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Negra em Bend: como é ser a esmagadora minoria numa cidade pequena | Anyssa Bohanan | TEDxBend

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    Olá, pessoal.
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    (Plateia) Olá.
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    Oi, Oprah, se estiver assistindo,
    é minha chance de te mandar um oi.
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    Mas voltando ao assunto...
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    Bem, sei que nesta plateia
    há alguns pais e mães, certo?
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    Dentre vocês que têm filhos,
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    quantos já tiveram
    "aquela conversa" com eles?
  • 0:32 - 0:34
    Né?
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    É estranho, né? É esquisito.
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    Posso garantir a vocês,
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    como alguém que, quando criança,
    teve essa conversa com os pais,
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    que é tão esquisito pra nós,
    se não mais, quanto pra vocês.
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    A conversa aconteceu
    quando eu tinha oito ou nove anos,
  • 0:48 - 0:50
    e foi estranho, acreditem.
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    Mas, por volta dos nove ou dez anos...
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    essa sou eu...
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    meus pais tiveram uma conversa
    totalmente diferente comigo.
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    Não sei ao certo como eles decidiram
    que aquele seria o dia para isso,
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    mas, numa tarde de domingo,
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    meu pai disse: "Tenho
    que te mostrar uma coisa
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    e, depois, vamos conversar sobre ela".
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    Aí, ele colocou um documentário
    do History Channel
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    e disse: "Não quero magoar você,
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    e sei que isso talvez te assuste,
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    mas é muito importante que você assista".
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    Aí, ele colocou um documentário
    do History Channel,
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    e as primeiras imagens eram de um grupo
    de membros muito agitados da Ku Klux Klan
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    e, pouco depois, apareciam homens negros
    enforcados numa árvore.
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    Bem,
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    ele não me fez assistir ao documentário
    todo porque eu era muito sensível,
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    mas aquela conversa
    que meu pai teve comigo
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    é a mesma que muitas crianças negras
    nos EUA precisam ter com os pais
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    sobre a discriminação e o racismo
    que sofrerão em algum momento
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    por serem negros.
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    E meu pai disse: "Não quero te assustar.
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    Só quero que você saiba que, um dia,
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    talvez alguém queira te machucar
    ou até te matar por você ser como é".
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    Lembro-me de ir
    pro meu quarto depois disso,
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    me deitar na cama,
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    olhar pro teto e dizer:
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    "Por que eles nos odeiam?"
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    Imaginem aquela menininha já pensando
    em por que as pessoas não gostavam dela,
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    por causa de como ela era.
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    Apesar da seriedade da conversa,
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    quando fui pra escola na segunda,
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    eu estava tranquila,
    como as outras crianças,
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    contei aos meus amigos sobre a conversa
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    e percebi que eles ficaram
    desconfortáveis.
  • 2:35 - 2:37
    E só percebi mais tarde
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    que o motivo era que alguns
    dos meus amigos
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    não precisavam ter esse tipo
    de conversa com os pais deles
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    sobre, de alguma forma, confrontar alguém
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    que, um dia, iria achar
    que eles eram inferiores
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    ou querer machucá-los por serem como eram.
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    Após diversas outras
    situações semelhantes,
  • 2:56 - 2:59
    simplesmente me dei conta
    de que havia alguns grupos
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    com os quais eu não conseguiria
    falar sobre racismo.
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    Então, mesmo em grupos
    em que até as diferenças entre nós
  • 3:05 - 3:08
    eram gritantemente óbvias,
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    eu evitava o assunto,
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    porque não queria deixar
    as pessoas desconfortáveis.
  • 3:12 - 3:15
    Vamos adiantar alguns anos.
  • 3:15 - 3:16
    Depois de formada na faculdade,
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    decidi usar meu diploma de jornalismo
    e ensinar inglês na Coreia do Sul.
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    Foi uma experiência incrível,
  • 3:24 - 3:30
    em parte por causa das pessoas fantásticas
    que conheci, de todas as partes do mundo.
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    Mas, acreditem, mudar-se
    pro outro lado do mundo
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    pode trazer alguns desafios.
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    Certamente vocês sabem disso.
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    Quantos aqui já foram
    o único diferente num lugar,
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    o único da sua cor, do seu gênero,
    da sua sexualidade?
