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Violência contra a mulher -- é uma questão masculina

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    Eu vou compartilhar com vocês
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    uma perspectiva de mudança de paradigma
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    sobre as questões de violência de gênero --
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    agressão sexual, violência doméstica, abusos no relacionamento,
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    assédio sexual, abuso sexual de crianças.
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    Toda essa gama de problemas, que eu irei chamar daqui para frente
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    de "questões de violência de gênero",
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    elas tem sido encaradas como questões femininas, em que alguns homens bons
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    ajudavam, mas eu tenho um problema com esse ponto de vista
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    e não aceito isso.
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    Eu não vejo isso como questões femininas que são auxiliadas por homens.
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    Na verdade, eu vou discutir que essas são questões masculinas,
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    primeira e principalmente.
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    (Aplausos)
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    Obviamente, claro, também são problemas femininos,
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    eu entendo isso, mas chamar
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    a violência de gênero de "questão feminina" é parte do problema,
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    por inúmeras razões.
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    A primeira é que ela dá aos homens uma desculpa para não prestar atenção.
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    Certo? Muitos homens escutam o termo "questões femininas"
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    e nós tendemos a não prestar atenção, e nós pensamos:
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    "Ei, eu sou homem. Isso é para garotas", ou "Isso é para mulheres".
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    E muitos homens, literalmente, não vão além da primeira frase,
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    como resultado.
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    É quase como se um chip em nosso cérebro fosse ativado
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    e os caminhos neurais mudassem a nossa atenção para uma direção diferente,
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    quando escutamos o termo "questões femininas".
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    Isso também é verdade, a propósito, para a palavra "gênero",
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    porque muitas pessoas escutam a palavra "gênero"
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    e acham que isso significa "mulheres".
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    Então eles pensam que questões de gênero são sinônimos de questões femininas.
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    Existe uma certa confusão sobre o termo "gênero".
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    E na verdade, deixem-me ilustrar essa confusão com uma analogia.
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    Vamos falar por um momento sobre raça.
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    Nos Estados Unidos, quando ouvimos a palavra "raça",
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    muitas pessoas acham que significa "afro-americano",
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    "latino", "asiático-americano", "nativo americano",
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    "sul-asiáticos", "descentes das ilhas do Pacífico" e assim por diante.
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    Muitas pessoas, quando escutam a palavra "orientação sexual",
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    pensam que isso significa "gay", "lésbica", "bissexual".
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    E muitas pessoas, quando escutam a palavra "gênero",
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    pensam que ela significa "mulheres". Em todos estes casos,
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    o grupo dominante não presta atenção.
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    Certo? É como se pessoas brancas não tivessem nenhum tipo de identidade racial
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    ou pertencessem a alguma categoria racial ou conceito,
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    como se indivíduos heterossexuais não tivessem orientação sexual,
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    como se os homens não tivessem gênero.
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    Essa é uma das maneiras de os sistemas dominantes se manterem
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    e se reproduzirem, ou seja, é como dizer
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    que o grupo dominante raramente é desafiado a pensar sobre sua dominância,
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    porque essa é uma das características chave
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    do poder e privilégio, a habilidade de não ser examinado,
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    a falta de introspecção, de fato, tornando-se invisível,
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    em grande medida, no discurso
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    sobre questões que são primariamente sobre nós.
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    E é fantástico como isso funciona
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    com a violência doméstica e sexual,
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    como os homens foram apagados de tantas partes
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    do diálogo sobre um tema
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    que diz respeito essencialmente aos homens.
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    E vou ilustrar o que estou falando,
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    usando velha tecnologia.
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    Prefiro as coisas à moda antiga em alguns aspectos fundamentais
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    Eu trabalho -- faço filmes -- e trabalho com alta tecnologia,
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    mas ainda sou conservador, como educador,
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    e quero compartilhar com vocês esse exercício
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    que ilustra, no nível da estrutura de uma frase,
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    como nós pensamos,
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    literalmente a forma como usamos a linguagem
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    conspira para manter nossa atenção longe dos homens.
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    É sobre violência doméstica, em particular,
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    mas você pode utilizar em questões análogas.
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    Vem do trabalho da linguista feminista Julia Penelope.
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    Começa com uma frase básica:
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    "João espancou Maria".
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    Essa é uma boa frase.
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    João é o sujeito. Espancou é o verbo.
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    Maria é o objeto. Boa frase.
