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O dilema ético dos bebés projetados

  • 0:01 - 0:03
    E se eu vos pudesse fazer
  • 0:03 - 0:05
    um bebé projetado?
  • 0:06 - 0:08
    E se vocês, como futuros pais,
  • 0:09 - 0:13
    e eu, como cientista, decidíssemos
    seguir este caminho?
  • 0:14 - 0:15
    E se não o fizéssemos?
  • 0:16 - 0:18
    E se pensássemos:
    "Isto é uma má ideia",
  • 0:18 - 0:21
    mas muitos dos nossos familiares,
    amigos e colegas
  • 0:22 - 0:23
    tomassem essa decisão?
  • 0:24 - 0:28
    Vamos avançar rapidamente
    15 anos no futuro.
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    Vamos fingir que estamos no ano 2030,
  • 0:31 - 0:33
    e que vocês são pais.
  • 0:33 - 0:36
    Têm a vossa filha, Marianne,
    ao vosso lado,
  • 0:36 - 0:40
    e em 2030, ela é o que chamamos "natural"
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    porque não tem modificações genéticas.
  • 0:43 - 0:47
    Como vocês e o vosso parceiro
    tomaram esta decisão conscientemente,
  • 0:47 - 0:51
    muitos do vosso círculo social,
    olham-vos de forma diferente.
  • 0:51 - 0:55
    Acham que vocês são ludistas
    ou têm fobia da tecnologia.
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    A melhor amiga da Marianne, a Jenna,
    que mora na porta ao lado,
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    tem uma história diferente.
  • 1:01 - 1:07
    Ela nasceu geneticamente modificada
    com uma série de melhorias.
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    Sim. Melhorias.
  • 1:11 - 1:14
    Esses aperfeiçoamentos
    foram introduzidos
  • 1:14 - 1:16
    usando uma nova tecnologia
    de modificação genética
  • 1:17 - 1:19
    que tem o nome engraçado de CRISPR,
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    como uma coisa crocante,
  • 1:21 - 1:23
    mas é CRISPR.
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    Os cientistas que os pais da Jenna
    contrataram para o fazer,
  • 1:27 - 1:29
    por muitos milhões de dólares,
  • 1:30 - 1:34
    introduziram o CRISPR
    em vários embriões humanos.
  • 1:34 - 1:36
    Depois fizeram testes genéticos,
  • 1:36 - 1:40
    e previram que aquele pequeno
    embrião, o embrião da Jenna,
  • 1:40 - 1:43
    seria o melhor que poderia existir.
  • 1:43 - 1:47
    E agora, a Jenna é uma pessoa real.
  • 1:47 - 1:50
    Está sentada na carpete da vossa sala
  • 1:50 - 1:53
    a brincar com a vossa filha Marianne.
  • 1:53 - 1:56
    As vossas famílias conhecem-se há anos,
  • 1:56 - 1:59
    e começa a ficar-vos muito claro
  • 1:59 - 2:01
    que a Jenna é extraordinária.
  • 2:01 - 2:03
    Ela é incrivelmente inteligente.
  • 2:03 - 2:07
    Sendo honestos, vocês diriam
    que ela é mais inteligente que vocês,
  • 2:07 - 2:09
    e ela só tem cinco anos.
  • 2:09 - 2:13
    Ela é bonita, alta, atlética,
  • 2:13 - 2:16
    e a lista de qualidades continua.
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    De facto, há toda uma nova geração
  • 2:19 - 2:22
    destas crianças geneticamente modificadas,
    como a Jenna.
  • 2:22 - 2:24
    Até aqui parece
  • 2:24 - 2:27
    que são mais saudáveis
    do que a geração anterior,
  • 2:27 - 2:28
    do que a vossa geração.
  • 2:28 - 2:31
    Têm menos gastos com saúde.
  • 2:32 - 2:35
    São imunes a uma série de doenças,
  • 2:35 - 2:38
    incluindo o VIH/SIDA e doenças genéticas.
  • 2:39 - 2:41
    Tudo isto parece maravilhoso,
  • 2:41 - 2:45
    mas vocês não conseguem evitar
    um sentimento perturbador,
  • 2:45 - 2:50
    uma profunda sensação
    de que há algo de errado com a Jenna,
  • 2:50 - 2:55
    e sentem o mesmo sobre outras crianças
    geneticamente modificadas que já viram.
