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Visões do futuro de África, segundo cineastas africanos

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    Quando criança, a crescer na Nigéria,
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    desde cedo os livros
    despertaram a minha imaginação,
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    mas os filmes transportaram-me
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    a lugares mágicos, com carros voadores,
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    a espaços infinitos cheios
    de universos por descobrir.
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    E o meu percurso de descoberta
    levou-me a muitos sítios e possibilidades,
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    todos ligados a ideias e à imaginação.
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    Há uns 15 anos,
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    deixei de trabalhar em direito
    e tecnologia em Nova Iorque
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    para financiar, produzir
    e distribuir filmes
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    em Nairobi, Lagos e Joanesburgo.
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    Tive o privilégio de ver
    diretamente, como, em África,
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    os filmes exploram poderosamente
    o maravilhoso e o mundano,
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    como transmitem infinitas possibilidades
    e verdades fundamentais.
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    Filmes afro-futuristas como "Pumzi",
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    um filme soberbo de ficção científica,
    de Wanuri Kahiu,
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    que pinta imagens brilhantes
    do futuro de África,
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    enquanto o "I Am Not A Witch"
    de Rungano Nyoni
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    e o "Vaya" de Akin Omotoso
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    mostram-nos e catalogam o nosso presente.
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    Estes cineastas oferecem fotos com matizes
    da realidade imaginada e vivida em África,
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    em contraste com algumas das imagens
    de África que vêm de fora,
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    e das perspetivas que acompanham
    todas estas imagens,
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    sejam elas simpáticas ou depreciativas,
    que modelam ou deturpam
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    a forma como as pessoas veem África.
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    E a verdade é que muita gente pensa
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    que África está condenada.
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    As imagens têm um papel importante
    na razão desse conceito.
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    Muitos dos preconceitos sobre África
    perduram devido a fotografias,
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    fotografias da fome na Etiópia há 30 anos,
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    fotografias da guerra do Biafra
    há mais de 50 anos.
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    Mas num continente
    onde a idade média é de 17 anos,
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    estes acontecimentos trágicos
    parecem quase pré-históricos.
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    São imagens muito distantes
    da visão que as pessoas
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    dos vários países africanos
    têm de si mesmas e dos seus vizinhos.
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    Para elas, estas imagens
    não representam a sua realidade.
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    Então, qual é a realidade de África?
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    Ou melhor, qual das muitas realidades
    de África escolhemos para analisar?
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    Aceitamos a visão de Emmanuel Macron
    que, em 2017, define África
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    como um lugar onde todas as mulheres
    têm sete ou oito filhos?
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    Ou fiamo-nos antes,
    no relatório da ONU que nos diz
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    que só um dos 54 países de Árica
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    tem uma taxa de fertilidade
    de sete filhos?
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    Focamo-nos no facto
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    de que a mortalidade infantil
    e a esperança de vida na África atual
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    se compara razoavelmente
    com os EUA de há cem anos?
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    Ou focamo-nos no progresso,
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    no facto de que a mortalidade infantil
    em África diminuiu para metade
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    nos últimos 40 anos
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    e a esperança de vida aumentou 10 anos
    desde o ano de 2000?
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    Estas perspetivas contraditórias
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    estão corretas.
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    Bem, à parte a do Macron.
    Ele está errado.
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    (Risos)
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    Mas uma destas versões permite
    classificar África como sem esperança,
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    e a outra alimenta a esperança
    de que mil milhões de pessoas
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    podem continuar a progredir
    a caminho da prosperidade.
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    O facto de os africanos
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    não se poderem dar ao luxo
    de virar o olhar para outros horizontes,
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    o facto de que ou fazemos progressos
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    ou viveremos
    com a consequência do fracasso,
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    são as razões para continuarmos
    a contar as nossas histórias
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    e a mostrar as nossas imagens,
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    com honestidade e, principalmente,
    para um público africano,
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    porque a imagem que é mais importante
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    é a imagem de África
    na imaginação dos africanos.
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    Então, a honestidade exige
    que reconheçamos
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    que África está atrasada
    em relação ao resto do mundo
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    e precisa de avançar rapidamente
    para se pôr a par.
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    Mas, ao pensar numa forma de avançar,
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    gostava que nos juntássemos
    num exercício intelectual.