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    Agora, vamos para a próxima frase,
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    que diz a mesma coisa, mas na voz passiva.
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    "Maria foi espancada por João."
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    Agora, muita coisa aconteceu nesta frase.
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    Mudamos de "João espancou Maria"
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    para "Maria foi espancada por João."
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    Mudamos nosso foco, nesta última frase, de João para Maria.
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    e dá para ver que João está quase no fim da frase.
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    Bem, quase caindo do mapa da nossa mente.
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    Na terceira frase, João caiu,
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    e ficamos com "Maria foi espancada",
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    Agora é somente Maria.
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    Não estamos nem pensando em João. O foco está totalmente em Maria.
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    Ao longo da última geração, o termo que usamos,
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    sinônimo de "espancada", é "agredida".
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    Então ficamos com "Maria foi agredida."
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    E a frase final desta sequência,
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    a partir das anteriores,
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    é "Maria é uma mulher agredida."
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    Agora, a verdadeira identidade de Maria -- "Maria é uma mulher agredida" --
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    é aquilo que João causou a ela no primeiro exemplo.
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    Mas mostramos que João há muito não faz parte da conversa.
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    Agora, nós que trabalhamos no campo da violência doméstica e sexual
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    sabemos que culpar a vítima é algo difundido nesse campo,
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    o que significa culpar a pessoa que sofreu o abuso,
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    em vez de culpar a pessoa de cometeu o abuso.
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    E dizemos coisas do tipo: "Por que essas mulheres saem com esses homens?
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    Por que sentem atração por esses homens?
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    Por que sempre voltam para eles? O que ela estava usando naquela festa?
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    Que idiotice a dela. Por que ela estava bebendo
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    com aquele grupo de homens naquele quarto de hotel?"
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    Isto é culpar a vítima e há inúmeras razões para isto,
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    mas uma delas é que toda a nossa estrutura cognitiva
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    é programada para culpar as vítimas. É inconsciente.
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    Toda a nossa estrutura cognitiva é programada para fazer perguntas
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    sobre as mulheres e suas escolhas e o que elas estão fazendo,
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    pensando e vestindo.
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    E não vou brigar com as pessoas que fazem perguntas
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    sobre as mulheres, certo?
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    É algo legítimo de se perguntar.
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    Mas sejamos claros: fazer perguntas sobre a Maria
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    não vai nos levar a lugar algum, em termos de prevenir a violência.
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    Precisamos fazer um tipo diferente de perguntas.
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    Vocês sabem onde quero chegar com isso, não?
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    As perguntas não são sobre a Maria. São sobre o João.
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    Elas incluem coisas como: "Por que o João agride a Maria?
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    Por que a violência doméstica ainda é um grande problema
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    nos Estados Unidos e em todo o mundo?
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    O que está acontecendo? Por que tantos homens abusam
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    física, emocional e verbalmente, e de outras maneiras,
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    das mulheres e garotas, e dos homens e garotos
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    que eles dizem amar? O que há de errado com eles?
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    Por que tantos homens adultos abusam sexualmente de meninas e meninos?
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    Por que isso é um problema comum em nossa sociedade
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    e em todo o mundo, hoje em dia?
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    Por que ouvimos constantemente
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    notícias de novos escândalos
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    ocorridos em instituições importantes,
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    como a Igreja Católica ou o programa de futebol da Penn State
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    ou o Boy Scouts of America,
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    de novo, e de novo, e de novo,
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    e em comunidades locais em todo o país e em todo o mundo, certo?
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    Ouvimos notícias assim o tempo todo.
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    O abuso sexual de crianças.
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    O que está acontecendo com os homens? Por que tantos homens estupram mulheres,
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    em nossa sociedade e em todo o mundo?
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    Por que tantos homens estupram outros homens?
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    O que está acontecendo com os homens?
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    E qual o papel das várias instituições, em nossa sociedade,
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    que estão ajudando a produzir homens abusadores,
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    em ritmo pandêmico.
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    Porque não se trata de agressores individuais.
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    É uma forma ingênua de entender um problema
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    social muito mais profundo e mais sistemático.
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    Sabe, os agressores não são monstros
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    que saem do pântano
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    e entram na cidade para fazer seu trabalho sujo
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    e depois retornam para a escuridão.
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    É uma visão muito ingênua, não?
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    Os agressores são muito mais normais que isso,
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    e mais comuns do que isso.
