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Minha vida com Asperger | Daniel Wendler | TEDxUniversityofArizona

  • 0:06 - 0:08
    Vocês já tiveram aquele pesadelo
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    em que estão na escola de novo, e nus?
  • 0:12 - 0:16
    Lembram-se da vergonha,
    da frustração impotente desse pesadelo?
  • 0:17 - 0:19
    Minha infância foi esse pesadelo.
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    Não que eu já tenha ido nu pra escola,
  • 0:21 - 0:22
    (Risos)
  • 0:22 - 0:26
    mas a vergonha, a frustração,
    a sensação de todos estarem contra mim,
  • 0:26 - 0:27
    tudo isso era bem real pra mim.
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    Eu tinha sete anos e via a escola
    como um campo de batalha
  • 0:32 - 0:34
    onde todo mundo fazia
    parte do exército inimigo.
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    E eu não sabia a razão disso
    nem como resolver o problema.
  • 0:38 - 0:40
    Minha vida era assim.
  • 0:41 - 0:42
    E este era eu.
  • 0:43 - 0:46
    Eu era meio estranho,
    como talvez possam perceber.
  • 0:46 - 0:48
    Não tive uma vida terrível:
  • 0:48 - 0:51
    minha familia me amava,
    eu tinha alguns amigos
  • 0:51 - 0:55
    e, quando lançaram o Super Mario Bros.,
    fiquei craque no negócio.
  • 0:55 - 0:57
    (Risos)
  • 0:58 - 1:01
    Mas não me encaixava
    na escola nem em lugar nenhum,
  • 1:01 - 1:03
    e não entendia por quê.
  • 1:03 - 1:05
    Me esforçava ao máximo
    pra fazer amigos, mas não conseguia.
  • 1:05 - 1:08
    Eu era amável, mas as pessoas
    me maltratavam.
  • 1:08 - 1:10
    Eu não sabia como fazer dar certo.
  • 1:10 - 1:14
    Daquela época, lembro-me de três coisas.
  • 1:14 - 1:16
    Uma é voltando da escola
    com minha mãe, e perguntar a ela:
  • 1:16 - 1:21
    "Como faz pra conversar com as pessoas?
    Nem isso eu sei fazer!".
  • 1:21 - 1:25
    Outra é da hora do lanche na escola:
    quando eu me sentava,
  • 1:25 - 1:29
    todos os meninos da mesa
    se levantavam e saíam.
  • 1:29 - 1:33
    Do jeito que eu era,
    decidi explorar meu novo poder:
  • 1:33 - 1:34
    eu os seguia de mesa em mesa,
  • 1:34 - 1:35
    (Risos)
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    obrigando-os a peregrinar pelo refeitório,
    antes de eu desistir e comer sozinho.
  • 1:40 - 1:42
    Minha terceira lembrança
    é chegar da escola
  • 1:42 - 1:47
    e correr soluçando pros braços do meu pai,
    dizendo: "Eu não presto, não presto".
  • 1:48 - 1:51
    Portanto, crescer foi difícil,
    especialmente no ensino fundamental.
  • 1:51 - 1:53
    O ensino médio foi um pouco mais fácil,
  • 1:53 - 1:56
    mas eu ainda tinha muito
    problema pra me enturmar.
  • 1:56 - 1:58
    Sou aquele com a camiseta tingida.
  • 1:58 - 1:59
    (Risos)
  • 2:01 - 2:04
    Foi só no ensino médio que as coisas
    realmente começaram a mudar.
  • 2:05 - 2:06
    Meus pais são ótimos.
  • 2:06 - 2:09
    Eles estão aqui, então, se falarem
    com eles, deem os parabéns.
  • 2:09 - 2:13
    Todos os pais querem pensar
    que os filhos são normais,
  • 2:13 - 2:17
    mas, naquela altura, os meus já tinham
    percebido que eu não acertava o passo,
  • 2:17 - 2:20
    ou talvez marchasse na direção oposta.
  • 2:20 - 2:23
    Por isso, antes do ensino médio,
    me levaram a um psicólogo,
  • 2:23 - 2:26
    quando fui diagnosticado
    com a Síndrome de Asperger.
