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Fé versus tradição islâmica | Mustafa Akyol | TEDxWarwick

  • 0:17 - 0:21
    Há algumas semanas
    fui para a Arábia Saudita.
  • 0:21 - 0:24
    A primeira coisa que queria
    fazer como muçulmano
  • 0:24 - 0:27
    era visitar Meca e a Kaaba,
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    o local mais sagrado do Islã.
  • 0:28 - 0:31
    Foi o que fiz: vesti meu traje cerimonial,
  • 0:31 - 0:33
    fui para a mesquita sagrada,
  • 0:33 - 0:36
    fiz minhas orações
    e cumpri todos os rituais.
  • 0:37 - 0:40
    Entretanto, além
    de toda a espiritualidade,
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    havia um detalhe mundano na Kaaba
  • 0:43 - 0:44
    que chamou muito minha atenção:
  • 0:45 - 0:47
    não havia separação dos sexos.
  • 0:48 - 0:51
    Em outras palavras, homens
    e mulheres estavam rezando juntos,
  • 0:52 - 0:57
    mesmo durante o tawāf,
    a volta ao redor da Kaaba.
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    Eles rezavam juntos.
  • 1:00 - 1:03
    Se imaginam por que,
    afinal, isso é interessante,
  • 1:03 - 1:06
    vocês têm que conhecer
    o restante da Arábia Saudita,
  • 1:06 - 1:11
    porque este é um país muito rígido
    na separação entre os sexos.
  • 1:11 - 1:12
    Em outras palavras:
  • 1:12 - 1:17
    como homem, você não pode dividir
    o mesmo espaço físico com as mulheres.
  • 1:18 - 1:19
    Observei isso de uma forma engraçada.
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    Saí da Kaaba para comer no centro de Meca.
  • 1:24 - 1:26
    Fui para o Burger King mais próximo,
  • 1:26 - 1:32
    e lá percebi que havia uma ala masculina,
    separada cuidadosamente da ala feminina.
  • 1:32 - 1:35
    Tive que pedir, pagar e comer
    na ala masculina.
  • 1:36 - 1:38
    "Engraçado", pensei.
  • 1:38 - 1:41
    "Você pode se misturar com o sexo
    oposto na Kaaba sagrada,
  • 1:41 - 1:42
    mas não no Burger King?"
  • 1:42 - 1:43
    (Risos)
  • 1:43 - 1:47
    Muito irônico e, também,
    muito impressionante,
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    porque a Kaaba e os rituais ao seu redor
  • 1:51 - 1:54
    são relíquias sagradas
    do início do islamismo,
  • 1:54 - 1:55
    do profeta Maomé.
  • 1:56 - 2:00
    Se houvesse destaque no momento
    da separação entre homens e mulheres,
  • 2:00 - 2:03
    os rituais em torno da Kaaba
    teriam sido definidos de acordo.
  • 2:03 - 2:05
    Mas, aparentemente,
    na época isso não era um problema.
  • 2:05 - 2:07
    Então, surgiram os rituais.
  • 2:08 - 2:11
    Isso também é confirmado pelo fato
  • 2:11 - 2:15
    de que a separação de mulheres
    na criação de uma sociedade dividida
  • 2:15 - 2:18
    é algo que também
    não se encontra no Alcorão,
  • 2:19 - 2:22
    que é o coração divino do Islã,
  • 2:22 - 2:24
    e que todos os muçulmanos,
    inclusive eu, acreditam.
  • 2:26 - 2:28
    Acho que não é acaso
  • 2:28 - 2:31
    não encontrarmos esse conceito
    na própria origem do islamismo,
  • 2:31 - 2:35
    porque muitos que estudam
    a história do pensamento islâmico,
  • 2:35 - 2:37
    acadêmicos muçulmanos ou ocidentais,
  • 2:37 - 2:41
    acreditam que a divisão
    entre homens e mulheres
  • 2:42 - 2:45
    desenvolveu-se mais tarde no Islã,
  • 2:45 - 2:48
    com algumas culturas antigas
    adotadas pelos muçulmanos
  • 2:48 - 2:49
    e tradições do Oriente Médio.
