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Quando projetamos para a inclusão, projetamos para todos

  • 0:01 - 0:03
    Nunca esquecerei o som
  • 0:03 - 0:06
    das gargalhadas dadas
    com os meus amigos.
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    Nunca esquecerei o som
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    da voz da minha mãe
    mesmo antes de eu adormecer.
  • 0:14 - 0:18
    E nunca esquecerei
    o som reconfortante
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    de água a correr num riacho.
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    Imaginem o meu medo, medo puro,
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    quando, aos dez anos,
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    me disseram que iria perder a audição.
  • 0:33 - 0:36
    Durante os cinco anos seguintes,
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    a perda auditiva agravou-se
    até me considerarem completamente surda.
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    Mas eu acredito que perder a audição
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    foi uma das melhores dádivas
    que alguma vez recebi.
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    Sabem, eu tenho a oportunidade
    de experienciar o mundo de forma única.
  • 0:55 - 0:58
    E acredito que essas experiências únicas
  • 0:59 - 1:01
    que as pessoas com deficiência têm
  • 1:01 - 1:06
    são o que irá ajudar-nos
    a projectar e construir um mundo melhor
  • 1:06 - 1:12
    para toda a gente
    — com ou sem deficiência.
  • 1:13 - 1:16
    Eu era advogada pelos direitos
    das pessoas com deficiência
  • 1:16 - 1:19
    e dedicava muito tempo
    a garantir o cumprimento da lei,
  • 1:19 - 1:22
    assegurando que eram feitas
    as adaptações necessárias.
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    Depois tive de aprender
    política internacional rapidamente,
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    porque me propuseram trabalhar
    na Convenção da ONU
  • 1:30 - 1:33
    que protege pessoas com deficiência.
  • 1:33 - 1:36
    Sendo líder de uma ONG na área,
  • 1:37 - 1:41
    usava a maior parte da minha energia
    para tentar convencer as pessoas
  • 1:41 - 1:44
    acerca das capacidades
    das pessoas com deficiência.
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    Mas algures pelo caminho,
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    e após várias transições de carreira
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    que não deixaram os meus pais
    lá muito contentes...
  • 1:54 - 1:55
    (Risos)
  • 1:55 - 1:58
    ... deparei-me com uma solução
  • 1:58 - 2:03
    que me parece ser
    uma ferramenta ainda mais poderosa
  • 2:03 - 2:07
    para resolver alguns dos problemas
    mais complicados do mundo,
  • 2:07 - 2:09
    relacionados ou não com deficiência.
  • 2:10 - 2:14
    Essa ferramenta
    chama-se "design thinking".
  • 2:16 - 2:21
    O processo de "design thinking" permite
    a inovação e a resolução de problemas.
  • 2:22 - 2:24
    Existem cinco passos.
  • 2:24 - 2:26
    O primeiro passo é definir o problema
  • 2:27 - 2:29
    e compreender as suas condicionantes.
  • 2:30 - 2:35
    O segundo passo é observar as pessoas
    em situações reais do dia-a-dia
  • 2:35 - 2:37
    e ser solidário com elas.
  • 2:37 - 2:41
    O terceiro passo, lançar imensas ideias
    — quanto mais melhor,
  • 2:41 - 2:43
    quanto mais excêntricas melhor.
  • 2:43 - 2:48
    Quarto passo, a prototipagem:
    juntar tudo o que conseguirem
  • 2:48 - 2:52
    para simular a vossa solução,
    para a testar
  • 2:52 - 2:53
    e para a aperfeiçoar.
  • 2:54 - 2:56
    E, finalmente, a implementação:
  • 2:56 - 3:01
    garantir que a solução
    que encontraram é sustentável.
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    Warren Berger diz que o "design thinking"
    nos ensina a olhar para os lados,
  • 3:10 - 3:14
    a reformular, a aperfeiçoar,
    a experimentar
  • 3:14 - 3:16
    e, talvez o mais importante,
  • 3:16 - 3:19
    a fazer perguntas estúpidas.
  • 3:20 - 3:23
    Os "designers" acreditam
    que toda a gente é criativa.
  • 3:25 - 3:29
    Acreditam em juntar pessoas
    de múltiplas disciplinas,
  • 3:30 - 3:33
    porque querem partilhar
    múltiplas perspectivas,
  • 3:33 - 3:35
    reuni-las e finalmente fundi-las
  • 3:35 - 3:38
    para criar algo novo.
  • 3:40 - 3:44
    O "design thinking" é uma ferramenta
    de tal modo bem-sucedida e versátil
  • 3:44 - 3:47
    que tem sido aplicada
    em quase todas as indústrias.
