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O problema da escala e a escala do problema | Jorge Moutinho | TEDxPorto

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    Bom dia a todos.
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    Há mais ou menos um ano, no TEDx de 2013,
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    eu estava aí sentado
    onde vocês estão agora
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    — na Alfândega,
    mas perceberam a comparação —
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    e houve uma coisa que me impressionou
    mais do que tudo o resto.
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    Foi este microfone.
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    Este microfone dá-nos logo
    uma legitimidade para dominar um palco,
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    para falar para 8000 pessoas,
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    o que é uma coisa fantástica.
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    Bem, o que aconteceu...
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    aconteceram duas coisas principais
    aqui há um ano.
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    A primeira foi que, em todas as "talks",
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    eu consegui absorver,
    consegui retirar alguma coisa útil
  • 0:49 - 0:52
    que já usei ou que posso usar no futuro.
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    A segunda foi que,
    quem estava ao meu lado,
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    não ouviu nada, porque eu
    não me calava um minuto.
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    A partir do momento em que eu
    comecei a ver como é que isto funcionava,
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    eu meti na cabeça que tinha
    de estar aqui, no próximo TEDx.
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    E quem me conhece,
    ou quem leu o meu perfil,
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    sabe que eu sou persistente.
  • 1:11 - 1:15
    Se calhar, a característica
    que mais me distingue é ser persistente.
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    Portanto, eu não descansei,
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    porque tinha de vir aqui
    falar de problemas,
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    que é uma coisa que ninguém tem.
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    Mais do que isso, porque eu queria
    falar de dois tipos de problemas,
  • 1:27 - 1:30
    daqueles que ninguém tem,
    que são os nossos,
  • 1:30 - 1:32
    e os problemas em geral,
    os problemas do mundo.
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    Portanto, vamos ver quais são
    os nossos problemas.
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    Saúde.
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    Sem saúde, tudo o resto
    passa a ser irrelevante.
  • 1:45 - 1:46
    Dinheiro.
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    Eu costumo dizer que ter saúde
    e viver debaixo da ponte vale o que vale.
  • 1:53 - 1:54
    Trabalho.
  • 1:54 - 1:59
    Salvo raras exceções,
    é preciso trabalhar para ter dinheiro.
  • 1:59 - 2:00
    E tempo.
  • 2:00 - 2:03
    Tempo para os amigos,
    tempo para a família,
  • 2:03 - 2:05
    tempo para nós próprios, é preciso.
  • 2:06 - 2:10
    Do outro lado, temos
    os problemas do mundo.
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    A fome. Já falámos hoje.
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    Continua a subsistir.
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    As doenças. Não estou aqui a falar
    das gripes e dos braços partidos.
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    Estou a falar daquelas doenças
    da televisão, não é?
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    Falar na Ásia, falar em África.
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    A educação.
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    Ou, muito pior do que isso,
    a falta de educação.
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    Hoje, com os meios que temos disponíveis,
    não faz sentido.
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    A falta de políticas também,
  • 2:41 - 2:43
    políticas direcionadas e abrangentes
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    que não sirvam só
    para a meia-dúzia do costume.
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    E a justiça.
  • 2:51 - 2:57
    Que, no fundo, é a junção da falta
    de educação e da falta de políticas.
  • 2:59 - 3:04
    Então, o problema aqui não é
    propriamente o problema,
  • 3:05 - 3:07
    é a escala que nós atribuímos
    aos problemas.
  • 3:09 - 3:12
    Vou-vos contar a história de um amigo meu
  • 3:12 - 3:16
    — vou-lhe dar um nome fictício,
    só para direcionar a conversa.
  • 3:16 - 3:19
    Vamos-lhe chamar Jorge.
  • 3:21 - 3:23
    O Jorge, quando olhava para os problemas,
  • 3:23 - 3:25
    era assim que ele os via.
  • 3:25 - 3:27
    Ou seja, os problemas dele
  • 3:27 - 3:29
    eram tão importantes
    como os problemas do mundo,
  • 3:29 - 3:31
    e tão grandes
    como os problemas do mundo.
  • 3:31 - 3:33
    Isso não fazia muito sentido.
  • 3:33 - 3:35
    Vamos lá ver.