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    Então, a questão é: o que estamos fazendo aqui
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    em nossa sociedade e no mundo?
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    Qual é a participação de diversas instituições
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    na geração de homens agressores?
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    Qual o papel de sistemas religiosos,
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    da cultura dos esportes, da cultura da pornografia,
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    da estrutura familiar, da economia e como essas coisas se relacionam,
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    e da raça e da etnia e como isso está relacionado?
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    Como tudo isso influi?
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    Uma vez que começamos a fazer essas conexões
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    e a fazer estes grandes e importantes questionamentos,
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    aí podemos falar sobre como sermos transformadores,
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    em outras palavras: como podemos fazer diferente?
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    Como podemos mudar as práticas?
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    Como podemos mudar a socialização de rapazes
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    e as definições de masculinidade que levam aos atuais resultados?
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    São esses questionamentos que precisamos
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    fazer e o trabalho que precisamos realizar,
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    mas se estivermos eternamente focados naquilo que as mulheres estão fazendo
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    e pensando em relacionamentos ou em outras coisas,
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    não vamos chegar ao ponto.
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    Bom, entendo que muitas mulheres
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    que têm tentado falar abertamente sobre esses problemas,
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    hoje e ontem e há anos e mais anos,
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    geralmente são repreendidas por causa disso.
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    São chamadas de coisas desagradáveis como "inimigas de homem"
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    ou que são "contra os homens",
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    e são chamadas lamentável e ofensivamente de "feminazistas". Não é?
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    E você sabe o que isso tudo significa?
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    Chama-se "mate o mensageiro".
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    É porque as mulheres que se posicionam
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    e falam abertamente por si mesmas e por outras mulheres,
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    bem como por homens e meninos, ouvem que devem
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    se sentar e se calar, deixar o sistema atual intacto,
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    porque não gostamos quando as pessoas criam problemas.
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    Não gostamos quando as pessoas enfrentam o nosso poder.
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    Basicamente, é melhor se sentarem e se calarem.
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    Mas graças a Deus que as mulheres não fizeram isso.
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    Graças a Deus que vivemos em um mundo
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    onde existem tantas mulheres líderes que podem combater isso.
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    Mas um dos vigorosos papéis que os homens podem exercer nesse trabalho
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    é que podemos dizer algumas coisas
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    que, às vezes, as mulheres não podem dizer,
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    ou, melhor, podemos ser ouvidos dizendo algumas coisas
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    que, geralmente, as mulheres não podem ser ouvidas dizendo.
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    Agora, reconheço que isso é um problema. É sexismo.
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    Mas é a verdade. Então, umas das coisas que digo aos homens
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    e aos meus colegas, e sempre digo isto,
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    é que precisamos de mais homens com força e coragem
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    de tomar atitude e dizer coisas como as que estou dizendo,
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    e de se colocar ao lado das mulheres e não contra elas,
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    fingindo que, de alguma forma, essa é
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    uma guerra entre os sexos e e outras besteiras como esta.
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    Vivemos juntos neste mundo.
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    A propósito, uma das coisas que realmente me aborrecem,
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    no que diz respeito a algumas das retóricas contra feministas e pessoas
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    que criaram, em todo o mundo, movimentos contra
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    a crise de estupro e agressão às mulheres
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    é que, de alguma forma, como eu disse, é como se elas fossem anti-homens.
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    E quanto a todos os meninos que são profundamente afetados
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    de forma negativa por algo que algum adulto esteja fazendo
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    contra suas mães, contra eles, contra as irmãs deles?
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    E quanto a todos esses meninos?
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    E quanto a todos os rapazes e meninos
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    que foram traumatizados pela violência de homens adultos?
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    Sabem de uma coisa? O mesmo sistema que produz
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    homens que agridem mulheres produz homens que agridem outros homens.
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    E se queremos falar de vítimas do sexo masculino,
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    vamos falar de vítimas do sexo masculino.
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    A maioria das vítimas de violência, do sexo masculino, são vítimas da violência de outros homens.
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    Então, é algo que tanto mulheres quanto homens têm em comum.
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    Somos todos vítimas da violência dos homens.
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    Então, somos afetados diretamente por isso.
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    sem mencionar o fato de que a maioria dos homens que conheço
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    têm mulheres e filhas com as quais nos importamos muito,
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    em nossas famílias e em nossos círculos de amizade e em qualquer outro ambiente.