  • 3:48 - 3:53
    Eu vi o potencial que tinha
    para os problemas com que lidei,
  • 3:53 - 3:56
    então decidi voltar à escola
  • 3:56 - 3:59
    e tirar o mestrado em "design" social.
  • 4:00 - 4:05
    Este programa de mestrado ensina a usar
    o "design" para criar mudanças positivas.
  • 4:06 - 4:08
    Durante o curso,
  • 4:08 - 4:10
    apaixonei-me pela carpintaria.
  • 4:10 - 4:13
    Mas o que rapidamente percebi
  • 4:13 - 4:15
    foi que me estava a faltar qualquer coisa.
  • 4:16 - 4:19
    Quando se trabalha com uma ferramenta,
  • 4:19 - 4:22
    mesmo antes de esta recuar
    violentamente na nossa direcção
  • 4:22 - 4:25
    — quando uma peça ou ferramenta
    salta contra nós —
  • 4:25 - 4:26
    faz um som.
  • 4:27 - 4:29
    E eu não conseguia ouvi-lo.
  • 4:29 - 4:31
    Então pensei:
  • 4:32 - 4:34
    porque não tentar resolver isto?
  • 4:34 - 4:38
    A minha solução foi um par
    de óculos de segurança
  • 4:38 - 4:42
    concebidos para alertar
    visualmente o utilizador
  • 4:42 - 4:44
    para alterações sonoras na ferramenta
  • 4:44 - 4:47
    antes de o ouvido humano
    as conseguir detectar.
  • 4:49 - 4:53
    Porque é que os "designers" de ferramentas
    não pensaram nisto antes?
  • 4:53 - 4:55
    (Risos)
  • 4:55 - 4:59
    Por duas razões: primeira,
    eu era uma principiante.
  • 4:59 - 5:03
    Não tinha o peso da experiência
    ou da sabedoria convencional.
  • 5:04 - 5:07
    E a segunda razão: eu era surda.
  • 5:08 - 5:13
    A minha vivência única do mundo
    ajudou-me a encontrar a solução.
  • 5:14 - 5:18
    E comecei a encontrar
    cada vez mais e mais soluções
  • 5:18 - 5:21
    que tinham sido inicialmente criadas
    para pessoas com deficiência,
  • 5:21 - 5:25
    mas que acabaram por ser adoptadas,
  • 5:25 - 5:28
    acolhidas e adoradas
    pela sociedade em geral,
  • 5:28 - 5:29
    com ou sem deficiência.
  • 5:29 - 5:32
    Isto é um descascador de batatas da OXO.
  • 5:32 - 5:35
    Foi inicialmente concebido
    para pessoas com artrite,
  • 5:35 - 5:38
    mas era tão confortável,
    que toda a gente o adorou.
  • 5:38 - 5:40
    (Risos)
  • 5:40 - 5:44
    Mensagens de texto: foram originalmente
    concebidas para pessoas surdas.
  • 5:45 - 5:47
    E, como sabem,
    também toda a gente as adora.
  • 5:47 - 5:49
    (Risos)
  • 5:49 - 5:51
    Comecei a pensar:
  • 5:52 - 5:55
    E se mudássemos as nossas mentalidades?
  • 5:56 - 6:01
    E se começássemos a projectar
    primeiro para pessoas com deficiência
  • 6:01 - 6:02
    — e não a norma?
  • 6:03 - 6:06
    Como vêem, quando criamos primeiro
    para pessoas com deficiência,
  • 6:07 - 6:11
    muitas vezes tropeçamos em soluções
    que não só são inclusivas,
  • 6:12 - 6:17
    como também são geralmente melhores
    do que as que são feitas para a norma.
  • 6:18 - 6:20
    E isto deixa-me entusiasmada,
  • 6:20 - 6:28
    pois significa que a energia necessária
    para integrar alguém com deficiência
  • 6:28 - 6:33
    pode ser aproveitada, modelada e usada
  • 6:33 - 6:37
    como motor da criatividade e inovação.
  • 6:38 - 6:43
    Assim passamos de
    tentar mudar as opiniões
  • 6:43 - 6:46
    e as mentalidades pobres em tolerância,
  • 6:46 - 6:49
    para sermos alquimistas,
  • 6:49 - 6:53
    o tipo de mágico que este mundo
    precisa tão desesperadamente
  • 6:53 - 6:56
    para conseguir resolver alguns
    dos seus maiores problemas.