  • 3:45 - 3:47
    Como é a sensação?
  • 3:48 - 3:51
    Alguns vão dizer:
    "Ah... nada demais. Fiquei bem".
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    Já outras pessoas se sentem
    incrivelmente vulneráveis.
  • 3:55 - 4:00
    Imaginem essa sensação de desconforto
    somada à memória das palavras do seu pai
  • 4:00 - 4:05
    sobre alguém talvez não gostar de você
    só por você ser como é,
  • 4:05 - 4:07
    e multiplique essa sensação por mil
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    por você ser o único diferente
    num país inteiro, praticamente.
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    (Risos)
  • 4:15 - 4:16
    Ai, ai...
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    Mas, francamente, foi uma fase divertida.
  • 4:20 - 4:24
    Só que me sentia como se estivesse
    sob um microscópio o tempo todo.
  • 4:24 - 4:27
    Passei por experiências
    das mais interessantes.
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    Tipo, um dia eu estava subindo
    a escada rolante numa loja,
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    e um homem se debruçou tanto
    na borda da escada pra me ver de perto
  • 4:34 - 4:35
    que achei que ele fosse me beijar.
  • 4:35 - 4:38
    Pensei: "Pronto. Arranjei
    um marido". Sabe?
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    Alguns dos meus alunos me chamavam
    de "professora da África",
  • 4:43 - 4:45
    ou "professora da Jamaica",
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    o que era tranquilo de corrigir.
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    Era apenas desconhecimento.
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    Uma vez, peguei um táxi,
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    e o taxista ficou tão chocado ao me ver
    quanto todo mundo ficava
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    e, após uma conversa frenética
    em coreano falado super-rápido,
  • 5:02 - 5:06
    ele pediu a minha mão.
  • 5:06 - 5:09
    Eu pensei: "Em casamento? Como assim?"
  • 5:09 - 5:14
    Na verdade, ele só queria tentar
    esfregá-la pra ver se o marrom saía.
  • 5:14 - 5:15
    (Risos)
  • 5:15 - 5:19
    Sim, sim! Isso aconteceu de verdade.
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    Aquilo foi mais divertido
    que qualquer outra coisa,
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    e essas experiências que tive
    foram mais, sabe, por desconhecimento.
  • 5:27 - 5:32
    Eles não estavam propositalmente
    tentando me ofender.
  • 5:32 - 5:33
    Então, tudo bem.
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    Mas houve outras ocasiões em que
    a intenção era realmente me agredir.
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    Um fim de semana,
    fui até Ulsan visitar duas amigas.
  • 5:43 - 5:47
    Ulsan é uma cidade linda
    no litoral sul da Coreia do Sul,
  • 5:47 - 5:50
    com muito mais estrangeiros e turistas.
  • 5:50 - 5:54
    Eu estava querendo muito
    passar um fim de semana
  • 5:54 - 5:56
    onde menos pessoas
    me encarassem, pelo menos.
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    Eu e minhas amigas
    saímos e nos divertimos,
  • 6:00 - 6:02
    e terminamos o dia
    num dos nossos bares favoritos.
  • 6:02 - 6:06
    De repente, enquanto conversávamos,
  • 6:06 - 6:10
    minha amiga à minha esquerda ficou pálida
    como se tivesse visto um fantasma,
  • 6:10 - 6:13
    como se tivesse levado um susto.
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    Ela olhou pros três homens coreanos
    sentados perto dela
  • 6:18 - 6:20
    e começou a gritar com eles!
  • 6:21 - 6:23
    "Como assim? O que está acontecendo?"
  • 6:24 - 6:26
    Eu e minha outra amiga
    ficamos preocupadas.
  • 6:26 - 6:28
    Talvez eles tivessem dito a ela
    algo inapropriado.
  • 6:28 - 6:30
    Eu estava pronta pra botar pra quebrar.
  • 6:30 - 6:33
    Sou pequena, mas sou forte!
    Estava pronta pra brigar!
  • 6:33 - 6:34
    (Risos)
  • 6:34 - 6:35
    Aí,
  • 6:36 - 6:40
    ela olha pra mim e diz,
    com lágrimas nos olhos:
  • 6:40 - 6:43
    "Eles acabaram de te chamar
    de 'macaca idiota'".
  • 6:44 - 6:45
    Caramba.
