Como os animais, os insetos e as plantas estão a evoluir nas cidades
-
0:01 - 0:03Este é o lugar onde cresci.
-
0:03 - 0:05Uma pequena aldeia
perto da cidade de Roterdão -
0:05 - 0:07na Holanda.
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0:08 - 0:11Nos anos 70 e 80,
quando eu era adolescente, -
0:12 - 0:14esta área ainda era tranquila.
-
0:14 - 0:18Estava cheia de quintas,
campos e pantanais. -
0:18 - 0:22Eu passava ali o meu tempo livre,
entretido, -
0:22 - 0:24a pintar quadros a óleo como este,
-
0:24 - 0:27a colher flores silvestres,
a observar as aves -
0:27 - 0:30e também a colecionar insetos.
-
0:30 - 0:32Este foi um dos meus achados valiosos.
-
0:32 - 0:34Este é um besouro muito especial,
-
0:34 - 0:37um besouro fantástico chamado
besouro-de-formiga. -
0:37 - 0:39É um tipo de besouro
que passa a vida toda -
0:39 - 0:42dentro de um formigueiro.
-
0:42 - 0:44Ele evoluiu para falar "formiguês".
-
0:45 - 0:47Usa os mesmos sinais químicos,
-
0:47 - 0:51os mesmos odores que as formigas
usam para comunicar entre si. -
0:51 - 0:54Neste momento, este besouro
está a dizer à formiga operária: -
0:54 - 0:56"Olá, eu também sou uma formiga operária,
-
0:56 - 0:58"estou com fome, dá-me comida."
-
0:58 - 1:00E a formiga obedece,
-
1:00 - 1:02porque o besouro usa
os mesmos sinais químicos. -
1:02 - 1:04Ao longo de milhões de anos,
-
1:04 - 1:09este besouro evoluiu para viver
numa sociedade de formigas. -
1:10 - 1:11Ao longo dos anos,
-
1:11 - 1:13enquanto vivi naquela aldeia,
-
1:13 - 1:16apanhei 20 000 besouros diferentes
-
1:16 - 1:19e montei uma coleção
de besouros presos por alfinetes. -
1:19 - 1:23Isto fez com que, desde muito cedo,
me interessasse pela evolução. -
1:23 - 1:26Como é que aparecem
todas estas formas diferentes,
toda esta diversidade? -
1:30 - 1:33Assim, vim a ser biólogo evolutivo,
-
1:33 - 1:35como Charles Darwin.
-
1:35 - 1:39E tal como Charles Darwin,
também me senti frustrado -
1:39 - 1:43pelo facto de a evolução ser uma coisa
que ocorreu sobretudo no passado. -
1:43 - 1:47Nós estudamos os padrões que vemos hoje,
-
1:47 - 1:50tentando compreender a evolução
que ocorreu no passado, -
1:50 - 1:54mas nunca a conseguimos ver
acontecer em tempo real. -
1:54 - 1:56Não conseguimos observá-la.
-
1:56 - 1:58Como Darwin disse:
-
1:58 - 2:01"Não vemos nenhuma
dessas lentas transformações em marcha, -
2:01 - 2:06"enquanto a mão do tempo
não marcar o passar das eras." -
2:06 - 2:08Ou será que vemos?
-
2:08 - 2:10Nas últimas décadas,
-
2:10 - 2:14os biólogos evolutivos
perceberam que, às vezes, -
2:14 - 2:19a evolução ocorre mais depressa
e até pode ser observada, -
2:19 - 2:23especialmente quando o ambiente
muda drasticamente -
2:23 - 2:26e a necessidade de adaptação é grande.
-
2:27 - 2:29E é claro, ultimamente
-
2:29 - 2:32as grandes mudanças ambientais
habitualmente são causadas por nós. -
2:32 - 2:36Nós cortamos, irrigamos,
aramos, construímos, -
2:36 - 2:39injetamos na atmosfera
gases com efeito de estufa -
2:39 - 2:41que mudam o clima.
-
2:41 - 2:43Introduzimos plantas e animais exóticos
-
2:43 - 2:45em lugares onde eles não viviam antes
-
2:46 - 2:51e pescamos, caçamos e abatemos árvores
para alimentação e outras necessidades. -
2:52 - 2:58Todas estas mudanças ambientais
atingem o epicentro nas cidades. -
2:59 - 3:03As cidades formam um habitat
totalmente novo, criado por nós. -
3:03 - 3:07Revestimos tudo com tijolos,
cimento, vidro e aço, -
3:07 - 3:09que são superfícies impermeáveis
-
3:09 - 3:12onde as plantas só conseguem enraizar
com muita dificuldade. -
3:13 - 3:15Também é nas cidades que encontramos
-
3:15 - 3:18as maiores concentrações
de poluição química, -
3:18 - 3:21de luz artificial e de ruído.
