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O que é violência?

  • 0:12 - 0:14
    Dizem que anarquistas são violentos.
  • 0:14 - 0:18
    Há muita prova histórica
    e contemporânea disso.
  • 0:18 - 0:23
    Mas a tendência para a violência não é a
    característica principal dos anarquistas.
  • 0:23 - 0:30
    Assim como não define o que é
    ser liberal, conservador ou cristão...
  • 0:30 - 0:34
    apesar da violência bem maior
    causada por membros desses grupos
  • 0:34 - 0:35
    e suas instituições.
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    Há um motivo para nossos inimigos
    terem taxado os anarquistas de violentos
  • 0:40 - 0:42
    por mais de um século.
  • 0:42 - 0:47
    Nossas ideias são uma ameaça para
    aqueles no poder, e o adjetivo "violento"
  • 0:47 - 0:48
    é usado para nos ostracizar.
  • 0:48 - 0:54
    Para nos mostrar, e por extensão nossas
    ações e crenças, como indesejáveis,
  • 0:54 - 0:55
    antissociais e perigosas.
  • 0:55 - 0:57
    Uma aversão à violência é algo bom.
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    Deveríamos todos almejar a redução
    da violência pelas nossas ações...
  • 1:01 - 1:05
    é inclusive o ethos pro trás
    da maioria da prática anarquista.
  • 1:05 - 1:09
    Isso dito, a violência é parte intrínseca
    da vida.
  • 1:09 - 1:12
    Sempre foi e sempre será.
  • 1:12 - 1:17
    Os seres humanos têm uma capacidade
    para a violência gravada em seu DNA.
  • 1:17 - 1:23
    É justamente essa capacidade, aliada à
    nossa habilidade de resolver problemas complexos
  • 1:23 - 1:27
    e à ajuda mútua, que nos dá acesso à
    nossa posição no topo do reino animal,
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    e à redução da dura e incrivelmente
    violenta realidade do mundo natural.
  • 1:31 - 1:37
    E apesar de todos os avanços ao longo
    dos milênios de civilização, nossas
    sociedades
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    e economias complexas ainda são muito
    dependentes do uso maciço e sistemático
  • 1:42 - 1:44
    da violência para funcionarem.
  • 1:44 - 1:49
    Compreender e aceitar essa realidade
    é o primeiro passo para mudá-la.
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    Então... O que é violência?
  • 1:51 - 1:54
    E o que isso tem a ver com anarquia?
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    Por ser um termo muito comum e muito
    carregado, há diferentes definições
  • 1:58 - 2:01
    para violência,
    dependendo de quem responder.
  • 2:01 - 2:05
    E vale apena notar que o que é considerado
    violento para um pode
  • 2:05 - 2:07
    não ser para outro.
    Isso dito,
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    a violência é geralmente definida
    como uma ação que cause choque ou dor
  • 2:12 - 2:14
    para outro ser senciente.
  • 2:14 - 2:19
    Muita vezes descreve um ato ou força
    que garanta controle sobre outra pessoa,
  • 2:19 - 2:24
    mas pode ser indireto também,
    via hierarquias
  • 2:24 - 2:27
    e codificada em regras arbitrárias.
  • 2:27 - 2:33
    A violência pode ser física ou psicológica.
    Na maioria das vezes é ambos.
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    Quando ouvem a palavra violência,
    a maioria das pessoas pensa
  • 2:36 - 2:39
    no uso de ameaça por força física.
  • 2:39 - 2:44
    Seja com um soco, um tiroteio em massa,
    violência doméstica,
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    uma ameaça de morte, um estupro, uma
    notícia sensacionalista sobre um assalto,
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    ou um debate sobre tática, este é o leque
    de violência que todos entendem.
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    Talvez tenhamos vivido algo específico,
    ou sido testemunha.
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    Talvez não.
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    De qualquer maneira, sabemos
    o que é sentir dor.
  • 3:02 - 3:06
    Podemos nos identificar com o choque
    repentino de um perigo inesperado.
  • 3:06 - 3:11
    Este tipo de violência vibra com nossas
    próprias experiências passadas de trauma.