  • 6:46 - 6:49
    A reação da minha
    outra amiga foi visceral.
  • 6:49 - 6:53
    Ela também começou a gritar com eles,
    os funcionários do bar se meteram...
  • 6:53 - 6:56
    Os caras ficaram freneticamente
    tentando se explicar,
  • 6:56 - 6:58
    mas só porque foram pegos no flagra.
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    Minha amiga que havia ouvido primeiro
    correu para o banheiro, chorando,
  • 7:02 - 7:03
    muito irritada.
  • 7:03 - 7:04
    Mas sabem de uma coisa?
  • 7:05 - 7:08
    No meio daquela confusão,
    quando percebi que aquele era o problema,
  • 7:09 - 7:12
    fiquei bastante calma
  • 7:12 - 7:16
    porque era exatamente o que
    eu vinha temendo desde os dez anos,
  • 7:16 - 7:18
    quando assisti a um documentário
  • 7:18 - 7:23
    sobre o fato de que alguém poderia dizer
    exatamente o que aquele homem tinha dito,
  • 7:24 - 7:25
    e eu sobrevivi!
  • 7:26 - 7:29
    Sempre achei que um incidente
    flagrantemente racista como aquele
  • 7:29 - 7:32
    seria como uma faca no meu peito.
  • 7:33 - 7:36
    Só que foi mais como cortar
    o dedo com um papel:
  • 7:36 - 7:38
    uma dorzinha rápida,
  • 7:38 - 7:39
    uma pequena cicatriz,
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    um lembrete de que aquela não seria
    a pior das coisas que eu ouviria,
  • 7:43 - 7:45
    e que eu sobreviveria.
  • 7:46 - 7:49
    Mas nem tudo na Coreia do Sul
    foi tão dramático assim pra mim.
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    Só estou contando as partes mais doidas.
  • 7:51 - 7:54
    Francamente, foi a melhor
    experiência da minha vida.
  • 7:54 - 7:59
    Me tornou uma pessoa mais forte,
    mais confiante e mais resiliente.
  • 8:00 - 8:02
    Essa recém-descoberta confiança
    foi provavelmente o motivo
  • 8:02 - 8:04
    de, três meses depois de voltar aos EUA
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    e receber a oferta
    de emprego aqui em Bend,
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    eu ter agarrado a oportunidade.
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    Parecia o emprego dos sonhos
    ser uma contadora de histórias,
  • 8:13 - 8:15
    e não apenas uma repórter.
  • 8:15 - 8:18
    Quando falei ao telefone
    com o meu hoje chefe,
  • 8:18 - 8:22
    ele me informou que Bend
    não tinha muita diversidade...
  • 8:22 - 8:23
    (Risos)
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    "Não tinha muita diversidade"
    significava que havia muita gente branca!
  • 8:29 - 8:30
    (Risos)
  • 8:30 - 8:31
    Mas tudo bem!
  • 8:31 - 8:35
    Eu disse: "Bem, sabe, eu já morei
    num país completamente diferente".
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    Qual o problema em morar
    num estado completamente diferente?
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    A diferença, senhoras e senhores,
    é que, na Coreia do Sul,
  • 8:43 - 8:48
    eu tinha outras pessoas ao meu redor
    com a mesma sensação de forasteiro,
  • 8:48 - 8:50
    a sensação de não pertencer ao lugar.
  • 8:50 - 8:55
    Aqui em Bend, eu não tive muitas
    outras pessoas que sentissem o mesmo,
  • 8:55 - 8:59
    e eu estava vivendo tudo isso
    sendo uma pessoa pública.
  • 9:00 - 9:03
    Os jornalistas não podem expressar
    opiniões publicamente.
  • 9:03 - 9:06
    Somos figuras imparciais da comunidade,
  • 9:06 - 9:08
    algo com que tive dificuldade
    em alguns aspectos,
  • 9:08 - 9:10
    mas que, em grande parte, compreendo,
  • 9:10 - 9:13
    porque isso era tudo
    que sempre quis fazer,
  • 9:13 - 9:14
    e faz parte do trabalho.
  • 9:15 - 9:20
    Mas ser a única negra na TV
    pode trazer desafios únicos,
  • 9:21 - 9:26
    e me vejo colocando a mim mesma
    em duas categorias com frequência:
  • 9:26 - 9:30
    a Anyssa jornalista e a Anyssa moça negra.
