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Porque é que as vítimas de violência doméstica não fogem

  • 0:01 - 0:04
    Estou aqui hoje para falar
    de uma pergunta perturbante,
  • 0:04 - 0:07
    que tem uma resposta
    igualmente perturbante.
  • 0:08 - 0:11
    O meu tema é: os segredos
    da violência doméstica.
  • 0:12 - 0:13
    E a pergunta que vou abordar
  • 0:14 - 0:17
    é a que toda a gente pergunta sempre:
  • 0:18 - 0:19
    Porque é que ela fica?
  • 0:20 - 0:23
    Porque é que alguém ficaria
    com um homem que lhe bate?
  • 0:23 - 0:26
    Não sou psiquiatra, nem assistente social
  • 0:26 - 0:29
    nem especialista em violência doméstica.
  • 0:29 - 0:31
    Sou apenas uma mulher
    com uma história para contar.
  • 0:32 - 0:36
    Tinha 22 anos. Tinha acabado de me
    formar pela Universidade de Harvard.
  • 0:36 - 0:39
    Tinha acabado de ir para Nova Iorque,
    para o meu primeiro emprego
  • 0:39 - 0:42
    como escritora e editora
    da revista "Seventeen".
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    Tinha o meu primeiro apartamento,
  • 0:44 - 0:47
    o meu primeiro cartão verde
    o "American Express"
  • 0:48 - 0:50
    e tinha um grande segredo.
  • 0:51 - 0:54
    O meu segredo era ter esta arma,
  • 0:54 - 0:58
    carregada com balas de ponta oca,
    apontada à minha cabeça
  • 0:58 - 1:00
    pelo homem que eu pensava
    ser a minha alma gémea,
  • 1:00 - 1:02
    muitas, muitas vezes.
  • 1:04 - 1:07
    O homem que eu amava
    mais do que tudo na vida
  • 1:08 - 1:11
    apontou-me uma arma à cabeça
    e ameaçou matar-me
  • 1:11 - 1:14
    mais vezes do que me consigo lembrar.
  • 1:15 - 1:17
    Estou aqui para vos contar
    a história de um amor louco,
  • 1:17 - 1:20
    uma armadilha psicológica
    disfarçada de amor,
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    na qual milhões de mulheres
    e até alguns homens
  • 1:23 - 1:25
    caem todos os anos.
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    Pode até ser a vossa história.
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    Eu não pareço uma típica
    sobrevivente de violência doméstica.
  • 1:32 - 1:34
    Licenciei-me em Inglês
    pela Universidade de Harvard
  • 1:34 - 1:37
    e um mestrado em " Marketing"
    na Business School de Wharton.
  • 1:37 - 1:41
    Passei grande parte da minha carreira
    a trabalhar em empresas da Fortune 500,
  • 1:41 - 1:44
    incluindo a Johnson & Johnson,
    Leo Burnett e o "The Washington Post".
  • 1:44 - 1:47
    Estou casada há quase 20 anos
    com o meu segundo marido
  • 1:48 - 1:50
    e temos três filhos juntos.
  • 1:50 - 1:55
    O meu cão é um Labrador preto e
    conduzo um monovolume Honda Odyssey.
  • 1:55 - 1:57
    (Risos)
  • 1:57 - 2:00
    A minha primeira mensagem
    é que a violência doméstica
  • 2:00 - 2:02
    acontece a qualquer pessoa,
  • 2:02 - 2:06
    de qualquer etnia, religião
    e nível de educação e rendimentos.
  • 2:06 - 2:08
    Está por todo o lado.
  • 2:08 - 2:11
    A minha segunda mensagem
    é que toda a gente pensa
  • 2:11 - 2:13
    que a violência doméstica
    acontece às mulheres,
  • 2:13 - 2:15
    que é um assunto das mulheres.
  • 2:16 - 2:17
    Não propriamente.
  • 2:17 - 2:20
    Mais de 85% dos agressores são homens,
  • 2:21 - 2:23
    e a violência doméstica passa-se apenas
  • 2:23 - 2:27
    em relações de intimidade,
    de interdependência e de longa duração,
  • 2:27 - 2:30
    por outras palavras, nas famílias,
  • 2:30 - 2:33
    o último sítio em que desejaríamos
    ou esperaríamos encontrar violência,
  • 2:34 - 2:37
    o que é um dos motivos pelo qual
    a violência doméstica é desconcertante.