  • 2:49 - 2:54
    O isolamento das mulheres era
    praticado pelos bizantinos e persas
  • 2:54 - 2:58
    e os muçulmanos o adotaram,
    tornando-se parte de sua religião.
  • 2:59 - 3:04
    Este é apenas um exemplo
    de um fenômeno muito maior.
  • 3:04 - 3:07
    O que chamamos hoje de lei islâmica
    e especialmente de cultura islâmica,
  • 3:07 - 3:09
    e há muitas culturas islâmicas.
  • 3:09 - 3:12
    Na Arábia Saudita, é muito diferente
  • 3:12 - 3:14
    de onde eu venho,
    em Istambul na Turquia.
  • 3:14 - 3:17
    Mas ainda assim, se você for
    falar sobre cultura muçulmana,
  • 3:17 - 3:22
    isso tem uma base: a mensagem
    divina, que deu início à religião.
  • 3:22 - 3:27
    Naquela época, muitas tradições,
    percepções e práticas foram acrescentadas.
  • 3:27 - 3:30
    Estas eram tradições
    medievais do Oriente Médio.
  • 3:31 - 3:36
    Existem duas importantes lições
    para entender essa realidade.
  • 3:37 - 3:38
    Primeira, os muçulmanos,
  • 3:38 - 3:42
    devotos, conservadores e crentes
    que querem ser leais à sua religião,
  • 3:42 - 3:45
    não devem se agarrar
    a tudo em sua cultura,
  • 3:45 - 3:47
    achando que tudo é mandamento divino.
  • 3:47 - 3:50
    Talvez algumas coisas sejam tradições
    ruins e precisam ser mudadas.
  • 3:50 - 3:54
    Por outro lado, os ocidentais
    que olham a cultura islâmica
  • 3:54 - 3:57
    e veem alguns aspectos preocupantes,
  • 3:57 - 4:00
    não devem concluir
    que isso é o que o Islã exige.
  • 4:00 - 4:04
    Talvez a cultura do Oriente Médio
    tenha se tornado confusa com o Islã.
  • 4:05 - 4:08
    Vejam alguns exemplos.
  • 4:09 - 4:11
    Existe uma prática
    chamada circuncisão feminina.
  • 4:12 - 4:16
    Não sei se já ouviram falar,
    mas é algo terrível.
  • 4:17 - 4:21
    É basicamente uma operação
    para privar as mulheres do prazer sexual.
  • 4:21 - 4:24
    Não vou entrar em detalhes,
    mas é algo extremamente ruim.
  • 4:25 - 4:26
    E o Ocidente,
  • 4:26 - 4:30
    europeus ou americanos,
    que não sabiam sobre isso,
  • 4:30 - 4:32
    viram esta prática
  • 4:32 - 4:36
    em algumas comunidades muçulmanas
    que migraram do norte da África.
  • 4:36 - 4:37
    E pensaram:
  • 4:37 - 4:41
    "Que religião horrível é esta,
    que obriga a uma coisa dessas".
  • 4:42 - 4:44
    Quando ouvimos falar
    sobre a circuncisão feminina,
  • 4:44 - 4:46
    percebe-se que ela não
    tem relação com o Islã;
  • 4:46 - 4:49
    é uma prática norte- africana
    anterior ao Islã.
  • 4:49 - 4:51
    Já existia há milhares de anos.
  • 4:51 - 4:57
    É bastante revelador que somente
    muçulmanos no norte da África a praticam.
  • 4:57 - 5:01
    Também, as comunidades não
    muçulmanas no norte da África,
  • 5:01 - 5:05
    os animistas, alguns cristãos
    e até mesmo uma tribo judaica,
  • 5:05 - 5:07
    praticam a circuncisão feminina.
  • 5:08 - 5:12
    Então, o que parece ser
    um problema dentro da fé islâmica
  • 5:12 - 5:16
    pode ser uma tradição
    adotada pelos muçulmanos.
  • 5:17 - 5:19
    O mesmo acontece com as mortes
    por questão de honra,
  • 5:19 - 5:22
    um tema recorrente na mídia ocidental
  • 5:22 - 5:25
    e, claro, uma tradição horrível.
  • 5:25 - 5:29
    É preocupante algumas comunidades
    muçulmanas seguirem essas tradições.