-
3:21 - 3:24Encontramos uma combinação absurda
de plantas e animais -
3:24 - 3:27do mundo inteiro que vivem na cidade,
-
3:27 - 3:29porque fugiram de jardins,
-
3:29 - 3:31de aquários e do comércio de animais.
-
3:32 - 3:35O que é que acontece com uma espécie
-
3:35 - 3:39num ambiente totalmente modificado?
-
3:40 - 3:44Infelizmente, muitas espécies
extinguem-se. -
3:44 - 3:46Mas as que não se extinguem
-
3:47 - 3:49adaptam-se de modo espetacular.
-
3:50 - 3:53Atualmente, os biólogos
começam a perceber -
3:53 - 3:57que as cidades são as panelas de pressão
da evolução moderna. -
3:57 - 4:00São lugares onde as plantas
e os animais selvagens -
4:00 - 4:03estão a evoluir depressa,
diante dos nossos olhos, -
4:03 - 4:07para se adequarem
às novas condições urbanas. -
4:07 - 4:10Tal qual como o besouro-de-formiga
fez há milhões de anos, -
4:10 - 4:13quando se mudou
para uma colónia de formigas. -
4:13 - 4:15Hoje encontramos animais e plantas
-
4:15 - 4:18que se mudaram para a colónia
dos seres humanos -
4:18 - 4:20e estão a adaptar-se às nossas cidades.
-
4:20 - 4:22Ao fazerem isso,
-
4:22 - 4:23também começamos a perceber
-
4:23 - 4:27que a evolução
pode ocorrer muito depressa. -
4:27 - 4:30Nem sempre demora "o passar das eras",
-
4:30 - 4:33pode acontecer diante dos nossos olhos.
-
4:34 - 4:37Este, por exemplo,
é o rato-de-patas-brancas. -
4:37 - 4:40É um mamífero nativo
da área de Nova Iorque. -
4:41 - 4:44Há mais de 400 anos,
antes da construção da cidade, -
4:44 - 4:46estes ratos viviam por toda a parte.
-
4:46 - 4:50Mas hoje estão limitados
a pequenas ilhas de áreas verdes, -
4:50 - 4:56os parques da cidade, rodeados
por um mar de asfalto e de trânsito. -
4:57 - 5:02Como uma versão moderna dos
tentilhões de Darwin nos Galápagos. -
5:04 - 5:06E, como os tentilhões de Darwin,
-
5:06 - 5:10os ratos de cada parque,
em separado, começaram a evoluir, -
5:10 - 5:13começaram a diferenciar-se uns dos outros.
-
5:13 - 5:16Este é o meu colega, Jason Munshi-South,
-
5:16 - 5:17da Universidade Fordham,
-
5:17 - 5:19que está a estudar este processo.
-
5:19 - 5:23Ele está a estudar o ADN
dos ratos-de-patas-brancas -
5:23 - 5:25nos parques de Nova Iorque,
-
5:25 - 5:29para tentar perceber como
é que estão a começar a evoluir -
5:29 - 5:31neste arquipélago de ilhas.
-
5:31 - 5:34Ele está a usar um tipo de ADN
de impressões digitais, e diz: -
5:34 - 5:36"Se me derem um rato,
-
5:36 - 5:38"sem me dizer de onde ele vem,
-
5:38 - 5:40"basta-me olhar para o ADN,
-
5:40 - 5:42"para dizer exatamente
de que parque ele veio." -
5:42 - 5:45Vejam até que ponto
acabaram por ser diferentes. -
5:46 - 5:49Jason também descobriu
que essas mudanças, -
5:49 - 5:51essas mudanças evolutivas,
-
5:51 - 5:53não são aleatórias,
significam qualquer coisa. -
5:53 - 5:56Por exemplo, no Central Park,
-
5:57 - 5:59encontramos ratos
que desenvolveram genes -
5:59 - 6:02que lhes permitem digerir
comida muito gordurosa. -
6:03 - 6:05Comida humana.