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    Esta empatia é o núcleo para usar
    discursos sobre violência para isolar,
  • 3:17 - 3:23
    criminalizar, desumanizar e oprimir
    indivíduos específicos, ideias
  • 3:23 - 3:24
    e grupos inteiros de pessoas.
  • 3:24 - 3:29
    Narrativas seletivas e o uso de imagens
    violentas se tornam armas para manipular
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    a opinião pública, polarizar, e justificar
    várias medidas em nome da segurança.
  • 3:35 - 3:36
    Será hora
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    de classificar antifa como
    grupo terrorista?
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    Burnie carrick foi chefe de polícia
    de nova iorque, ajudou a criar uma
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    força-tarefa.
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    Delegado, como classifica esse grupo?
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    O espectro do terrorismo é o exemplo
    mais claro, mas há outros jeitos
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    e estereótipos que moldam nosso
    entendimento do mundo,
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    amplificando ameaças além da realidade,
    ou forjando-as onde não existem.
  • 4:01 - 4:06
    A percepção popular da violência é
    moldada pela elite, pelo seu controle
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    sobre as grandes mídias, a educação
    pública e o sistema judiciário.
  • 4:11 - 4:16
    O esquema específico varia de acordo com
    aspectos da política local, a demografia,
  • 4:16 - 4:20
    a cultura... mas a constante é o
    enquadramento de quem denunciar
  • 4:20 - 4:26
    a autoridade como criminalmente violenta,
    de um lado, e a glorificação da violência
  • 4:26 - 4:29
    estatal como contrapeso necessário,
    do outro lado.
  • 4:29 - 4:34
    O objetivo dessa ótica enviesada é esconder
    o fato de que estados são responsáveis
  • 4:34 - 4:36
    pela maioria imensa da violência no mundo.
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    Na verdade, quando se descascam as
    camadas de burocracia e de mitologia
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    apologética, é isso que o estado
    realmente é: um sistema altamente
    estruturado de violência organizada.
  • 4:48 - 4:52
    Nas linhas de frente dessa violência,
    a polícia, os soldados e paramilitares
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    cometem atrocidades numa escala
    além do escopo e da capacidade
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    até do mais sádico individual ou conjunto
    de terroristas, muito menos dos atos
  • 5:03 - 5:05
    escandalosos reivindicados
    por anarquistas.
  • 5:05 - 5:10
    Como poderia uma janela quebrada e um
    soco num nazi serem comparados
  • 5:10 - 5:16
    com o bombardeio de uma cidade, ou
    o "interrogatório avançado" de um inimigo?
  • 5:16 - 5:21
    O que é o assassinato de um rei ou um
    policial particularmente brutal, comparado
  • 5:21 - 5:24
    com a colonização ou a ameaça
    de guerra nuclear?
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    A violência de um estado é legitimada
    pelas suas instituições,
  • 5:29 - 5:33
    sejam elas fantasiadas de democracia
    ou a autoridade inquestionável do poder
  • 5:33 - 5:34
    de uma dinastia.
  • 5:34 - 5:39
    As mesmas instituições mantêm
    a violência do mercado dito "livro",
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    destruindo ecossistemas e condenando
    as massas à escolha
  • 5:44 - 5:46
    entre trabalho ou fome.
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    Para proteger a lógica infalível desse
    mercado, os estados aprisionam e regulam
  • 5:51 - 5:54
    o fluxo de seres humanos
    na travessia de linhas imaginárias.
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    Com a desculpa de proteção das fronteiras,
    milhares de pessoas desesperadas são
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    sacrificadas todo ano no deserto de sonora
    e nas profundezas do mediterrâneo,
  • 6:03 - 6:07
    enquanto outras centenas de milhares
    são amontoadas na relativa segurança
  • 6:07 - 6:08