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    Eu própria vos teria dito
    que eu era a última pessoa no planeta
  • 2:41 - 2:44
    que ficaria com um homem
    que me batesse
  • 2:44 - 2:47
    mas, na realidade, era uma vítima
    típica devido à minha idade.
  • 2:48 - 2:51
    Eu tinha 22 anos e, nos EUA,
  • 2:51 - 2:55
    as mulheres entre os 16 e os 24 anos
    têm três vezes mais probabilidades
  • 2:55 - 2:57
    de serem vítimas de violência doméstica
  • 2:57 - 3:00
    do que as mulheres de outras idades.
  • 3:01 - 3:04
    Mais de 500 mulheres
    e raparigas destas idades
  • 3:04 - 3:07
    são assassinadas todos os anos
    por companheiros agressivos,
  • 3:07 - 3:10
    namorados e maridos,
    nos EUA.
  • 3:12 - 3:15
    Também fui uma vítima típica
    porque não sabia nada
  • 3:15 - 3:16
    sobre violência doméstica,
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    sobre os sinais de alerta
    ou os seus padrões.
  • 3:20 - 3:23
    Conheci o Conor numa noite
    fria e chuvosa de janeiro.
  • 3:24 - 3:27
    Ele sentou-se ao meu lado
    no metro de Nova Iorque
  • 3:27 - 3:29
    e meteu conversa comigo.
  • 3:29 - 3:31
    Ele contou-me duas coisas.
  • 3:31 - 3:35
    Uma foi que, também ele, se tinha formado
    numa Universidade da Ivy League
  • 3:35 - 3:39
    e que trabalhava num prestigiado
    banco de Wall Street.
  • 3:40 - 3:43
    Mas o que me impressionou mais,
    naquele primeiro encontro,
  • 3:43 - 3:46
    foi que ele era inteligente e divertido
  • 3:46 - 3:48
    e parecia um rapaz da quinta.
  • 3:48 - 3:50
    Tinha grandes bochechas redondas
  • 3:50 - 3:52
    o cabelo louro claro
  • 3:52 - 3:54
    e parecia tão amoroso.
  • 3:55 - 3:59
    Uma das coisas mais inteligentes
    que o Conor fez, desde o início,
  • 3:59 - 4:03
    foi criar a ilusão de que eu era
    o parceiro dominante na relação.
  • 4:04 - 4:07
    Fez isso sobretudo no início,
  • 4:07 - 4:09
    idolatrando-me.
  • 4:09 - 4:13
    Começámos a namorar
    e ele adorava tudo em mim,
  • 4:13 - 4:15
    eu ser inteligente,
    ter andado em Harvard,
  • 4:15 - 4:18
    gostar de ajudar raparigas
    adolescentes, e o meu emprego.
  • 4:18 - 4:20
    Ele queria saber tudo
    sobre a minha família,
  • 4:20 - 4:23
    sobre a minha infância,
    os meus desejos e os meus sonhos.
  • 4:23 - 4:26
    Conor acreditava em mim,
    enquanto escritora e mulher,
  • 4:26 - 4:30
    de uma forma que mais
    ninguém havia acreditado.
  • 4:30 - 4:34
    Ele também criou um ambiente
    mágico de confiança entre nós,
  • 4:35 - 4:37
    confessando-me o seu segredo:
  • 4:37 - 4:41
    Quando criança,
    a partir dos quatro anos,
  • 4:41 - 4:44
    tinha sido fisicamente abusado
    de forma selvagem e repetida
  • 4:44 - 4:46
    pelo seu padrasto.
  • 4:46 - 4:50
    Os abusos tornaram-se tão insuportáveis
    que teve de desistir da escola no 8.º ano,
  • 4:50 - 4:52
    apesar de ser muito inteligente.
  • 4:52 - 4:55
    Passara quase 20 anos
    a reconstruir a vida.
  • 4:56 - 4:59
    Daí que o curso da Ivy League,
  • 4:59 - 5:02
    o trabalho em Wall Street
    e o seu futuro brilhante
  • 5:02 - 5:04
    tivessem tanta importância para ele.