  • 5:29 - 5:32
    Mas, nas comunidades
    não muçulmanas do Oriente Médio,
  • 5:32 - 5:35
    como algumas cristãs e orientais,
    vemos a mesma prática.
  • 5:35 - 5:38
    Tivemos um caso trágico de crime de honra
  • 5:38 - 5:42
    há alguns meses, numa
    comunidade armênia, na Turquia.
  • 5:43 - 5:45
    Isto se refere à cultura geral,
  • 5:45 - 5:48
    também me interesso
    muito por cultura política,
  • 5:49 - 5:52
    e se a liberdade e a democracia
    são respeitadas
  • 5:52 - 5:55
    ou se existe uma cultura
    política autoritária,
  • 5:55 - 5:58
    na qual o Estado deve
    se impor aos cidadãos.
  • 5:59 - 6:00
    Não é segredo
  • 6:00 - 6:03
    que muitos movimentos islâmicos
    no Oriente Médio
  • 6:03 - 6:04
    tendem a ser autoritários
  • 6:04 - 6:07
    e alguns também conhecidos
    como "regimes islâmicos",
  • 6:07 - 6:12
    tais como a Arábia Saudita, o Irã e o pior
    de todos, o Talibã, no Afeganistão,
  • 6:12 - 6:15
    são muito autoritários,
    não há dúvidas sobre isso.
  • 6:16 - 6:17
    Na Arábia Saudita,
  • 6:17 - 6:20
    existe algo fora do comum,
    que é a polícia religiosa.
  • 6:20 - 6:24
    Ela impõe o modo de vida islâmico
  • 6:24 - 6:26
    a todos os cidadãos, por meio da força,
  • 6:26 - 6:29
    obrigando as mulheres a cobrir a cabeça,
  • 6:29 - 6:32
    com o hijab, o véu que é utilizado.
  • 6:33 - 6:35
    Isso é muito autoritário
  • 6:35 - 6:37
    e sou muito crítico quanto a isso.
  • 6:38 - 6:42
    Mas quando percebi que os não muçulmanos,
  • 6:42 - 6:45
    ou os indivíduos não islâmicos,
    da mesma geografia,
  • 6:45 - 6:47
    às vezes têm o mesmo comportamento,
  • 6:47 - 6:49
    percebi que o problema talvez esteja
  • 6:49 - 6:52
    na cultura política de toda
    a região, não apenas do Islã.
  • 6:52 - 6:57
    Vou dar um exemplo: na Turquia,
    que é uma república hipersecular,
  • 6:58 - 7:03
    até pouco tempo atrás, costumávamos ter
    o que eu chamo de "polícia secularista",
  • 7:03 - 7:07
    que deveria proteger as universidades
    contra estudantes com o véu.
  • 7:08 - 7:12
    Em outras palavras, eles exigiam
    que as estudantes tirassem o véu,
  • 7:12 - 7:15
    forçando-as a se identificarem.
  • 7:15 - 7:18
    Isto é tão tirânico quanto
    forçá-las a usar o véu.
  • 7:18 - 7:20
    Deveria ser uma decisão do cidadão
  • 7:20 - 7:22
    e cada indivíduo deve decidir sobre isso.
  • 7:22 - 7:24
    Mas quando vi isso, eu disse:
  • 7:24 - 7:28
    "Talvez o problema seja apenas
    uma cultura autoritária na região
  • 7:28 - 7:30
    e alguns muçulmanos
    foram influenciados por isso.
  • 7:30 - 7:33
    Mas as pessoas seculares
    podem ser influenciadas também
  • 7:33 - 7:35
    Talvez seja um problema
    de cultura política
  • 7:35 - 7:39
    e devemos pensar em como
    mudar essa cultura política.
  • 7:40 - 7:44
    Essas são algumas questões
    que vinha considerando há alguns anos
  • 7:44 - 7:46
    quando comecei a escrever um livro.
  • 7:46 - 7:48
    Pensei: "Bem, vou pesquisar
  • 7:48 - 7:53
    sobre como o islamismo
    se transformou no que é hoje,
  • 7:53 - 7:57
    quais foram os rumos tomados
    e quais deveriam ter sido".