  • 2:26 - 2:27
    Se nunca ouviram falar dela,
  • 2:27 - 2:31
    trata-se de uma condição
    neurológica do espectro autista,
  • 2:31 - 2:32
    e ela basicamente provoca
  • 2:32 - 2:35
    dificuldade em aprender
    habilidades sociais naturalmente.
  • 2:35 - 2:37
    Pensem nisso assim:
  • 2:37 - 2:40
    se pegarmos um bebê,
    e ele tiver nascido no Japão,
  • 2:40 - 2:41
    ele vai aprender japonês
  • 2:41 - 2:44
    naturalmente, simplesmente
    convivendo com as pessoas de lá.
  • 2:44 - 2:47
    Mas, se pegarmos um adulto
    que nunca aprendeu japonês
  • 2:47 - 2:49
    e o soltarmos no meio de Tóquio,
  • 2:49 - 2:51
    ele vai ter muito mais dificuldade.
  • 2:51 - 2:54
    Da mesma forma, uma pessoa sem Asperger
  • 2:54 - 2:57
    aprende as habilidades
    sociais de forma natural,
  • 2:57 - 2:59
    simplesmente observando o mundo ao redor.
  • 2:59 - 3:03
    No entanto, alguém com Asperger
    é como o adulto num país estrangeiro
  • 3:03 - 3:04
    onde ele não fala a língua.
  • 3:04 - 3:06
    É muito mais difícil aprender.
  • 3:07 - 3:09
    Ser diagnosticado
    foi uma grande revelação,
  • 3:09 - 3:12
    pois eu não sabia
    a razão das minhas dificuldades.
  • 3:12 - 3:16
    Mas a partir daí entendi: "Ah, é porque
    não tenho habilidades sociais!"
  • 3:16 - 3:20
    O psicólogo me deu
    uma lista das habilidades sociais
  • 3:20 - 3:25
    com as quais pessoas com Asperger lutam,
    e daí pensei: "Então, tá. Mãos à obra!"
  • 3:25 - 3:27
    Então comecei a estudar essas habilidades,
  • 3:27 - 3:31
    a ler livros sobre linguagem corporal,
    conversação, etiqueta... li de tudo!
  • 3:31 - 3:33
    Comecei a assistir filmes com meus pais,
  • 3:33 - 3:35
    e pausávamos o filme umas dez vezes:
  • 3:35 - 3:38
    "Ei, o que aconteceu nessa conversa?",
  • 3:38 - 3:40
    "Não entendi por que
    tal personagem fez aquilo",
  • 3:40 - 3:43
    "Ei, me expliquem esse comportamento!"
  • 3:43 - 3:47
    Comecei a melhorar,
    e as coisas começaram a fazer sentido.
  • 3:47 - 3:50
    Comecei a ser capaz de entender
  • 3:50 - 3:52
    os sistemas que governam
    a interação entre as pessoas.
  • 3:52 - 3:55
    Consegui criar metáforas e ideias
  • 3:55 - 3:58
    que me ajudassem a saber como reagir.
  • 3:58 - 4:01
    Aliás, vamos falar sobre linguagem
    corporal, um tópico divertido.
  • 4:01 - 4:03
    Se pegarem numa livraria
    um livro sobre o assunto,
  • 4:03 - 4:06
    ele vai listar todos os sinais corporais.
  • 4:06 - 4:08
    Meu favorito é o que diz
    que os pés sinalizam a intenção.
  • 4:08 - 4:11
    Numa conversa, se o pé da pessoa
    aponta em nossa direção,
  • 4:11 - 4:14
    significa que ela está focada na conversa.
  • 4:14 - 4:17
    Se os pés da pessoa apontam pra porta,
  • 4:17 - 4:19
    é porque ela quer ir embora!
  • 4:19 - 4:22
    Deveríamos, então, imediatamente
    deixá-la encerrar a conversa.
  • 4:23 - 4:25
    Mas a linguagem corporal difícil,
  • 4:25 - 4:28
    pois existem montes de sinais
    significando montes de coisas diferentes.