  • 2:55 - 2:59
    Vocês também leram recentemente,
    nos jornais
  • 2:59 - 3:03
    que um estudo sobre estas crianças,
    que nasceram como bebés projetados,
  • 3:03 - 3:05
    indica que elas podem ter problemas,
  • 3:05 - 3:08
    como um maior grau de narcisismo
    e de agressividade.
  • 3:10 - 3:11
    Mais imediatamente na vossa cabeça
  • 3:12 - 3:15
    têm algumas notícias que
    tiveram da família da Jenna.
  • 3:15 - 3:17
    Ela é tão inteligente,
  • 3:17 - 3:20
    que agora irá para uma escola especial,
  • 3:20 - 3:22
    diferente daquela em que
    a vossa filha estuda,
  • 3:22 - 3:26
    e isto é o tipo de coisa que causa
    problemas na vossa família.
  • 3:26 - 3:27
    A Marianne tem chorado,
  • 3:28 - 3:31
    e na noite passada, ao metê-la na cama,
    e ao lhe darem um beijo de boa noite,
  • 3:31 - 3:35
    ela disse, "Pai, a Jenna já não vai
    ser minha amiga?"
  • 3:36 - 3:40
    Como estou a contar uma história
    imaginária do ano 2030,
  • 3:40 - 3:43
    certamente alguns de vocês
    devem estar a pensar
  • 3:43 - 3:45
    que se trata de um cenário
    de ficção científica.
  • 3:45 - 3:48
    Acham que estão a ler
    um livro de ficção científica.
  • 3:48 - 3:51
    Ou que talvez seja
    uma coisa do tipo Halloween.
  • 3:51 - 3:53
    Mas esta é uma realidade
    possível para nós,
  • 3:53 - 3:55
    daqui a apenas 15 anos.
  • 3:55 - 3:58
    Sou um investigador
    de células-tronco e genética
  • 3:58 - 4:01
    e posso ver esta nova tecnologia CRISPR
  • 4:02 - 4:03
    e o seu impacto provável.
  • 4:04 - 4:07
    Podemos deparar-nos com esta realidade
  • 4:07 - 4:10
    e muito irá depender
    do que decidirmos fazer hoje.
  • 4:12 - 4:15
    Se ainda estiverem no modo
    ficção científica de pensar,
  • 4:15 - 4:19
    considerem que o mundo da ciência
    teve um grande choque recentemente,
  • 4:20 - 4:22
    e que o grande público
    nem sabe disto.
  • 4:22 - 4:25
    Investigadores chineses,
    há apenas alguns meses,
  • 4:25 - 4:29
    reportaram a criação de embriões
    humanos geneticamente modificados.
  • 4:30 - 4:32
    Esta foi a primeira vez na história.
  • 4:32 - 4:35
    Fizeram isso com
    esta nova tecnologia CRISPR.
  • 4:36 - 4:37
    Não funcionou perfeitamente,
  • 4:37 - 4:41
    mas eu ainda acho que eles
    entreabriram a porta
  • 4:41 - 4:43
    da caixa de Pandora neste tema.
  • 4:44 - 4:47
    Acho que algumas pessoas
    vão seguir com esta tecnologia
  • 4:47 - 4:50
    e tentar fazer bebés projetados.
  • 4:50 - 4:53
    Antes de seguir, alguns de vocês
    podem levantar as mãos e dizer:
  • 4:53 - 4:56
    "Alto lá, Paul, espera aí um minuto.
  • 4:56 - 4:57
    "Isso não seria ilegal?
  • 4:57 - 5:01
    "Não se pode simplesmente andar
    por aí e criar um bebé projetado."
  • 5:02 - 5:04
    Em certa medida, vocês estariam certos.
  • 5:04 - 5:06
    Nalguns países, isto não seria possível.
  • 5:07 - 5:10
    Mas em muitos outros países,
    incluindo o meu, os EUA,
  • 5:10 - 5:14
    não há leis para isto e, assim,
    em teoria, isto pode ser feito.
  • 5:15 - 5:19
    Houve outro desenvolvimento este ano
    com impacto nesta área,
  • 5:19 - 5:22
    e aconteceu não tão
    longe daqui, na Inglaterra.
  • 5:22 - 5:26
    A Inglaterra tradicionalmente,
    tem sido o país mais rigoroso
  • 5:26 - 5:28
    quando se fala de modificação
    genética humana.