-
6:05 - 6:08Todos os anos, há 25 milhões de pessoas
que visitam o Central Park. -
6:08 - 6:11É o parque mais visitado
na América do Norte. -
6:11 - 6:13Essas pessoas deixam para trás lanches,
-
6:13 - 6:16amendoins e restos de comida,
-
6:16 - 6:18e os ratos começaram a comer isso,
-
6:18 - 6:21uma dieta totalmente diferente
da que estavam habituados. -
6:21 - 6:22Com o passar dos anos,
-
6:22 - 6:26começaram a adaptar-se
a essa dieta humana, muito gordurosa. -
6:27 - 6:30Este aqui é outro animal urbano
espertalhuço. -
6:30 - 6:32O caracol-de-jardim europeu.
-
6:32 - 6:33Um caracol muito vulgar,
-
6:33 - 6:37tem todos os tipos
de variedade de cores, -
6:37 - 6:41desde o amarelo-claro ao castanho-escuro.
-
6:41 - 6:43Essas cores são totalmente definidas
-
6:43 - 6:45pelo ADN do caracol.
-
6:46 - 6:50Essas cores também determinam
a gestão de calor do caracol -
6:50 - 6:53que vive dentro da casca.
-
6:53 - 6:57Por exemplo, um caracol
exposto à luz do sol, a sol aberto, -
6:57 - 6:59se tem uma casca amarelo-clara,
-
6:59 - 7:05não aquece tanto como um caracol
que tem uma casca castanho-escuro. -
7:05 - 7:09Tal como sentimos menos calor
num carro branco -
7:09 - 7:12do que se estivermos num carro preto.
-
7:12 - 7:15Há um fenómeno chamado
ilhas de calor urbanas, -
7:15 - 7:18o que significa que,
no centro de uma grande cidade, -
7:18 - 7:21a temperatura pode ser
vários graus mais quente -
7:21 - 7:22do que fora da cidade.
-
7:22 - 7:24Isso tem a ver
-
7:24 - 7:27com a concentração
de milhões de pessoas, -
7:27 - 7:29com todas as suas atividades
e as suas máquinas -
7:29 - 7:30que geram calor.
-
7:30 - 7:34Além disso, o vento é bloqueado
pelos prédios altos, -
7:34 - 7:38e todo o aço, tijolo e cimento
absorvem o calor do sol -
7:38 - 7:40e libertam-no durante a noite.
-
7:40 - 7:43Assim, temos uma bolha de ar quente
no centro das grandes cidades. -
7:43 - 7:47Os meus alunos e eu pusemos a hipótese
de que talvez esses caracóis, -
7:47 - 7:50com as suas cascas variadas,
-
7:50 - 7:54estejam a adaptar-se
às ilhas de calor urbanas. -
7:54 - 7:56Talvez nos centros das cidades
-
7:56 - 7:59talvez possamos descobrir
que a cor da casca está a evoluir -
7:59 - 8:02para reduzir o sobreaquecimento
dos caracóis. -
8:02 - 8:06Para estudar isto, começámos
um projeto de ciência cidadã. -
8:06 - 8:09Criámos um aplicativo gratuito
para telemóvel -
8:09 - 8:11que permite que as pessoas
de toda a Holanda -
8:11 - 8:14tirem fotos de caracóis
nos seus jardins, na sua rua, -
8:14 - 8:16e também em pleno campo,
-
8:16 - 8:19e enviá-las a uma plataforma
de ciência cidadã. -
8:19 - 8:22Durante um ano, recebemos 10 000 fotos
-
8:22 - 8:25de caracóis fotografados na Holanda,
-
8:25 - 8:28e, quando começámos
a analisar os resultados, -
8:28 - 8:31as nossas suspeitas confirmaram-se.
-
8:31 - 8:34No centro de ilhas de calor urbanas,
-
8:34 - 8:40descobrimos que os caracóis desenvolveram
cascas mais amarelas, de cor mais clara. -
8:42 - 8:45O caracol da cidade
e o rato de Manhattan -
8:45 - 8:51são apenas dois exemplos duma lista
crescente de animais e plantas -
8:51 - 8:54que evoluíram para se adaptarem
a estes novos habitats -
8:54 - 8:58estes habitats urbanos que criámos.
-
8:58 - 9:00Num livro que escrevi sobre este tema,
-
9:01 - 9:02o tema da evolução urbana,
-
9:02 - 9:04eu dou mais exemplos.
-
9:04 - 9:07Por exemplo, de ervas-daninhas
que desenvolveram sementes -
9:07 - 9:10que germinam melhor no pavimento.