  • 5:04 - 5:06
    Se me tivessem dito
  • 5:06 - 5:11
    que este homem inteligente, divertido
    e sensível, que me adorava,
  • 5:12 - 5:16
    iria um dia ditar se eu usava
    ou não maquilhagem,
  • 5:16 - 5:18
    o comprimento das minhas saias,
  • 5:18 - 5:20
    onde eu vivia, que trabalhos aceitava,
  • 5:20 - 5:23
    quem eram os meus amigos
    e onde passaria o Natal,
  • 5:23 - 5:25
    eu ter-me-ia rido de vocês,
  • 5:26 - 5:29
    porque, no início,
    não havia quaisquer vestígios
  • 5:29 - 5:31
    de violência, controlo ou raiva no Conor.
  • 5:32 - 5:35
    Eu não sabia que a primeira fase,
  • 5:35 - 5:38
    em qualquer relação
    de violência doméstica,
  • 5:38 - 5:40
    é seduzir e encantar a vítima.
  • 5:41 - 5:45
    Eu também não sabia que o segundo
    passo era isolar a vítima.
  • 5:46 - 5:49
    Conor não chegou a casa
    um dia e anunciou:
  • 5:50 - 5:53
    "Sabes, toda esta coisa do
    Romeu e Julieta tem sido boa
  • 5:53 - 5:56
    "mas preciso de passar
    para a fase próxima,
  • 5:56 - 5:57
    "em que te isolo e maltrato"
  • 5:58 - 5:59
    (Risos)
  • 5:59 - 6:01
    "portanto tens que sair
    deste apartamento,
  • 6:01 - 6:03
    "onde os vizinhos podem ouvir-te gritar
  • 6:03 - 6:05
    "e sair desta cidade
    onde tens família e amigos
  • 6:05 - 6:08
    "e colegas de trabalho
    que podem ver as nódoas negras".
  • 6:09 - 6:12
    Em vez disso, o Conor chegou
    a casa numa 6.ª feira à tarde
  • 6:12 - 6:15
    e disse-me que se tinha despedido
    do emprego nesse dia,
  • 6:15 - 6:17
    do seu emprego de sonho.
  • 6:18 - 6:21
    Disse que se havia
    despedido por minha causa,
  • 6:22 - 6:25
    porque eu o fazia sentir-se
    tão seguro e amado
  • 6:25 - 6:28
    que ele já não tinha que
    dar provas em Wall Street
  • 6:28 - 6:30
    e só queria sair da cidade,
  • 6:30 - 6:33
    para longe da sua família
    agressiva e disfuncional
  • 6:33 - 6:36
    e mudar-se para uma cidadezinha
    em Nova Inglaterra,
  • 6:36 - 6:40
    onde podia recomeçar a vida
    comigo ao seu lado.
  • 6:41 - 6:44
    A última coisa que eu queria
    era deixar Nova Iorque
  • 6:44 - 6:47
    e o meu emprego de sonho,
  • 6:48 - 6:51
    mas pensei que tínhamos que fazer
    sacrifícios pela nossa alma gémea.
  • 6:51 - 6:54
    Então, concordei
    e deixei o meu emprego.
  • 6:54 - 6:56
    Conor e eu saímos juntos de Manhattan.
  • 6:57 - 7:00
    Eu não fazia ideia de que estava
    a cair num amor louco,
  • 7:01 - 7:04
    que estava a entrar de cabeça
    numa armadilha física,
  • 7:04 - 7:08
    financeira e psicológica
    muito bem montada.
  • 7:09 - 7:12
    O passo seguinte no padrão
    da violência doméstica
  • 7:12 - 7:14
    é apresentar a ameaça da violência,
  • 7:16 - 7:17
    e ver como ela reage.
  • 7:18 - 7:21
    E é aqui que entram as armas.
  • 7:21 - 7:23
    Assim que nos mudámos
    para Nova Inglaterra,
  • 7:23 - 7:27
    aquele lugar onde o Conor
    se deveria sentir tão seguro,
  • 7:27 - 7:28
    ele comprou três pistolas.
  • 7:29 - 7:32
    Guardava uma no porta-luvas do carro.
  • 7:32 - 7:35
    Guardava outra debaixo
    das almofadas da cama,
  • 7:35 - 7:38
    e a terceira andava sempre
    no bolso dele.
  • 7:38 - 7:41
    Disse que precisava dessas pistolas
  • 7:41 - 7:43
    por causa do trauma
    que vivera em criança.
  • 7:43 - 7:45
    Precisava delas para se sentir protegido.