  • 5:28 - 5:30
    Isto era ilegal lá,
  • 5:30 - 5:33
    mas, há apenas alguns meses,
  • 5:32 - 5:35
    eles abriram uma exceção a essa regra.
  • 5:35 - 5:36
    Aprovaram uma nova lei
  • 5:36 - 5:40
    permitindo a criação de seres humanos
    geneticamente modificados,
  • 5:40 - 5:44
    com o nobre objetivo de tentar evitar
    um tipo raro de doença genética.
  • 5:44 - 5:48
    Mas acho que estes eventos
    combinados nos levam
  • 5:48 - 5:51
    na direção da aceitação
  • 5:51 - 5:54
    da modificação genética humana.
  • 5:54 - 5:57
    Tenho estado a falar
    sobre esta tecnologia CRISPR.
  • 5:57 - 5:59
    Mas o que é de facto a CRISPR?
  • 5:59 - 6:03
    Se pensarem sobre os OGMs com
    os quais estamos mais familiarizados,
  • 6:03 - 6:07
    como o tomate e o trigo
    geneticamente modificados
  • 6:06 - 6:08
    e coisas parecidas,
  • 6:08 - 6:11
    a CRISP é similar às tecnologias
  • 6:11 - 6:13
    que usamos para fazer estes vegetais,
  • 6:13 - 6:15
    mas é incrivelmente melhor,
  • 6:15 - 6:17
    mais barata e mais rápida.
  • 6:18 - 6:20
    Então o que é isto?
  • 6:20 - 6:22
    É como se fosse
    um canivete suíço genético.
  • 6:22 - 6:24
    Suponhamos que isto
    seja um canivete suíço,
  • 6:24 - 6:26
    com várias ferramentas,
  • 6:26 - 6:29
    e uma das ferramentas seja uma lupa
  • 6:29 - 6:32
    ou um GPS para o nosso ADN,
  • 6:32 - 6:34
    que pode localizar um certo ponto.
  • 6:34 - 6:36
    Outra ferramenta é uma tesoura,
  • 6:36 - 6:39
    que pode cortar o ADN
    exatamente nesse ponto.
  • 6:39 - 6:41
    E, finalmente, uma caneta
  • 6:41 - 6:45
    com a qual podemos reescrever
    o código genético naquele lugar.
  • 6:46 - 6:47
    É muito simples.
  • 6:48 - 6:51
    Esta tecnologia, que entrou em cena
    há apenas três anos,
  • 6:52 - 6:54
    arrebatou a ciência.
  • 6:54 - 6:58
    Está a evoluir tão rapidamente e está
    a ser tão animadora para os cientistas
  • 6:59 - 7:03
    — reconheço que estou fascinado por ela
    e a uso no meu laboratório —
  • 7:03 - 7:07
    que acho que alguém
    vai dar um passo extra
  • 7:07 - 7:09
    e continuará o trabalho de MG
    em embriões humanos,
  • 7:09 - 7:12
    e talvez criar bebés projetados.
  • 7:13 - 7:15
    Isto é tão universal agora.
  • 7:15 - 7:17
    Isto veio à tona há apenas três anos
  • 7:17 - 7:21
    e hoje há milhares de laboratórios
    que têm isso à mão
  • 7:22 - 7:25
    e estão a fazer investigações importantes.
  • 7:24 - 7:27
    Muitos deles não estão
    interessados em projetar bebés.
  • 7:27 - 7:29
    Estão a estudar doenças humanas
  • 7:29 - 7:32
    e outros importantes elementos da ciência.
  • 7:32 - 7:35
    Há investigações muito boas
    em curso com a CRISPR.
  • 7:35 - 7:38
    O facto de atualmente podermos
    fazer modificações genéticas
  • 7:39 - 7:42
    que costumavam levar anos
    e custar milhares de dólares,
  • 7:42 - 7:45
    e em poucas semanas,
    por umas centenas de dólares,
  • 7:45 - 7:48
    para mim, como cientista, é fantástico,
  • 7:48 - 7:50
    mas, de novo, ao mesmo tempo,
  • 7:50 - 7:53
    isto abre a porta para as pessoas
    irem longe demais.
  • 7:53 - 7:55
    Para algumas pessoas,
  • 7:55 - 7:58
    o foco não será tanto a ciência.
