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Porque é que a linguagem é a maior invenção da Humanidade

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    Colheres.
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    Caixas de cartão.
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    Comboios elétricos para crianças.
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    Ornamentos de Natal.
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    Castelos insufláveis.
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    Cobertores.
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    Cestos.
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    Tapetes.
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    Mesas-bandejas.
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    "Smartphones".
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    Pianos.
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    Colchas.
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    Fotografias.
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    O que têm em comum todas estas coisas
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    para além de serem fotos
    que tirei nos últimos três meses?
  • 0:32 - 0:34
    E, portanto, detenho os direitos de autor.
  • 0:34 - 0:35
    (Risos)
  • 0:36 - 0:40
    Todas elas são invenções
    criadas com o benefício da linguagem.
  • 0:41 - 0:43
    Nenhuma destas coisas
    existiria sem a linguagem.
  • 0:43 - 0:45
    Imaginem criar qualquer daquelas coisas
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    ou construir um edifício como este
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    sem poder usar uma língua
  • 0:51 - 0:55
    ou sem beneficiar dos conhecimentos
    adquiridos pelo uso da linguagem.
  • 0:55 - 1:00
    A linguagem é a coisa
    mais importante do mundo.
  • 1:00 - 1:03
    Todas as civilizações assentam nela.
  • 1:03 - 1:06
    E os que dedicam a vida a estudá-la
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    — a forma como nasceu a linguagem,
    como as línguas humanas são diferentes
  • 1:11 - 1:14
    como são diferentes dos sistemas
    de comunicação dos animais —
  • 1:14 - 1:15
    são os linguistas.
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    A linguística formal é um campo
    relativamente recente
  • 1:19 - 1:23
    que tem feito muitas descobertas
    muito importantes.
  • 1:23 - 1:26
    Como, por exemplo, que os sistemas
    humanos de comunicação
  • 1:26 - 1:30
    são extremamente diferentes
    dos sistemas de comunicação dos animais.
  • 1:30 - 1:32
    e que todas as línguas
    são igualmente expressivas
  • 1:32 - 1:34
    apesar de se exprimirem
    de formas diferentes.
  • 1:34 - 1:39
    Apesar disso, há muitas pessoas
  • 1:39 - 1:42
    que adoram gabar-se
    de conhecer uma língua
  • 1:42 - 1:45
    como se a conhecessem tão bem
    como um linguista,
  • 1:45 - 1:48
    só porque falam essa língua.
  • 1:48 - 1:49
    E, quem fala uma língua,
  • 1:49 - 1:52
    tem tanto direito de falar
    da sua função como qualquer outro.
  • 1:52 - 1:55
    Imaginem que estão a falar
    com um cirurgião e lhe dizem:
  • 1:55 - 1:58
    "Escute, amigo.
    Eu tenho um coração há 40 anos.
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    "Acho que sei uma ou duas coisas
    sobre substituição de válvulas aórticas.
  • 2:02 - 2:04
    "Penso que a minha opinião
    é tão válida como a sua".
  • 2:04 - 2:06
    É exatamente o que sucede.
  • 2:06 - 2:08
    Este é Neil deGrasse Tyson a dizer
  • 2:08 - 2:12
    que, no filme "O Primeiro Encontro",
    ele teria levado um criptógrafo
  • 2:12 - 2:16
    — um especialista que sabe decifrar
    uma mensagem numa língua que já conhece —
  • 2:16 - 2:18
    em vez de um linguista,
  • 2:18 - 2:20
    para comunicar com os extraterrestres,
  • 2:20 - 2:23
    porque, como é que um linguista
    seria útil a falar com alguém
  • 2:23 - 2:26
    que fala uma língua que não conhecemos?
  • 2:26 - 2:29
    Claro, o filme "O Primeiro Encontro'
    não deixa de ter culpas.
  • 2:29 - 2:30
    Quer dizer, o filme...
  • 2:30 - 2:33
    Os extraterrestres chegam
    ao nosso planeta em naves gigantes
  • 2:33 - 2:37
    com o único objetivo de comunicar connosco
  • 2:37 - 2:39
    e contratamos um linguista?
  • 2:39 - 2:41
    (Risos)
  • 2:41 - 2:43
    O governo americano
    estava a tentar poupar dinheiro?
  • 2:43 - 2:44
    (Risos)
  • 2:45 - 2:48
    Muitas destas coisas podem
    levar a equívocos
  • 2:48 - 2:50
    tanto sobre o que é uma língua
  • 2:50 - 2:53
    como sobre o que é a linguística,
    o estudo formal duma língua.