  • 4:28 - 4:31
    Por exemplo, esfregar o nariz indica
    que a pessoa não tem certeza,
  • 4:31 - 4:35
    enquanto esfregar a parte de trás
    do pescoço indica ansiedade;
  • 4:35 - 4:39
    ações semelhantes, significados
    semelhantes, mas um pouco diferente.
  • 4:39 - 4:40
    Daí, eu olhava pra pessoa
  • 4:40 - 4:43
    pra descobrir o que dizia
    sua linguagem corporal
  • 4:43 - 4:46
    e, quando percebia, a conversa seguia
  • 4:46 - 4:49
    e eu me esquecia completamente
    do que estava falando.
  • 4:49 - 4:55
    Imaginem entender essa lista toda...
  • 4:55 - 4:59
    É muito difícil avaliar de imediato
    o que as pessoas estão sentindo.
  • 4:59 - 5:03
    Então decidi condensar tudo isso.
  • 5:03 - 5:06
    Peguei todos os sinais
    da linguagem corporal e os agrupei
  • 5:06 - 5:08
    simplesmente em conforto e desconforto.
  • 5:08 - 5:10
    Decidi que não precisava me lembrar
  • 5:10 - 5:15
    de que esfregar o nariz significava
    incerteza, ansiedade, indigestão, etc.
  • 5:15 - 5:18
    Só precisava saber que, se o outro
    não estivesse confortável,
  • 5:18 - 5:19
    talvez houvesse algo errado.
  • 5:19 - 5:23
    Aí, podia pegar isso, tentar descobrir
    o que havia de errado e tentar consertar.
  • 5:23 - 5:28
    Se estou conversando com alguém e noto
    que a pessoa dá sinais de desconforto,
  • 5:28 - 5:31
    penso: "Deixe-me observar
    a conversa, o ambiente,
  • 5:31 - 5:34
    e ver se há algo que eu possa consertar".
  • 5:34 - 5:37
    Antes, as pessoas ficavam chateadas
    comigo, e eu não entendia por quê.
  • 5:37 - 5:41
    Eu estava conversando com alguém
    e achava que estava tudo indo bem,
  • 5:41 - 5:43
    mas a pessoa explodia,
    pois eu não entendia os sinais.
  • 5:43 - 5:47
    Agora, consigo começar a ver
    o que está acontecendo e me adaptar.
  • 5:48 - 5:51
    Mas eu ainda precisava
    aprender a conversar,
  • 5:51 - 5:53
    e conversar não é fácil.
  • 5:53 - 5:55
    Há muitos livros sobre o assunto,
  • 5:55 - 5:59
    mas todos dão apenas dicas e truques,
  • 5:59 - 6:00
    o que não é muito útil.
  • 6:00 - 6:03
    É como se quiséssemos
    aprender a jogar beisebol,
  • 6:03 - 6:06
    e os livros dissessem simplesmente
    pra ficar de olho na bola.
  • 6:06 - 6:10
    Eles não dão as regras do jogo,
    e jogar não se aprende assim.
  • 6:10 - 6:14
    Então, estudei muito, pratiquei,
    pensei muito sobre o assunto,
  • 6:14 - 6:17
    e descobri o segredo de uma boa conversa.
  • 6:17 - 6:19
    Prontos pra resposta?
  • 6:19 - 6:22
    Prontos pra tomar nota,
    ou tuitar, o que acharem melhor?
  • 6:22 - 6:25
    Conversar é como fazer um sanduíche.
  • 6:25 - 6:30
    Especificamente, é fazer
    um sanduíche junto com um amigo,
  • 6:30 - 6:33
    em que adiciono um ingrediente
    e passo o sanduíche pra ele.
  • 6:33 - 6:36
    Ele adiciona um ingrediente
    e me devolve o sanduíche.
  • 6:36 - 6:39
    Provavelmente ninguém
    aqui faz sanduíche em equipe,
  • 6:39 - 6:42
    mas é uma metáfora, então prestem atenção.
  • 6:42 - 6:45
    Porque é assim que uma conversa deve ser:
  • 6:45 - 6:47
    adicionamos algo a ela,
  • 6:47 - 6:49
    pensamentos, ideias, uma história,
  • 6:49 - 6:51
    e então convidamos a outra pessoa a falar,
  • 6:51 - 6:54
    fazendo uma pergunta ou algo do tipo.