  • 7:58 - 8:00
    Esta não será a motivação delas.
  • 8:00 - 8:04
    Será a ideologia ou a corrida por lucros.
  • 8:04 - 8:07
    E elas vão chegar aos bebés projetados.
  • 8:08 - 8:12
    Então, porque deveríamos
    nos preocupar com isto?
  • 8:12 - 8:15
    Sabemos, a partir de Darwin,
    se recuarmos dois séculos,
  • 8:15 - 8:20
    que a evolução e a genética tiveram
    um impacto profundo na humanidade,
  • 8:20 - 8:22
    quem somos hoje.
  • 8:22 - 8:26
    Alguns pensam que existe um darwinismo
    social em andamento no nosso mundo,
  • 8:26 - 8:28
    e talvez até mesmo uma eugenia.
  • 8:29 - 8:32
    Imaginem estas tendências, estas forças,
  • 8:32 - 8:36
    com um propulsor
    como esta tecnologia CRISPR,
  • 8:36 - 8:38
    que é tão poderosa e tão universal.
  • 8:39 - 8:43
    De facto, podemos recuar apenas um século,
    até ao século passado.
  • 8:43 - 8:46
    para ver a força que a eugenia pode ter.
  • 8:47 - 8:49
    O meu pai, Peter Knoepfler,
  • 8:49 - 8:52
    nasceu aqui mesmo em Viena.
  • 8:52 - 8:56
    Era vienense e nasceu aqui em 1929.
  • 8:57 - 9:00
    Quando os meus avós tiveram
    o pequeno bebé Peter,
  • 9:01 - 9:02
    o mundo era muito diferente.
  • 9:02 - 9:04
    Era uma Viena diferente.
  • 9:04 - 9:05
    Os EUA eram diferentes.
  • 9:05 - 9:07
    O mundo era diferente.
  • 9:07 - 9:09
    A eugenia estava a crescer,
  • 9:09 - 9:11
    e meus avós aperceberam-se
  • 9:11 - 9:13
    rapidamente, creio,
  • 9:13 - 9:16
    de que estavam do lado errado
    da equação da eugenia.
  • 9:17 - 9:19
    Então, embora a sua casa fosse aqui
  • 9:19 - 9:21
    e a casa de toda a família,
  • 9:21 - 9:26
    e de esta região ter sido o lar
    da família durante gerações,
  • 9:26 - 9:29
    eles decidiram, por causa da eugenia,
  • 9:29 - 9:30
    que tinham de partir.
  • 9:31 - 9:33
    Eles sobreviveram,
    mas com o coração partido,
  • 9:34 - 9:37
    e não estou certo de que o meu pai
    tenha superado ter deixado Viena.
  • 9:38 - 9:39
    Ele partiu quando tinha apenas oito anos
  • 9:39 - 9:42
    em 1938.
  • 9:43 - 9:46
    Então, hoje, eu vejo uma nova eugenia
  • 9:46 - 9:48
    a borbulhar na superfície.
  • 9:48 - 9:53
    Pretende ser uma eugenia
    amável, gentil, positiva,
  • 9:53 - 9:56
    diferente dessas coisas do passado.
  • 9:56 - 10:01
    Mas acho que, mesmo que o objetivo
    seja melhorar as pessoas,
  • 10:01 - 10:03
    poderá ter consequências negativas,
  • 10:03 - 10:05
    e preocupa-me muito
  • 10:05 - 10:07
    que alguns dos maiores proponentes
    desta nova eugenia
  • 10:08 - 10:11
    pensem que a CRISPR é o passaporte
    para fazer isto acontecer.
  • 10:12 - 10:14
    Assim, tenho que reconhecer, vocês sabem,
  • 10:14 - 10:17
    quando se fala em eugenia,
    fala-se em aperfeiçoar as pessoas.
  • 10:17 - 10:19
    É uma questão complicada.
  • 10:19 - 10:22
    O que é melhor, em termos
    de um ser humano?
  • 10:22 - 10:25
    Mas admito pensar
    que talvez muitos de nós
  • 10:25 - 10:28
    possamos concordar que os seres humanos
  • 10:28 - 10:30
    talvez possam ter um pouco de melhoria.
  • 10:30 - 10:32
    Olhem para os nossos políticos,
  • 10:32 - 10:35
    aqui, vocês sabem, lá nos EUA.
  • 10:35 - 10:38
    Deus me livre de falar sobre isso agora.
  • 10:38 - 10:40
    Talvez, mesmo se nos olharmos no espelho,
  • 10:40 - 10:43
    deve haver maneiras de achar
    que podemos melhorar.
  • 10:43 - 10:47
    Eu gostava, honestamente, de ter
    mais cabelos aqui, em vez de ser careca.
  • 10:48 - 10:50
    Alguns desejariam ser mais altos,
  • 10:50 - 10:53
    ter outro peso ou um rosto diferentes.
  • 10:54 - 10:57
    Se pudermos fazer estas coisas,
    fazer estas coisas acontecerem
  • 10:57 - 11:00
    ou fazê-las acontecer
    com as nossas crianças,
  • 11:00 - 11:02
    isso seria muito sedutor.
  • 11:02 - 11:05
    No entanto, isso seria acompanhado
    por estes riscos.
  • 11:05 - 11:07
    Eu falei sobre a eugenia,
  • 11:07 - 11:10
    mas também há riscos para os indivíduos.
  • 11:10 - 11:12
    Se pusermos de lado
    o aprimoramento das pessoas,
  • 11:12 - 11:17
    e tentarmos apenas torná-las mais
    saudáveis usando a modificação genética,
  • 11:17 - 11:19
    com esta tecnologia tão nova
  • 11:19 - 11:21
    e tão poderosa,
  • 11:21 - 11:24
    poderemos, por acidente,
    tornar as pessoas mais doentes.
  • 11:25 - 11:27
    Isto poderá acontecer facilmente.
  • 11:27 - 11:28
    E há outro risco.
  • 11:28 - 11:33
    Toda a investigação legítima
    e importante da modificação genética
  • 11:33 - 11:34
    que acontece nos laboratórios,
  • 11:34 - 11:37
    repito, sem interesse em bebés projetados,
  • 11:37 - 11:40
    — algumas pessoas a ir
    pelo caminho de projetar bebés —
  • 11:40 - 11:42
    as coisas correm tão mal
  • 11:42 - 11:45
    que poderão pôr tudo em causa.
  • 11:45 - 11:48
    Eu também acho que não é improvável
  • 11:49 - 11:52
    que os governos possam começar
    a ter interesse na modificação genética.
  • 11:53 - 11:58
    Por exemplo, a nossa imaginada criança
    modificada geneticamente, a Jenna,
  • 11:58 - 11:59
    que é mais saudável,
  • 11:59 - 12:03
    se houver uma geração assim,
    haverá menos custo de saúde.
  • 12:03 - 12:07
    É possível que os governos comecem
    a tentar estimular os cidadãos
  • 12:07 - 12:09
    a adotarem a modificação genética.
  • 12:09 - 12:12
    Vejam a política do filho único na China.
  • 12:12 - 12:17
    Calcula-se que evitou o nascimento
    de 400 milhões de seres humanos.
  • 12:18 - 12:21
    Então, não está além da esfera do possível
  • 12:21 - 12:25
    que a modificação genética
    possa ser algo que o governo estimule.
  • 12:25 - 12:29
    E o que acontece, se os bebés projetados
    se tornarem populares,
  • 12:29 - 12:31
    na nossa era digital,
  • 12:31 - 12:33
    com vídeos virais, redes sociais,
  • 12:33 - 12:37
    se os bebés projetados
    se tornassem uma moda,
  • 12:36 - 12:38
    e se tornassem muito famosos,
  • 12:38 - 12:41
    os novos Kardashians ou coisa assim?
  • 12:40 - 12:41
    (Risos)
  • 12:43 - 12:45
    Será que podemos realmente
    controlar estas tendências?
  • 12:46 - 12:48
    Não estou convencido de que possamos.
  • 12:49 - 12:52
    Então, repito, hoje é Halloween
  • 12:52 - 12:54
    e, quando se fala em modificação genética,
  • 12:55 - 12:58
    existe um personagem
    associado ao Halloween
  • 12:58 - 13:00
    de que falamos e lembramo-nos sempre,
  • 13:00 - 13:02
    que é o Frankenstein.
  • 13:03 - 13:07
    Especialmente alimentos modificados
    e todas essas outras coisas.
  • 13:07 - 13:11
    Mas, se pensarmos nisto agora
    no contexto humano,
  • 13:12 - 13:13
    num dia como o Halloween,
  • 13:13 - 13:18
    se os pais podem personalizar
    os seus filhos geneticamente,
  • 13:18 - 13:23
    estamos a falar de algo
    como um Frankenstein 2.0?
  • 13:24 - 13:27
    Não creio, não acho que será
    assim tão radical.
  • 13:28 - 13:31
    Mas, se formos "piratear"
    o código humano,
  • 13:31 - 13:35
    acho que é imprevisível
    em termos do que pode advir disto.
  • 13:35 - 13:37
    Ainda haverá perigos.
  • 13:38 - 13:39
    Podemos olhar para o passado,
  • 13:39 - 13:42
    para outros elementos
    da ciência transformadora
  • 13:43 - 13:46
    e ver como eles podem sair do controlo
  • 13:46 - 13:47
    e invadir a sociedade.
  • 13:48 - 13:52
    Então vou dar um exemplo,
    que é o da fertilização in vitro.
  • 13:52 - 13:56
    Há quase 40 anos,
  • 13:56 - 14:00
    nasceu o primeiro bebé proveta,
    Louise Brown.
  • 14:00 - 14:01
    Foi espetacular,
  • 14:01 - 14:07
    e acho, que desde aí, nasceram
    cinco milhões de bebés proveta,
  • 14:07 - 14:09
    trazendo uma felicidade incomensurável.
  • 14:09 - 14:11
    Muitos pais podem agora
    amar os seus filhos.
  • 14:12 - 14:14
    Mas, se pensarmos nisto, em 40 anos,
  • 14:14 - 14:18
    o nascimento de cinco milhões de bebés
    com base numa nova tecnologia,
  • 14:18 - 14:19
    é realmente incrível,
  • 14:19 - 14:22
    e o mesmo tipo de coisa poderá acontecer
  • 14:22 - 14:25
    com a modificação genética humana
    e bebés projetados.
  • 14:25 - 14:28
    Então, dependendo das decisões
    que tomarmos nos próximos meses,
  • 14:28 - 14:30
    no próximo ano ou assim,
  • 14:31 - 14:33
    se o primeiro bebé projetado nascer,
  • 14:33 - 14:34
    nalgumas décadas
  • 14:34 - 14:38
    poderão muito bem existir milhões
    de humanos geneticamente modificados.
  • 14:38 - 14:42
    E há uma diferença também, porque,
    se nós, vocês no auditório ou eu mesmo,
  • 14:42 - 14:45
    se decidirmos ter bebés projetados,
  • 14:45 - 14:49
    os filhos deles também serão
    geneticamente modificados,
  • 14:49 - 14:51
    porque é uma coisa que se herda.
  • 14:51 - 14:53
    Esta é a grande diferença.
  • 14:54 - 14:55
    Com tudo isto em mente,
  • 14:56 - 14:57
    o que devemos fazer?
  • 14:58 - 15:01
    Na verdade, vai haver uma reunião
  • 15:00 - 15:03
    de amanhã a um mês, em Washington,
  • 15:03 - 15:05
    da Academia Nacional de Ciências dos EUA
  • 15:05 - 15:08
    para discutir esta questão específica.
  • 15:08 - 15:11
    Qual é o caminho certo a seguir
    com a modificação genética humana?
  • 15:12 - 15:16
    Neste momento, acredito
    que precisamos de tempo.
  • 15:16 - 15:18
    Temos de proibir isto.
  • 15:18 - 15:21
    Não devemos permitir a criação
    de pessoas geneticamente modificadas,
  • 15:21 - 15:25
    porque é simplesmente
    muito perigoso e muito imprevisível.
  • 15:25 - 15:27
    Mas existem muitas pessoas...
  • 15:27 - 15:28
    (Aplausos)
  • 15:28 - 15:29
    Obrigado.
  • 15:30 - 15:33
    (Aplausos)
  • 15:36 - 15:38
    Reconheço, como cientista,
  • 15:38 - 15:41
    que é um pouco assustador
    dizer isto em público,
  • 15:41 - 15:46
    porque a ciência geralmente não gosta
    de autorregulação e coisas do tipo.
  • 15:47 - 15:50
    Acredito que precisamos de
    suspender estas investigações,
  • 15:50 - 15:53
    mas há muita gente que não
    só discorda de mim,
  • 15:53 - 15:55
    como vê exatamente o oposto.
  • 15:55 - 15:58
    Eles são do tipo:
    "Acelera, velocidade total.
  • 15:58 - 16:00
    "Vamos fazer bebés projetados".
  • 16:01 - 16:03
    Então, na reunião de dezembro
  • 16:03 - 16:06
    e noutras reuniões que provavelmente
    ocorrerão nos próximos meses,
  • 16:06 - 16:09
    é muito possível
    que não venha a haver adiamento.
  • 16:09 - 16:12
    Acho que parte do problema
  • 16:12 - 16:15
    é que toda esta tendência,
  • 16:15 - 16:19
    esta revolução da modificação genética
    aplicada aos seres humanos
  • 16:19 - 16:20
    é desconhecida do público.
  • 16:20 - 16:22
    Ninguém tem dito:
  • 16:23 - 16:26
    "Vejam, é importante, é revolucionário,
  • 16:26 - 16:28
    "e isto pode afetar-vos diretamente".
  • 16:29 - 16:31
    Parte do meu objetivo
    é de facto mudar isto,
  • 16:31 - 16:34
    educar o public, envolvê-lo
  • 16:34 - 16:37
    e fazer-vos falar sobre isto.
  • 16:38 - 16:41
    Espero que, nessas reuniões,
    haja lugar para o público,
  • 16:42 - 16:44
    para também fazerem ouvir a vossa voz.
  • 16:46 - 16:50
    Se visualizarmos agora 2030,
    aquela história imaginária,
  • 16:51 - 16:54
    dependendo das decisões
    que tomarmos, repito, hoje,
  • 16:54 - 16:56
    literalmente não temos muito tempo,
  • 16:56 - 16:58
    nos próximos meses,
    no próximo ano ou quase,
  • 16:58 - 17:01
    porque esta tecnologia
    está-se a espalhar rapidamente.
  • 17:02 - 17:04
    Vamos imaginar que voltamos
    àquela realidade.
  • 17:05 - 17:06
    Estamos num parque,
  • 17:06 - 17:10
    e o nosso filho está a brincar no baloiço.
  • 17:11 - 17:13
    O nosso filho é um menino natural
  • 17:13 - 17:17
    ou decidimos ter um filho projetado?
  • 17:17 - 17:20
    Digamos que tenhamos seguido
    o caminho tradicional
  • 17:20 - 17:23
    e temos o nosso filho no baloiço,
  • 17:23 - 17:26
    e, francamente, ele está
    longe de ser perfeito.
  • 17:26 - 17:28
    O cabelo não dá para pentear,
    como o meu.
  • 17:28 - 17:30
    O nariz está entupido.
  • 17:31 - 17:33
    Não é o melhor aluno do mundo.
  • 17:33 - 17:35
    É adorável, vocês amam-no,
  • 17:35 - 17:37
    mas, no baloiço ao lado,
  • 17:37 - 17:40
    o melhor amigo dele é um menino
    modificado geneticamente,
  • 17:40 - 17:43
    e os dois estão a baloiçar juntos,
  • 17:43 - 17:45
    e é impossível não compará-los.
  • 17:45 - 17:47
    O menino modificado balança mais alto,
  • 17:47 - 17:50
    tem melhor aspeto, é melhor aluno,
  • 17:50 - 17:53
    não tem o nariz sujo
    que precisa de ser assoado.
  • 17:53 - 17:55
    Como é que vocês se sentem
    em relação a isto
  • 17:56 - 17:58
    e que decisão tomarão da próxima vez?
  • 17:59 - 18:00
    Obrigado.
  • 18:00 - 18:03
    (Aplausos)
Title:
O dilema ético dos bebés projetados
Speaker:
Paul Knoepfler
Description:

Criar pessoas geneticamente modificadas já não é uma fantasia de ficção científica; É um cenário provável no futuro. O biólogo Paul Knoepfler calcula que dentro de quinze anos, os cientistas poderão usar a tecnologia de alteração de genes CRISPR para fazer certos "upgrades" de embriões humanos — alterar aspetos físicos para eliminar o risco de doenças autoimunes. Nesta conversa provocadora, Knoepfler prepara-nos para a próxima revolução de bebés projetados e as suas consequências muito pessoais e imprevisíveis.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:19

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