  • 7:58 - 8:00
    Terminei o livro, mas ele ainda
    não foi publicado,
  • 8:00 - 8:02
    será publicado neste verão de 2011.
  • 8:03 - 8:07
    Ele se chama: "Islam Without Extremes:
    A Muslim Case for Liberty".
  • 8:07 - 8:09
    Como o subtítulo sugere,
  • 8:09 - 8:12
    pesquisei sobre a tradição
    e a história do pensamento islâmico
  • 8:12 - 8:15
    sob a perspectiva da liberdade individual,
  • 8:15 - 8:19
    tentando encontrar os pontos fortes
    em relação à liberdade individual.
  • 8:19 - 8:21
    Há pontos fortes na tradição islâmica.
  • 8:21 - 8:23
    O islamismo é uma religião monoteísta
  • 8:23 - 8:27
    que definiu o homem
    como responsável por si mesmo,
  • 8:27 - 8:30
    criou a ideia de indivíduo
    no Oriente Médio
  • 8:31 - 8:35
    e o salvou do coletivismo tribal.
  • 8:37 - 8:38
    Pode-se tirar muitas conclusões.
  • 8:40 - 8:44
    Mas, além disso, também vi
    problemas na tradição islâmica.
  • 8:45 - 8:50
    Um fato curioso: a maioria
    desses problemas surgiu mais tarde,
  • 8:50 - 8:53
    não do núcleo divino
    do islamismo, o Alcorão,
  • 8:53 - 8:56
    mas das tradições e mentalidades
  • 8:56 - 9:00
    ou das interpretações do Alcorão
    que os muçulmanos fizeram na Idade Média.
  • 9:00 - 9:03
    O Alcorão não tolera apedrejamento.
  • 9:03 - 9:05
    Não há nada sobre isso nele.
  • 9:05 - 9:11
    Não há punição para o abandono da fé
    ou para pecados pessoais, como beber.
  • 9:11 - 9:17
    Os aspectos problemáticos da lei islâmica
  • 9:17 - 9:21
    foram desenvolvidos posteriormente
    às interpretações do Islã.
  • 9:21 - 9:24
    Significa que os muçulmanos, hoje,
    podem olhar para essas coisas e dizer:
  • 9:24 - 9:29
    "O núcleo da nossa religião
    está aqui para ficar conosco.
  • 9:29 - 9:31
    É nossa fé e seremos leais a ela.
  • 9:31 - 9:33
    Mas podemos mudar a forma
    como foi interpretada,
  • 9:33 - 9:37
    pois isso aconteceu de acordo com a época
    e meio social da Idade Média.
  • 9:37 - 9:40
    Agora, vivemos num mundo com valores
    e sistemas políticos diferentes.
  • 9:40 - 9:43
    Essa interpretação
    é bastante possível e viável.
  • 9:44 - 9:47
    Se eu fosse a única pessoa pensando assim,
  • 9:47 - 9:48
    estaríamos com problemas.
  • 9:50 - 9:51
    Mas esse não é o caso.
  • 9:52 - 9:56
    Na verdade, a partir do século 19,
  • 9:56 - 10:02
    há um revisionismo completo,
    uma reforma, uma tradição,
  • 10:02 - 10:04
    uma tendência no pensamento islâmico.
  • 10:06 - 10:08
    Estes eram intelectuais ou estadistas
  • 10:09 - 10:13
    do século 19 e mais tarde, do século 20,
    que observavam basicamente a Europa
  • 10:13 - 10:17
    e admiravam apenas as coisas
    de lá, como ciência e tecnologia.
  • 10:17 - 10:20
    Também admiravam
    a democracia, o parlamento,
  • 10:20 - 10:23
    a ideia da representação
    e da igualdade entre os cidadãos.
  • 10:23 - 10:28
    Esses pensadores, intelectuais
    e estadistas muçulmanos do século 19
  • 10:28 - 10:32
    observaram esses aspectos e disseram:
    "Por que não podemos ser iguais?"
