Como ouvir com atenção.
-
0:01 - 0:04Não tenho bem a certeza
se me apetece ver -
0:04 - 0:07uma caixa às nove da manhã.
-
0:07 - 0:08(Risos)
-
0:08 - 0:12Apesar disso, é formidável
ver a sala assim tão cheia, -
0:12 - 0:15Devo agradecer ao Herbie Hancock
-
0:15 - 0:18e aos seus colegas
por uma apresentação tão boa. -
0:18 - 0:20(Aplausos)
-
0:20 - 0:23Uma das coisas interessantes
-
0:23 - 0:28é a combinação da mão
com o toque do instrumento -
0:28 - 0:35e a tecnologia e, claro, o que ele disse
sobre ouvir os nossos jovens. -
0:35 - 0:40O meu trabalho tem tudo a ver com escutar.
-
0:40 - 0:46O meu objetivo é ensinar
o mundo a escutar. -
0:46 - 0:50É o meu único objetivo real na vida.
-
0:50 - 0:57Parece simples, mas é um trabalho imenso.
-
0:57 - 1:01Porque, quando olhamos
para uma peça musical -
1:01 - 1:05— por exemplo, se eu abrir
o meu saquinho de motociclista — -
1:07 - 1:12temos aqui uma partitura
-
1:12 - 1:15cheia de pontinhos negros na página.
-
1:20 - 1:24Abrimos isto e eu leio a música.
-
1:25 - 1:29Tecnicamente, posso ler isto.
-
1:29 - 1:33Sigo as instruções,
as marcações do tempo, a dinâmica. -
1:34 - 1:37Vou fazer tal e qual o que a pauta manda.
-
1:38 - 1:41Mas, como o tempo escasseia,
-
1:41 - 1:45só vou tocar
-
1:45 - 1:48uma ou talvez duas linhas.
-
1:49 - 1:52É muito simples.
Não há grande dificuldade nesta música. -
1:52 - 1:55Mas diz aqui que esta
música é muito rápida. -
1:56 - 2:00Diz aqui em que parte da caixa devo tocar.
-
2:00 - 2:03Diz qual a parte da baqueta que devo usar.
-
2:04 - 2:07E está indicada a dinâmica.
-
2:07 - 2:11Também diz que a caixa
deve estar sem esteira. -
2:12 - 2:14Com esteira, sem esteira.
-
2:14 - 2:20Se eu traduzir esta partitura,
-
2:20 - 2:22temos esta ideia.
-
2:24 - 2:27(Música)
-
2:54 - 2:58E assim sucessivamente. Provavelmente,
a minha carreira duraria cinco anos. -
3:00 - 3:07Contudo, o que devo fazer como músico
é tudo o que não está na partitura. -
3:08 - 3:13Tudo o que não se tem tempo
para aprender com um professor, -
3:13 - 3:16ou mesmo para falar com um professor.
-
3:16 - 3:21Mas são as coisas que notamos,
quando não estamos com o instrumento, -
3:21 - 3:26que se tornam muito interessantes,
e que nos dão vontade de explorar -
3:26 - 3:30através desta fina superfície de um tambor.
-
3:30 - 3:33Assim, já experimentámos a tradução.
-
3:33 - 3:36Agora vamos experimentar a interpretação.
-
3:38 - 3:42(Música)
-
4:23 - 4:26(Aplausos)
-
4:30 - 4:33Agora a minha carreira
pode dura um pouco mais! -
4:33 - 4:34(Risos)
-
4:34 - 4:38De certa forma, é o mesmo
que olhar para vocês -
4:38 - 4:42e ver uma linda rapariga,
com uma blusa cor-de-rosa. -
4:42 - 4:45Ou vejo que vocês agarram
num peluche, etc. etc. -
4:45 - 4:50Fico com uma ideia básica
do que vocês são, -
4:50 - 4:55do que podem gostar,
de qual será a vossa profissão, etc. -
4:55 - 5:01No entanto, isso é apenas a ideia inicial
com que eu fico, com que todos ficamos -
5:01 - 5:04quando olhamos, de facto,
-
5:04 - 5:07e tentamos interpretar
mas é incrivelmente superficial. -
5:07 - 5:10Do mesmo modo, eu olho para a partitura,
fico com uma ideia inicial, -
5:10 - 5:15pondero os pontos tecnicamente difíceis,
ou o que quero fazer. -
5:15 - 5:16Apenas a sensação básica.