  • 9:31 - 9:35
    Essas duas categorias se chocaram
    pela primeira vez no verão passado,
  • 9:35 - 9:40
    na mesma semana em que Philando Castile
    e Alton Stirling, dois homens negros,
  • 9:40 - 9:42
    foram baleados e mortos
    em estados diferentes;
  • 9:42 - 9:46
    a mesma semana em que cinco policiais
    foram baleados e mortos em Dallas
  • 9:46 - 9:48
    em reação àquelas mortes.
  • 9:48 - 9:50
    Foi uma semana difícil para os EUA,
  • 9:50 - 9:54
    e com certeza foi uma semana
    difícil para o jornalismo.
  • 9:55 - 9:58
    Mas, na manhã do dia seguinte
    à morte de Alton Stirling,
  • 9:58 - 10:04
    vi o vídeo chocante de Philando Castile
    morrendo em seu carro.
  • 10:04 - 10:08
    Me senti mais exausta
    que qualquer outra coisa.
  • 10:08 - 10:14
    Eu assisti ao vídeo durante alguns minutos
    e me aprontei pra ir trabalhar,
  • 10:15 - 10:17
    entrei no carro,
  • 10:17 - 10:18
    dei partida
  • 10:18 - 10:22
    e, uns três metros à frente, se muito,
  • 10:22 - 10:25
    comecei a chorar.
  • 10:25 - 10:29
    Ainda é muito difícil pra mim
    falar sobre isso sem me emocionar,
  • 10:29 - 10:32
    porque esses homens eram pessoas
    que poderiam ser meus conhecidos.
  • 10:32 - 10:38
    Poderiam ser meus amigos, familiares,
    colegas de trabalho antigos.
  • 10:38 - 10:42
    Quando cheguei ao trabalho e ninguém
    estava comentando sobre aquilo,
  • 10:43 - 10:46
    me senti mais sozinha do que nunca.
  • 10:47 - 10:49
    Foi como se o que havia acontecido
    com aqueles homens
  • 10:49 - 10:51
    não tivesse importância.
  • 10:51 - 10:53
    Me senti como se eu
    não tivesse importância,
  • 10:53 - 10:55
    e ninguém nem se deu conta.
  • 10:56 - 10:58
    Então, depois da nossa reunião matinal,
  • 10:58 - 11:02
    perguntei ao nosso produtor por que
    não estávamos cobrindo as mortes,
  • 11:02 - 11:05
    e ele disse que tínhamos que achar
    um jeito de adaptar a história.
  • 11:05 - 11:06
    Tudo bem.
  • 11:06 - 11:09
    Ele sugeriu que entrevistássemos
    pessoas nas ruas.
  • 11:09 - 11:14
    Não fiquei muito empolgada,
    mas pensei: "Tá bom, vamos lá".
  • 11:14 - 11:16
    Eu e meu câmera fomos ao centro da cidade
  • 11:16 - 11:19
    e não encontramos
    muita gente disposta a falar.
  • 11:19 - 11:21
    Sabe, coisas desagradáveis
    simplesmente não cabem
  • 11:21 - 11:24
    num dia ensolarado de verão em Bend.
  • 11:24 - 11:28
    Mas encontramos um casal
    que nos deu uma opinião modesta,
  • 11:28 - 11:30
    e fiquei bem contente
  • 11:30 - 11:33
    porque não achava
    que conseguiríamos coisa alguma.
  • 11:33 - 11:36
    Já estávamos falando em guardar tudo
    e nos preparando para ir embora,
  • 11:36 - 11:39
    quando um homem se aproximou de bicicleta:
  • 11:39 - 11:44
    branco, 40 e poucos anos,
    o tipo típico de Bend,
  • 11:44 - 11:46
    e perguntou o que estávamos fazendo.
  • 11:46 - 11:48
    Então, dissemos:
  • 11:48 - 11:51
    estávamos colhendo opiniões
    sobre as mortes que haviam ocorrido.
  • 11:51 - 11:55
    E ele disse: "Tenho opinião,
    mas não quero falar sendo filmado".
  • 11:55 - 11:58
    Perguntamos várias vezes a ele:
    "Tem certeza? Tem certeza?"