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    Temos muitos razões pelas quais precisamos que os homens falem abertamente.
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    Parece óbvio quando dizemos isso em voz alta. Não?
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    Bem, a essência do trabalho que realizo e que meus colegas realizam
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    na cultura dos esportes e no militarismo americano, nas escolas,
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    fomos pioneiros nessa abordagem, chamada de abordagem do espectador,
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    para gerar a prevenção da violência.
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    Quero somente mostrar a vocês os principais pontos dessa abordagem,
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    porque é uma grande mudança temática,
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    embora haja diversos poréns,
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    mas o mais importante é, em vez de enxergar os homens como agressores
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    e as mulheres como vítimas,
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    ou as mulheres como agressoras e os homens como vítimas,
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    ou qualquer outra combinação assim...
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    Estou usando o sistema binário de sexos. Sei que existe mais do que homens e mulheres,
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    há mais do que macho e fêmea.
  • 9:59 - 10:01
    E há mulheres que são agressoras
  • 10:01 - 10:02
    e, é claro, há homens que são vítimas.
  • 10:02 - 10:04
    Sabe, há toda uma gama de possibilidades.
  • 10:04 - 10:06
    Mas, em vez de enxergar as coisas à moda do sistema binário,
  • 10:06 - 10:09
    enfocamos todos, como o que chamamos de espectadores,
  • 10:09 - 10:12
    e entende-se por espectador qualquer pessoa que não seja
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    um agressor ou uma vítima em determinada situação.
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    Em outras palavras, os amigos, parceiros de equipe, colegas,
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    colegas de trabalho, membros da família, todos entre nós
  • 10:20 - 10:23
    que não estejam diretamente envolvidos relação de abuso.
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    Mas estamos inseridos em relacionamentos sociais, de família,
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    trabalho, escola e outros relacionamentos culturais de parceria,
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    com pessoas que talvez estejam numa situação assim. O que fazer?
  • 10:31 - 10:33
    Qual é a nossa bandeira? Como contestamos nossos amigos?
  • 10:33 - 10:36
    Como apoiamos nossos amigos? Mas como não permanecemos
  • 10:36 - 10:38
    calados diante de uma situação de abuso?
  • 10:38 - 10:40
    Bom, no que se refere aos homens e à cultura masculina,
  • 10:40 - 10:43
    o objetivo é fazer com que os homens que não são agressores
  • 10:43 - 10:44
    contestem os homens que são.
  • 10:44 - 10:46
    E quando digo agressor, não me refiro apenas
  • 10:46 - 10:47
    aos homens que batem em mulher.
  • 10:47 - 10:50
    Não estamos apenas dizendo que um homem cujo amigo
  • 10:50 - 10:54
    esteja agredindo sua namorada precisa impedir o cara
  • 10:54 - 10:55
    no momento do ataque.
  • 10:55 - 10:59
    Essa é uma forma ingênua de criar mudança social.
  • 10:59 - 11:02
    É algo constante, estamos tentando fazer com que os homens
  • 11:02 - 11:03
    impeçam uns aos outros.
  • 11:03 - 11:06
    Então, por exemplo, se você é homem e está num grupo de homens
  • 11:06 - 11:09
    jogando poker, conversando, se divertindo, sem a presença de mulheres,
  • 11:09 - 11:12
    e outro cara faz um comentário sexista, ou degradante,
  • 11:12 - 11:15
    ou vexatório sobre as mulheres,
  • 11:15 - 11:18
    ao invés de compactuar com a piada ou de fingir que não a ouviu,
  • 11:18 - 11:20
    precisamos que os homens digam: "Ei, isso não tem graça.
  • 11:20 - 11:22
    Sabe, você poderia estar falando da minha irmã.
  • 11:22 - 11:24
    Dá para fazer piada sobre outra coisa?
  • 11:24 - 11:25
    Ou poderia falar sobre outra coisa?
  • 11:25 - 11:27
    Não gosto desse tipo de conversa."
  • 11:27 - 11:30
    Da mesma forma, caso você fosse branco e uma outra pessoa branca
  • 11:30 - 11:32
    fizesse um comentário racista, você gostaria, espero,
  • 11:32 - 11:36
    que outros brancos repreendessem essa prática racista
  • 11:36 - 11:37
    de outro colega branco.
