A matemática não é difícil, é apenas uma linguagem | Randy Palisoc | TEDxManhattanBeach

Randy Palisoc é um educador apaixonado, conhecido por tornar fácil a matemática. Partilha a sua solução: ensinar a matemática como uma língua. Voltar a pôr as palavras nas lições de matemática possibilita que até crianças mais novas percebam conceitos complexos como frações.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Segundo a avaliação nacional,

só 26% dos estudantes
do 12.º ano, nos EUA,

são bons em matemática.

Nos EUA, orgulhamo-nos
de sermos um país excecional.

Mas 26% parece-vos excecional?

Levante a mão quem pensa
que temos de ser melhores do que isto.

Estou de acordo convosco.

Todos precisamos da matemática,

porque é que os miúdos
têm tanta dificuldade?

Será porque só 26% são dotados
para a matemática

e os outros 74% não são?

Depois de trabalhar
com milhares de miúdos,

posso dizer-vos que isso não é verdade.

Os miúdos não percebem a matemática

porque nós ensinamo-la
como um tema desumanizado.

Mas se humanizarmos a matemática,
ela voltará a fazer sentido.

Provavelmente, estarão a pensar:

"Mas a matemática já foi
alguma vez humana?"

Pensem nisso.

(Risos)

A matemática é uma linguagem humana,
tal como o inglês, o espanhol ou o chinês,

porque permite que as pessoas
comuniquem umas com as outras.

Mesmo na Antiguidade, as pessoas
precisavam da linguagem da matemática

para fazerem negócios,
para construírem monumentos,

para medirem a terra das culturas.

Esta ideia da matemática
como uma linguagem não é nova.

Um grande filósofo disse:

"As leis da natureza estão escritas
na linguagem da matemática".

Estão a ver?
Até Galileu concorda comigo.

(Risos)

Mas, algures, com o tempo,

agarrámos nesta linguagem da matemática

que trata do mundo real à nossa volta

e abstraímo-la
até ela ficar irreconhecível.

É por isso que os miúdos ficam confusos.

Vou mostrar-vos
o que quero dizer com isto.

Leiam este programa de Matemática
da Califórnia, do 3.º ano

e vejam se faz sentido
para um miúdo de oito anos.

"A fração 1/b é a quantidade
formada por uma parte

"quando a totalidade
se divide em b partes iguais.

"A fração a/b é a quantidade formada

"por uma parte de tamanho 1/b".

(Risos)

Se derem esta descrição
a um miúdo de oito anos,

provavelmente terão uma reação como esta.

(Risos)

Para um especialista em matemática,
este texto faz sentido,

mas, para um miúdo,
é uma verdadeira tortura.

Escolhi este exemplo especificamente
porque as frações

são fundamentais na álgebra,
na trigonometria e até no cálculo.

Se os miúdos não perceberem as frações
na escola elementar e média,

vão ter um caminho difícil no secundário.

Haverá uma forma de tornar as frações

uma matéria simples e fácil
para os miúdos perceberem?

Claro!

Lembrem-se que a matemática
é uma linguagem e tirem partido disso.

Por exemplo, quando ensino
aos alunos do 5.º ano

a somar e a subtrair frações,

começo com a lição
das maçãs + maçãs.

Primeiro, pergunto:
"Quanto é uma maçã mais uma maçã?"

Os miúdos respondem, normalmente: 2,
o que está parcialmente correto.

Obriguem-nos a incluir as palavras
porque a matemática é uma linguagem.

Portanto, não é apenas 2,
é "2 maçãs".

A seguir, pergunto: 3 lápis mais 2 lápis.

Todos sabem que lápis + lápis
nos dá lápis.

Portanto, digam lá todos.
quantos são os lápis?

Audiência: Cinco lápis.

RP: Cinco lápis está correto.

É fundamental incluir as palavras.

Experimentei esta lição
com a minha sobrinha de cinco anos.

Depois de ela somar lápis + lápis,
perguntei-lhe:

" Quanto é 4 biliões mais 1 bilião?"

A minha tinha que ouviu isto,
ralhou-me e disse:

"És maluco? Ela anda no pré-escolar!

"Como é que há de saber
quanto é 4 biliões mais 1 bilião?"