  • 6:54 - 6:57
    Adicionamos um ingrediente,
    e devolvemos o sanduíche.
  • 6:57 - 6:59
    O amigo faz o mesmo
    e nos devolve o sanduíche.
  • 6:59 - 7:02
    Portanto eu sabia o que se devia
    fazer numa conversa.
  • 7:02 - 7:04
    Sabia como manter a conversa fluindo
  • 7:04 - 7:07
    e quando deveria adicionar algo.
  • 7:07 - 7:12
    Mas eu ainda precisava descobrir
    como ser um bom interlocutor.
  • 7:12 - 7:15
    Como escolher tópicos
    que interessassem as pessoas?
  • 7:15 - 7:19
    E isso foi difícil pra mim,
    porque eu costumava divagar muito.
  • 7:19 - 7:22
    Se alguém me perguntasse:
    "O que você fez hoje?",
  • 7:22 - 7:24
    eu contava tudo, tim-tim por tim-tim!
  • 7:24 - 7:25
    (Risos)
  • 7:25 - 7:28
    Raramente essa era a resposta esperada.
  • 7:28 - 7:30
    Então tive de descobrir o tom certo
  • 7:30 - 7:32
    e como evitar divagar.
  • 7:32 - 7:34
    Como só dizer o que as pessoas
    estão interessadas em ouvir?
  • 7:34 - 7:37
    Daí, desenvolvi uma técnica
  • 7:37 - 7:39
    que chamei de "porta rangendo".
  • 7:39 - 7:41
    E ela funciona assim:
  • 7:41 - 7:42
    digamos que cheguem em casa tarde,
  • 7:42 - 7:46
    e a porta da frente é velha e range.
  • 7:46 - 7:48
    Ninguém vai querer abrir
    a porta de uma vez,
  • 7:48 - 7:51
    porque (porta rangendo) vai
    incomodar todo mundo na casa.
  • 7:51 - 7:53
    Então abrimos um pouquinho (rangido),
  • 7:53 - 7:55
    mais um pouco (rangido),
  • 7:55 - 7:57
    e continuamos (rangido, rangido),
  • 7:57 - 8:00
    até ela abrir completamente,
    pra que possamos entrar.
  • 8:00 - 8:04
    Do mesmo modo, se alguém
    me perguntasse alguma coisa,
  • 8:04 - 8:06
    eu compartilhava parte da resposta,
  • 8:06 - 8:08
    e dava a oportunidade de pedirem mais.
  • 8:08 - 8:11
    Assim, se me perguntassem:
    "O que você fez no fim de semana?"
  • 8:11 - 8:15
    Eu dizia: "Fui nadar", e parava por aí.
  • 8:15 - 8:18
    Se ficassem curiosos,
    iam perguntar, e eu contava mais.
  • 8:18 - 8:20
    Se não perguntassem,
  • 8:20 - 8:23
    a gente mudava de assunto,
    e nenhum estrago seria feito.
  • 8:24 - 8:27
    Descobri todos esses sistemas
    de como interagir com as pessoas,
  • 8:27 - 8:30
    mas coloquei na minha própria língua.
  • 8:30 - 8:34
    Posso lhes contar tudo o que descobri,
  • 8:34 - 8:36
    mas, como já disse,
    tenho a tendência de divagar,
  • 8:36 - 8:39
    então vou parar por aqui.
  • 8:39 - 8:40
    Mas a questão é
  • 8:41 - 8:44
    que minhas habilidades sociais
    começaram a melhorar.
  • 8:44 - 8:48
    Comecei sem a intenção de ser perfeito,
    apenas bom o bastante.
  • 8:48 - 8:52
    Comecei a ter conversas em que entendia
    os sinais não verbais que me eram dados.
  • 8:52 - 8:56
    Comecei a ser capaz de fazer amizades
    e ser parte de um grupo de amigos.
  • 8:56 - 9:00
    Pessoal, quero que entendam
    como isso foi incrível pra mim.
  • 9:01 - 9:05
    pois Interação social foi algo
    com que lutei a vida toda.
