A arte como prática espiritual | Stephanie Smith | TEDxLehighRiver

Stephanie Smith acredita que práticas artísticas são poderosas ferramentas no processo de crescimento pessoal. São lições que a palestrante aprendeu através das 10 mil mandalas criadas por ela durante a ultima década.
Deixando a questão da qualidade artística de lado, nossas duras críticas internas podem ser silenciadas temporariamente. Então, todos, inclusive quem não se identifica como artista, podem se beneficiar física, emocional e espiritualmente através da prática da arte.

A artista autodidata Stephanie Smith trabalha com a arte circular sagrada conhecida por mandala, usando o processo como uma prática meditativa autorreflexiva. Até hoje, ela já criou mais de 10 mil mandalas em uma enorme variedade de meios.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

A palavra ''espiritualidade''

significa coisas diferentes
para pessoas diferentes.

Então, apenas por hoje,

eu a definirei como o processo
de se conhecer melhor

para, em troca, conhecer
algo maior do que você.

Uma prática espiritual
é tipicamente uma atividade solitária,

que te ajuda a crescer
em direção ao seu eu superior

através de contemplação e autorreflexão.

Então, como vocês acham
que se parece uma prática espiritual?

Ela se parece com isto:

um símbolo de oração e devoção?

Ou talvez se pareça com isto:

uma meditação silenciosa.

Ou talvez com isto:

estudar ou ler escrituras
ou livros de autoajuda.

Bom, na realidade, uma prática espiritual
pode se parecer com qualquer coisa.

Então, com isso em mente,
eu gostaria de introduzir a ideia

de que a prática espiritual
poderia se parecer com isto.

Então, se agora você está pensando:

"Não posso fazer isso, não sou um artista,
não consigo nem desenhar uma linha reta".

Por favor, acredite em mim,

eu sei onde você está,
também já estive ai.

Apenas me acompanhe
por um tempo, se me permite.

Esta imagem retrata uma mandala,
que é uma forma sagrada de arte circular.

É tipicamente representada

por padrões simétricos
que radiam do centro para fora.

A palavra em si é sânscrito,
que é uma língua hindi antiga,

e às vezes é pronunciada como ''mândala'',

e a palavra em si, traduzida livremente,

significa ''inteiro'' ou ''completo''.

Numa tradução mais literal,
significa ''círculo''.

Tomei conhecimento da mandala
como uma prática espiritual

há mais ou menos dez anos,

quando eu não era uma artista,

e, na verdade, eu só gostava
de rabiscar muito.

Nesse tempo eu estava realmente
disposta a crescer e a mudar

hábitos, padrões e pensamentos
autolimitantes que não eram saudáveis,

e eu estava acostumada a usar
uma grande variedade de métodos para isso.

Eu tinha usado escrita reflexiva,
práticas de respiração consciente,

percussão, canto,
meditação guiada, você escolhe,

mas uma única imagem na internet

mudou a minha vida inteira
praticamente para sempre.

A imagem se parecia um pouco com esta.

Era um desenho simples de mandala,

e o que realmente me pegou

foi a maneira como o artista descreveu
a mandala como um processo meditativo.

Era tipicamente feita de uma vez,

você começava pelo centro,

desenvolvia até o exterior

e parava quando tivesse acabado.

Isso descrevia um processo
e não um produto,

eu estava de fato intrigada,

porque mesmo que eu sempre
tenha amado arte,

minha incapacidade de desenhar ou pintar
me mantiveram longe dela.

Esse método de fazer mandalas
foi minha iniciação;

era uma forma de me expressar
através da arte

sem apego a técnica ou habilidade.

Você pode usar as técnicas
mais simples de fazer marcações,

como pequenos pontos,
formas simples e pequenas linhas,

porque nada tem que ser
representativo ou complexo.