  • 3:35 - 3:37
    O Jorge era bem casado,
  • 3:37 - 3:41
    tinha duas filhotas incríveis,
    saudáveis, felizes,
  • 3:42 - 3:45
    tinha emprego, era um arquiteto
    com algum sucesso, com projetos,
  • 3:45 - 3:47
    trabalhava com boas empresas,
  • 3:47 - 3:50
    geria projetos com alguma envergadura.
  • 3:50 - 3:53
    Portanto, o dia até lhe estava
    a correr bem,
  • 3:54 - 3:56
    quando se dá o "crash" financeiro,
  • 3:56 - 3:59
    a bolha imobiliária nos EUA rebenta,
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    para tudo, param os investimentos.
  • 4:02 - 4:03
    E o Jorge, de um momento para o outro,
  • 4:03 - 4:06
    vê-se numa alhada
    em que nunca tinha estado.
  • 4:07 - 4:10
    De um momento para o outro, passou
    a não ter dinheiro para pagar as contas.
  • 4:13 - 4:15
    Ele, que já via mal os problemas,
  • 4:15 - 4:18
    já via isto muito mal,
  • 4:18 - 4:20
    passou a vê-lo assim,
  • 4:21 - 4:23
    o que não fazia sentido nenhum.
  • 4:25 - 4:28
    Não preciso de vos dizer
    como é que o Jorge ficou.
  • 4:29 - 4:31
    começa por f...
  • 4:31 - 4:32
    (Risos)
  • 4:33 - 4:34
    Querem que eu diga?
  • 4:34 - 4:36
    O Jorge ficou furioso.
  • 4:36 - 4:37
    (Risos)
  • 4:37 - 4:39
    Ficou furioso.
  • 4:40 - 4:43
    Ele tinha andado sete anos
  • 4:43 - 4:46
    a aturar pseudointelectuais
    em arquitetura.
  • 4:47 - 4:49
    Depois foi trabalhar.
  • 4:49 - 4:52
    Depois, achou que lhe faltavam
    umas bases de gestão e de finanças
  • 4:52 - 4:54
    e ainda foi fazer uma pós-graduação.
  • 4:54 - 4:57
    Fez tudo "by the book",
    como manda a sapatilha.
  • 4:58 - 5:01
    E, de um momento para o outro,
    por causa de uns financeiros,
  • 5:01 - 5:03
    de uns gananciosos
    do outro lado do mundo,
  • 5:03 - 5:05
    ele tem que equacionar a vida toda?
  • 5:05 - 5:06
    Mas está tudo doido?
  • 5:07 - 5:09
    Isto não fazia sentido nenhum.
  • 5:09 - 5:13
    O que o Jorge fez a seguir
    foi ligeiramente diferente do normal.
  • 5:15 - 5:16
    O que o Jorge fez foi,
  • 5:17 - 5:20
    em vez de ir para fora,
    procurar outros projetos
  • 5:20 - 5:21
    noutros sítios,
  • 5:22 - 5:25
    o que o Jorge fez foi olhar
    para a raiz do problema dele,
  • 5:25 - 5:27
    para os grandes culpados,
    que eram os mercados financeiros
  • 5:27 - 5:29
    na ótica dele
  • 5:29 - 5:31
    e decidiu estudá-los.
  • 5:31 - 5:34
    E percebeu rapidamente que aquilo
    era uma coisa tão grande
  • 5:34 - 5:36
    era um mercado tão desproporcionado
  • 5:36 - 5:38
    que ele disse:
  • 5:38 - 5:43
    "Num oceano destes, se eu conseguir
    ir lá molhar o meu pezinho,
  • 5:44 - 5:47
    "se calhar até consigo resolver
    o meu problema."
  • 5:48 - 5:51
    Mas ele não ia fazer como
    tinha feito da outra vez.
  • 5:51 - 5:53
    O "by the book" não tinha resultado.
  • 5:53 - 5:56
    Portanto, ele disse:
    "É pá, quem é que faz isto?
  • 5:56 - 5:58
    "Quem é que influencia o mercado?
  • 5:58 - 5:59
    "São os 'traders'.
  • 5:59 - 6:02
    "OK, então onde é que há 'traders'?"
  • 6:02 - 6:05
    E descobriu que o centro financeiro
    aqui mais próximo era Londres.
  • 6:06 - 6:08
    Avião, foi um ano para Londres.
  • 6:09 - 6:10
    Conhecer "traders".
  • 6:11 - 6:14
    Perceber os que faziam,
    quem fazia e como faziam.