  • 2:53 - 2:58
    Penso que há qualquer coisa
    que está subjacente a estes equívocos
  • 2:58 - 3:02
    que se podem resumir
    neste delicioso artigo da Forbes,
  • 3:02 - 3:06
    sobre porque é que os estudantes
    não deviam aprender línguas estrangeiras.
  • 3:06 - 3:09
    Vou extrair daqui algumas passagens
  • 3:09 - 3:11
    e gostava que tentassem imaginar
  • 3:11 - 3:14
    o que está subjacente
    a estas opiniões e ideias.
  • 3:15 - 3:19
    "Os americanos raramente
    leem os clássicos, mesmo em traduções".
  • 3:19 - 3:22
    Por outras palavras, porquê
    aprender uma língua estrangeira
  • 3:22 - 3:25
    se eles nem sequer leem
    os clássicos no original?
  • 3:25 - 3:26
    Qual é o interesse?
  • 3:26 - 3:29
    "... estudar línguas estrangeiras
    na escola, é uma perda de tempo
  • 3:29 - 3:33
    "em comparação com outras coisas
    que se podem fazer na escola!"
  • 3:34 - 3:36
    "... a Europa tem muitos grupos de línguas
  • 3:36 - 3:39
    "apinhadas num espaço
    relativamente pequeno".
  • 3:39 - 3:42
    Para os americanos: "Qual é o interesse
    de aprender outra língua?
  • 3:42 - 3:44
    Não compensa o dinheiro investido.
  • 3:44 - 3:46
    Esta é a minha preferida.
  • 3:46 - 3:49
    "Um estudante em Birmingham
    tem de viajar milhares de quilómetros
  • 3:49 - 3:51
    "para chegar à fronteira do México.
  • 3:51 - 3:53
    "Mas, mesmo aí, haverá
    gente suficiente que fale inglês".
  • 3:54 - 3:55
    (Risos)
  • 3:55 - 3:57
    Por outras palavras,
    se pudermos acenar
  • 3:57 - 3:59
    e chegar onde queremos ir,
  • 3:59 - 4:01
    não há qualquer interesse
    em aprender outra língua.
  • 4:01 - 4:06
    O que está subjacente em muitas
    destas atitudes é a metáfora conceptual
  • 4:06 - 4:09
    de que a Língua é uma Ferramenta.
  • 4:09 - 4:12
    E há qualquer coisa que soa
    como verdade nesta metáfora.
  • 4:12 - 4:13
    A língua é uma espécie de ferramenta
  • 4:13 - 4:17
    porque, se soubermos a língua local,
    fazemos mais do que se não soubermos
  • 4:17 - 4:20
    Mas a implicação é que
    a língua é apenas uma ferramenta,
  • 4:20 - 4:22
    e isso é totalmente falso.
  • 4:22 - 4:25
    Se a língua fosse uma ferramenta,
    seria uma ferramenta muito fraca
  • 4:25 - 4:28
    e tê-la-íamos abandonado há muito
    por qualquer outra coisa muito melhor.
  • 4:28 - 4:31
    Pensem numa frase qualquer.
  • 4:31 - 4:33
    De certeza, já disseram:
    "Ontem vi o Kyn".
  • 4:33 - 4:35
    Tenho um amigo chamado Kyn.
  • 4:35 - 4:37
    Quando eu digo esta frase:
    "Ontem vi o Kyn",
  • 4:37 - 4:40
    acham que se dá o caso
  • 4:40 - 4:43
    que tudo no meu espírito
    passou parao vosso espírito,
  • 4:43 - 4:45
    através desta frase?
  • 4:45 - 4:47
    Dificilmente, porque passam-se
    muitas outras coisas.
  • 4:47 - 4:49
    Quando digo "ontem",
  • 4:49 - 4:51
    posso pensar como estava o tempo
    ontem, porque estava lá.
  • 4:51 - 4:53
    E, se me lembrar,
  • 4:53 - 4:55
    talvez me lembre que me esqueci
    de pôr algo no correio.
  • 4:55 - 4:59
    Isto foi uma frase planeada,
    mas esqueci-me mesmo.
  • 4:59 - 5:01
    Isso significa que vou ter
    de o enviar segunda-feira
  • 5:01 - 5:04
    porque é quando regresso a casa.