  • 9:06 - 9:09
    Mas aí entendi que não era
    uma incapacidade permanente,
  • 9:09 - 9:11
    mas algo que eu podia superar.
  • 9:11 - 9:14
    Foi um passo enorme, mas, mais que isso,
  • 9:14 - 9:17
    foi poder desfrutar da alegria da amizade.
  • 9:17 - 9:20
    Para alguém que viveu
    a vida toda à margem,
  • 9:20 - 9:22
    fazer parte de um grupo de amigos,
  • 9:22 - 9:24
    ser alguém com quem
    as pessoas queriam sair...
  • 9:24 - 9:27
    foi incrível demais!
  • 9:27 - 9:30
    Acho que só percebi
    o quanto as coisas tinham mudado
  • 9:30 - 9:33
    quando recebi um telefonema
    do meu amigo Mark,
  • 9:33 - 9:36
    e ele falou: "Daniel, vamos reunir
    a galera neste fim de semana?"
  • 9:36 - 9:39
    Eu respondi: "Parece uma boa ideia".
  • 9:40 - 9:43
    Houve uma longa pausa, e ele disse:
  • 9:43 - 9:45
    "Então... você organiza as coisas, né?"
  • 9:45 - 9:48
    De alguma forma, eu tinha passado
    de pária social a planejador de festa.
  • 9:48 - 9:50
    (Risos)
  • 9:50 - 9:54
    Gente, ter Asperger
    e aprender habilidades sociais
  • 9:54 - 9:58
    é como uma criança com péssima visão
    usar óculos pela primeira vez.
  • 9:59 - 10:02
    Mas experimentar a alegria da amizade
    depois de uma vida à margem
  • 10:02 - 10:06
    é como dar um par de óculos àquela criança
    e depois levá-la ao Louvre.
  • 10:07 - 10:11
    O tio Ben do Homem-Aranha diz:
  • 10:11 - 10:13
    "Com grande poder
    vem grande responsabilidade".
  • 10:13 - 10:15
    Este é um evento TEDx numa universidade,
  • 10:15 - 10:18
    então vamos usar citações eruditas aqui.
  • 10:18 - 10:19
    (Risos)
  • 10:19 - 10:23
    Assim, com grande poder
    veio grande responsabilidade.
  • 10:23 - 10:27
    Se tive o poder de abrir a porta para
    esse mundo novo da amizade e aceitação,
  • 10:27 - 10:31
    também não teria a responsabilidade
    de fazer isso pelos outros?
  • 10:31 - 10:35
    Então, fiz uma coisa simples: comecei
    a procurar ex-colegas que eram como eu.
  • 10:35 - 10:39
    Os jovens que eram estranhos,
    diferentes, que não se encaixavam.
  • 10:40 - 10:42
    E me tornei amigo deles.
  • 10:42 - 10:47
    E no final essas pessoas foram
    os amigos mais incríveis que já tive.
  • 10:47 - 10:52
    Acho que foi o tempo que eles passaram
    à margem que fez deles tão incríveis.
  • 10:53 - 10:58
    Nossa cultura tem a estranha mania
    de achar que a dor não é normal,
  • 10:58 - 11:02
    que o estado padrão da humanidade
    é ser feliz o tempo todo.
  • 11:02 - 11:05
    Por isso, quando sentimos
    essa pressão para nos encaixar,
  • 11:05 - 11:09
    sentimos pressão também
    pra esconder a dor e fazer uma cara feliz.
  • 11:09 - 11:12
    Mas, quando a gente sabe
    que não vai se encaixar,
  • 11:12 - 11:13
    quando se é um pária,
  • 11:13 - 11:16
    mesmo a vida sendo difícil às vezes,
  • 11:16 - 11:19
    isso nos dá a liberdade
    de reconhecer nossa dor,
  • 11:19 - 11:21
    e dessa forma reconhecer a dor alheia.
  • 11:21 - 11:23
    E assim se constrói a compaixão.
  • 11:23 - 11:25
    Ou podemos ver de outro ponto de vista.
  • 11:25 - 11:29
    Thoreau se isolou,
    foi viver longe da sociedade,
  • 11:29 - 11:32
    pois queria viver de forma consciente.