  • 6:15 - 6:17
    "OK? Eu quero aprender com a prática.
  • 6:17 - 6:19
    "Não estou para passar anos
    a estudar outra vez.
  • 6:19 - 6:21
    "Obrigadinho, eu já fiz".
  • 6:21 - 6:24
    Portanto, conheceu "traders",
  • 6:24 - 6:27
    foi para Londres,
    fez amizade com "traders",
  • 6:27 - 6:28
    sentou-se com "traders"
  • 6:28 - 6:31
    almoçou, jantou,
    saiu à noite com eles
  • 6:31 - 6:33
    — e isso não foi fácil,
  • 6:33 - 6:36
    eu devo dizer que os ingleses
    bebem como esponjas,
  • 6:36 - 6:38
    não dá para acompanhar —
  • 6:38 - 6:42
    portanto, ele decidiu que ia passar
    os próximos tempos
  • 6:42 - 6:44
    a ver exatamente o que é
    que eles fazem
  • 6:44 - 6:47
    ou seja, como é que eles olham
    para aqueles gráficos esquisitos
  • 6:47 - 6:50
    que nós vemos no telejornal
    e nos jornais económicos,
  • 6:50 - 6:53
    e tomam decisões
    de investimentos a partir dali.
  • 6:53 - 6:55
    Ele queria perceber isso.
  • 6:55 - 6:56
    Portanto, passou meses nisto,
  • 6:56 - 6:58
    a acompanhar os "traders", a vê-los,
  • 6:58 - 7:00
    e, depois, decidiu experimentar.
  • 7:01 - 7:04
    Pegou em 1000 euros,
    abriu uma conta de "trading",
  • 7:04 - 7:06
    e vai disto.
  • 7:06 - 7:08
    Não foi fácil.
  • 7:08 - 7:10
    Os primeiros tempos não são fáceis,
  • 7:10 - 7:13
    bateu muitas vezes com a cabeça na parede,
  • 7:13 - 7:17
    foi aí que aprendeu o que
    quer dizer "gestão de risco",
  • 7:17 - 7:21
    qual é a componente psicológica
    que há por trás do "trading",
  • 7:21 - 7:25
    que é preciso ter regras
    muito específicas, muito restritas,
  • 7:25 - 7:26
    e saber cumpri-las,
  • 7:26 - 7:28
    ter a disciplina de as cumprir.
  • 7:29 - 7:33
    Mas, passados dois anos,
    — lá está, ele é persistente —
  • 7:34 - 7:37
    os resultados começaram a aparecer.
  • 7:37 - 7:41
    Portanto, começaram a aparecer
    e havia mais dinheiro.
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    O Jorge tinha finalmente a confirmação
  • 7:44 - 7:47
    de que nos mercados havia muito dinheiro
  • 7:47 - 7:50
    e chegava um bocadinho para ele.
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    O Jorge tinha cumprido
    o primeiro objetivo dele
  • 7:56 - 7:58
    que era mais dinheiro.
  • 7:58 - 8:00
    Mas não era só isso que ele queria.
  • 8:00 - 8:03
    O Jorge queria mais tempo,
  • 8:03 - 8:06
    o Jorge queria mais disponibilidade,
  • 8:06 - 8:09
    e queria também uma coisa
    que nunca tinha feito antes
  • 8:09 - 8:11
    que era poder ajudar os outros.
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    Então, se o primeiro objetivo
    estava cumprido,
  • 8:15 - 8:17
    o Jorge precisava agora de mais tempo.
  • 8:17 - 8:19
    Quando voltou a Portugal,
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    teve a sorte de se juntar a um amigo
    que pensava como ele.
  • 8:23 - 8:26
    Mais uma vez vou-lhe dar
    um nome fictício, o Pedro.
  • 8:27 - 8:29
    Então, ele e o Pedro,
    o que é que fizeram?
  • 8:30 - 8:33
    Simplificaram e mecanizaram
    as estratégias de "trading"
  • 8:33 - 8:34
    que o Jorge usava
  • 8:34 - 8:37
    e o facto é que agora
    gastavam meia hora por dia
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    a olhar para o mercado.
  • 8:39 - 8:41
    Portanto, segundo objetivo cumprido.
  • 8:41 - 8:43
    Faltava a terceira parte
  • 8:43 - 8:45
    que era poder ajudar os outros.