-
5:16 - 5:19Contudo, isto só não chega.
-
5:19 - 5:22Penso no que disse o Herbie:
"Escutem, escutem por favor". -
5:23 - 5:26Temos que nos escutar a nós próprios,
antes de mais nada. -
5:26 - 5:30Se eu toco, por exemplo,
agarrando a baqueta -
5:30 - 5:34
— literalmente, não a largo — -
5:36 - 5:40vocês aperceber-se-ão das sacudidelas
a subir pelo meu braço acima. -
5:40 - 5:42Sente-se mesmo muito, podem crer,
-
5:42 - 5:45desligado do instrumento e da baqueta,
-
5:45 - 5:50apesar de eu estar
a agarrar a baqueta firmemente. -
5:51 - 5:55Ao agarrá-la com força,
sinto-me estranhamente mais desligada. -
5:55 - 5:57Se eu a agarrar ao de leve
-
5:57 - 6:02e permitir que a mão, o braço
sejam sobretudo um sistema de apoio, -
6:02 - 6:08de repente tenho mais dinâmica
com menos esforço. -
6:09 - 6:10Muito mais.
-
6:12 - 6:16E, por fim, eu sinto-me uma só
com a baqueta e o tambor. -
6:16 - 6:18E estou a fazer muito menos.
-
6:18 - 6:22Tal como preciso de tempo
com este instrumento, -
6:22 - 6:27preciso de tempo com as pessoas
para poder interpretá-las. -
6:27 - 6:30Não só traduzi-las, mas interpretá-las.
-
6:30 - 6:36Se tocar só alguns compassos
duma peça musical, -
6:37 - 6:43em que me considero um técnico
-
6:43 - 6:47— ou seja, uma pessoa
que é, sobretudo, um percussionista... -
6:47 - 6:50(Música)
-
7:00 - 7:03Mas se eu pensar em mim como um músico...
-
7:03 - 7:06(Música)
-
7:25 - 7:28Há uma pequena diferença...
-
7:28 - 7:30(Risos)
-
7:30 - 7:32... em que vale a pena pensar.
-
7:32 - 7:34(Aplausos)
-
7:34 - 7:38Lembro-me que, quando tinha 12 anos,
-
7:38 - 7:43e comecei a tocar címbalos e percussão,
o meu professor disse: -
7:43 - 7:49"Como é que nós vamos fazer isto?
A música é uma questão de escutar." -
7:49 - 7:53E eu: "Concordo com isso.
Então qual é o problema?" -
7:54 - 7:58E ele: "Como é que vais ouvir isto?
Como é que vais ouvir aquilo?" -
7:58 - 8:00E eu: "Como é que tu ouves?"
-
8:00 - 8:04E ele: "Acho que é com os ouvidos."
-
8:04 - 8:09E eu: "Eu também, mas eu
também ouço através das mãos, -
8:09 - 8:16"através dos braços, das maçãs do rosto,
do crânio, da barriga, do peito, das pernas." -
8:16 - 8:22Começávamos sempre as lições
a afinar os tambores -
8:22 - 8:25— em especial os membranofones
ou címbalos — -
8:25 - 8:31num intervalo aberto, qualquer coisa
como isto... -
8:35 - 8:36... esta diferença.
-
8:36 - 8:38Depois gradualmente...
-
8:39 - 8:40e gradualmente ...
-
8:42 - 8:46E é incrível quando abrimos
todo o nosso corpo, -
8:46 - 8:50abrimos a mão para deixar
passar a vibração, -
8:50 - 8:54e podemos sentir
essa diferença tão pequenina -
8:54 - 9:00com a parte mais pequena do dedo, aqui.
-
9:00 - 9:05Assim, eu punha as mãos na parede
da sala de música -
9:05 - 9:11e juntos "ouvíamos"
os sons dos instrumentos, -
9:11 - 9:14e tentávamos ligar-nos a esses sons
-
9:14 - 9:19de forma mais ampla
do que dependendo só do ouvido. -
9:19 - 9:24Porque, claro, o ouvido está sujeito
a todo tipo de coisas. -
9:24 - 9:28A sala onde estávamos, a amplificação,
a qualidade do instrumento, -
9:28 - 9:30o tipo de baquetas, etc.
