliviada.
  • 7:53 - 7:57
    Isso significava que o cancro da Eileen
    muito provavelmente não era hereditário
  • 7:57 - 8:01
    e que outros membros da família
    não necessitavam de fazer o teste.
  • 8:01 - 8:02
    Porém, dois anos depois,
  • 8:02 - 8:06
    diagnosticaram um cancro do ovário
    a Kathleen, em fase avançada.
  • 8:07 - 8:11
    O que sucedeu foi que a irmã da Kathleen
    estava entre os 12%
  • 8:11 - 8:14
    que tinham recebido
    um resultado negativo falso.
  • 8:14 - 8:17
    Se a Eileen tivesse recebido
    o resultado verdadeiro,
  • 8:17 - 8:20
    a Kathleen teria feito o teste
  • 8:20 - 8:23
    e o seu cancro no ovário
    poderia ter sido evitado.
  • 8:25 - 8:26
    Assim que nos focámos na Myriad,
  • 8:26 - 8:30
    tivemos de formar uma coligação
    de queixosos e de peritos
  • 8:30 - 8:32
    que pudessem trazer luz a estes problemas.
  • 8:32 - 8:35
    No final tínhamos 20 queixosos
    muito empenhados:
  • 8:35 - 8:37
    conselheiros genéticos,
  • 8:37 - 8:40
    geneticistas que tinham recebido
    cartas de intimação,
  • 8:41 - 8:43
    organizações de defesa de direitos,
  • 8:44 - 8:47
    quatro grandes organizações científicas
    que representavam, no total,
  • 8:47 - 8:50
    mais de 150 000 cientistas
    e profissionais da medicina,
  • 8:51 - 8:54
    e mulheres que, ou não puderam
    pagar o teste da Myriad,
  • 8:54 - 8:57
    ou que queriam ter uma segunda opinião
    e não podiam fazê-lo
  • 8:57 - 8:59
    em consequência das patentes.
  • 9:00 - 9:04
    Um dos maiores desafios
    que tivemos, ao preparar o caso,
  • 9:04 - 9:07
    foi descobrir como comunicar
    melhor a ciência.
  • 9:07 - 9:11
    Para demonstrar que o que
    a Myriad fazia não era uma invenção
  • 9:11 - 9:14
    e que os genes BRCA isolados
    eram produtos da natureza,
  • 9:15 - 9:18
    tivemos de explicar uns quantos
    conceitos básicos, como:
  • 9:18 - 9:20
    O que é um gene? O que é o ADN?
  • 9:20 - 9:24
    Como é isolado o ADN e porque é
    que não é uma invenção?
  • 9:25 - 9:29
    Passámos horas e horas
    com os nossos queixosos e peritos
  • 9:29 - 9:33
    a tentar encontrar maneiras
    de explicar estes conceitos
  • 9:33 - 9:35
    de forma simples mas precisa.
  • 9:34 - 9:38
    Acabámos por confiar significativamente
    no uso de metáforas,
  • 9:38 - 9:39
    como o ouro.
  • 9:40 - 9:44
    Isolar o ADN é como extrair ouro
    de uma montanha
  • 9:45 - 9:47
    ou tirá-lo do leito de um rio.
  • 9:47 - 9:51
    Podemos patentear o processo
    de extração do ouro,
  • 9:51 - 9:53
    mas não podemos patentear o ouro em si.
  • 9:54 - 9:57
    Podíamos ter despendido
    muito trabalho e esforço
  • 9:57 - 9:59
    a extrair o ouro da montanha,
  • 9:59 - 10:02
    mas ainda assim não podemos patenteá-lo,
    continua a ser ouro.
  • 10:02 - 10:05
    O ouro, uma vez extraído, pode ser usado
    para todo o tipo de coisas
  • 10:05 - 10:08
    para as quais não poderia ser usado
    quando estava na montanha.
  • 10:08 - 10:10
    Podemos fazer joalharia,
    por exemplo,
  • 10:10 - 10:13
    no entanto não podemos patentear
    o ouro, pois continua a ser ouro.
  • 10:13 - 10:17
    Chegamos a 2009 e estamos preparados
    para propor a nossa ação.
  • 10:18 - 10:22
    Propusemo-la no tribunal federal
    no Distrito Sul de Nova Iorque
  • 10:22 - 10:26
    e o caso foi aleatoriamente atribuído
    ao juiz Robert Sweet.