Não precisa nem de materiais
especiais para fazê-las,

mas, se você for como eu,

pode ir à loja de materiais de arte
e comprar praticamente qualquer coisa

porque qualquer pessoa
pode comprar materiais de arte,

não precisa ser um artista
para fazer isso.

Então, história real.

Eu realmente lutei para usar uma régua.

Sou dessas pessoas

que, mesmo medindo cinco vezes,
ainda corta errado.

E mesmo sabendo que há pessoas por ai

que gostam de fazer mandalas
usando uma régua ou um compasso,

achei meio irônico
que, sendo perfeccionista,

eu prefira desenhar à mão livre

porque parece um pouco mais simples

meio que deixar de lado toda a qualidade

em vez de tentar desenhar
com tanta precisão.

E isso me levou a descobrir

que, quando você foca
no processo de fazer arte,

ou praticamente em qualquer processo,

mais do que a qualidade do que foi feito,

você está começando
a praticar atenção plena,

que o autor Jon Kabat-Zinn

descreve como consciência do aqui e agora,

de coração aberto, sem julgamentos.

Mas, como somos humanos, haverá momentos

em que uma marca
surge na página por acaso,

e são esses momentos
que te ensinarão sobre você mesmo,

aqueles em que você vê
como você trata a si mesmo.

Geralmente, quando isso acontece comigo,

eu aproveito essa oportunidade

e repito a marca sete, oito
ou dez vezes ao redor do círculo

e faço um novo padrão a partir dela.

E, então, sigo em frente.

Quando você resiste
à urgência de se criticar,

você começa a cultivar
a prática ética da "ahimsa".

Ahimsa é outra palavra em sânscrito,

que significa "não agressão",
"não violência".

É um dos conceitos fundamentais do yoga

e de outros ensinamentos espirituais.

E, em um mundo em que é muito fácil
ser extremamente autocrítica, às vezes,

essa prática tem mudado minha vida

porque me permitiu, através da arte,

ter verdadeiros momentos de paz,

longe das minhas duras autocríticas.

Não preciso dizer que adotei
essa prática de coração

e, 3 mil mandalas depois,

quando um bom amigo me sugeriu

que talvez eu pudesse ensinar o que faço,

comecei a me aprofundar
na história das mandalas.

O primeiro tipo que encontrei
foi o mais popular,

que são as geométricas e coloridas
mandalas de areia

que os monges budistas do Tibet criam

e eles as fazem para aumentar
o poder da consciência

e também como um meio
de curar a humanidade.

Muito legal, não?

E, cada vez que eu pesquisava,

encontrava mais e mais formas
de arte circular sagradas,

algumas com centenas de anos,

em várias culturas pelo mundo,

dos antigos labirintos gregos

às pinturas Navajo de areia,

e as pipas gigantes da Guatemala,
de 10 a 20m de altura,

que são empinadas em homenagem aos mortos.

E olhei para a natureza,

onde podemos encontrar mandalas
praticamente em todo lugar.

Dos anéis das árvores
aos flocos de neve e teias de aranha.

Do desabrochar de uma flor

às células do nosso corpo.

Tudo isso me fez pensar

como a mandala poderia ser
um simbolo de mútua conexão

e, talvez, até a conexão com algo maior.

E, então, temos Carl Jung.

Carl Jung foi um famoso
psicanalista suíço

enormemente reconhecido

por trazer o conceito
da mandala para o ocidente

há cerca de 100 anos.

E Jung usou as mandalas

por um período de um ano.

Como ele as usou:

todos os dias,
ele as desenhava ou pintava

como uma forma de autoanálise,

porque ele acreditava

que a mandala reflete nosso estado
de espírito quando a criamos.

Ele também acreditava que elas eram
um caminho para nossa totalidade.

E sei que, mesmo quando não tenho
ninguém para conversar,

ou quando não consigo
escrever sobre meus sentimentos,

se eu desenhar uma mandala

é fácil transformar
essa energia de alguma forma

e lidar com qualquer pensamento
e sentimento que eu queira lidar.