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    E se pudéssemos recuar cem anos,
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    para os EUA em 1917,
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    mas pudéssemos levar connosco
    todas as ideias modernas,
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    as inovações, as invenções que temos hoje?
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    O que é que conseguiríamos alcançar
    com esses conhecimentos?
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    Até onde conseguiríamos melhorar
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    a qualidade de vida
    e as condições de vida das pessoas?
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    Até onde conseguiríamos
    espalhar a prosperidade?
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    Imaginem se, há cem anos,
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    o sistema de ensino tivesse
    todos os conhecimentos que temos hoje
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    incluindo a melhor forma de ensinar.
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    E os médicos e os cientistas
    soubessem tudo o que fazemos
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    sobre medidas de saúde pública,
    técnicas cirúrgicas,
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    sequenciamento de ADN,
    estudo e tratamento do cancro?
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    Se, nessa época, tivéssemos acesso
    aos semicondutores modernos,
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    computadores, telemóveis, Internet?
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    Imaginem só.
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    Se assim fosse, podíamos avançar
    num salto quântico, não podíamos?
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    Então, África pode dar esse salto
    gigantesco, hoje.
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    Há suficiente inovação inexplorada
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    para fazer avançar África um século
    nas condições de vida
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    se houver vontade e empenho.
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    Não é apenas uma possibilidade,
    é um imperativo para o futuro de África,
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    um futuro que verá duplicar
    a população de África
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    para 2500 milhões de pessoas
    apenas em 30 anos,
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    um futuro que verá África
    ter a maior força de trabalho do mundo,
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    enquanto a própria ideia do trabalho
    está a ser reconsiderada radicalmente.
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    Dar este salto em frente
    não é uma coisa inverosímil.
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    Há imensos exemplos
    que demonstram o potencial
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    para a mudança em África.
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    Apenas há vinte anos,
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    a Nigéria tinha menos de meio milhão
    de linhas telefónicas operacionais.
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    Hoje tem cem milhões
    de assinaturas de telemóveis,
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    e este milagre do telemóvel
    é o mesmo por todos os países africanos.
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    Há hoje mais de 750 000 milhões
    de telemóveis em uso em África.
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    e isso tem estimulado um ânimo
    justificado para um progresso acelerado,
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    quanto à introdução duma economia
    de partilha, de inteligência artificial,
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    de máquinas autónomas em África.
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    Tudo isto é promissor,
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    mas precisamos de pensar
    no encadeamento.
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    Não podemos pôr o carro à frente dos bois.
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    Não podemos usar o carro autónomo
    antes de termos estradas.
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    (Aplausos)
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    Há toda uma camada lógica
    de infraestruturas para a inovação
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    que consideramos garantida,
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    mas temos da fazer
    uma triagem para África,
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    porque algumas das maiores lacunas
    das nossas infraestruturas
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    são coisas tão básicas
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    que os ocidentais raramente pensam nelas.
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    Vamos explorar isto.
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    Imaginem que o vosso acesso
    à Internet vai abaixo durante um dia
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    e, quando volta,
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    só se mantém durante três horas seguidas.,
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    com interrupções ocasionais de 15 horas.
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    Como é que a vossa vida se alteraria?
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    Agora, substituam o acesso à Internet
    pela eletricidade.
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    Pensem nos frigoríficos,
    nas TV, nos micro-ondas,
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    sem funcionarem durante dias.
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    Agora, alarguem esse pesadelo
    aos gabinetes governamentais,
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    às empresas, às escolas,
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    aos hospitais.
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    Isto, ou pior ainda,
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    é o tipo de acesso que
    centenas de milhões de africanos
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    têm em relação à eletricidade
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    e à água,
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    aos cuidados de saúde,
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    ao saneamento
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    e ao ensino.
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    Temos de resolver isto.
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    Temos de resolver isto porque
    garantir o acesso alargado e barato
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    a infraestruturas e serviços decentes
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    não é para tornar a vida mais fácil,
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    é fundamental para conseguir
    o salto de cem anos.
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    Quando resolvermos este problema,
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    vamos encontrar benefícios inesperados.
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    Um dos benefícios inesperados
    do milagre do telemóvel
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    foi que ele levou ao que é talvez
    o maior ressurgimento cultural
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    que África viu numa geração:
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    o renascimento da música popular africana.