  • 11:32 - 11:35
    Mas, quando a sociedade
    nos empurra para o isolamento,
  • 11:35 - 11:39
    também nos força a viver
    de forma consciente.
  • 11:39 - 11:41
    Podemos fazer escolhas
    baseados não no que é popular,
  • 11:41 - 11:44
    nem no que está na moda,
    ou no que os amigos pensam,
  • 11:44 - 11:49
    mas apenas com base
    no que queremos ser e fazer.
  • 11:50 - 11:52
    Assim, quando me aproximei dessas pessoas,
  • 11:52 - 11:54
    vi que eram amigos incríveis.
  • 11:54 - 11:57
    Vi que as pessoas que procurei,
    pensando que elas precisavam de mim,
  • 11:57 - 11:59
    eram as pessoas de quem eu precisava,
  • 11:59 - 12:02
    porque eram mais capazes de me apoiar.
  • 12:02 - 12:04
    Vou dar um exemplo.
  • 12:04 - 12:05
    No meu primeiro ano de faculdade,
  • 12:05 - 12:08
    havia uma amiga passando
    por um período difícil.
  • 12:08 - 12:11
    Por isso eu realmente tentei apoiá-la.
  • 12:11 - 12:17
    Daí, um dia recebo um telefonema
    de casa, e é uma notícia muito ruim.
  • 12:17 - 12:20
    Eu me segurei até desligar
    o telefone, mas depois desabei.
  • 12:20 - 12:25
    Estou falando de lágrimas,
    de... foi terrível.
  • 12:27 - 12:31
    Eu estava chorando e de repente
    senti um braço em volta de mim.
  • 12:31 - 12:34
    Olhei pra cima e era minha amiga,
    a que eu estava ajudando.
  • 12:34 - 12:35
    Ela me abraçou e me confortou,
  • 12:35 - 12:39
    e ela era exatamente a pessoa
    de quem eu precisava naquele momento.
  • 12:39 - 12:44
    E, gente, não se trata apenas
  • 12:44 - 12:47
    do apoio que recebi dos meus amigos,
  • 12:47 - 12:51
    mas eles me ajudaram a entender
    que não tem problema precisar de apoio.
  • 12:51 - 12:56
    Porque, quando comecei a ser sociável,
    quando comecei a experimentar aceitação,
  • 12:56 - 13:00
    fiquei com um medo danado da rejeição.
  • 13:00 - 13:03
    Fiquei apavorado de fazer algo errado,
  • 13:03 - 13:06
    de cometer uma gafe, e as pessoas dizerem:
  • 13:06 - 13:09
    "Daniel é um impostor;
    no fundo ele sempre foi estranho.
  • 13:09 - 13:10
    (Risos)
  • 13:10 - 13:12
    Vamos descer o pau nele!"
  • 13:12 - 13:15
    Obviamente esse medo não é muito realista,
  • 13:15 - 13:18
    mas nossos maiores medos
    raramente o são, né mesmo?
  • 13:18 - 13:23
    Então eu sentia muita pressão
    pra mostrar o meu melhor lado.
  • 13:23 - 13:24
    Mas isso é solitário.
  • 13:24 - 13:26
    Porque, ao tentarmos mostrar nosso melhor,
  • 13:26 - 13:29
    o resto do nosso eu ainda está travado.
  • 13:29 - 13:31
    Porém, ao longo do tempo,
    meus amigos me mostraram
  • 13:31 - 13:33
    que gostavam de mim por quem eu era.
  • 13:33 - 13:35
    Que não tenho de ser
    o organizador de festas
  • 13:35 - 13:37
    ou o ombro amigo o tempo todo.
  • 13:37 - 13:42
    Ou seja, tudo bem ser apenas o Daniel,
    mesmo que eu fosse estranho.
  • 13:43 - 13:46
    Esta é Sam, minha namorada na faculdade.
  • 13:46 - 13:49
    Como podem ver, ela foi
    ótima em criar um lugar
  • 13:49 - 13:51
    onde eu sentia a liberdade
    de ser apenas eu,
  • 13:51 - 13:54
    mesmo que isso fosse realmente estranho.