    da sujeira de campos de concentração.
  • 6:08 - 6:12
    Então, o que devemos fazer diante
    desse nível de violência?
  • 6:12 - 6:18
    Quando alguém está sendo atacado, todos,
    a não ser os mais extremistas pacifistas,
  • 6:18 - 6:24
    geralmente concordam que é moralmente
    aceitável o uso da violência para defesa.
  • 6:24 - 6:30
    Porque então isso não se aplica
    à imensa violência do estado?
  • 6:30 - 6:35
    Fomentar a legitimidade da violência
    defensiva é chave
    numa estratégia revolucionária.
  • 6:35 - 6:40
    Mesmo quando a violência defensiva
    é um ataque a uma pessoa
  • 6:40 - 6:44
    ou contra uma instituição
    que nos oprime.
  • 6:44 - 6:48
    O anarquista italiano errico malatesta
    deixou clara sua postura nessa questão,
  • 6:48 - 6:53
    declarando que "o escravo está sempre
    num estado de legítima defesa, assim
  • 6:53 - 6:58
    sua violência contra o patrão, o opressor,
    é sempre moralmente justificada...
  • 6:58 - 7:03
    e deveria ser ajustada apenas pelo critério
    de utilidade e economia de esforços e sofrimento."
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    O revolucionário pan-africano frantz fanon
    foi adiante, observando que a violência
  • 7:12 - 7:16
    de povos colonizados contra seus mestres
    oferecia um caminho para a realização
  • 7:16 - 7:22
    de seu valor como indivíduos, notando que
    "no momento em que os colonizados
  • 7:22 - 7:26
    descobrem sua humanidade, começam a
    afiar suar armas para assegurar a vitória."
  • 7:26 - 7:31
    A verdade histórica permeia a herança
    das resistências armadas dos mohawks
  • 7:31 - 7:35
    de kanesatake, e dos zapatistas na selva
    de chiapas, lutas que ajudaram
  • 7:35 - 7:41
    a consolidar a resistência indígena em
    territórios dominados pelos estados
    canadense e mexicano.
  • 7:41 - 7:45
    Permeia toda vez que o oprimido e
    o explorado deste mundo põem um limite
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    e se preparam a defendê-lo
    por qualquer meio necessário.
  • 7:50 - 7:56
    Vale ressaltar que a violência muitas vezes
    tem consequências reais devastadoras,
  • 7:56 - 7:59
    e deveria ser evitada sempre que possível.
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    Não é algo que pode ser romantizado,
    celebrado, considerado bonito,
  • 8:05 - 8:08
    ou se tornar uma atividade fim.
  • 8:08 - 8:12
    Especialistas estatais em contrainsurgência
    há muito reconhecem que para analisar
  • 8:12 - 8:17
    o potencial de uma rebelião, fatores como
    a força da relações sociais, os métodos
  • 8:17 - 8:22
    de organização e a habilidade de espalhar
    o conflito são mais decisivos do que
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    o resultado de qualquer batalha específica.
  • 8:24 - 8:29
    Edificar essas qualidades e características
    não requer apelo para a violência
  • 8:29 - 8:31
    nenhum.
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    Mas se nada funcionar, a capacidade para
    a violência é um componente essencial
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    para defender a autonomia.
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    E mesmo que autonomia real não seja
    algo que os chamados "progressistas",
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    que têm fetiche por não violência, tenham
    interesse, forma a base da anarquia,
  • 8:50 - 8:53
    e de toda revolução que mereça esse nome.
Title:
O que é violência?
Description:

Nossa sociedade depende fortemente da violência para funcionar. Estados tentam manter o monopólio da violência e sempre acham novas formas de legitimar o uso da força, enquanto povos lutando contra a dominação também podem usar da violência para confrontar os sistemas hierárquicos que os oprimem. Mesmo que debates sobre violência e táticas são reacendidos toda vez que alguém decide se rebelar, a necessidade de ataques físicos sobre o poder não podem ser ignorada. Então, o que é violência exatamente, e como funciona no mundo?

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Video Language:
English
Duration:
09:08

Portuguese, Brazilian subtitles

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