  • 7:46 - 7:49
    Mas essas armas eram, na realidade,
    uma mensagem para mim.
  • 7:49 - 7:51
    Embora ele não me tivesse levantado a mão,
  • 7:51 - 7:55
    a minha vida já estava em grande
    perigo a cada minuto, de cada dia.
  • 7:58 - 8:01
    Conor atacou-me fisicamente,
    pela primeira vez,
  • 8:01 - 8:03
    cinco dias antes do nosso casamento.
  • 8:04 - 8:07
    Eram 7h da manhã e eu ainda
    estava de camisa de noite.
  • 8:08 - 8:12
    Estava ao computador a tentar
    acabar um trabalho de escrita
  • 8:12 - 8:14
    e estava a ficar frustrada.
  • 8:14 - 8:17
    Conor usou a minha
    irritação como desculpa
  • 8:17 - 8:20
    para pôr as duas mãos
    à volta do meu pescoço
  • 8:20 - 8:24
    e para apertar com tanta força
    que eu não conseguia respirar ou gritar.
  • 8:24 - 8:26
    Ele usou o estrangulamento
  • 8:26 - 8:29
    para bater com a minha cabeça
    repetidamente contra a parede.
  • 8:31 - 8:35
    Cinco dias depois, as dez nódoas negras
    no meu pescoço haviam desaparecido
  • 8:35 - 8:38
    e eu vesti o vestido de
    noiva da minha mãe
  • 8:38 - 8:40
    e casei-me com ele.
  • 8:41 - 8:43
    Apesar do que havia acontecido,
  • 8:43 - 8:46
    eu estava certa de que iríamos
    viver felizes para sempre,
  • 8:46 - 8:50
    porque o amava
    e ele amava-me muito.
  • 8:51 - 8:53
    Ele estava muito,
    muito arrependido.
  • 8:54 - 8:57
    Estava muito nervoso com o casamento
  • 8:57 - 8:59
    e por ir formar uma família comigo.
  • 8:59 - 9:01
    Fora um incidente isolado
  • 9:01 - 9:03
    e nunca mais me iria magoar.
  • 9:04 - 9:07
    Aconteceu mais duas vezes na lua-de-mel.
  • 9:07 - 9:11
    A primeira vez, eu ia a conduzir,
    à procura de uma praia desconhecida
  • 9:11 - 9:12
    e perdera-me.
  • 9:13 - 9:15
    Ele bateu-me com tanta força
    de um lado da cabeça
  • 9:15 - 9:18
    que o outro lado da cabeça
    bateu várias vezes
  • 9:18 - 9:20
    na janela, do lado do condutor.
  • 9:20 - 9:24
    Uns dias mais tarde, de regresso
    a casa após a lua-de-mel,
  • 9:24 - 9:26
    ele ficou frustrado com o trânsito
  • 9:26 - 9:29
    e atirou-me com um Big Mac frio à cara.
  • 9:29 - 9:32
    Conor continuou a bater-me
    uma a duas vezes por semana
  • 9:32 - 9:34
    durante os dois anos e meio
    do nosso casamento.
  • 9:35 - 9:38
    Eu estava enganada
    ao pensar que era a única
  • 9:38 - 9:41
    e que estava sozinha naquela situação.
  • 9:41 - 9:43
    Uma em cada três
    mulheres norte-americanas
  • 9:43 - 9:47
    vive a experiência da violência doméstica
    ou a perseguição em alguma fase da vida.
  • 9:47 - 9:50
    Os relatórios do Centro de Controlo
    e Prevenção de Doenças
  • 9:50 - 9:54
    estima que, todos os anos,
    são abusadas, 15 milhões de crianças.
  • 9:55 - 9:57
    Portanto, na realidade,
    eu estava em muito boa companhia.
  • 9:59 - 10:01
    Voltando à minha pergunta:
  • 10:01 - 10:03
    Porque é que fiquei?
  • 10:04 - 10:06
    A resposta é fácil.
  • 10:06 - 10:09
    Eu não sabia que ele me
    estava a maltratar.