  • 13:55 - 13:57
    Eis alguns dos meus amigos mais queridos
  • 13:57 - 14:01
    numa xícara de chá na Disneylândia,
    pois onde mais a gente vai com os amigos?
  • 14:01 - 14:05
    Ficamos bem próximos nesse grupo,
    porque, no primeiro ano da faculdade,
  • 14:05 - 14:07
    decidimos que, uma vez
    por semana, arranjaríamos tempo
  • 14:07 - 14:10
    para nos reunir, e sermos nós mesmos.
  • 14:10 - 14:11
    Cada semana era uma coisa diferente.
  • 14:11 - 14:15
    Às vezes, discutíamos um assunto,
    às vezes jogávamos,
  • 14:15 - 14:18
    às vezes só curtíamos
    a companhia uns dos outros.
  • 14:18 - 14:21
    A única regra era trazer
    à tona nosso verdadeiro eu.
  • 14:21 - 14:25
    E então, semana após semana,
    eu trazia o verdadeiro Dan
  • 14:25 - 14:27
    e, semana após semana,
    era recebido com aceitação,
  • 14:27 - 14:30
    mesmo quando o verdadeiro Dan
    era bem esquisito.
  • 14:30 - 14:32
    (Risos)
  • 14:34 - 14:37
    E assim, com o tempo,
    meus amigos me ajudaram a perceber
  • 14:37 - 14:40
    que era legal eu poder ser
    o SuperDan, o cara sociável,
  • 14:40 - 14:43
    que eu tenha aprendido
    essas habilidades e tal,
  • 14:43 - 14:47
    mas que eu não precisava ser o SuperDan
    ou o Dan sociável o tempo todo,
  • 14:47 - 14:50
    que ser eu mesmo bastava.
  • 14:50 - 14:54
    E espero que percebam
    que é suficiente vocês serem quem são.
  • 14:54 - 14:57
    Espero que entendam
    que há pessoas no mundo
  • 14:57 - 15:00
    que vão gostar de vocês
    exatamente do jeito que são.
  • 15:00 - 15:02
    E que não deveriam parar
    de procurar por pessoas assim,
  • 15:02 - 15:06
    porque, no final, são elas
    que nos definem.
  • 15:06 - 15:10
    São pessoas que não desistem de nós,
    que veem o bem em nós,
  • 15:10 - 15:12
    mesmo quando somos duros conosco mesmos.
  • 15:12 - 15:16
    Como diz o provérbio: "É preciso
    uma aldeia para educar uma criança",
  • 15:16 - 15:19
    mas na verdade precisamos de uma aldeia
    ao nosso redor a vida toda.
  • 15:19 - 15:23
    Minha história é a história
    de uma aldeia, não é sobre mim.
  • 15:23 - 15:27
    É a história do apoio que recebi
    desde sempre da minha família,
  • 15:27 - 15:29
    quando eu pelejava tanto.
  • 15:29 - 15:31
    É a história dos amigos
    que me encorajaram,
  • 15:31 - 15:33
    o que me permitiu encorajar outros.
  • 15:33 - 15:36
    É a história das palavras gentis
    que ouvi e passei adiante.
  • 15:36 - 15:40
    Em última instância, é a história da ideia
  • 15:40 - 15:43
    de que todo mundo merece
    um lugar pra chamar de seu.
  • 15:44 - 15:48
    Quando eu tinha sete anos,
  • 15:49 - 15:54
    lanchava sozinho no recreio,
    porque ninguém queria se sentar comigo.
  • 15:54 - 15:56
    Se eu tentasse sentar junto,
    eles se levantavam.
  • 15:56 - 16:01
    Acho que posso afirmar que ninguém
    ali via qualquer valor em mim.
  • 16:01 - 16:02
    Mas também posso afirmar
  • 16:02 - 16:05
    que as pessoas da minha vida
    que viram valor em mim
  • 16:05 - 16:08
    foram a razão pela qual fui capaz
    de chegar aonde estou hoje.
  • 16:08 - 16:14
    Não quero me gabar, mas tenho
    um site sobre habilidades sociais
  • 16:14 - 16:18
    que teve mais de 40 milhões de visitas,
    minha história foi contada na mídia,
  • 16:18 - 16:21
    e estou dando uma palestra no TEDx
    agora sobre a minha vida.