  • 6:57 - 6:59
    Agora, eu também acredito
  • 6:59 - 7:03
    que as pessoas com deficiência têm
    um grande potencial para serem "designers"
  • 7:03 - 7:06
    no âmbito deste processo
    de "design thinking".
  • 7:06 - 7:09
    Desde muito pequena que,
    sem o saber,
  • 7:09 - 7:13
    eu era uma "designer",
    aperfeiçoando as minhas competências.
  • 7:14 - 7:19
    Os "designers" são, por natureza,
    peritos em resolver problemas.
  • 7:20 - 7:24
    Imaginem ouvir uma conversa
  • 7:24 - 7:28
    e só perceber 50% do que é dito.
  • 7:30 - 7:32
    Não podem pedir às pessoas
    que repitam cada palavra.
  • 7:33 - 7:35
    Iriam ficar simplesmente frustradas.
  • 7:36 - 7:38
    Portanto, sem sequer me aperceber,
  • 7:38 - 7:43
    a minha solução foi pegar
    no som abafado que ouvia,
  • 7:43 - 7:44
    que era a batida,
  • 7:44 - 7:49
    torná-lo num ritmo
    e sincronizá-lo com a leitura labial.
  • 7:50 - 7:56
    Anos depois, alguém comentou
    que o que eu escrevia tinha ritmo.
  • 7:56 - 8:01
    Bem, isso é porque eu percepciono
    as conversas como ritmos.
  • 8:03 - 8:08
    Eu também me tornei muito,
    muito boa a falhar.
  • 8:08 - 8:09
    (Risos)
  • 8:09 - 8:10
    Literalmente.
  • 8:11 - 8:14
    Tirei 10 a espanhol
    no meu primeiro semestre.
  • 8:15 - 8:18
    Mas aprendi que,
    quando me voltava a levantar
  • 8:18 - 8:21
    e mudava algumas coisas,
  • 8:21 - 8:24
    acabava por conseguir.
  • 8:25 - 8:30
    Do mesmo modo, o "design thinking"
    encoraja as pessoas a falhar
  • 8:30 - 8:32
    e a falhar muitas vezes,
  • 8:32 - 8:35
    porque, por fim,
    irão ser bem sucedidas.
  • 8:35 - 8:39
    Muito poucas grandes inovações deste mundo
  • 8:39 - 8:43
    foram criadas por alguém
    que acertou à primeira.
  • 8:45 - 8:48
    Também aprendi esta lição no desporto.
  • 8:48 - 8:53
    Eu nunca esquecerei quando
    o meu treinador disse à minha mãe:
  • 8:54 - 8:57
    "Se não fosse ela ser surda,
  • 8:57 - 8:58
    "estaria na equipa nacional."
  • 9:00 - 9:04
    Mas o que o meu treinador não sabia,
    e na altura nem eu sabia,
  • 9:05 - 9:10
    era que, na verdade, a minha perda auditiva
    me ajudava a ser boa a desporto.
  • 9:11 - 9:16
    Sabem, quando se perde a audição,
    não só adaptamos o nosso comportamento,
  • 9:16 - 9:20
    mas também os nossos sentidos.
  • 9:21 - 9:22
    Um exemplo disto
  • 9:23 - 9:27
    é que o meu campo
    de atenção visual aumentou.
  • 9:28 - 9:32
    Imagem um jogador de futebol
    a aproximar-se pelo flanco esquerdo.
  • 9:32 - 9:35
    Imaginem que são o guarda-redes,
    — como eu era —
  • 9:35 - 9:37
    e a bola aproxima-se pelo flanco esquerdo.
  • 9:37 - 9:42
    Uma pessoa com audição normal
    teria um alcance visual assim.
  • 9:43 - 9:47
    Eu tinha a vantagem de ter
    um campo visual mais largo, assim.
  • 9:47 - 9:49
    Por isso conseguia ver os jogadores
    nessa posição,
  • 9:49 - 9:52
    que se estavam a aproximar
    da baliza pelos lados.
  • 9:52 - 9:56
    E via-os mais depressa,
    de tal modo que, se eles passassem a bola,
  • 9:56 - 9:59
    eu poderia reposicionar-me
    e preparar-me para o remate.
  • 10:01 - 10:03
    Portanto, como podem ver,
  • 10:03 - 10:05
    eu fui uma "designer"
    toda a minha vida.
  • 10:07 - 10:11
    A minha capacidade de observação foi
    aperfeiçoada para conseguir ver coisas
  • 10:12 - 10:13
    que outras pessoas nunca notariam.
  • 10:15 - 10:19
    A minha necessidade constante de adaptação
    tornou-me numa grande idealizadora
  • 10:19 - 10:21
    e solucionista.