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    Para músicos como P-Square,
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    Bongo Maffin,
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    e Wizkid,
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    os telemóveis abriram o caminho
    para o domínio local
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    e para o estrelato mundial.
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    E o impacto não se limita à música,
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    também se alarga ao cinema.
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    Filmes belos, envolventes,
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    como "Pumzi", "Vaya"
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    e "I Am Not A Witch".
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    Por muito que a sua imagem
    no exterior possa estar datada,
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    África continua a evoluir,
    tal como o cinema africano.
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    De vez em quando, o resto
    do mundo repara em nós,
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    talvez com o contundente "Viva Riva!"
    de Djo Munga
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    com o intenso "Ezra" de Newton Aduaka,
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    ou com o poético "Timbuktu"
    de Abderrahmane Sissako.
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    Com os telemóveis,
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    os africanos estão a descobrir
    cada vez mais estes filmes,
  • 9:34 - 9:38
    e isso significa que,
    em Quinxassa ou Cotonou,
  • 9:38 - 9:42
    cada vez interessa menos o que
    Cannes pensa do cinema africano,
  • 9:42 - 9:46
    tal como pouco interessa se essas opiniões
    têm uma base informada ou correta.
  • 9:46 - 9:49
    Quem se preocupa com o que
    o "New York Times" pensa?
  • 9:50 - 9:54
    O que interessa é que os africanos
    valorizam a arte e as ideias africanas,
  • 9:54 - 9:57
    tanto crítica como comercialmente,
  • 9:57 - 9:59
    que estão a ver o que querem,
  • 9:59 - 10:02
    e que os cineastas africanos
    estão a ter ligação com o seu público.
  • 10:04 - 10:06
    Isto é importante.
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    É importante porque o cinema
    pode iluminar e inspirar.
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    O cinema pode proporcionar visões
    do futuro para nós, aqui no presente.
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    Os filmes podem ser uma correia
    de transmissão para a esperança.
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    Os filmes podem mudar perspetivas
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    mais depressa do que
    se constroem estradas.
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    Em pouco mais de 10 anos,
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    a indústria do cinema da Nigéria,
    a maior de África,
  • 10:29 - 10:33
    introduziu as palavras
    e as línguas do país
  • 10:34 - 10:38
    no vocabulário e na imaginação
    de milhões
  • 10:38 - 10:40
    em muitos outros países africanos.
  • 10:40 - 10:42
    Fez cair fronteiras,
  • 10:42 - 10:45
    talvez do modo mais eficaz
    desde que a Conferência de Berlim
  • 10:45 - 10:48
    semeou a divisão linguística
    e geográfica por toda a África.
  • 10:49 - 10:51
    O cinema fala uma língua universal,
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    e o cinema nigeriano fala-a
    em voz alta.
  • 10:55 - 10:57
    Para África dar o salto de cem anos
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    é preciso que África congregue
    a criatividade para gerar ideias
  • 11:02 - 11:05
    e encontre a abertura
    para aceitar e adaptar ideias
  • 11:05 - 11:07
    de qualquer parte do mundo
  • 11:07 - 11:09
    para resolver os nossos
    problemas disseminados.
  • 11:09 - 11:11
    Com o foco no investimento,
  • 11:11 - 11:15
    os filmes podem ajudar a motivar
    essa mudança na população africana,
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    uma mudança que é necessária
    para dar o salto de cem anos,
  • 11:18 - 11:21
    uma mudança que vai ajudar
    a criar uma África próspera,
  • 11:21 - 11:25
    uma África que seja muito melhor
    do que é hoje.
  • 11:26 - 11:27
    Obrigado.
  • 11:27 - 11:28
    Asante sana.
  • 11:28 - 11:32
    (Aplausos)
Title:
Visões do futuro de África, segundo cineastas africanos
Speaker:
Dayo Ogunyemi
Description:

Alargando fronteiras, explorando possibilidades e transmitindo a verdade, o cinema tem ajudado a mudar a realidade de África (mesmo antes de "Black Panther"). Dayo Ogunyemi convida-nos a imaginar o futuro de África através das lentes de cineastas inspiradores de todo o continente, mostrando-nos como podem inspirar África a dar um salto de cem anos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:45

Portuguese subtitles

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