  • 10:32 - 10:34
    Eles se voltaram para a tradição islâmica
  • 10:34 - 10:39
    e viram o que eu falei:
    há muitos aspectos problemáticos,
  • 10:39 - 10:43
    mas não são o núcleo da religião,
    talvez possam ser entendidos novamente
  • 10:43 - 10:45
    e o Alcorão possa ser relido
    no mundo moderno.
  • 10:46 - 10:51
    Essa tendência é conhecida
    como modernismo islâmico
  • 10:51 - 10:54
    e estava sendo proposta
    pelos intelectuais e estadistas,
  • 10:54 - 10:58
    não somente como uma ideia,
    mas como um programa político.
  • 10:58 - 11:00
    É por isso que no século 19,
  • 11:00 - 11:04
    o Império Otomano, que abrangia
    todo o Oriente Médio,
  • 11:04 - 11:06
    fez reformas muito importantes:
  • 11:06 - 11:12
    dando aos cristãos e judeus
    o mesmo status de cidadãos,
  • 11:13 - 11:16
    aceitando uma constituição,
    um parlamento representativo,
  • 11:17 - 11:20
    promovendo a ideia
    de liberdade de religião.
  • 11:20 - 11:23
    É por isso que o Império Otomano,
    em suas últimas décadas,
  • 11:23 - 11:27
    transformou-se numa protodemocracia,
    uma monarquia constitucional,
  • 11:29 - 11:32
    sendo a liberdade um valor político
    muito importante naquela época.
  • 11:32 - 11:34
    Da mesma forma, no mundo árabe,
  • 11:34 - 11:39
    havia o que o grande historiador árabe
    Albert Hourani define como "Era Liberal".
  • 11:39 - 11:41
    O seu livro, "Arabic Thought
    in the Liberal Age"
  • 11:41 - 11:45
    e define o período da era liberal
    como século 19 e início do século 20.
  • 11:46 - 11:51
    Notavelmente, essa foi a tendência
    dominante no início do século 20
  • 11:51 - 11:56
    entre os pensadores,
    estadistas e teólogos islâmicos.
  • 11:56 - 12:00
    Há um padrão muito curioso
    no final do século 20,
  • 12:00 - 12:05
    pois vemos um acentuado declínio
    nesta linha islâmica modernista.
  • 12:05 - 12:10
    Ao invés disso, o islamismo cresce
  • 12:11 - 12:13
    como uma ideologia autoritária,
  • 12:13 - 12:18
    bastante estridente, contra o Ocidente
  • 12:18 - 12:22
    e que quer moldar a sociedade
    com base em uma visão utópica.
  • 12:22 - 12:25
    Este é o problema do islamismo
  • 12:25 - 12:30
    que criou muitos problemas
    no mundo islâmico do século 20.
  • 12:30 - 12:34
    Mesmo as formas extremas do Islamismo
  • 12:34 - 12:36
    levaram o terrorismo em nome do Islã,
  • 12:37 - 12:40
    que é uma prática que,
    na minha opinião, vai contra o Islã,
  • 12:40 - 12:43
    mas é obvio que alguns
    extremistas não pensam assim.
  • 12:44 - 12:46
    Mas há uma pergunta curiosa:
  • 12:46 - 12:51
    se o modernismo islâmico foi tão popular
    no século 19 e no início do século 20,
  • 12:51 - 12:55
    por que o islamismo tornou-se
    tão popular no resto do século 20?
  • 12:55 - 12:59
    Esta é uma pergunta que precisa
    ser examinada com cuidado.
  • 12:59 - 13:01
    Em meu livro, abordei esta questão.
  • 13:01 - 13:05
    Na verdade, não precisa ser
    um cientista para compreender isso.
  • 13:05 - 13:09
    Basta observar a história política
    do século 20 e ver como as coisas mudaram.
  • 13:09 - 13:11
    Os contextos mudaram.
  • 13:11 - 13:15
    No século 19, quando os muçulmanos
    tinham a Europa como exemplo,
  • 13:15 - 13:18
    eles eram independentes e mais confiantes.
  • 13:18 - 13:21
    No início do século 20,
    com a queda do Império Otomano,
  • 13:21 - 13:23
    todo o Oriente Médio foi colonizado.
  • 13:23 - 13:26
    E o que se tem com a colonização?
  • 13:26 - 13:28
    Tem-se a anticolonização.