  • 10:27 - 10:30
    Em março de 2010, o juiz Sweet
    proferiu a sua decisão,
  • 10:31 - 10:33
    em 152 páginas.
  • 10:33 - 10:35
    Foi uma vitória completa do nosso lado.
  • 10:36 - 10:38
    Ao lermos a decisão,
  • 10:38 - 10:42
    ficámos admirados com o modo eloquente
    como descreveu a ciência no processo.
  • 10:43 - 10:45
    Isto é, a nossa apresentação
    fora bastante boa,
  • 10:45 - 10:48
    mas não assim tão boa.
  • 10:48 - 10:51
    Como é que ele conseguira perceber
    um assunto tão profundo
  • 10:51 - 10:53
    em tão pouco tempo?
  • 10:53 - 10:56
    Não conseguíamos compreender
    como é que isto tinha acontecido.
  • 10:56 - 11:01
    Afinal, o assistente do juiz Sweet
    que trabalhara sempre com ele,
  • 11:01 - 11:04
    não era apenas um jurista,
    era um cientista.
  • 11:04 - 11:06
    E não era apenas um cientista:
  • 11:06 - 11:09
    tinha um doutoramento
    em biologia molecular.
  • 11:09 - 11:10
    (Risos)
  • 11:11 - 11:13
    Que golpe de sorte incrível!
  • 11:14 - 11:18
    A Myriad apelou para o Tribunal
    da Relação do Circuito Federal.
  • 11:18 - 11:21
    Aqui as coisas ficaram interessantes.
  • 11:21 - 11:25
    Primeiro, num momento fundamental
    deste caso,
  • 11:25 - 11:28
    o Governo dos E.U.A. mudou de lado.
  • 11:29 - 11:33
    No tribunal de distrito, o Governo
    apresentara uma petição em apoio da Myriad.
  • 11:33 - 11:38
    Agora, na direção oposta do seu próprio
    serviço de patentes,
  • 11:38 - 11:42
    o Governo apresenta uma petição
    afirmando que reconsiderara o assunto,
  • 11:42 - 11:44
    à luz da decisão do tribunal de distrito,
  • 11:44 - 11:47
    e que concluiu que o ADN isolado
    não era patenteável.
  • 11:48 - 11:50
    Isto foi mesmo muito importante,
  • 11:50 - 11:52
    totalmente inesperado.
  • 11:52 - 11:56
    O Tribunal da Relação do Circuito Federal
    aprecia todos os processos de patentes
  • 11:56 - 12:00
    e tem reputação de ser muito,
    mas muito a favor das patentes.
  • 12:00 - 12:03
    Assim, mesmo tendo em conta
    este notável desenvolvimento,
  • 12:03 - 12:05
    pensávamos que íamos perder.
  • 12:05 - 12:06
    E perdemos.
  • 12:06 - 12:08
    Mais ou menos.
  • 12:08 - 12:11
    Foi uma decisão dividida, 2 contra 1.
  • 12:12 - 12:14
    Mas os dois juízes
    que decidiram contra nós
  • 12:14 - 12:17
    fizeram-no por razões
    completamente diferentes.
  • 12:17 - 12:22
    O primeiro, o juiz Lourie, criou
    a sua própria e nova teoria biológica,
  • 12:22 - 12:24
    totalmente errada.
  • 12:24 - 12:25
    (Risos)
  • 12:25 - 12:27
    Considerou que a Myriad
    tinha criado um novo químico,
  • 12:27 - 12:29
    o que não fazia sentido algum.
  • 12:29 - 12:32
    A Myriad nem sequer defendera isso,
    por isso apareceu do nada.
  • 12:32 - 12:36
    O outro juiz, a juíza Moore,
    concordou connosco no essencial
  • 12:36 - 12:38
    quanto ao ADN isolado
    ser um produto da natureza.
  • 12:38 - 12:41
    Mas disse: "Eu não quero abalar
    a indústria da biotecnologia".
  • 12:42 - 12:46
    O terceiro juiz, juiz Bryson,
    concordou connosco.
  • 12:48 - 12:50
    Apelámos para o Supremo Tribunal.
  • 12:50 - 12:53
    Quando apelamos para o Supremo Tribunal,
  • 12:53 - 12:56
    temos de submeter uma questão
    que queremos que o Tribunal decida.