  • 5:04 - 5:06
    E, claro, quando penso em segunda-feira,
  • 5:06 - 5:09
    penso em "Manic Monday",
    uma ótima canção das Bangles.
  • 5:09 - 5:13
    Quando digo a palavra "vi",
    penso nesta frase:
  • 5:13 - 5:17
    "Eu vejo! [see]" disse o cego, quando
    agarrou no martelo e serrou [saw]".
  • 5:17 - 5:20
    Sempre que oiço a palavra "saw"
    ou a digo, penso sempre nisto
  • 5:20 - 5:22
    porque o meu avô dizia sempre isso
  • 5:22 - 5:23
    por isso, recordo o meu avô.
  • 5:23 - 5:26
    E voltamos a "Manic Monday",
    não sei porquê.
  • 5:26 - 5:29
    Quando digo: "Ontem vi o Kyn",
  • 5:30 - 5:33
    penso nas circunstâncias em que o vi.
  • 5:33 - 5:36
    Acontece que foi nesse dia.
    Aqui está ele com o meu gato.
  • 5:36 - 5:38
    E, claro, se penso no Kyn,
  • 5:38 - 5:40
    penso que ele vai agora
    para o Estado de Long Beach
  • 5:40 - 5:43
    e vou lembrar-me do meu
    amigo John e da minha mãe
  • 5:43 - 5:45
    que se formaram ambos
    no Estado de Long Beach,
  • 5:45 - 5:48
    da minha prima Katie que vai
    agora para Long Beach.
  • 5:48 - 5:49
    E voltamos a "Manic Monday".
  • 5:49 - 5:52
    Mas isto é só uma fração
    do que se passa na nossa cabeça
  • 5:52 - 5:54
    sempre que estamos a falar.
  • 5:55 - 5:57
    E tudo o que temos para representar
    toda esta misturada
  • 5:57 - 5:59
    que se passa na nossa cabeça
  • 5:59 - 6:01
    é isto.
  • 6:01 - 6:02
    (Risos)
  • 6:02 - 6:05
    É de admirar que
    o nosso sistema seja tão pobre?
  • 6:05 - 6:08
    Posso dar-vos uma analogia.
  • 6:08 - 6:11
    Imaginem que, se quiserem saber
    qual o sabor de um bolo,
  • 6:11 - 6:14
    em vez de comer o bolo,
  • 6:14 - 6:16
    tivessem de ingerir
    os ingredientes de um bolo,
  • 6:16 - 6:19
    um por um, juntamente com a receita
  • 6:19 - 6:23
    sobre como os ingredientes
    se combinam para formar o bolo.
  • 6:23 - 6:25
    Também tinham de comer as instruções.
  • 6:25 - 6:26
    (Risos)
  • 6:26 - 6:29
    Se fosse assim que tínhamos
    de saborear o bolo,
  • 6:29 - 6:31
    nunca comeríamos bolo.
  • 6:31 - 6:34
    Contudo, a linguagem
    é a única forma — a única —
  • 6:34 - 6:38
    em que podemos imaginar
    o que se passa na nossa cabeça.
  • 6:38 - 6:40
    É a nossa interioridade,
  • 6:40 - 6:42
    a coisa que nos torna humanos,
  • 6:42 - 6:45
    o que nos torna diferentes
    dos outros animais.
  • 6:45 - 6:47
    Está tudo aqui dentro algures
  • 6:47 - 6:51
    e, para o representar,
    só temos as nossas línguas.
  • 6:51 - 6:54
    A língua é a melhor forma de mostrar
    o que se passa na nossa cabeça.
  • 6:54 - 6:56
    Imaginem que eu queria
    fazer uma pergunta, tipo:
  • 6:56 - 6:59
    "Qual é a natureza do pensamento
    humano e da emoção?"
  • 6:59 - 7:00
    O que poderiam fazer,
  • 7:00 - 7:03
    seria examinarem
    tantas línguas diferentes
  • 7:03 - 7:04
    quanto possível.
  • 7:05 - 7:06
    Uma não seria suficiente.
  • 7:07 - 7:08
    Para vos dar um exemplo,
  • 7:08 - 7:11
    tenho aqui uma foto de Roman
  • 7:11 - 7:14
    que tirei com uma câmara
    de 12 megapixels
  • 7:14 - 7:17
    Esta é a mesma fotografia
    com muito menos pixéis.
  • 7:17 - 7:21
    Obviamente, nenhuma
    destas fotos é um gato real.