  • 13:28 - 13:31
    Assim, a Europa não é mais
    um exemplo a ser seguido,
  • 13:31 - 13:34
    é um inimigo a ser combatido e resistido.
  • 13:34 - 13:38
    Então, há um declínio muito acentuado
    das ideias liberais no mundo muçulmano
  • 13:38 - 13:44
    e vemos uma pressão reacionária
    mais defensiva e rígida,
  • 13:44 - 13:47
    que levou ao socialismo
    e nacionalismo árabes
  • 13:47 - 13:49
    e, por último, à ideologia islâmica.
  • 13:50 - 13:53
    E, quando o período colonial terminou,
  • 13:53 - 13:58
    surgiram ditadores seculares em seu lugar,
  • 13:58 - 13:59
    que diziam que o país era deles,
  • 13:59 - 14:04
    mas não traziam a democracia ao país
    e estabeleciam sua própria ditadura.
  • 14:05 - 14:08
    Acho que o Ocidente, pelo menos
    alguns governos ocidentais,
  • 14:08 - 14:10
    especialmente os Estados Unidos,
  • 14:10 - 14:13
    cometeram o erro de apoiar
    aqueles ditadores seculares,
  • 14:13 - 14:16
    pensando que eram
    mais úteis para os seus interesses.
  • 14:16 - 14:20
    Mas o fato de que esses ditadores
    reprimiram a democracia
  • 14:20 - 14:23
    e grupos islâmicos em seu país,
  • 14:23 - 14:25
    na prática, tornaram
    os islâmicos mais estridentes.
  • 14:26 - 14:27
    Assim, no século 20,
  • 14:27 - 14:29
    houve esse ciclo vicioso no mundo árabe,
  • 14:29 - 14:32
    em que se teve uma ditadura
    que suprimiu seu próprio povo,
  • 14:32 - 14:34
    incluindo os islâmicos devotos
  • 14:34 - 14:36
    e eles reagiram de maneira reacionária.
  • 14:37 - 14:39
    Houve um país, no entanto,
  • 14:39 - 14:47
    que conseguiu escapar ou se distanciar
    desse ciclo vicioso: a Turquia.
  • 14:47 - 14:50
    A Turquia nunca foi colonizada;
  • 14:50 - 14:55
    vale lembrar que permaneceu independente,
    após a queda do Império Otomano.
  • 14:55 - 14:58
    Ela não compartilhou
    o mesmo exagero anticolonial
  • 14:58 - 15:00
    encontrado em outros países da região.
  • 15:00 - 15:04
    Uma coisa mais importante:
    a Turquia tornou-se uma democracia
  • 15:04 - 15:06
    antes do que qualquer outro país.
  • 15:06 - 15:09
    Em 1950, a Turquia teve
    a primeira eleição livre,
  • 15:10 - 15:12
    a qual acabou com o maior
    regime secular autocrático,
  • 15:12 - 15:14
    que aconteceu no início da Turquia.
  • 15:14 - 15:16
    Os muçulmanos devotos turcos
  • 15:16 - 15:20
    perceberam que poderiam mudar
    o sistema político por votação.
  • 15:20 - 15:24
    Eles perceberam que a democracia
    é algo compatível com o Islã,
  • 15:24 - 15:27
    com os valores deles,
    e apoiaram a democracia.
  • 15:27 - 15:29
    Essa é uma experiência
  • 15:29 - 15:32
    que poucas nações muçulmanas
    no Oriente Médio tiveram,
  • 15:32 - 15:34
    até muito recentemente.
  • 15:34 - 15:36
    Em segundo lugar,
    nas últimas duas décadas,
  • 15:36 - 15:39
    graças à globalização
    e à economia de mercado,
  • 15:39 - 15:41
    graças ao surgimento de uma classe média,
  • 15:41 - 15:47
    nós, na Turquia, vimos o que defino como
    um renascimento do modernismo islâmico.
  • 15:47 - 15:51
    Agora, há mais muçulmanos
    devotos de classe média,
  • 15:51 - 15:55
    que procuram suas tradições,
    percebem problemas nelas
  • 15:56 - 15:59
    e compreendem a necessidade
    de mudança, questionamento e reforma.
