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Title:
A diferença entre amor saudável e amor doente
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Description:
Em uma conversa sobre compreender e praticar a arte de desenvolver relacionamentos saudáveis, Katie Hood revela cinco indicadores de que você pode estar em um relacionamento insalubre - com um parceiro romântico, um amigo, um membro da família - e compartilha ações que você pode praticar todos os dias para amar com respeito, gentileza e alegria. "Por mais que o amor seja um instinto e uma emoção, a capacidade de amar melhor é algo que podemos construir e melhorar ao longo do tempo", ela diz.
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Speaker:
Katie Hood
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Quando pensamos num filho,
num amigo querido ou num par romântico,
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a palavra "amor" provavelmente vem à tona,
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e logo vêm também outras emoções:
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alegria e esperança,
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excitação, confiança e segurança,
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e, sim, às vezes, tristeza e deceção.
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Talvez não haja
outra palavra no dicionário
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que interligue tantas pessoas
quanto o amor.
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Mesmo assim, com tamanha importância
na nossa vida,
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não é interessante que nunca
tenhamos sido ensinados a amar?
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Construímos amizades,
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logo nos envolvemos em
relações românticas,
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casamos e trazemos bebés
da maternidade,
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esperando que vamos aprender.
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Mas a verdade é que, muitas vezes,
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prejudicamos e desrespeitamos quem amamos.
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Podem ser coisas subtis,
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como pressionar um amigo
para nos fazer companhia,
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ou espiar as mensagens
do nosso companheiro,
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ou humilhar um filho
por não se esforçar na escola.
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100% de nós está sujeito
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a comportamentos não saudáveis
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e 100% de nós realiza ações não saudáveis.
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Faz parte do ser humano.
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Na sua pior forma, o mal
que causamos a entes queridos
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aparece como prepotência e violência,
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e prepotência na relação.
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É algo que uma em cada três mulheres
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e um em cada quatro homens
vai experimentar na vida.
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Se somos uma pessoa comum,
quando ouvimos essas estatísticas,
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dizemos: "Ah, não, não,
isso nunca aconteceria comigo ".
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É instintivo rejeitar as palavras
"prepotência" e "violência",
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pensar que isso só acontece
com outras pessoas noutro lugar.
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Mas a verdade é que as más relações
e a violência estão ao nosso redor.
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Nós só damos nomes diferentes
e ignoramos a ligação.
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A violência toma conta de nós
disfarçado em amor doentio.
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Eu trabalho para uma organização
chamada One Love,
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fundada por uma família cuja filha
Yeardley foi morta pelo ex-namorado.
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Foi uma tragédia que ninguém previu;
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mas quando olharam para trás,
perceberam que os avisos estavam lá,
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só que ninguém tinha entendido o que via.
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Chamavam-lhe loucura,
ou drama, ou bebedeira,
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mas as ações não foram lidas
como o que realmente eram:
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sinais claros de perigo.
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A família dela percebeu que,
se lhe tivessem ensinado esses sinais,
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a morte da filha podia sido evitada.
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A nossa missão é garantir
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que as pessoas tenham as informações
que Yeardley e os amigos não tiveram.
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Temos três objetivos principais:
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dar a todos nós uma linguagem
para falar sobre assuntos
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que sejam incómodos
e desconfortáveis para analisar;
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capacitar toda uma equipa,
ou seja, amigos, para ajudar;
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e, nesse processo, melhorar
a nossa capacidade de amar melhor.
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Para fazer isso, é sempre importante
começar por iluminar
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os sinais de aviso
que geralmente ignoramos,
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e o nosso trabalho concentra-se
na criação de conteúdos
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para abrir canais
de conversa com os jovens.
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Obviamente, grande parte
do conteúdo é muito sério,
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dado o assunto em questão,
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mas hoje eu vou usar
um dos nossos temas mais leves,
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mas, mesmo assim, provocantes,
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"The Couplets",
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diálogos que apontam para cinco
indicadores de amor doente.
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O primeiro é a intensidade.
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Não te vejo há uns dias.
Estou com saudades.
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Também senti sua falta.
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[#istoéamor]
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Há cinco minutos que não te vejo.
Parece uma vida inteira.
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O que fazes sem mim
durante cinco minutos?
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[#istonãoéamor]
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Alguém reconhece isso?
Não sei... Eu reconheço.
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Relações prepotentes
não começam prepotentes.
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Começam excitantes e entusiasmadas.
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Há uma intensidade
de carinho e emoção, uma ânsia.
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E isso é muito bom.