  • 7:21 - 7:24
    Mas uma presta-nos um serviço
    muito melhor do que é um gato,
  • 7:24 - 7:25
    do que a outra.
  • 7:26 - 7:30
    A língua não é só uma ferramenta,
    é o nosso património.
  • 7:30 - 7:33
    É a nossa forma de transmitir
    o que significa ser humano.
  • 7:33 - 7:37
    Claro, por "nosso" património
    quero dizer todos os seres humanos.
  • 7:37 - 7:42
    E perder nem que seja uma só língua
    torna a imagem menos clara.
  • 7:42 - 7:46
    Assim, o meu trabalho durante
    os últimos 10 anos,
  • 7:46 - 7:49
    e também por diversão,
  • 7:49 - 7:51
    criei línguas.
  • 7:51 - 7:53
    Chamam-se "conlangs",
  • 7:53 - 7:55
    uma abreviatura para
    "línguas construídas".
  • 7:56 - 7:58
    Apresentando estes factos consecutivos
  • 7:58 - 8:00
    de que estamos a perder línguas
    no nosso planeta
  • 8:00 - 8:02
    e que crio línguas novas,
  • 8:02 - 8:05
    podem pensar que há uma relação
    não superficial entre estas duas coisas.
  • 8:05 - 8:08
    Na verdade, muitas pessoas
    juntaram estes pontos.
  • 8:08 - 8:10
    Este é um tipo que ficou desesperado
  • 8:10 - 8:13
    porque havia uma "conlang"
    em "Avatar" de James Cameron.
  • 8:13 - 8:14
    Ele diz:
  • 8:14 - 8:16
    "Nos três anos que James Cameron
  • 8:16 - 8:19
    "demorou a fazer Avatar,
    morreu uma língua".
  • 8:19 - 8:21
    Provavelmente, muito mais do que isso.
  • 8:21 - 8:25
    "Na'vi, infelizmente, não vai preencher
    o vazio que se criou..."
  • 8:25 - 8:27
    Uma afirmação profunda e pungente
  • 8:27 - 8:29
    se nunca pensaram nisso.
  • 8:29 - 8:30
    (Risos)
  • 8:30 - 8:33
    Mas quando eu estava
    aqui na Califórnia,
  • 8:33 - 8:35
    completei dois mestrados.
  • 8:35 - 8:37
    Um em Linguística,
    e o outro em Inglês.
  • 8:37 - 8:40
    Claro que o mestrado em Inglês
    o estudo do inglês,
  • 8:40 - 8:42
    não é o estudo da língua
    inglesa, como a conhecem,
  • 8:42 - 8:44
    É o estudo da literatura.
  • 8:44 - 8:46
    A literatura é uma coisa maravilhosa
  • 8:46 - 8:49
    porque a literatura
    é mais como uma espécie de arte.
  • 8:49 - 8:51
    Cai sob a rubrica da arte.
  • 8:52 - 8:53
    O que se faz na literatura
  • 8:53 - 8:58
    é que os autores criam seres novos,
    e histórias novas,
  • 8:58 - 9:01
    É interessante vermos
  • 9:01 - 9:06
    o tipo de profundidade e emoção
    e o espírito especial
  • 9:06 - 9:09
    que os autores podem investir
    nestes seres de ficção.
  • 9:09 - 9:11
    De tal maneira que...
    reparem nisto.
  • 9:12 - 9:14
    Há toda uma série de livros
  • 9:14 - 9:16
    que escrevem sobre
    as personagens de ficção.
  • 9:16 - 9:20
    Um livro inteiro só acerca
    de um ser humano inventado.
  • 9:20 - 9:22
    Há um livro inteiro
    sobre George F. Babbitt,
  • 9:22 - 9:24
    do Babbitt, de Sinclair Lewis
  • 9:24 - 9:27
    que ainda é maior do que o Babbitt
  • 9:27 - 9:28
    que é um livro pequeno.
  • 9:28 - 9:30
    Alguém se lembra desse livro?
  • 9:30 - 9:32
    É muito bom. Ainda é melhor
    do que "Rua Principal".
  • 9:32 - 9:34
    É a minha opinião.
  • 9:34 - 9:38
    Nunca questionámos o facto
    de a literatura ser interessante.
  • 9:39 - 9:40
    Mas, apesar disso,
  • 9:40 - 9:44
    nem os linguistas estão interessados
    no que as línguas criadas nos podem dizer
  • 9:44 - 9:48
    sobre a profundidade do espírito humano
    enquanto esforço artístico.