  • 10:09 - 10:13
    Apesar de ele me ter apontado
    as pistolas carregadas à cabeça,
  • 10:13 - 10:15
    ter-me empurrado escadas abaixo,
  • 10:15 - 10:17
    ter ameaçado matar o nosso cão,
  • 10:17 - 10:20
    ter arrancado a chave da ignição do carro
    quando eu conduzia autoestrada fora,
  • 10:20 - 10:23
    ter deitado borras de café
    na minha cabeça
  • 10:23 - 10:25
    quando me vestia para
    uma entrevista de emprego,
  • 10:25 - 10:28
    nunca pensei em mim
    como uma esposa maltratada.
  • 10:30 - 10:33
    Em vez disso, eu era
    uma mulher muito forte,
  • 10:33 - 10:35
    apaixonada por um homem
    muito problemático,
  • 10:35 - 10:37
    e eu era a única pessoa à face da Terra
  • 10:37 - 10:40
    que podia ajudar Conor
    a enfrentar os seus demónios.
  • 10:42 - 10:44
    A outra pergunta que toda
    a gente coloca é:
  • 10:45 - 10:47
    "Porque é que ela não se foi embora?"
  • 10:47 - 10:50
    Porque é que não o abandonei?
    Eu podia ter saído em qualquer altura.
  • 10:51 - 10:55
    Para mim, esta é a pergunta mais triste
    e dolorosa que as pessoas fazem,
  • 10:56 - 10:59
    porque nós, as vítimas, sabemos algo
    que vocês, normalmente, não sabem:
  • 10:59 - 11:02
    É extremamente perigoso
    abandonar um agressor,
  • 11:03 - 11:07
    porque o último passo no padrão
    de violência doméstica
  • 11:07 - 11:08
    é matá-la.
  • 11:09 - 11:12
    Mais de 70% dos homicídios
    por violência doméstica
  • 11:12 - 11:16
    acontecem após a vítima ter
    terminado a relação,
  • 11:16 - 11:18
    após ter saído de casa,
  • 11:18 - 11:21
    porque aí o agressor
    não tem nada a perder.
  • 11:21 - 11:24
    Outras consequências incluem
    perseguição de longa duração,
  • 11:24 - 11:27
    mesmo depois do agressor voltar a casar;
  • 11:27 - 11:29
    recusa de recursos financeiros
  • 11:29 - 11:32
    e manipulação do tribunal de família
  • 11:32 - 11:35
    para aterrorizar
    a vítima e os seus filhos,
  • 11:35 - 11:39
    que são regularmente forçados
    por juízes do tribunal de família
  • 11:39 - 11:42
    a passarem tempo não supervisionado
  • 11:42 - 11:45
    com o homem que batia na mãe deles.
  • 11:45 - 11:48
    E ainda perguntamos porque
    é que ela não sai de casa?
  • 11:49 - 11:51
    Eu consegui ir-me embora
  • 11:51 - 11:54
    devido a uma tareia final e sádica,
  • 11:54 - 11:57
    que acabou com a negação em que eu estava.
  • 11:57 - 12:00
    Apercebi-me que o homem
    que eu tanto amava
  • 12:01 - 12:03
    me mataria, se eu deixasse.
  • 12:04 - 12:05
    Então, rompi o silêncio.
  • 12:06 - 12:08
    Contei a toda a gente:
  • 12:09 - 12:12
    à polícia, aos meus vizinhos,
  • 12:12 - 12:16
    aos meus amigos, a absolutos estranhos,
  • 12:17 - 12:20
    e estou aqui hoje porque
    todos vocês ajudaram.
  • 12:23 - 12:26
    Tendemos a estereotipar as vítimas
  • 12:26 - 12:29
    em cabeçalhos mistificadores,
  • 12:29 - 12:32
    mulheres autodestrutivas,
    bens danificados.
  • 12:32 - 12:35
    A pergunta: "Porque é que ela fica?",
  • 12:35 - 12:40
    é um código para algumas pessoas,
    para: "A culpa é dela por ficar",
  • 12:41 - 12:43
    como se as vítimas escolhessem
    intencionalmente
  • 12:43 - 12:46
    apaixonar-se por homens
    apostados em as destruírem.
  • 12:47 - 12:49
    Mas desde a publicação de "Amor Louco",
  • 12:49 - 12:53
    tenho ouvido centenas de histórias
    de homens e mulheres
  • 12:53 - 12:55
    que também acabaram com a relação,
  • 12:55 - 12:59
    que aprenderam uma lição preciosa
    com o que lhes aconteceu
  • 12:59 - 13:03
    e que reconstruíram a vida
    — uma vida alegre, feliz —
  • 13:04 - 13:06
    enquanto empregados,
    esposas e mães,
  • 13:06 - 13:10
    uma vida totalmente livre
    de violência, como a minha.