  • 11:37 - 11:40
    Como no caso do heterossexismo. Se você é heterossexual
  • 11:40 - 11:42
    e você mesmo não adota um comportamento abusivo e vexatório
  • 11:42 - 11:45
    contra pessoas com orientações sexuais diferentes,
  • 11:45 - 11:49
    se você não disser algo para repreender outros heterossexuais que fizerem isso,
  • 11:49 - 11:52
    então, de certa forma, não seria o seu silêncio uma forma de conivência ou concordância?
  • 11:52 - 11:55
    Bem, o abordagem do espectador é tentar fornecer às pessoas ferramentas
  • 11:55 - 11:57
    para interromperem esse processo e para se manisfetarem
  • 11:57 - 11:59
    e criarem um clima e uma cultura de parceria,
  • 11:59 - 12:01
    onde o comportamento abusivo seja visto como inaceitável,
  • 12:01 - 12:05
    não apenas porque é ilegal, mas porque é errado
  • 12:05 - 12:07
    e inaceitável na cultura da parceria.
  • 12:07 - 12:09
    E se conseguirmos fazer com que os homens
  • 12:09 - 12:11
    que agem de maneira sexista percam status,
  • 12:11 - 12:13
    rapazes e meninos que agem de maneira sexista
  • 12:13 - 12:15
    e vexatória contra meninas e mulheres,
  • 12:15 - 12:17
    bem como contra outros meninos e homens,
  • 12:17 - 12:20
    consequentemente, percam status por causa disso... adivinhem?
  • 12:20 - 12:23
    Veremos uma queda radical da agressão.
  • 12:23 - 12:25
    Porque o agressor típico não é doente e perturbado.
  • 12:25 - 12:28
    É um cara normal em todos os aspectos. Não é?
  • 12:28 - 12:32
    Bem, entre as várias grandes coisas que Martin Luther King
  • 12:32 - 12:33
    disse em sua curta vida foi:
  • 12:33 - 12:35
    "No fim, o que mais vai doer
  • 12:35 - 12:37
    não são as palavras dos nossos inimigos,
  • 12:37 - 12:38
    mas o silêncio de nossos amigos."
  • 12:38 - 12:41
    "No fim, o que mais vai doer não são as palavras
  • 12:41 - 12:43
    dos nossos inimigos, mas o silêncio de nossos amigos."
  • 12:43 - 12:45
    Tem havido silêncio demais na cultura masculina
  • 12:45 - 12:48
    a respeito dessa tragédia persistente, que é a violência dos homens
  • 12:48 - 12:50
    contra mulheres e crianças, não?
  • 12:50 - 12:51
    Tem havido silêncio demais.
  • 12:51 - 12:55
    O que estou dizendo é que precisamos quebrar esse silêncio
  • 12:55 - 12:57
    e precisamos que mais homens façam isso.
  • 12:57 - 13:00
    Claro, é mais fácil falar do que fazer,
  • 13:00 - 13:03
    porque estou falando isso agora, mas digo a vocês que não é fácil,
  • 13:03 - 13:06
    no mundo masculino, os homens enfrentarem uns aos outros,
  • 13:06 - 13:08
    o que é uma das razões pelas quais
  • 13:08 - 13:10
    parte da mudança de paradigma que tem de acontecer
  • 13:10 - 13:13
    é não somente entender essas questões como questões masculinas,
  • 13:13 - 13:15
    mas também são questões de liderança para os homens.
  • 13:15 - 13:18
    Porque, no fim, a responsabilidade de se posicionar
  • 13:18 - 13:20
    a respeito desses problemas não deveria cair nos ombros
  • 13:20 - 13:23
    de meninos e adolescentes no ensino médio
  • 13:23 - 13:26
    ou na faculdade, mas sim dos adultos com poder.
  • 13:26 - 13:29
    Os adultos que têm poder são aqueles que devem ser responsabilizados
  • 13:29 - 13:30
    por serem os cabeças nessas questões
  • 13:30 - 13:33
    porque, quando alguém se manifesta na cultura dos parceiros
  • 13:33 - 13:35
    e enfrenta e contesta, ele ou ela
  • 13:35 - 13:38
    está sendo líder, na verdade, certo?
  • 13:38 - 13:41
    Mas numa escala maior, precisamos que mais homens adultos com poder
  • 13:41 - 13:43
    comecem a priorizar essas questões,
  • 13:43 - 13:45
    e ainda não vimos isso acontecer, vimos?