  • 11:58 - 12:01
    Porque, sabe, a conversa não avançava.
  • 12:01 - 12:03
    Com certeza ele queria
    compartilhar sua opinião.
  • 12:03 - 12:06
    E antes que conseguíssemos convencê-lo
  • 12:06 - 12:09
    de que talvez ele devesse nos contar
    enquanto a câmera filmava,
  • 12:09 - 12:15
    ele começou a dar uma longa opinião
    sobre tudo, de muçulmanos a imigrantes,
  • 12:15 - 12:17
    e aí ele concluiu dizendo:
  • 12:17 - 12:19
    "Detesto dizer isso,
    porque você é negra..."
  • 12:19 - 12:22
    Vamos parar aqui
    para aprendermos uma coisinha:
  • 12:22 - 12:24
    nenhuma frase boa jamais...
  • 12:24 - 12:27
    (Risos)
  • 12:27 - 12:30
    começa com "detesto ser racista, mas...".
  • 12:30 - 12:32
    (Risos)
  • 12:32 - 12:35
    Então, ele disse:
  • 12:35 - 12:37
    "Detesto dizer isso, porque você é negra,
  • 12:37 - 12:40
    mas vocês são grandes,
    mais fortes, mais rápidos,
  • 12:40 - 12:43
    e às vezes a polícia precisa atirar
    porque fica com medo".
  • 12:43 - 12:45
    (Plateia) Oh...
  • 12:45 - 12:48
    "E, estatisticamente,
    os negros são mais violentos.
  • 12:48 - 12:49
    É só você pesquisar."
  • 12:51 - 12:54
    Eu fiquei totalmente paralisada.
  • 12:54 - 12:56
    Não conseguia acreditar
    no que ele havia dito.
  • 12:56 - 13:02
    E ele me disse isso num dia ensolarado,
    bem no centro de Bend,
  • 13:02 - 13:06
    tão naturalmente quanto se estivesse
    me dizendo que o céu era azul.
  • 13:07 - 13:10
    Foi como uma facada.
  • 13:14 - 13:16
    Então,
  • 13:16 - 13:18
    agora que contei isso a vocês,
  • 13:19 - 13:25
    algumas semanas atrás, fizemos uma matéria
    sobre eu contando essa mesma história,
  • 13:25 - 13:28
    e a repercussão e os comentários
    foram assustadores.
  • 13:29 - 13:32
    Muitas pessoas ficaram incomodadas
  • 13:32 - 13:36
    pelo fato de eu ter feito
    "todo mundo em Bend parecer racista",
  • 13:36 - 13:38
    e disseram que nunca mais
    assistiriam à nossa programação.
  • 13:39 - 13:41
    Outras sugeriram
    que, se eu quisesse diversidade,
  • 13:41 - 13:43
    eu devia sair da cidade!
  • 13:45 - 13:50
    Aí, claro, houve o infame comentário
    das "cinco pessoas negras em Bend".
  • 13:50 - 13:52
    Se eu pudesse voltar atrás em algo,
  • 13:52 - 13:53
    seria isso.
  • 13:53 - 13:56
    Recentemente eu disse
    que havia cinco de nós em Bend,
  • 13:56 - 13:59
    e as pessoas retrucaram, dizendo:
  • 13:59 - 14:01
    "Conheço pelo menos
    12 negros aqui em Bend".
  • 14:01 - 14:02
    (Risos)
  • 14:02 - 14:04
    "Treze, até!"
  • 14:04 - 14:05
    (Risos)
  • 14:08 - 14:12
    A essas pessoas, eu digo: "Acho
    que não entenderam o cerne da questão",
  • 14:13 - 14:16
    e elas meio que confirmaram
    sem querer o que eu disse.
  • 14:17 - 14:20
    Não importa se você conhece 12 negros,
  • 14:20 - 14:24
    ou 13, ou 25 negros em Bend.
  • 14:24 - 14:27
    O fato de poderem contar quantos somos
    numa cidade com milhares de habitantes
  • 14:27 - 14:29
    devia fazer vocês refletirem.
  • 14:29 - 14:31
    Meu objetivo não era dar
    uma contagem de censo
  • 14:31 - 14:34
    nem chamar todos da região de racistas.