  • 15:59 - 16:03
    Eles observam novamente a Europa
    como um exemplo a ser seguido.
  • 16:03 - 16:06
    Eles veem, pelo menos,
    um exemplo de inspiração.
  • 16:06 - 16:10
    Por isso o processo de ingresso
    da Turquia na UE
  • 16:11 - 16:15
    foi apoiado pelos religiosos
    islâmicos dentro da Turquia,
  • 16:15 - 16:18
    enquanto alguns nacionalistas
    seculares foram contra.
  • 16:18 - 16:20
    Esse processo ficou um pouco desfocado
  • 16:20 - 16:22
    pelo fato de que nem todos
    os europeus são bem-vindos,
  • 16:22 - 16:24
    mas essa é outra discussão.
  • 16:25 - 16:29
    Mas o sentimento pró-UE
    na Turquia na última década,
  • 16:29 - 16:33
    tem se tornado quase uma causa islâmica
    apoiada pelos liberais islâmicos
  • 16:33 - 16:36
    e claro, também pelos liberais seculares.
  • 16:36 - 16:38
    E graças a isso,
  • 16:38 - 16:41
    a Turquia conseguiu criar
    uma história de razoável sucesso
  • 16:41 - 16:46
    em que o islamismo e seus
    entendimentos mais autênticos
  • 16:46 - 16:48
    tornaram-se parte do jogo democrático,
  • 16:48 - 16:54
    contribuindo para a democracia
    e para o avanço econômico do país.
  • 16:54 - 16:58
    E isso tem sido um exemplo inspirador
  • 16:58 - 17:01
    para alguns movimentos islâmicos
  • 17:01 - 17:05
    ou para outros países do mundo árabe.
  • 17:06 - 17:10
    Vocês devem ter visto a Primavera Árabe,
  • 17:10 - 17:13
    que começou na Tunísia e no Egito.
  • 17:14 - 17:17
    Uma multidão de árabes
    se revoltaram contra seus ditadores.
  • 17:18 - 17:21
    Eles exigiam democracia e liberdade.
  • 17:21 - 17:24
    E não se tornaram o bicho-papão islâmico,
  • 17:24 - 17:29
    usado pelos ditadores
    para justificar seus regimes.
  • 17:29 - 17:32
    Disseram: "Queremos
    liberdade e democracia.
  • 17:32 - 17:34
    Somos muçulmanos devotos,
  • 17:34 - 17:38
    mas queremos viver como
    pessoas livres numa sociedade livre".
  • 17:38 - 17:40
    Naturalmente, esta é uma longa jornada.
  • 17:40 - 17:44
    A democracia não avança
    em uma noite; é um processo.
  • 17:44 - 17:48
    Mas esta é uma era promissora
    no mundo muçulmano.
  • 17:48 - 17:51
    Acredito que o modernismo islâmico
    que começou no século 19,
  • 17:51 - 17:53
    mas que teve um revés no século 20,
  • 17:53 - 17:58
    por causa dos problemas políticos
    do mundo muçulmano, está renascendo.
  • 17:58 - 18:02
    Acho que a mensagem para se levar
    seria a de que o islamismo,
  • 18:02 - 18:06
    apesar de alguns céticos no Ocidente,
  • 18:06 - 18:08
    tem o potencial em si mesmo
  • 18:08 - 18:11
    para trilhar seu próprio caminho
    para a democracia e para o liberalismo,
  • 18:12 - 18:14
    seu próprio modo de alcançar a liberdade.
  • 18:14 - 18:16
    Deveriam permitir se trabalhar para isso.
  • 18:16 - 18:18
    Muito obrigado.
  • 18:18 - 18:19
    (Aplausos)
Title:
Fé versus tradição islâmica | Mustafa Akyol | TEDxWarwick
Description:

O jornalista Mustafa Akyol fala sobre a forma como algumas práticas culturais locais (como usar lenço na cabeça) tornaram-se ligadas, na mente popular, aos artigos de fé do Islã. Será que a ideia geral da fé islâmica se concentrou demais na tradição e não o suficiente nas crenças fundamentais?

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:28

Portuguese, Brazilian subtitles

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