  • 13:45 - 13:49
    Bom, eu estava num jantar, alguns anos atrás,
  • 13:49 - 13:52
    e trabalho amplamente com as forças armadas dos Estados Unidos, todos os serviços.
  • 13:52 - 13:56
    E eu estava nesse jantar e uma mulher me disse --
  • 13:56 - 13:59
    acho que ela se achava um tanto inteligente -- ela disse:
  • 13:59 - 14:01
    "Há quanto tempo você está fazendo trabalho de sensibilização
  • 14:01 - 14:03
    com os marinheiros?"
  • 14:03 - 14:06
    Eu disse: "Com todo o devido repeito,
  • 14:06 - 14:08
    não faço trabalho de sensibilização com os marinheiros.
  • 14:08 - 14:11
    Eu dirijo um treinamento de liderança no Corpo da Marinha."
  • 14:11 - 14:13
    Sei que minha resposta foi um tanto pomposa,
  • 14:13 - 14:16
    mas é uma distinção importante, porque não creio
  • 14:16 - 14:18
    que precisamos de trabalho de sensibilização.
  • 14:18 - 14:20
    Precisamos de treinamento de liderança, porque, por exemplo,
  • 14:20 - 14:23
    quando um treinador profissional ou um gerente de uma equipe de basebol
  • 14:23 - 14:27
    ou de futebol -- e também trabalhei amplamente nessa área --
  • 14:27 - 14:30
    faz um comentário sexista, faz um afirmação homofóbica,
  • 14:30 - 14:32
    faz um comentário racista, haverá discussões
  • 14:32 - 14:35
    nos blogs de esportes e programas de esportes no rádio.
  • 14:35 - 14:37
    Alguns vão dizer: "Bem, ele precisa de um trabalho de sensibilização".
  • 14:37 - 14:38
    E outras vão dizer: "Ah, pare com isso.
  • 14:38 - 14:40
    Sabe, é o politicamente correto que perdeu o controle,
  • 14:40 - 14:42
    e acabou dizendo uma estupidez. Deixa pra lá."
  • 14:42 - 14:45
    Eu digo que ele não precisa de um trabalho de sensibilização.
  • 14:45 - 14:46
    Ele precisa de treinamento de liderança,
  • 14:46 - 14:49
    porque está sendo um líder ruim, porque, numa sociedade
  • 14:49 - 14:52
    com diversidade de gênero e diversidade sexual --
  • 14:52 - 14:53
    (Aplausos) —
  • 14:53 - 14:55
    e diversidade racial e étnica, se você faz
  • 14:55 - 14:57
    esse tipo de comentário, está falhando em sua liderança.
  • 14:57 - 15:00
    Se pudermos argumentar da maneira que estou fazendo,
  • 15:00 - 15:03
    com homens e mulheres poderosos em nossa sociedade,
  • 15:03 - 15:06
    em todos os níveis de autoridade institucional e de poder,
  • 15:06 - 15:08
    isso vai mudar, isso vai mudar
  • 15:08 - 15:10
    o paradigma de pensamento das pessoas.
  • 15:10 - 15:12
    Sabe, por exemplo, eu trabalho muito
  • 15:12 - 15:16
    com atletismo em faculdades e universidades em toda a América do Norte.
  • 15:16 - 15:18
    Sabemos tanto sobre como prevenir
  • 15:18 - 15:21
    a violência sexual e doméstica, não?
  • 15:21 - 15:24
    Não há desculpas para que uma faculdade ou universidade
  • 15:24 - 15:26
    não tenha treinamento de prevenção à violência doméstica e sexual,
  • 15:26 - 15:29
    obrigatória para todos os alunos atletas, treinadores, administradores,
  • 15:29 - 15:31
    como parte do processo educacional deles.
  • 15:31 - 15:34
    Sabemos o suficiente para percebermos que podemos facilmente fazer isso.
  • 15:34 - 15:36
    Mas sabe o que está faltando? A liderança.
  • 15:36 - 15:38
    Mas não a liderança de alunos atletas.
  • 15:38 - 15:39
    É a liderança do diretor de atletismo,
  • 15:39 - 15:42
    do reitor da universidade, das pessoas no comando,
  • 15:42 - 15:44
    que decidem sobre os recursos
  • 15:44 - 15:47
    e que decidem sobre as prioridades do ambiente institucional.