  • 14:34 - 14:36
    Pra mim, a questão continua sendo
  • 14:36 - 14:40
    que temos que achar uma forma de falarmos
    confortavelmente sobre racismo.
  • 14:40 - 14:45
    Assim que mencionei isso,
    foi modo de ataque, de defensiva.
  • 14:47 - 14:51
    Frequentemente as pessoas querem evitar
    reconhecer o fato de que sou negra.
  • 14:51 - 14:55
    A frase de que menos gosto é:
    "Não enxergo sua cor".
  • 14:56 - 14:59
    Sei que quem diz isso quer dizer
    que vê todos como iguais,
  • 14:59 - 15:02
    mas por que não pode me ver
    como igual e negra?
  • 15:03 - 15:06
    Eu jamais diria:
    "Não enxergo você como branco".
  • 15:06 - 15:09
    (Risos)
  • 15:12 - 15:15
    (Aplausos)
  • 15:19 - 15:22
    Sabe, vocês devem reconhecer
    que sou negra, pois pra mim tudo bem.
  • 15:22 - 15:26
    Quero que saibam que sou uma profissional
  • 15:26 - 15:28
    e que sou negra.
  • 15:28 - 15:30
    Também quero que saibam
  • 15:30 - 15:33
    que, embora possa haver
    mais do que cinco de nós em Bend,
  • 15:33 - 15:38
    às vezes sinto como se fosse a única
    num mar de literalmente milhares,
  • 15:38 - 15:41
    e isso às vezes é bem difícil e cansativo
  • 15:41 - 15:45
    em dias em que já não estou muito bem.
  • 15:46 - 15:48
    Quero que saibam que morar aqui em Bend
  • 15:48 - 15:52
    pode ser tão incrível
    quanto foi morar na Coreia do Sul,
  • 15:52 - 15:56
    mas também é assustador
    quando estou andando na rua
  • 15:56 - 15:59
    e fico imaginando quem está
    passando ao meu lado
  • 15:59 - 16:04
    pensando exatamente a mesma coisa
    que aquele homem me disse uma vez.
  • 16:05 - 16:08
    Não quero sair daqui
    deixando generalizações simplistas
  • 16:08 - 16:12
    tipo "todos os negros são vitimizados"
    ou "todos os brancos são racistas".
  • 16:12 - 16:17
    Mas, numa comunidade como Bend,
    de maioria branca,
  • 16:17 - 16:20
    quero saber: como podemos aprender juntos?
  • 16:20 - 16:23
    Como podemos criar uma comunidade melhor
  • 16:23 - 16:27
    se nunca enxergamos nossas diferenças,
    só nossas semelhanças?
  • 16:27 - 16:32
    Se reconhecermos nossas diferenças
    e enxergarmos uns aos outros por inteiro,
  • 16:32 - 16:36
    imaginem o quanto podemos melhorar
    não só Bend, mas o mundo.
  • 16:36 - 16:37
    Obrigada.
  • 16:37 - 16:40
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Negra em Bend: como é ser a esmagadora minoria numa cidade pequena | Anyssa Bohanan | TEDxBend
Description:

Você já se viu num lugar em que era o único diferente? Anyssa Bohanan vivenciou essa sensação num nível extremo, primeiro como uma das únicas afro-americanas morando na Coreia do Sul, e depois como uma das pouquíssimas em Bend, no interior do estado de Oregon. Suas vivências como minoria tanto em seu país quanto no exterior vão de engraçadas a transformadoras. Ela espera que, compartilhando essas experiências, ela possa fazer a diferença na vida de pelo menos uma pessoa que se sinta como ela.

Anyssa Bohanan, repórter do noticiário local em Bend, é uma autoproclamada "futura Oprah". Na verdade, quando criança, ela entrevistava seus ursinhos de pelúcia, e ela atribui o fato de conseguir falar com qualquer um, em qualquer lugar, por ter crescido com filha de pais militares. Passar um período de dois anos na Coreia do Sul ensinando inglês mostrou a Bohanan a importância de sair de sua zona de conforto. Andar pelas ruas de um país completamente diferente e passar por uma experiência de autodescoberta em uma cidade desconhecida pra ela em seu próprio país lhe ensinou que ser diferente não precisa ser uma coisa ruim, independentemente de onde você esteja.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:06

Portuguese, Brazilian subtitles

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