  • 16:22 - 16:26
    Acho que posso afirmar
    que eu havia valor em mim, com certeza.
  • 16:30 - 16:34
    Mas só percebi esse valor porque pessoas
    na minha vida me mostraram isso.
  • 16:36 - 16:39
    Percebi que não podia fazer isso sozinho.
  • 16:40 - 16:44
    O ponto da minha palestra é muito simples:
  • 16:45 - 16:49
    ninguém merece ficar sozinho,
    e ninguém consegue nada sozinho.
  • 16:49 - 16:54
    Então, quem estiver só,
    procure as pessoas, fale com elas.
  • 16:54 - 16:58
    E se virem alguém que esteja
    solitário, sejam amigos dele.
  • 16:58 - 17:01
    Quando eu tinha sete anos,
    sentado sozinho no recreio,
  • 17:01 - 17:04
    ficava louco pra alguém se aproximar.
  • 17:04 - 17:06
    Ficava louco pra alguém
    se sentar à minha mesa
  • 17:06 - 17:09
    e me mostrar que valia
    a pena ser meu amigo.
  • 17:10 - 17:12
    Se estivessem ali comigo,
  • 17:12 - 17:18
    se tivessem visto o garoto
    merendando sozinho todos os dias,
  • 17:18 - 17:21
    vocês seriam aqueles
    que teriam se sentado ao meu lado?
  • 17:21 - 17:23
    Se a resposta for "sim",
  • 17:23 - 17:27
    então hoje também vocês seriam
    aquele que se sentaria ao lado de alguém
  • 17:27 - 17:31
    que precisa tanto de um amigo,
    como eu precisava na época?
  • 17:31 - 17:36
    Será que vocês seriam os únicos que veriam
    alguém que todo mundo rejeitou,
  • 17:36 - 17:38
    e diriam: "Eu aceito aquela pessoa"?
  • 17:38 - 17:43
    Seriam aquele que vê alguém que parece
    estranho, esquisito ou diferente
  • 17:43 - 17:48
    e diriam: "Sabe de uma?
    Ele pode ser um amigo muito legal".
  • 17:48 - 17:50
    E daí fariam amizade com ele?
  • 17:50 - 17:52
    Vocês se sentariam ao lado dele
    e perguntariam seu nome?
  • 17:52 - 17:57
    Vocês ouviriam a história dele
    e se tornariam parte dela?
  • 17:57 - 17:59
    Eu prometo que, se vocês o fizerem,
  • 18:00 - 18:04
    poderão descobrir que ele se tornou
    uma parte incrível da história de vocês.
Title:
Minha vida com Asperger | Daniel Wendler | TEDxUniversityofArizona
Description:

Como podemos assegurar que todos tenham uma comunidade onde se sintam aceitos? Para muitas pessoas, as estranhas, as tímidas, ou simplesmente as mal compreendidas, a vida é uma experiência solitária, e é difícil encontrar bons amigos.

Daniel Wendler experimentou isso na pele. Ele tem a Síndrome de Asperger, uma condição neurológica que o impediu de aprender habilidades sociais naturalmente. Sem tais habilidades para fazer amigos ou se defender de valentões, Daniel cresceu à margem.

No entanto, ele não deixou seus desafios defini-lo. Quando percebeu que seus problemas se deviam à sua falta de habilidades sociais, ele decidiu estudar a interação social como se fosse uma língua estrangeira. Com o tempo, através de livros, e com a ajuda de sua família, ele aprendeu por si mesmo as habilidades sociais que foi incapaz de aprender automaticamente. Ele usou suas novas habilidades para alcançar outros "forasteiros" e descobriu o poder de relacionamentos próximos e de uma comunidade genuína.

Hoje, ele trabalha para compartilhar, com os outros, o que aprendeu. Ele é um "coach" de habilidades sociais e administra um recurso on-line que teve mais de 250 mil visitas. Ele acredita que todos merecem um lugar para chamar de seu, e que todos nós temos algo em comum com o garoto estranho sentado sozinho na hora do recreio.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/ted

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:06

Portuguese, Brazilian subtitles

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