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Não Use Minhas Tranças
Para Ganhar Dinheiro
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O cabelo black sempre foi
um componente fundamental da cultura negra.
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O cabelo black exige cuidado
para crescer de forma saudável,
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por isso as mulheres negras
sempre cuidaram de seus cabelos.
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Faz parte da nossa identidade:
tranças, dreadlocks, twists, etc.
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As trancinhas são uma boa maneira
de manter o cabelo black sem nós
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e arrumado,
mas com estilo.
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E é por isso que o cabelo é importante
para a cultura do hip hop e do rap.
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São estilos musicais que as comunidades
afrodescendentes criaram
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para afirmar nossas identidades
e nossas vozes.
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No início dos anos 2000,
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víamos cantoras famosas de R&B
usando trancinhas:
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Alicia Keys, Beyonce, R. Kelly
e muitas outras.
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Conforme o hip hop se tornou mais popular
e foi integrado à cultura pop,
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a cultura negra também foi.
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Eminem ganhou o disco de platina
quatro vezes,
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e ele alcançou enorme sucesso
no mundo do hip hop.
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A cultura negra
havia se tornado popular.
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Com a chegada dos anos 2010,
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pessoas brancas passaram a usar roupas
e acessórios associados ao hip hop,
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e cada vez mais celebridades eram vistas
usando trancinhas e até mesmo grillz.
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Já em 2013 o mundo fashion
também havia adotado as trancinhas.
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As tranças eram vistas
em passarelas de moda de alta costura,
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de marcas como Marchesa
e Alexander McQueen,
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e as revistas mostravam as trancinhas
como um novo estilo urbano.
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Nessa época surgiu Riff Raff,
um homem branco de classe média
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que ironicamente adotou um estilo negro
e usava tranças e dentes dourados.
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Depois James Franco se inspirou nele
para seu papel de alien no filme Spring Breakers.
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Artistas e ícones do pop adotaram a cultura negra
para se mostrarem revoltados e chamar atenção.
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Em 2013, Miley Cyrus faz twerks
e se inspira em mulheres negras,
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e em 2014, em um de seus vídeos
chamado "This Is How We Do",
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Katy Perry usa um dialeto negro
e faz gestos,
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além de comer uma melancia
usando trancinhas
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antes de aparecer inexplicavelmente
uma foto da Aretha Franklin.
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Então... como se pode ver,
a apropriação cultural foi intensa.
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As pessoas brancas
não só estavam se tornando rappers
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como também estavam se destacando
no mundo do hip hop.
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A canção "Thrift Shop", de Mackelmore
e Ryan Lewis,
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chegou no topo das paradas musicais
no ano de 2013,
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e a canção "Fancy", de Iggy Azalea
ficou em primeiro lugar no ano seguinte.
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E em maio de 2014,
a revista Forbes publicou um artigo
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chamado "A estrela improvável do hip hop:
uma australiana branca e loura".
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Mas ao mesmo tempo,
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a brutalidade da polícia
contra os negros veio à tona
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em um movimento inflamado
pelos assassinatos deTrayvon Martin,
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Michael Brown, Tamir Rice,
Eric Graner e muitos outros,
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as pessoas começaram a protestar
contra o racismo institucionalizado
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através de passeatas
e da mídia social.
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Celebridades buscaram sensibilizar
as pessoas e prestar pêsames,
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como salientou Azealia Banks,
uma rapper negra.
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Conforme Azealia Banks
observou em seus tweets,
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músicos brancos que adotaram
o hip hop e a cultura negra,
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especialmente Iggy Azalea,
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ignoraram o racismo
que está atrelado à identidade negra.
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Banks e Azalea discutiram no Twitter
até uma entrevista de Banks:
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Eu me incomodo porque está tentando
dizer que isso é hip hop,
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e o coloca contra a cultura negra.
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Pra mim, você está manchando
nossa cultura.
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A mensagem que passa
para crianças brancas é:
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"Você é demais, é incrível,
pode fazer tudo o que quiser."
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E a mensagem que passa
para crianças negras é:
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"Você não tem nada, não possui nada,
nem o que você mesmo criou."
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E isso me deixa triste.
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E é exatamente esse o problema
quando se trata de cultura negra.
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O limite entre apropriação cultural
e intercâmbio cultural
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nem sempre será claro,
mas tem um detalhe:
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A apropriação cultural
acontece quando um estilo
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leva a generalizações racistas
ou esteriótipos onde se originou
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mas é considerado fashion,
legal ou divertido
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quando os grupos privilegiados
o adotam.
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A apropriação acontece
quando o apropriador
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não tem noção do significado
da cultura de que estão partilhando.
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O hip hip tem origem na luta negra,
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no jazz e no blues,
estilos musicais afroamericanos
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criados para conservar a humanidade
em tempos de adversidade
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e originados de músicas usadas
no tempo da escravidão
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para comunicação
e sobrevivência.
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De forma semelhante
mas em escala menor,
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o uso de tranças não é apenas
questão de estilo.
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Elas são necessárias para manter
o cabelo negro arrumado.
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Eu tenho visto muito essa pergunta
na mídia e acho importante:
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como seriam os EUA
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se nós amássemos os negros
tanto quanto amamos sua cultura?