É muito bom para acalmar
uma mente inquieta.

Então, com todo meu conhecimento
e alguma experiência,

comecei a lecionar.

Eu sempre ofertei esse processo
como sendo acessível a todos.

E gostei especialmente
de trabalhar com pessoas

que sentiam vontade de aprender e evoluir,

mas que tinham algo como...

como se sentissem que produzir arte
fosse um obstáculo,

porque, em algum ponto, algo as bloqueava.

E percebo que, quando as pessoas estão
dispostas a olhar para essa resistência

e se sentirem confortáveis com o processo,

deixando de lado qualquer julgamento
pessimista que possam ter sobre si mesmas,

pela qualidade de suas próprias ações,

elas entendem e, então, começam
a se abrir a todos os benefícios

que a criação de arte oferece,

da mesma forma que a meditação
ou a prática autorreflexiva.

O que é muito interessante para mim,
ao partilhar esse processo,

é quando alguém vem a mim,

como um aluno que volta depois de um ano,

com um caderno cheio de mandalas,

demonstrando profunda gratidão

por isso ter impactado
positivamente a vida dele.

A propósito, há um estudo
recente da universidade de Drexel

no qual pesquisadores
descobriram que fazer arte,

independente da habilidade,

pode auxiliar na redução do estresse.

E, então, quem não quer
se beneficiar, não é?

E outros benefícios de se fazer arte

podem incluir o aumento
do foco e da concentração,

maior habilidade de resolver problemas
e de desenvolver o pensamento crítico.

E são características
que podemos transferir

para diferentes áreas da nossa vida,

especialmente quando buscamos
mais autoconsciência.

Fui uma criança que cresceu nos anos 70.

O que eu sabia sobre espiritualidade

poderia ser resumido
em apenas algumas palavras:

obedecer sem questionar.

O que é chato, pois sempre
fui questionadora.

Eu queria saber como o mundo funcionava

e por que as pessoas
diziam e faziam certas coisas.

E isso não era muito agradável

para meus pais, professores
e futuros patrões.

Mas, se você criar 10 mil mandalas,

ou fizer qualquer atividade 10 mil vezes,

você não pode fazer nada além de evoluir.

Acho que se houve
um grande aprendizado para mim,

é que todos precisamos encontrar um meio
de nos expressarmos sem julgamentos.

Temos que ter a habilidade

de deixar um pensamento ou uma pergunta
passar pela nossa mente

sem pensar se estamos errando.

Sabe, como um processo meditativo,

sinto que isso me ajudou

a cuidar mais do meu corpo,
mente e espirito.

Como um processo artístico,

sinto que me permitiu reconhecer
meu desejo de melhorar enquanto artista,

enquanto eu continuava a honrar
e valorizar mais a jornada que o destino.

E, como uma prática espiritual,

ajudou-me a aprender
a deixar, a me entregar,

a ser mais paciente,
tolerante e ter compaixão.

Inclusive me levou a descobrir
credos espirituais

estritamente alinhados
à ideia que sigo em minha vida

desde que eu era criancinha,

a ideia de que estamos
conectados a algo maior,

que não estamos separados disso.

Agora, gostaria de mostrar
um vídeo como exemplo

de trabalhos que tenho feito
durante a última década

buscando crescer espiritualmente.

Agora, os convido a verem
a criação artística com outros olhos.

Com desejo de aprender e crescer,

tudo o que vocês precisam fazer é começar

e não há erro.

Tudo o que vocês criarem será suficiente

porque vocês são suficientes.

Eu lhes dou permissão e os encorajo
a comprarem materiais e começarem a criar,

sejam mandalas

ou talvez outro tipo de expressão de arte.

Assim, vocês conhecerão o seu eu maior

que talvez, só talvez,
seja maior do que vocês mesmos.

Obrigada.

(Aplausos)