  • 12:57 - 13:00
    Em regra, estas questões assumem a forma
    de um parágrafo super longo,
  • 13:00 - 13:06
    uma página inteira cheia de orações
    "nestes termos isto" e "portanto aquilo".
  • 13:06 - 13:11
    Submetemos provavelmente o mais curto
    parágrafo alguma vez apresentado.
  • 13:11 - 13:13
    Cinco palavras:
  • 13:14 - 13:17
    "Os genes humanos são patenteáveis?"
  • 13:17 - 13:20
    A primeira vez que o Chris
    me perguntou o que eu pensava,
  • 13:20 - 13:21
    eu disse-lhe: "Bem, não sei,
  • 13:21 - 13:25
    "Penso que deves dizer :
    'O ADN isolado é patenteável?'"
  • 13:25 - 13:27
    "Népia".
  • 13:27 - 13:32
    "Quero que os julgadores tenham
    a mesma reação que eu tive
  • 13:32 - 13:34
    "quando me apresentaste
    este assunto há sete anos."
  • 13:35 - 13:37
    Eu não podia argumentar contra isso.
  • 13:38 - 13:43
    O Supremo Tribunal apenas analisa
    cerca de 1% dos casos que recebe
  • 13:43 - 13:45
    e concordou analisar o nosso.
  • 13:46 - 13:50
    O dia das alegações orais chega
    e foi mesmo muito excitante.
  • 13:50 - 13:52
    Um longa fila de pessoas lá fora.
  • 13:52 - 13:54
    Havia pessoas na fila
    desde as 02:30 da manhã,
  • 13:54 - 13:56
    a tentar entrar no tribunal.
  • 13:56 - 13:58
    Duas organizações de luta contra o cancro,
  • 13:58 - 14:00
    a Breast Cancer Action e a FORCE,
  • 14:00 - 14:03
    organizaram manifestações
    nos degraus à entrada do tribunal.
  • 14:03 - 14:06
    O Chris e eu sentámo-nos
    sossegadamente no corredor,
  • 14:07 - 14:09
    momentos antes de ele entrar
  • 14:09 - 14:12
    e ir defender o caso mais importante
    da sua carreira.
  • 14:13 - 14:15
    Eu estava claramente
    mais nervosa do que ele.
  • 14:16 - 14:21
    No entanto o pânico desapareceu
    quando entrei na sala de audiências
  • 14:21 - 14:24
    e olhei para um mar de caras amigáveis:
  • 14:24 - 14:26
    as mulheres nossas clientes,
  • 14:26 - 14:29
    que tinham partilhado as suas histórias
    profundamente pessoais,
  • 14:29 - 14:33
    os geneticistas atarefados
    que sacrificaram muito do seu tempo
  • 14:33 - 14:35
    para se dedicarem a esta luta,
  • 14:35 - 14:38
    e representantes de um leque diverso
  • 14:38 - 14:40
    de defesa dos direitos
    dos médicos e dos doentes,
  • 14:40 - 14:42
    de organizações ambientais e religiosas,
  • 14:42 - 14:46
    que apresentaram observações ao tribunal.
  • 14:47 - 14:50
    Também estavam na sala três líderes
    do Projeto Genoma Humano,
  • 14:50 - 14:52
    incluindo o próprio codescobridor do ADN,
  • 14:52 - 14:54
    James Watson,
  • 14:54 - 14:56
    que apresentou observações ao tribunal,
  • 14:56 - 14:59
    referindo-se às patentes de genes
    como uma "loucura".
  • 14:59 - 15:01
    (Risos)
  • 15:01 - 15:05
    A diversidade de comunidades
    representadas nesta sala
  • 15:05 - 15:08
    e as contribuições de cada
    para tornar este dia uma realidade
  • 15:08 - 15:11
    disse imenso sobre o que estava em causa.
  • 15:11 - 15:14
    O argumento em si era cativante.
  • 15:14 - 15:16
    O Chris alegou de forma brilhante.
  • 15:16 - 15:17
    Para mim,
  • 15:17 - 15:22
    o mais emocionante foi ver juízes
    a tentar entender o ADN isolado
  • 15:22 - 15:26
    através de um série de analogias
    coloridas e trocas aguerridas,
  • 15:26 - 15:29
    de forma muito semelhante
    à que a nossa equipa tinha usado
  • 15:29 - 15:31
    ao longo dos últimos sete anos.