  • 9:48 - 9:51
    Vou dar-vos um pequeno exemplo.
  • 9:51 - 9:54
    Houve um artigo
    que escreveram sobre mim
  • 9:54 - 9:57
    na revista dos antigos alunos
    da Califórnia, há uns tempos.
  • 9:57 - 9:59
    Quando escreveram esse artigo,
  • 9:59 - 10:01
    quiseram arranjar alguém
    do lado oposto
  • 10:01 - 10:03
    o que parece uma coisa estranha.
  • 10:03 - 10:05
    Estamos a falar duma pessoa
  • 10:05 - 10:08
    e queremos arranjar alguém
    opositor a essa pessoa?
  • 10:08 - 10:09
    (Risos)
  • 10:10 - 10:12
    É esquisito, mas adiante.
  • 10:14 - 10:15
    Acabaram por arranjar
  • 10:15 - 10:18
    um dos linguistas mais brilhantes da época
  • 10:18 - 10:20
    George Lakoff, um linguista
    aqui de Berkeley.
  • 10:21 - 10:24
    O trabalho dele alterou para sempre
    a área da linguística
  • 10:24 - 10:26
    e da ciência cognitiva.
  • 10:26 - 10:29
    Quando lhe falaram do meu trabalho
    e da criação de línguas em geral, disse:
  • 10:29 - 10:32
    "Há muito a fazer no estudo das línguas.
  • 10:32 - 10:35
    "Devíamos dedicar o tempo
    a coisas reais".
  • 10:35 - 10:36
    Pois é.
  • 10:36 - 10:39
    "Coisas reais". Isto faz-vos
    lembrar alguma coisa?
  • 10:39 - 10:42
    Para usar esta moldura
    que ele inventou,
  • 10:42 - 10:45
    vou voltar a referir
    aquela metáfora conceptual:
  • 10:45 - 10:47
    "a linguagem é uma ferramenta".
  • 10:47 - 10:50
    Parece que ele está a elaborar
    sob esta metáfora conceptual,
  • 10:50 - 10:54
    ou seja, a linguagem é útil
    quando usada em comunicação.
  • 10:54 - 10:58
    A linguagem não tem valor
    quando não é usada em comunicação.
  • 10:58 - 11:01
    Leva-nos a pensar: Que fazer
    com as línguas mortas?
  • 11:01 - 11:02
    Mas, adiante.
  • 11:02 - 11:03
    Por causa desta ideia,
  • 11:04 - 11:07
    pode parecer o cúmulo do absurdo
  • 11:07 - 11:11
    ter um curso Duolingo
    em língua alto valiriana
  • 11:11 - 11:13
    que eu criei para
    "Guerra dos Tronos" da HBO.
  • 11:13 - 11:17
    Poderão pensar o que é
    que as 740 000 pessoas estão a aprender.
  • 11:17 - 11:19
    (Risos)
  • 11:20 - 11:22
    Vamos ver.
  • 11:22 - 11:24
    O que é que estão a aprender?
  • 11:24 - 11:26
    O que é que poderão estar a aprender?
  • 11:27 - 11:29
    Tendo em atenção que
    a outra língua para isto
  • 11:29 - 11:32
    é para as pessoas que falam inglês,
  • 11:32 - 11:34
    estes estão a aprender muito.
  • 11:34 - 11:37
    Esta é uma frase que, provavelmente,
    nunca usarão para comunicação
  • 11:37 - 11:38
    durante toda a vida:
  • 11:38 - 11:40
    "Vala ābre urnes."
  • 11:40 - 11:42
    "O homem vê a mulher".
  • 11:42 - 11:44
    A linha do meio é a interpretação,
  • 11:44 - 11:46
    portanto, é palavra a palavra
    o que ali se diz.
  • 11:46 - 11:48
    Estão a aprender coisas
    muito fascinantes,
  • 11:48 - 11:50
    especialmente se falam inglês.
  • 11:50 - 11:53
    Aprendem que um verbo
    pode ficar no fim duma frase.
  • 11:53 - 11:55
    Não se faz isso em inglês
    quando temos dois substantivos.
  • 11:55 - 11:58
    Aprendem que, por vezes,
  • 11:58 - 12:01
    uma língua não tem equivalente
    para o artigo "o" — está ausente.