-
9:10 - 9:14Gafanhotos que desenvolveram um canto
-
9:14 - 9:17num tom mais alto quando vivem
perto do trânsito ruidoso. -
9:18 - 9:23Mosquitos que evoluíram
para sugar o sangue dos passageiros -
9:23 - 9:25dentro das estações do metro.
-
9:25 - 9:28E até mesmo o pombo vulgar da cidade
-
9:28 - 9:31que desenvolveu maneiras
de se desintoxicar -
9:31 - 9:35da poluição dos metais pesados,
colocando-os nas penas. -
9:36 - 9:38Biólogos como eu, em todo o mundo,
-
9:38 - 9:41estão a interessar-se
por estes processos fascinantes -
9:41 - 9:43da evolução urbana.
-
9:43 - 9:46Estamos a perceber que vivemos
um acontecimento singular -
9:46 - 9:48na história da vida na Terra.
-
9:48 - 9:51Um ecossistema completamente novo
-
9:51 - 9:56que está a evoluir e a adaptar-se
ao habitat que nós criámos. -
9:57 - 9:59Mas não só os académicos,
-
9:59 - 10:03também começámos a recrutar
milhões de mãos, -
10:03 - 10:05de ouvidos e de olhos
presentes nas cidades, -
10:05 - 10:08de cientistas cidadãos, de estudantes.
-
10:08 - 10:09Juntamente com eles,
-
10:09 - 10:12estamos a construir
uma rede de observação global -
10:12 - 10:17que nos permite observar
este processo de evolução urbana -
10:17 - 10:18em tempo real.
-
10:19 - 10:23Ao mesmo tempo,
fica claro para as pessoas -
10:23 - 10:26que a evolução não é uma coisa abstrata,
-
10:26 - 10:29que precisamos de ir até
aos Galápagos para estudar, -
10:29 - 10:33ou ser um paleontólogo
para entender como funciona. -
10:33 - 10:36É um processo biológico muito comum
-
10:36 - 10:40que acontece o tempo todo, em toda parte.
-
10:40 - 10:42No nosso quintal, na nossa rua,
-
10:42 - 10:45do lado de fora deste teatro.
-
10:45 - 10:49Claro que há um outro lado,
oposto ao meu entusiasmo. -
10:49 - 10:51Quando volto à aldeia onde cresci,
-
10:52 - 10:57já não encontro os campos
e os pantanais da minha juventude. -
10:57 - 10:58A aldeia foi absorvida
-
10:58 - 11:01pelo crescimento da cidade de Roterdão.
-
11:01 - 11:04Hoje encontro centros comerciais,
-
11:04 - 11:07zonas residenciais
e corredores para autocarros. -
11:07 - 11:11A maioria dos animais e plantas
que eu conhecia já desapareceram, -
11:11 - 11:14incluindo, talvez,
até o besouro-de-formiga. -
11:15 - 11:19Mas consolo-me com o facto
de que as crianças que crescem -
11:19 - 11:21atualmente naquela aldeia
-
11:21 - 11:26podem não conhecer
a natureza tradicional em que cresci, -
11:26 - 11:28mas estão cercadas por
um novo tipo de natureza, -
11:28 - 11:30um novo tipo de ecossistema,
-
11:30 - 11:34que, para elas, pode ser tão empolgante
como a antiga era para mim. -
11:34 - 11:38Elas estão a viver numa
versão moderna dos Galápagos. -
11:38 - 11:41Ao fazerem equipa com cientistas cidadãos
-
11:41 - 11:45e com biólogos evolutivos, como eu,
-
11:45 - 11:48elas podem vir a ser
os Darwins do século XXI, -
11:48 - 11:51estudando a evolução urbana.
-
11:51 - 11:52Obrigado.
-
11:52 - 11:55(Aplausos)
- Title:
- Como os animais, os insetos e as plantas estão a evoluir nas cidades
- Speaker:
- Menno Schilthuizen
- Description:
-
Nas cidades, a evolução ocorre constantemente, já que inúmeras plantas, animais e insetos se adaptam de forma espetacular aos habitats criados pelos seres humanos. O biólogo evolutivo Menno Schilthuizen usa como exemplo seres curiosos, como ratos que gostam de "fast-food" e caracóis que conseguem arrefecer, para ilustrar as maravilhas da vida selvagem urbana em transformação. Ele também explica como podemos observar este fenómeno em tempo real, graças a uma rede global de entusiastas cientistas cidadãos.
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- English
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- Project:
- TEDTalks
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- 12:07
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