  • 13:11 - 13:15
    Porque, no fim de contas, eu sou a típica
    vítima de violência doméstica
  • 13:15 - 13:18
    e a típica sobrevivente
    de violência doméstica.
  • 13:19 - 13:22
    Voltei a casar com um homem
    amável e gentil
  • 13:22 - 13:24
    e temos estes três filhos.
  • 13:24 - 13:28
    Tenho o tal Labrador preto
    e tenho o tal monovolume.
  • 13:28 - 13:30
    O que eu nunca mais terei,
  • 13:31 - 13:33
    nunca mais,
  • 13:34 - 13:37
    é uma arma carregada
    apontada à cabeça
  • 13:37 - 13:39
    por alguém que diz amar-me.
  • 13:40 - 13:42
    Talvez estejam a pensar:
  • 13:43 - 13:44
    "Uau, isto é fascinante"
  • 13:45 - 13:47
    ou "Uau, que parva que ela foi",
  • 13:48 - 13:52
    mas todo este tempo, tenho
    estado a falar de vocês.
  • 13:54 - 13:57
    Garanto-vos que há várias pessoas
  • 13:57 - 13:59
    a ouvirem-me neste momento
  • 13:59 - 14:01
    que estão a ser maltratadas
  • 14:02 - 14:04
    ou que foram violentadas em criança,
  • 14:04 - 14:07
    ou que são, elas mesmas, agressoras.
  • 14:08 - 14:10
    Os abusos podem estar
    a afetar a vossa filha,
  • 14:10 - 14:13
    a vossa irmã, a vossa
    melhor amiga, neste instante.
  • 14:15 - 14:19
    Eu consegui acabar com a minha
    própria história de amor louco,
  • 14:19 - 14:21
    rompendo o silêncio.
  • 14:21 - 14:23
    Ainda hoje quebro o silêncio.
  • 14:23 - 14:27
    É a minha forma de ajudar outras vítimas
  • 14:27 - 14:30
    e é o último apelo que vos faço.
  • 14:31 - 14:33
    Falem do que aqui ouviram.
  • 14:33 - 14:36
    Os maus-tratos crescem
    apenas com o silêncio.
  • 14:37 - 14:40
    Vocês têm o poder de acabar
    com a violência doméstica,
  • 14:40 - 14:44
    basta chamar a atenção para o tema.
  • 14:44 - 14:47
    Nós, as vítimas, precisamos
    de toda a gente.
  • 14:47 - 14:51
    Nós precisamos que cada
    um de vós compreenda
  • 14:51 - 14:53
    os segredos da violência doméstica.
  • 14:55 - 14:57
    Denunciem os maus-tratos,
    falando deles
  • 14:57 - 15:00
    com os vossos filhos,
    os vossos colegas de trabalho,
  • 15:00 - 15:02
    os vossos amigos e família.
  • 15:02 - 15:06
    Vejam os sobreviventes como
    pessoas maravilhosas, adoráveis
  • 15:06 - 15:08
    com futuros completos.
  • 15:08 - 15:12
    Reconheçam os primeiros sinais da violência
  • 15:12 - 15:14
    e intervenham de forma consciente,
  • 15:14 - 15:18
    diminuam-na, mostrem às vítimas
    uma saída com segurança.
  • 15:19 - 15:22
    Juntos podemos fazer das nossas camas,
  • 15:23 - 15:26
    das nossas mesas de jantar
    e das nossas famílias,
  • 15:26 - 15:29
    o oásis seguro e perfeito que devem ser.
  • 15:29 - 15:31
    Obrigada.
  • 15:31 - 15:34
    (Aplausos)
Title:
Porque é que as vítimas de violência doméstica não fogem
Speaker:
Leslie Morgan Steiner
Description:

Leslie Morgan Steiner estava num “amor louco”, ou seja, estava perdida de amor por um homem que frequentemente a maltratava e ameaçava a sua vida. Steiner conta a história sombria da sua relação, corrigindo conceções erradas que muitas pessoas têm das vítimas de violência doméstica e explicando como todos podemos ajudar a quebrar o silêncio.
(Filmado na TEDxRainier.)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:59

Portuguese subtitles

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