  • 15:32 - 15:34
    A juíza Kagan associou
    o isolamento do ADN
  • 15:34 - 15:37
    à extração de uma planta medicinal
    na Amazónia.
  • 15:39 - 15:43
    O juiz Roberts associou-o à extração
    de um taco de basebol de uma árvore.
  • 15:44 - 15:46
    Num dos meus momentos favoritos,
  • 15:47 - 15:49
    a juíza Sottomayor afirmou
    que o ADN isolado
  • 15:49 - 15:52
    era "apenas a natureza
    que está ali à espera".
  • 15:52 - 15:53
    (Risos)
  • 15:53 - 15:56
    Sentimo-nos muito confiantes
    ao sair do tribunal naquele dia,
  • 15:56 - 15:59
    mas eu nunca teria conseguido
    prever o resultado.
  • 16:01 - 16:02
    Nove contra zero.
  • 16:03 - 16:07
    "Um segmento natural de ADN
    é um produto da natureza
  • 16:07 - 16:10
    "e não é patenteável
    só porque foi isolado.
  • 16:11 - 16:14
    "Para além disso, a Myriad não criou nada."
  • 16:16 - 16:18
    24 horas após a decisão,
  • 16:18 - 16:23
    cinco laboratórios anunciaram que iam
    começar a fazer testes para os genes BRCA.
  • 16:23 - 16:27
    Alguns deles anunciaram que iriam fazê-lo
    a um preço mais baixo do que a Myriad.
  • 16:27 - 16:32
    Outros prometeram um teste
    mais abrangente do que o da Myriad.
  • 16:32 - 16:35
    Mas, é claro, a decisão vai bem
    para além da Myriad.
  • 16:36 - 16:40
    Acaba com 25 anos de prática de aceitação
    de patentes de genes humanos
  • 16:40 - 16:41
    nos Estados Unidos da América.
  • 16:41 - 16:46
    Elimina uma barreira clara à descoberta
    e à inovação biomédica.
  • 16:46 - 16:51
    Ajuda a garantir que pacientes
    como a Abigail, a Kathleen e a Eileen
  • 16:51 - 16:54
    têm acesso aos testes de que precisam.
  • 16:55 - 16:58
    Algumas semanas após o Tribunal
    ter proferido o seu acórdão,
  • 16:58 - 17:01
    recebi uma pequena embalagem pelo correio.
  • 17:01 - 17:03
    Era do Bob Cook-Deegan,
  • 17:03 - 17:05
    um professor da Universidade de Duke,
  • 17:05 - 17:09
    uma das primeiras pessoas
    que o Chris e eu fomos visitar
  • 17:09 - 17:12
    quando começámos a considerar
    se íamos, ou não, propor a ação.
  • 17:12 - 17:15
    Abri-o e descobri
    um pequeno animal de pelúcia.
  • 17:17 - 17:19
    (Risos)
  • 17:22 - 17:24
    Corremos um grande risco
    ao promover este processo.
  • 17:25 - 17:27
    Parte daquilo que nos deu coragem
    para assumir o risco
  • 17:27 - 17:30
    foi saber que estávamos
    a fazer a coisa certa.
  • 17:30 - 17:34
    O processo demorou quase oito anos
    desde o início ao fim,
  • 17:34 - 17:36
    com muitas reviravoltas pelo caminho.
  • 17:37 - 17:39
    Um pouco de sorte certamente ajudou,
  • 17:39 - 17:42
    mas foram as comunidade que unimos,
  • 17:42 - 17:44
    as alianças que criámos,
  • 17:44 - 17:46
    que fizeram "voar os porcos".
  • 17:46 - 17:47
    Obrigada.
  • 17:47 - 17:50
    (Aplausos)
Title:
Deveríamos ser capazes de patentear um gene humano?
Speaker:
Tania Simoncelli
Description:

Os genes humanos são patenteáveis? Em 2005, quando Tania Simoncelli pensou pela primeira vez nesta complexa questão, a lei de patentes norte-americana dizia que sim, o que significava que os titulares de patentes tinham o direito de impedir qualquer pessoa de fazer a sequenciação, testar ou mesmo observar um gene patenteado. Perturbada pela forma como a lei lesava os pacientes e criava barreiras à inovação biomédica, Simoncelli e os seus colegas da ACLU desafiaram-nos. Nesta fascinante palestra, ouça a história de como eles levaram um caso que todos diziam que estava perdido até ao Supremo Tribunal.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:05

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