  • 12:01 - 12:03
    É uma coisa que acontece
    nalgumas línguas.
  • 12:03 - 12:07
    Aprendem que uma vogal longa
    pode ter uma duração mais longa
  • 12:07 - 12:09
    em oposição a diferente na qualidade,
  • 12:09 - 12:11
    como acontece
    com as nossas vogais longas:
  • 12:11 - 12:13
    têm sempre a mesma duração.
  • 12:13 - 12:16
    Aprendem que há pequenas inflexões.
  • 12:16 - 12:17
    Hum? Humm?
  • 12:17 - 12:21
    Há inflexões chamadas "casos"
    no final dos nomes
  • 12:21 - 12:22
    (Risos)
  • 12:22 - 12:25
    que nos diz quem faz
    o quê a quem, numa frase.
  • 12:25 - 12:27
    Mesmo que deixemos a ordem
    das palavras na mesma
  • 12:27 - 12:30
    mas mudemos as pontas,
  • 12:30 - 12:32
    isso altera quem faz o quê.
  • 12:32 - 12:38
    Aprendem que as línguas fazem coisas,
    as mesmas coisas, de forma diferente.
  • 12:38 - 12:41
    E que aprender línguas pode ser divertido.
  • 12:42 - 12:46
    Aprendem o respeito
    pela Língua, com letra maiúscula.
  • 12:46 - 12:50
    E dado que 88% dos americanos
    só fala inglês, em casa,
  • 12:50 - 12:53
    penso que não é uma coisa má.
  • 12:53 - 12:57
    Sabem porque é que as línguas
    morrem no nosso planeta?
  • 12:57 - 13:02
    Não é porque o governo imponha
    uma língua a um grupo mais pequeno
  • 13:02 - 13:05
    nem porque desapareça
    um grupo inteiro de falantes.
  • 13:05 - 13:08
    Isso aconteceu no passado
    e está a acontecer hoje,
  • 13:08 - 13:10
    mas não é a razão principal
  • 13:10 - 13:13
    A razão principal é que
    nasce uma criança numa família
  • 13:13 - 13:17
    que fala uma língua que não é
    muito falada na sua comunidade
  • 13:17 - 13:18
    e essa criança não a aprende.
  • 13:19 - 13:20
    Porquê?
  • 13:20 - 13:24
    Porque essa língua não é
    valorizada na sua comunidade.
  • 13:24 - 13:26
    Porque essa língua não é útil.
  • 13:26 - 13:31
    Porque a criança não arranjará
    trabalho, se falar essa língua.
  • 13:31 - 13:34
    Porque se a língua
    é apenas uma ferramenta,
  • 13:35 - 13:38
    aprender a sua língua nativa
  • 13:38 - 13:40
    é tão útil como aprender alto valiriano.
  • 13:40 - 13:43
    Por isso, para quê preocupar-se?
  • 13:47 - 13:51
    Talvez o estudo duma língua
    não acarrete mais fluência linguística.
  • 13:51 - 13:54
    Mas talvez isso não seja grande problema.
  • 13:54 - 13:57
    Talvez, se mais pessoas
    estudassem mais línguas,
  • 13:57 - 14:00
    isso levasse a uma maior
    tolerância linguística
  • 14:00 - 14:02
    e a menos imperialismo linguístico.
  • 14:02 - 14:05
    Talvez que, se respeitarmos
    a língua por aquilo que ela é
  • 14:05 - 14:09
    — a maior invenção
    da História da Humanidade —
  • 14:10 - 14:11
    então, no futuro,
  • 14:11 - 14:15
    possamos celebrar línguas ameaçadas
    como línguas vivas,
  • 14:15 - 14:17
    e não como peças de museu.
  • 14:17 - 14:19
    (Em alto valiriano) Kirimvose.
    Obrigado.
  • 14:19 - 14:20
    (Aplausos)
Title:
Porque é que a linguagem é a maior invenção da Humanidade
Speaker:
David Peterson
Description:

A civilização assenta na existência da linguagem, diz David Peterson, criador de línguas. Numa palestra que equilibra a paixão e o humor, mostra como estudar, preservar e inventar línguas nos ajuda a compreender a nossa humanidade coletiva — e dá uma rápida lição de alto valiriano, uma das duas línguas que ele criou para "Guerra dos Tronos" (juntamente com Dothraki), Diz que "A língua não é apenas uma ferramenta. É o nosso património. É a nossa forma de transmitir o que significa ser humano".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:33

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