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Sentimo-nos com sorte,
como se tivéssemos ganho o "jackpot".
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Mas, no amor doentio,
esses sentimentos mudam com o tempo,
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passam de emocionante a esmagador,
e talvez um pouco sufocante.
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Sentimos isso no íntimo.
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Talvez quando o nosso
novo namorado ou namorada
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diz "amo-te",
antes de estarmos preparados,
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ou começa a aparecer em toda a parte,
ligando e mandando imensas mensagens.
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Talvez fique impacientes
quando demoramos a responder
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mesmo sabendo que tínhamos
outras coisas naquele dia.
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É importante lembrar que o que interessa
não é como começa uma relação,
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mas como ela evolui.
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Nos primeiros dias de uma relação,
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é importante prestar atenção
aos nossos sentimentos.
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Estamos confortáveis
com o ritmo da intimidade?
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Sentimos que temos espaço para respirar?
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Também é muito importante
começar a praticar a nossa voz
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e falar sobre as nossas necessidades.
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Os nossos pedidos são respeitados?
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Um segundo marcador é o isolamento.
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Eu e o meu namorado
saímos à segunda-feira.
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["istoéamor]
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Nós saímos sempre à segunda-feira.
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- Amanhã?
- À terça descansamos.
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- Na quarta?
- Não é dia dos amigos!
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[#istonãoéamor]
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Se me perguntarem,
o isolamento é um dos sinais
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mais ignorados e incompreendidos
do amor doentio.
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Porquê?
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Porque toda a nova relação
começa com esse desejo intenso
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de passarmos o tempo juntos,
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e é fácil não perceber quando algo muda.
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O isolamento instala-se quando
um novo namorado ou namorada
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começa a afastar-nos
dos amigos e familiares,
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do nosso sistema de apoio,
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e nos mantém mais presos a eles.
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Eles podem dizer algo como:
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"Porque é que sais com eles?
São uns patós"
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sobre os nossos melhores amigos,
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ou "Eles querem que nos separemos.
São contra nós "
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referindo-se à nossa família.
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O isolamento semeia a dúvida
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sobre as pessoas que faziam parte
da nossa vida anterior.
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O amor saudável inclui a independência,
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duas pessoas que gostam de estar juntas,
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mas que se mantêm ligadas às pessoas
e às atividades de que gostávamos antes.
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Enquanto, no começo, podemos
passar cada minuto juntos,
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com o passar do tempo,
ter independência é fundamental.
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É quando fazemos planos com amigos
e nos mantemos ligados a eles
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e encorajamos o parceiro
a fazer o mesmo.
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Um terceiro marcador de amor doentio
é o ciúme exagerado.
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Porque é que estás tão feliz?
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Ela começou
a seguir-me no Instagram!
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["istoéamor]
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Porque é que estás tão nervoso?
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Ela persegue-me por toda a parte.
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À medida que a fase da lua-de-mel
vai passando,
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pode ir surgindo um ciúme exagerado
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e o nosso parceiro pode começar
a ficar mais exigente,
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a querer saber o tempo todo
onde estamos, e com quem,
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ou pode até começar a perseguir-nos
na vida real ou digital.
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Ciúmes exagerados são acompanhados
de posse e desconfiança,
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acusações frequentes de que estamos
a namoriscar com outros ou até a trair,
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e a recusa em nos ouvir, quando dizemos
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que não há nada com que se preocupar,
e só o amamos.
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Os ciúmes fazem parte
de qualquer relação humana,
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mas o ciúme exagerado é diferente.
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Tem uma faceta ameaçadora,
desesperada e raivosa.
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O amor não deve ser assim.
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Um quarto indicador é o menosprezo.
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- Queres sair?
- Tenho de estudar.
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Vais ter A de qualquer modo.
A de "Excelente"!
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(#istoéamor)
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- Queres sair?
- Tenho de estudar.
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Vais tirar um F na mesma.
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F de... Estúpida!
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No amor doentio, as palavras
são usadas como armas.
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As conversas que antes
eram divertidas e leves
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tornam-se maldosas e constrangedoras.
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Às vezes o nosso parceiro ironiza,
de uma forma que magoa
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ou conta histórias e piadas
engraçadas à nossa custa.
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Quando tentamos explicar
que ficámos magoadas,
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ele acusa-nos de reagir mal,
de sermos exageradas.
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"Mas porque é que és tão sensível?"
Qual é o problema? Poupa-me."
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E somos silenciadas com estas palavras.
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Parece óbvio, mas o nosso parceiro
é quem devia apoiar-nos.