  • 8:45 - 8:48
    Antes de avançar,
    eu gostava de vos perguntar
  • 8:49 - 8:53
    quem é que aqui já esteve
    numa situação pessoal, financeira,
  • 8:53 - 8:55
    melhor do que aquela que está hoje,
  • 8:55 - 8:57
    e nunca fez nada para ajudar os outros.
  • 8:58 - 9:03
    Ou quem é que está hoje
    numa situação melhor do que nunca
  • 9:03 - 9:06
    e continua a não fazer nada
    para ajudar os outros.
  • 9:06 - 9:08
    O Jorge tinha metido na cabeça
  • 9:08 - 9:10
    que aquele terceiro objetivo
    era para cumprir.
  • 9:11 - 9:13
    O que ele decidiu foi:
  • 9:13 - 9:14
    "OK, se eu consegui aprender isto,
  • 9:14 - 9:17
    "eu, que sou arquiteto,
    que não tinha nada a ver com isto,
  • 9:17 - 9:20
    "consegui aprender,
    consegui dominar uma atividade nova,
  • 9:20 - 9:22
    "e tirar esses frutos,
  • 9:22 - 9:24
    "se calhar, também posso
    transmitir isto.
  • 9:25 - 9:27
    "Posso transmitir a outras pessoas
  • 9:27 - 9:29
    "e essas pessoas também
    podem passar
  • 9:29 - 9:32
    "e, se calhar, é esta a forma
    de escalar a solução."
  • 9:33 - 9:35
    Foi aí que ele decidiu abrir uma escola.
  • 9:35 - 9:38
    "OK, vou passar a transmitir isto
  • 9:38 - 9:42
    "e assim cumpro
    o meu terceiro e final objetivo
  • 9:42 - 9:45
    "que é poder ajudar os outros".
  • 9:46 - 9:48
    Isto já foi há uns tempos,
  • 9:48 - 9:51
    mas eu sei que o Jorge hoje
    se orgulha de duas coisas.
  • 9:52 - 9:55
    A primeira foi de ter olhado
    para a raiz do mal
  • 9:55 - 9:58
    para o grande culpado,
    para o bicho papão
  • 9:58 - 10:00
    e não ter visto só a parte má,
  • 10:00 - 10:02
    ter visto também uma solução.
  • 10:03 - 10:07
    E a segunda foi de, hoje,
    olhar para os problemas
  • 10:08 - 10:12
    não nesta escala, mas na escala
    que eles realmente têm.
  • 10:13 - 10:16
    Os nossos problemas são muito pequeninos.
  • 10:19 - 10:24
    Para terminar, eu peço-vos
    que tenham a coragem
  • 10:24 - 10:26
    de olhar para o vosso bicho papão,
  • 10:26 - 10:29
    e, se calhar, perceberem
    que há ali uma hipótese
  • 10:29 - 10:31
    de terem uma solução
    para o vosso problema
  • 10:31 - 10:34
    para melhorarem as vossas vidas.
  • 10:35 - 10:38
    Eu hoje sei que o Jorge
    trabalha todos os dias
  • 10:39 - 10:41
    para melhorar a vida dele, naturalmente,
  • 10:41 - 10:45
    mas também para melhorar
    a vida dos outros.
  • 10:45 - 10:47
    O objetivo é só um.
  • 10:47 - 10:53
    É tornar esta escala outra vez
    ideal, mas desta vez assim.
  • 10:54 - 10:55
    Muito obrigado.
  • 10:56 - 10:57
    (Aplausos)
Title:
O problema da escala e a escala do problema | Jorge Moutinho | TEDxPorto
Description:

Alguém nesta vida, por muito bem que esta lhe esteja a correr, não tem problemas? E esses problemas são grandes ou são pequenos? São problemas únicos, ou são problemas comuns a outras pessoas? Se eu tiver o mesmo problema que outra pessoa, a perceção da dimensão do problema é igual para ambos? Estaremos todos dispostos a dedicar a mesma energia para resolver um problema específico comum? Estaremos todos disponíveis para, ao lutarmos com um determinado problema, procurarmos simultaneamente lutar com alguns dos problemas dos outros? Será possível resolvermos os nossos problemas e alguns dos problemas dos outros de uma só vez? Haverá uma forma de o fazer? Quais as vossas respostas para esta perguntas?

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
11:07

Portuguese subtitles

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