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Title:
Por que você deve ler Flannery O’Connor? - Iseult Gillespie
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Description:
Veja a lição completa: https://ed.ted.com/lessons/why-should-you-read-flannery-o-connor-iseult-gillespie
Flannery O'Connor escreveu contos sobre rejeitados, intrusos e desajustados que se passam no mundo que ela melhor conhece: o sul dos Estados Unidos. Ela era uma mestra do grotesco, mas o seu trabalho ia além do puramente ridículo e assustador para revelar a variedade e nuance do caráter humano. Iseult Gillespie explora como os mundos ficcionais infinitamente surpreendentes de O'Connor continuam a atrair leitores depois de décadas.
Lição por Iseult Gillespie, dirigida por Anton Bogaty.
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Speaker:
Iseult Gillespie
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Uma avó teimosa e um bandido fugitivo
discutem em uma estrada de terra.
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Um vendedor de bíblias atrai uma filósofa
de uma perna só para um celeiro.
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Um faz-tudo ensina para uma mulher surda
sua primeira palavra em um velho sítio.
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De sua fazenda na zona rural da Geórgia,
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cercada por um bando de aves de estimação,
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Flannery O’Connor escreveu
contos de rejeitados,
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intrusos e desajustados que se passam
no mundo que ela melhor conhecia:
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o Sul dos Estados Unidos.
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Ela publicou dois romances,
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mas é talvez mais conhecida
por seus contos,
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que exploravam a vida em cidades pequenas
com linguagem ácida, humor peculiar,
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e cenários deliciosamente desagradáveis.
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No seu tempo livre,
O'Connor desenhava cartuns,
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e sua escrita também esbanja caricatura.
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Nos seus contos, uma mãe tem um rosto
"tão largo e inocente quanto um repolho",
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um homem tem a mesma
motivação de um "esfregão",
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e o corpo de uma mulher tem
a forma de uma "urna funerária".
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Os nomes dos personagens
dela são igualmente sagazes.
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Veja o conto "A Vida
que Salvar Pode Ser a Sua”,
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na qual, com apenas uma mão
e sem rumo, Tom Shiftlet entra na vida
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de uma velha senhora
chamada Lucynell Crater
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e sua filha surda e muda.
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Embora a Sra. Carter seja segura de si,
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sua casa isolada está caindo aos pedaços.
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De início, podemos suspeitar
dos motivos de Shiftlet
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quando ele se oferece para ajudar,
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mas O'Connor logo revela
que a velha senhora
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é tão cheia de segundas intenções
quanto seu novo hóspede,
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e atiça as presunções do leitor sobre
quem está tirando vantagem de quem.
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Para O’Connor, nenhum
tema passava dos limites.
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Apesar de ser uma católica devota,
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ela não tinha medo
de explorar a possibilidade
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de pensamentos puros
e comportamento impuro
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coexistirem na mesma pessoa.
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No seu romance "O Céu É dos Violentos" ,
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o personagem principal está em conflito
sobre se tornar um homem de Deus,
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mas também provoca incêndios
e comete assassinatos.
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O livro começa com o relutante profeta
numa situação particularmente complicada:
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"O tio de Francis Marion Tarwater
estava morto há meio dia apenas
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quando o rapaz ficou demasiadamente
bêbado para acabar de abrir a sepultura".
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Deixando para um transeunte "arrastar
o cadáver para longe da mesa
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à qual estava ainda sentado,
e sepultá-lo […]
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com terra em cima quanto bastasse para
desencorajar os cães a desenterrá-lo."
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Embora seu posicionamento
ainda seja debatido,
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a ficção de O’Connor também contém
aspectos do racismo sulista.
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Em "Tudo o Que Sobe Deve Convergir",
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ela descreve um filho enfurecido
com a intolerância de sua mãe.
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Mas a história revela que ele
também tem seu lado ignorante
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e sugere que simplesmente
reconhecer a maldade
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não isenta seu caráter de ser avaliado.
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Ainda que O'Connor examine os aspectos
mais desagradáveis da humanidade,
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ela deixa uma porta
semiaberta para redenção.
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Em "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar",
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ela redime uma avó insuportável
ao perdoar um criminoso insensível,
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mesmo com ele encurralando sua família.
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Embora fiquemos chocados
com o preço pago por essa redenção,
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somos forçados a confrontar
as nuances de momentos
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que geralmente consideraríamos
puramente violentos ou perversos.
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A maestria do grotesco de O’Connor
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e as explorações dela da insularidade
e superstição do Sul,
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a levaram a ser considerada
como uma escritora gótica sulista.
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Mas o seu trabalho foi além
do puramente ridículo
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e das características assustadoras
associadas ao gênero
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para revelar a variedade
e nuance do caráter humano.
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Ela sabia que parte dessa
variedade é desconfortável
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e que as histórias dela poderiam
ser um gosto adquirido,
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mas ela tinha prazer
em desafiar seus leitores.
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O’Connor morreu de lúpus aos 39 anos,
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após a doença a manter confinada
em sua fazenda na Geórgia por 12 anos.
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Durante esses anos,
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ela cunhou a maioria de seus
trabalhos mais imaginativos.
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Sua habilidade de pairar
entre a repulsão e a revelação
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continua a atrair leitores para seu mundo
ficcional infinitamente surpreendente.
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Como o seu personagem Tom Shiftlet que diz
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que o corpo "é como uma casa:
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não vai a lugar nenhum;
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mas o espírito, senhora,
é como um automóvel:
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está sempre em movimento".