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As palavras dele deveriam animar-nos,
e não nos destruir.
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Deviam respeitar os nossos segredos
e ser leal.
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Deviam fazer-nos sentir mais confiantes,
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em vez de menos.
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E por fim, um último indicador:
a volatilidade.
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- Eu ficava triste, se acabássemos.
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[#istoéamor]
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Eu ficava tão deprimida
se acabássemos
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que me atirava desta escada abaixo.
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Juro! Nem tentes impedir-me.
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Separações e regressos frequentes,
altos e baixos:
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quanto mais aumenta a tensão,
mais aumenta a volatilidade.
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Brigas cheias de lágrimas, frustrações,
seguidas de retornos esfuziantes,
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comentários odiosos e pungentes, como:
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"Não vales nada,
nem sei porque estou contigo!"
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rapidamente seguidos de desculpas
e promessas de nunca mais repetir.
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Nesta altura, já estamos tão condicionadas
nessa relação de montanha russa
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que talvez não percebamos
quão doentia, e talvez perigosa,
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a relação está a tornar-se.
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Pode ser muito difícil perceber
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quando o amor doentio
se transforma em violência,
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mas é justo dizer que,
quanto mais destes indicadores
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apresentar a nossa relação,
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mais doentia, e talvez perigosa,
ela pode estar a tornar-se.
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Se o nosso instinto é terminar,
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que é o conselho que
damos aos amigos
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que estão em relações doentias,
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nem sempre é o melhor conselho.
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Os rompimentos podem ser
um gatilho para a violência.
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Se recearmos estar a caminhar
para a violência, ou ela já existe,
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é preciso consultar um especialista
para saber como acabar com segurança.
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Mas não se trata somente
de relações românticas,
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nem apenas de violência.
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Compreender os sinais de um amor doentio
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pode ajudar-nos a avaliar e compreender
quase todas as nossas relações.
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Pela primeira vez, podemos entender
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porque estamos insatisfeitas
com uma amizade,
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ou porque cada interação
com determinado familiar
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nos torna desanimadas e ansiosas.
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Podemos começar a perceber
quanto a nossa intensidade e ciúme
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causa problemas com colegas no trabalho.
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Compreender é o primeiro passo
para melhorar,
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e, já que não conseguimos sanar
todas as relações doentias
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- vamos ter de deixar para trás
algumas delas -
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podemos fazer a nossa parte diariamente,
melhorando cada relação.
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E aqui vai a boa notícia:
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não é uma ciência de ponta.
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A comunicação aberta, o respeito mútuo,
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a generosidade, a paciência
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- podemos praticar essas coisas
diariamente.
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Mas, por mais que a prática
nos vá fazer bem,
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é preciso dizer também
que não vai fazer milagres.
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Eu faço isso profissionalmente:
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todos os dias penso e falo
de relações saudáveis,
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e ainda faço coisas pouco saudáveis.
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Noutro dia, estava a tentar correr
com os meus quatro filhos da cozinha
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no meio de brigas, discussões
e reclamações sobre o café da manhã,
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Perdi totalmente a paciência.
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Com uma atitude
intencionalmente furiosa, gritei:
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"Calem-se todos e façam o que eu digo!
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"Vocês são terríveis!
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"Vão ficar sem televisão
e sem sobremesa,
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"e tudo mais que vocês
gostem nesta vida!"
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Alguém já passou por isso?
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Volatilidade, menosprezo.
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O meu filho mais velho virou-se,
olhou para mim e disse:
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"Mãe, isso não é amor."
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Por instantes, eu queria matá-lo
por me chamar a atenção.
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Acreditem.
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Mas depois recompus-me
e senti-me orgulhosa.
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Senti orgulho por ele ter tido
uma linguagem que me fez parar.
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Eu quero que os meus filhos
entendam qual deve ser o limite
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para a forma como são tratados,
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e ter voz para usar quando
esse limite é ultrapassado
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em vez de o aceitar.
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Por muito tempo, tratámos
as relações como um tema suave,
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quando sabermos lidar com relações
é uma das coisas
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mais importantes e difíceis
para construir coisas na vida.
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Entender os sinais doentios
não só pode ajudar-nos
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a evitar cair na armadilha
que leva ao amor doentio,
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como também compreender
e praticar a arte de ser saudável
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pode melhorar quase
todos os aspetos da nossa vida.
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Estou plenamente convencida
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de que, embora o amor seja
um instinto e uma emoção,
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a capacidade de amar melhor
pode ser construída por qualquer um,
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e melhorada ao longo do tempo
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