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Title:
O que a lua mais misteriosa de Saturno pode ensinar-nos sobre a origem da vida
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Description:
O Dragonfly da NASA, uma aeronave robotizada de asas rotativas criada para percorrer a superfície de um corpo extraterrestre, vai ser enviado para as profundezas do sistema solar para explorar Titã, a maior lua de Saturno, em 2026. A cientista planetária Elizabeth "Zibi" Turtle vai explicar-nos como estudar esta lua misteriosa, que se crê ter semelhanças com a Terra na sua origem, pode ajudar-nos a entender a habitabilidade de outros planetas e a origem da própria vida.
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Speaker:
Elizabeth "Zibi" Turtle
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Imaginem um mundo
com uma variedade de relevos.
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Tem uma atmosfera densa,
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onde os ventos atravessam
a sua superfície e onde chove.
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Tem montanhas e planícies,
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rios, lagos e mares,
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dunas de areia
e algumas crateras de impacto.
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Estamos a falar de Titã.
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a Voyager 2 captou esta imagem
da maior lua de Saturno.
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A Voyager nunca foi tão longe,
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tornando o sistema solar e para além dele
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parte da nossa geografia.
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Mas esta imagem, esta lua enevoada,
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era uma dramática lembrança
de como ainda havia um grande mistério.
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Aprendemos imenso
com as viagens das Voyagers.
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Porém, não sabíamos
o que estava por baixo desta atmosfera.
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Havia uma superfície gelada com relevos
como a das outras luas
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que foram identificadas
em Saturno e Júpiter?
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Ou talvez apenas um vasto oceano
global de metano líquido?
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Envolta pela bruma sombria,
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a superfície de Titã era
um grande e excecional mistério
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que a Cassini-Huygens,
uma sonda lançada em 1997,
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tinha a missão de resolver.
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Após a sua chegada em 2004,
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as primeiras imagens que Cassini
enviou da superfície de Titã
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só aumentaram o fascínio.
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Demorámos meses a entender
o que estávamos a ver na superfície.
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Para determinar, por exemplo,
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que as faixas negras que, no início,
eram irreconhecíveis
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e a que chamávamos
de "arranhões de gatos"
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eram, na verdade, dunas de areia orgânica.
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Durante os 13 anos que Cassini
passou a estudar Saturno,
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os seus anéis e luas,
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tivemos o privilégio
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de passar de não saber quase nada
sobre a superfície de Titã
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a entender a sua geologia,
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o papel que a atmosfera desempenha
na formação da sua superfície
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e até a ter pistas sobre
o que está sob aquela superfície.
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Na verdade, Titã é um
de vários mundos oceânicos,
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luas no frio sistema solar exterior,
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para além das órbitas de Marte
e do cinturão de asteroides
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com imensos oceanos de água
debaixo da sua superfície.
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O oceano interior de Titã pode ter
dez vezes mais água em estado líquido
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que todos os rios, lagos, mares
e oceanos da Terra juntos.
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E, em Titã, também há
lagos exóticos e mares
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de líquido metano e etano na superfície.
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Os mundos oceânicos são alguns
dos locais mais fascinantes
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do sistema solar
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e só agora começámos a explorá-los.
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No laboratório de Física Aplicada
da Johns Hopkins,
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estamos a criar uma missão
para as Novas Fronteiras da NASA.
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Está prevista para 2026
e alcançará Titã em 2034.
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O Dragonfly é um "drone" a hélice,
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do tamanho dos "rovers" de Marte
ou com o tamanho de um carro pequeno.
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A atmosfera densa de Titã,
juntamente com a sua baixa gravidade,
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tornam-no num ótimo local para voar
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e foi exatamente para isso
que o Dragonfly foi criado.
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Tecnicamente um "octocóptero",
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o Dragonfly é um laboratório móvel
que pode voar de local para local,
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levando todos os instrumentos
científicos com ele.
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O Dragonfly vai investigar Titã
de uma forma incomparável.
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Estudar pormenores
sobre o seu tempo e geologia
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e até recolher amostras da superfície
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para identificar a sua composição.
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Em suma, o Dragonfly vai passar
cerca de três anos a explorar Titã,
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medindo a sua composição química,
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observando a atmosfera
e a interação com a superfície
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e até vai procurar terramotos
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ou tecnicamente "titãrramotos"
na crosta de Titã.
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centenas de pessoas na América
do Norte e à volta do mundo
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está empenhada
no desenvolvimento da missão,
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do "drone" a hélice, o sistema
de navegação autónomo
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e a sua instrumentação.
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Todos têm de trabalhar juntos
nas medições científicas
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na superfície de Titã.
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Dragonfly é o próximo passo
na nossa exploração
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deste fascinante laboratório natural.
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Ao sobrevoar, o Voyager mostrou
as possibilidades.
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Na órbita de Saturno
há mais de uma década
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e a descer para a atmosfera de Titã,
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Cassini e Huygens mostraram
um pouco de Titã.
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O Dragonfly vai viver
no ambiente de Titã
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onde, até agora, o nosso único
plano aproximado
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é esta imagem que a sonda Huygens
tirou em janeiro de 2005.
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Titã é o que temos de mais próximo
dos primórdios da Terra,
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a Terra antes de existir aqui vida.
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Com as medidas de Cassini-Huygens,
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sabemos que os ingredientes da vida,
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pelo menos a que conhecemos,
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existiram em Titã
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e o Dragonfly vai inserir-se
neste ambiente desconhecido
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à procura de elementos
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semelhantes aos que podem ter
sustentado a vida aqui na Terra
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e ensinar-nos sobre a habitabilidade
de outros mundos.
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A habitabilidade
é um conceito fascinante.
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O que torna um ambiente
sustentável para abrigar vidas?
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Vidas como as que conhecemos
aqui na Terra
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ou talvez vidas exóticas criadas
em condições diferentes?
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A vida em outras partes
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inspirou a imaginação humana
e explorações por toda a História.
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A uma grande escala,
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foi por isso que os mundos
oceânicos no sistema solar
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se tornaram importantes alvos de estudo.
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É a incógnita que motiva
a exploração humana.
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Não sabemos como a química
se impôs à biologia aqui na Terra,
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mas podem ter ocorrido processos
químicos semelhantes em Titã,
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onde moléculas orgânicas
tiveram a oportunidade
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de misturar-se com água líquida
na superfície.
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A síntese orgânica progrediu
nestas condições?
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Se progrediu, quão longe foi?
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Ainda não sabemos.
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O que vamos aprender com o Dragonfly,
nesta missão essencialmente humana,
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é fascinante.
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É uma busca por elementos de base,
alicerces, passos químicos
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como os que deram origem
à vida na Terra.
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Não sabemos o que vamos encontrar
quando chegarmos a Titã,
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mas é por isso que vamos para lá.
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Em 1994, Carl Sagan escreveu:
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"As moléculas que têm caído em Titã,
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como um maná do céu,
nos últimos quatro mil milhões de anos,
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talvez ainda lá estejam,
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completamente inalteradas, congeladas,
à espera dos químicos da Terra."
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Nós somos esses químicos.
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O Dragonfly procura um maior entendimento,
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não só de Titã e dos mistérios
do nosso sistema solar,
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mas também das nossas origens.
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