  • 10:21 - 10:26
    E muitas vezes tive de arranjar soluções
    no meio de obstáculos e limitações.
  • 10:26 - 10:30
    É algo com que os "designers"
    têm de lidar frequentemente.
  • 10:33 - 10:36
    Estive no Haiti recentemente em trabalho.
  • 10:36 - 10:40
    Os "designers" procuram frequentemente
    situações extremas,
  • 10:40 - 10:44
    porque elas muitas vezes conduzem
    aos seus melhores "designs".
  • 10:45 - 10:48
    E o Haiti foi como
    uma tempestade perfeita.
  • 10:48 - 10:53
    Vivi e trabalhei
    com 300 indivíduos surdos
  • 10:54 - 10:57
    que tinham sido realojados
    após o terramoto de 2010.
  • 10:58 - 11:01
    Mas cinco anos e meio depois,
  • 11:02 - 11:04
    ainda não havia electricidade;
  • 11:04 - 11:06
    ainda não havia água potável;
  • 11:06 - 11:08
    ainda não havia ofertas de emprego;
  • 11:09 - 11:13
    ainda existia imenso crime,
    e os criminosos ficavam impunes.
  • 11:13 - 11:17
    Chegavam organizações de ajuda
    internacional uma após à outra.
  • 11:17 - 11:18
    Mas já vinham
  • 11:18 - 11:21
    com soluções pré-determinadas.
  • 11:21 - 11:26
    Não vinham preparadas
    para observarem e se adaptarem
  • 11:26 - 11:30
    de acordo com as necessidades
    da comunidade.
  • 11:31 - 11:35
    Uma das organizações
    distribuiu cabras e galinhas.
  • 11:35 - 11:37
    Mas não se deu conta
  • 11:37 - 11:41
    que havia tanta fome naquela comunidade,
  • 11:41 - 11:44
    que quando os surdos iam dormir à noite,
    como não conseguiam ouvir,
  • 11:45 - 11:48
    havia pessoas que invadiam
    os seus quintais e as suas casas
  • 11:48 - 11:51
    e roubavam essas galinhas e cabras,
  • 11:51 - 11:53
    até que acabavam por desaparecer todas.
  • 11:55 - 11:59
    Agora, se essa organização
    se tivesse dado ao trabalho
  • 11:59 - 12:04
    de observar as pessoas surdas,
    de observar a comunidade,
  • 12:05 - 12:07
    ter-se-ia apercebido dos seus problemas
  • 12:07 - 12:12
    e talvez tivesse encontrado uma solução,
  • 12:12 - 12:15
    algo como um candeeiro de energia solar,
  • 12:15 - 12:19
    capaz de iluminar uma área cercada
    onde colocassem os animais à noite
  • 12:19 - 12:21
    para garantir a sua segurança.
  • 12:22 - 12:26
    Não é preciso serem um "design thinker"
  • 12:26 - 12:29
    para porem em prática as ideias
    que partilhei hoje convosco.
  • 12:31 - 12:34
    Vocês são criativos.
  • 12:35 - 12:37
    Vocês são "designers"
  • 12:37 - 12:39
    — toda a gente é.
  • 12:40 - 12:43
    Deixem que pessoas como eu vos ajudem.
  • 12:44 - 12:49
    Deixem que pessoas com deficiência
    vos ajudem a ver de lado,
  • 12:49 - 12:50
    e, no processo,
  • 12:50 - 12:53
    a resolver alguns dos maiores desafios.
  • 12:54 - 12:55
    É tudo. Obrigada.
  • 12:55 - 12:58
    (Aplausos)
Title:
Quando projetamos para a inclusão, projetamos para todos
Speaker:
Elise Roy
Description:

Elise Roy diz "Acredito que perder a minha audição foi uma das maiores dádivas que alguma vez recebi". Como advogada pelos direitos das pessoas com deficiência e design thinker, ela sabe que ser surda lhe oferece uma perspectiva única na vivência e reformulação do mundo - uma perspectiva que poderia resolver alguns dos nossos maiores problemas. Como ela diz: "Quando criamos primeiro para as pessoas com deficiência, tropeçamos frequentemente em soluções que são melhores que aquelas que encontramos quando criamos apenas para a norma."

Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
13:17
  • Nota:

    A versão original da tradução para português (PT) está aqui: http://amara.org/pt/videos/QsDoaFO7X4Tc/info/when-we-design-for-disability-we-all-benefit-elise-roy-tedxmidatlantic/.

    Fiz a tradução nesse link que aparentemente criaram em duplicado, e por isso cancelei a tradução neste!!!

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