  • 15:47 - 15:51
    É uma falha, na maioria dos casos, da liderança dos homens.
  • 15:51 - 15:54
    Vejam a Penn State. A Penn State é a mãe
  • 15:54 - 15:56
    de todos os momentos de aprendizagem da abordagem do espectador.
  • 15:56 - 15:59
    Houve tantas situações nesse ambiente,
  • 15:59 - 16:02
    onde homens em posições de poder deixaram de agir
  • 16:02 - 16:05
    para a proteção de crianças, neste caso, meninos.
  • 16:05 - 16:07
    É realmente inacreditável. Mas quando você vê de perto,
  • 16:07 - 16:09
    percebe que existem pressões sobre os homens.
  • 16:09 - 16:12
    Há restrições sobre os homens, dentro da cultura de parceria,
  • 16:12 - 16:15
    razão pela qual precisamos encorajar os homens
  • 16:15 - 16:16
    a romper com essas pressões.
  • 16:16 - 16:17
    E uma das formas de fazer isso é dizer que
  • 16:17 - 16:20
    há muitos homens que se importam muito com essas questões.
  • 16:20 - 16:21
    Sei disso. Trabalho com homens
  • 16:21 - 16:23
    e tenho trabalho com dezenas de milhares,
  • 16:23 - 16:26
    centenas de milhares de homens, há muitas, muitas décadas.
  • 16:26 - 16:29
    É assustador, quando penso nisso. Quantos anos...
  • 16:29 - 16:33
    Mas há tanto homens que se importam tanto com essas questões,
  • 16:33 - 16:35
    mas se importar muito não é o bastante.
  • 16:35 - 16:38
    Precisamos de mais homens com a valentia,
  • 16:38 - 16:41
    com a coragem, com a força, com a integridade moral
  • 16:41 - 16:45
    para romper o silêncio conivente e contestar uns aos outros
  • 16:45 - 16:47
    e se posicionar a favor das mulheres, não contra elas.
  • 16:47 - 16:49
    A propósito, devemos isso às mulheres.
  • 16:49 - 16:50
    Sem dúvida.
  • 16:50 - 16:52
    Mas também devemos isso aos nossos filhos.
  • 16:52 - 16:54
    Também devemos isso a jovens rapazes que estão crescendo,
  • 16:54 - 16:57
    em todo o mundo, em situações onde não fizeram a escolha
  • 16:57 - 17:00
    de ser homem numa cultura que os ensina
  • 17:00 - 17:01
    que a masculinidade é assim.
  • 17:01 - 17:03
    Eles não escolheram isso.
  • 17:03 - 17:06
    Nós, que temos escolha, temos oportunidade
  • 17:06 - 17:08
    e também responsabilidade para com eles.
  • 17:08 - 17:11
    Espero que, no futuro, homens e mulheres,
  • 17:11 - 17:13
    trabalhando juntos, possam dar início à mudança
  • 17:13 - 17:15
    e à transformação que vai acontecer,
  • 17:15 - 17:17
    para que as gerações futuras não tenham o nível de tragédias
  • 17:17 - 17:19
    com o qual lidamos diariamente.
  • 17:19 - 17:21
    Sei que é possível fazermos isso. Podemos fazer melhor.
  • 17:21 - 17:22
    Muito obrigado. (Aplausos)
Title:
Violência contra a mulher -- é uma questão masculina
Speaker:
Jackson Katz
Description:

Violência doméstica e assédio sexual normalmente são chamados de "questões femininas". Mas nessa palestra audaz e forte, Jackson Katz aponta que essas questões são intrinsecamente masculinas -- e mostra como esses comportamentos violentos estão atrelados às definições de masculinidade. Uma chamado para todos nós -- homens e mulheres -- a condenar comportamentos inaceitáveis e ser líderes da mudança

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:40
  • Olá. Informo ao tradutor que for revisar as legendas para Português do Brasil que, por ainda não estar familiarizado com a nova plataforma de edição, acabei deixando o título e a descrição do vídeo sem tradução. Peço a gentileza de verificar, antes de concluir a revisão, a tradução do título e da descrição do vídeo. Obrigado.

  • Please try to break long subtitles into two lines (see http://translations.ted.org/wiki/How_to_break_lines). Sometimes, subtitles can be shortened by rephrasing them - see http://translations.ted.org/wiki/How_to_Compress_Subtitles

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions