Como a ecologia profunda nos vai levar à agricultura urbana | Jean-Noël GERTZ | TEDxAnnecy

Jean-Noël Gertz propõe-nos explorar as superfícies de betão e inutilizadas das cidades, nomeadamente os hectares de parqueamento subterrâneos que não estão ocupados, e apropriarmo-nos deles para os explorar e desenvolver a agricultura urbana. Explica como a agricultura moderna pode ser introduzida na cidade para explorar os recantos inutilizados, perto da população que precisa dela.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Seiscentos hectares...

Seiscentos hectares é a superfície
dos parqueamentos subterrâneos

em Paris, dentro de muros.

É enorme e é muito difícil de imaginar.

São seis milhões de metros quadrados.

Em paralelo com a superfície
do vosso apartamento, é gigantesco.

Acontece que é uma superfície equivalente

à que a horticultura ocupava em Paris
entre muros, no século XIX,

há 150 anos, ontem
ou antes de ontem, à escala humana.

Isso dá-nos um grande objetivo
a nós, agricultores urbanos,

agricultores subterrâneos,
agricultores do betão,

ou seja, tentar reconquistar
todo esse espaço

que foi entregue aos veículos
nas nossas megalópoles,

para tentar revitalizar, revegetalizar,

e devolver uma boa parte
da autonomia alimentar às cidades.

É um objetivo que fixamos,
quando fazemos a agricultura,

poder dar às pessoas
os melhores alimentos possíveis

e trabalhar mais perto delas.

Porque eu sou agricultor urbano.

Trabalho num parque subterrâneo
em Paris, Porte de la Chapelle.

Podem dizer:

"Mas o que é que ele faz
num parque subterrâneo?"

Quais são as soluções à nossa disposição

para tentar revitalizar, revegetalizar
uma cidade e repor a agricultura?

É simples, vamos ver o que fez a Natureza

porque, no início, a Terra
era um grande pedregulho.

Portanto, se a Natureza, a vida
conseguiu existir num grande pedregulho,

talvez possamos fazer a mesma coisa
num parque de estacionamento, em betão.

Então, o que é que nós fazemos?

Vamos imitá-la, é o biomimetismo,
vamos tentar inspirarmo-nos nela.

A primeira coisa que apareceu na Terra,

há milhares de milhões de anos,
foram as algas.

É o que nós tentamos
instalar no nosso parque

— isso acontece em abril de 2018 —

neste caso, a espirulina
— talvez já tenham ouvido falar nela —

uma alga bastante mágica
e muito nutritiva.

Já cá está, estamos a tentar instalá-la.

Hoje, o que já temos feito
é instalar cogumelos.

Acontece que eles apareceram na Terra

há pouco mais de mil milhões de anos,
portanto, depois das algas.

São excecionais, porque podem viver
em simbiose com as algas,

ou seja, consomem o oxigénio delas

e as algas consomem
o dióxido de carbono deles.

Temos uma primeira forma
de simbiose, um início de um ecossistema

em vias de se criar no nosso parque,
nas placas de betão.

Vamos procurar um pouco mais longe
o que a Natureza conseguiu fazer

para nos ajudar, uma coisa
que todos os jardineiros conhecem:

as minhocas, que participam
na criação do húmus

e que nos ajudam, no parque
de estacionamento, a fazer composto.

Temos compostos com minhocas
que permitem reciclar

grande parte dos desperdícios
produzidos no local.

Estas minhocas apareceram na Terra
há centenas de milhões de anos.

Portanto, reconstituímos toda a cadeia

que permitiu que a Natureza
exista no nosso planeta.

Depois, com todos esses elementos,
que vivem e interagem entre si,

o objetivo é fazer outros legumes,

por exemplo, legumes com folhas, alfaces.

Está prestes a acontecer,
estamos a instalá-las no local.

Depois, como sobremesa,
serão os frutos.

É preciso esperar um pouco,

alguns anos, até 2020,
mas vamos lá chegar.

Com todas estas técnicas,
conceitos e relações de simbiose,

todas estas sinergias
que desenvolvemos, vamos lá chegar.

Para quebrar a monotonia,
no mês passado,

conseguimos cultivar flores.

Cheiram muito bem e são muito bonitas,

túlipas, flores-de-lis e jacintos.

É agradável para nós e permite
completar este ecossistema.

O conjunto destes ecossistemas
constitui uma nova biosfera,

que constituímos em Paris,
num parque de estacionamento.

Para nós, é muito importante dizer

que esta biosfera
está no centro da nossa cidade,

no centro do local onde as pessoas
vão consumir os nossos produtos.

O que vai acrescentar-se
a esta biosfera

— fala-se muito hoje
de economia circular —

é que vamos aproveitar os recursos,
os desperdícios da cidade

e vamos integrá-los no nosso
sistema agrícola, um agroecossistema.

Todos os desperdícios, as borras do café,
as cascas das cervejarias, o cartão,

vamos integrá-los no nosso sistema,
o que permitirá enriquecê-lo.

Teremos uma reciclagem
de energia positiva.

Assim, atualmente, coabitamos
com a nossa alimentação.

Ela vive no meio da cidade

e é a utopia que estamos
a construir, neste momento.

O que podemos esperar
é que, todos juntos,

coabitando e evoluindo
em conjunto com os alimentos,

vivamos perto dos alimentos
e não o contrário.

Isto chama-se
a "ecologia profunda" de Næss.

adaptada às cidades do século XXI.

É uma enorme mudança de paradigma,

o facto de podermos dizer
que estamos, provavelmente,

no início duma cidade
sustentável e duradoura,

uma coisa em que nunca teríamos
pensado há uns anos.

Portanto, temos a nossa biosfera,
é uma coisa mágica.

A humanidade pode começar a dizer

que talvez haja um futuro para ela
no nosso planeta, é genial.

E ainda por cima,

é que, se conseguirmos inspirar
outros movimentos nesta Terra,

se o nosso movimento for eficaz
e der resultados positivos,

também vamos dar o exemplo
aos nossos filhos.

É um elemento muito importante

querer dar um futuro mais verde,
mais ecológico, aos nossos filhos,

porque, amanhã,

os nossos filhos, os nossos netos,
certamente vão explorar as estrelas

e gostaríamos que pensassem em nós,
que lutámos por um futuro duradouro

e conseguimos coexistir
com o nosso ambiente.

Seria bom pensar que, amanhã,

quando eles partirem
para outros planetas,

abrir novas colónias,

eles não desflorestarão
os planetas que encontrarem.

Seria muito bom.

Obrigado

(Aplausos)