(Risos)

Impávida, a minha sobrinha acaba
a conta, olha para mim e diz:

"Cinco biliões?"

E eu disse: "Está certo, são 5 biliões".

A minha tia abanou a cabeça e riu-se

porque não estava à espera disso
duma criança de cinco anos.

Mas se a abordarmos como uma linguagem

e a matemática torna-se
intuitiva e fácil de compreender.

Depois, fiz-lhe uma pergunta

a que, supostamente, as crianças
do pré-escolar não sabem responder:

"Quanto é um terço mais um terço?"

E ela respondeu imediatamente:
"Dois terços".

Vocês podem estar a pensar:
"Como é que ela sabia isso,

"se ela ainda não sabe nada
de numeradores e denominadores?"

Como veem, ela não estava a pensar
em numeradores e denominadores.

Ela pensava no problema deste modo.

Usou 1 maçã + 1 maçã
como uma analogia

para perceber 1 terço + 1 terço.

Então, se uma criança do pré-escolar
pode somar frações,

é melhor que acreditem que todos
os alunos do 5.º ano também podem.

(Aplausos)

Só por graça, fiz-lhe uma pergunta
de álgebra do secundário:

Quanto é 7x² mais 2x²?

E aquela miudinha de cinco anos
respondeu corretamente:

9 x².

Não precisou de nenhuma regra
de expoentes para perceber aquilo.

Quando as pessoas dizem

que somos dotados
para a matemática ou não,

não é verdade.

A matemática é uma linguagem humana,

por isso todos temos a capacidade
para a compreender.

(Risos)

Precisamos de abordar a matemática
como uma linguagem, urgentemente,

porque perdem-se demasiados miúdos
e sentem-se ansiosos com a matemática

e isso não tem de acontecer.

Trabalhei com uma estudante
do secundário, irritada e frustrada,

que não conseguia passar em álgebra

porque só sabia 44%
dos factos da multiplicação.

Eu disse-lhe:

"Isso é como querer ler
e só saber 44% do alfabeto.

"Está a prejudicar-te".

Ela não conseguia dividir
nem resolver equações

e não se sentia à vontade em matemática.

Em resultado, aquela adolescente
não tinha confiança em si mesma.

Eu disse-lhe: "Temos de começar
com a multiplicação

"porque, quando souberes a tabuada de cor,
as coisas tornam-se mais fáceis.

"É como ter um livre trânsito
para todos os brinquedos na Disneylândia".

"O que é que achas?"

Ela disse: "Ok".

Então, ela aprendeu sistematicamente
a tabuada em quatro semanas

e, sim, até a multiplicação
contém uma linguagem dentro de si.

Vocês ficariam admirados
com quantos miúdos não se apercebem

que "7 vezes 3" se pode escrever
como "sete vezes" 3,

o que significa um 3, sete vezes.

Quando os miúdos percebem isto,

depressa percebem que somar repetidamente

é moroso e inconveniente,

por isso, memorizam satisfeitos
que 3 vezes 7 dá sempre 21.

Para aquela adolescente,
que estava em risco de desistir,

tornar-se fluente
e confiante na multiplicação

alterou toda a situação.

Porque, pela primeira vez,

conseguiu concentrar-se
na resolução de problemas

em vez de contar pelos dedos.

Percebi que ela tinha dado a volta

quando ela percebeu
que o aluguer de um carro, por dois anos,

a 445 dólares por mês,
custaria 10 680 dólares

e olhou para mim,
reprovadoramente, e disse:

"Sr. Polisoc, isso é muito caro!"

(Risos)

Nesse momento, a matemática
já não lhe causava problemas

mas ela estava a usar a matemática
para resolver problemas,

como um adulto responsável.

Enquanto educador, é meu dever
desafiar os miúdos para chegar mais longe,

por isso, deixo-vos com este desafio.

O nosso país está encalhado
num resultado de 26%

e eu desafio-vos a fazer subir
este número.

Isto é importante porque o pensamento
matemático modela espíritos jovens

e os miúdos também precisam de imaginar
e criar um futuro que ainda não existe.

Enfrentar este desafio pode ser
tão simples como maçãs + maçãs.

Insistamos em ensinar a matemática
como uma linguagem humana

e chegaremos lá mais cedo
em vez de mais tarde.

Obrigado.

(Aplausos)