-
9:38 - 9:40Tudo é diferente.
-
9:46 - 9:51O mesmo peso, mas uma coloração
sonora diferente. -
9:51 - 9:53Isso é basicamente o que somos.
-
9:53 - 9:56Somos seres humanos,
mas todos temos as nossas cores sonoras, -
9:56 - 10:00que fazem estas extraordinárias
personalidades e caracteres -
10:00 - 10:03interesses e outras coisas.
-
10:03 - 10:08Anos mais tarde, quando fui às audições
para a Real Academia de Música de Londres, -
10:08 - 10:13disseram-me: "Não te aceitamos,
porque não temos a mínima ideia, -
10:13 - 10:17"quanto ao futuro de uma música 'surda'."
-
10:18 - 10:21Eu não podia aceitar aquilo.
-
10:22 - 10:25Portanto, eu disse-lhes:
-
10:26 - 10:31"Se vocês me rejeitarem por essas razões,
-
10:31 - 10:34"em vez de ser pela capacidade
-
10:34 - 10:40de interpretar, de compreender e de amar
-
10:40 - 10:43"a arte de criar som,
-
10:43 - 10:49"temos que pensar muito a sério
sobre as pessoas que vocês aceitam." -
10:49 - 10:54E assim — depois de passar por cima
desse pequeno obstáculo, -
10:54 - 10:58e de eu ter feito outra audição —
eles aceitaram-me. -
10:59 - 11:03E não só, isso mudou totalmente o papel
-
11:03 - 11:07das instituições de música
em todo o Reino Unido. -
11:07 - 11:14Nunca mais rejeitaram
nenhum candidato -
11:14 - 11:18por não ter braços, ou não ter pernas
-
11:18 - 11:21— talvez pudessem ainda
tocar um instrumento de sopro, -
11:21 - 11:23se estivesse colocado num suporte.
-
11:23 - 11:29Nunca mais usaram qualquer desculpa
para recusar uma inscrição. -
11:29 - 11:35Todos os pedidos tinham
que ser escutados, experimentados -
11:35 - 11:42e, com base na capacidade musical,
essa pessoa podia entrar ou não. -
11:43 - 11:48Isto por sua vez significou
que começaram a aparecer estudantes -
11:48 - 11:52extremamente interessantes
nessas instituições de música. -
11:53 - 11:55Devo dizer, muitos deles estão agora
-
11:55 - 11:59em orquestras profissionais
por esse mundo fora. -
12:00 - 12:03(Aplausos)
-
12:04 - 12:06Mas o mais interessante
-
12:06 - 12:13é que as pessoas ligam-se ao som
-
12:13 - 12:19— praticamente todos nós , e sabemos bem
que a música é a nossa medicina diária. -
12:19 - 12:22Eu digo "música", mas realmente
quero dizer "som". -
12:22 - 12:26Porque algumas das coisas
extraordinárias que vivi como música, -
12:26 - 12:31quando temos um miúdo de 15 anos,
-
12:31 - 12:36que tem problemas incríveis,
-
12:36 - 12:38que talvez não seja capaz
de controlar os movimentos, -
12:38 - 12:41que pode ser surdo, pode ser cego, etc.,
-
12:41 - 12:48de repente, se esse miúdo
se senta perto deste instrumento, -
12:48 - 12:50ou talvez se deite debaixo das marimbas,
-
12:50 - 12:56e tocamos uma coisa que pareça órgão...
-
12:56 - 13:01— não devo ter aqui as baquetas apropriadas.
Mas qualquer coisa como isto: -
13:05 - 13:09(Música)
-
13:53 - 13:55... uma coisa assim
incrivelmente simples, -
13:55 - 14:01ele teria uma experiência
que eu não teria, -
14:01 - 14:02porque eu estou por cima do som.
-
14:02 - 14:05O som chega-me deste lado.
-
14:05 - 14:08Ele receberia o som a sair
dos tubos ressoadores. -
14:08 - 14:12Se não tivéssemos
ressoadores aqui, teríamos... -
14:18 - 14:23Assim, ele teria uma imensidão de som
que vocês nas primeiras filas não teriam -
14:23 - 14:26e vocês nas últimas filas também não.
-
14:27 - 14:30Cada um de nós, consoante
o lugar onde estejamos sentados, -
14:30 - 14:33experimentará este som
de forma muito diferente. -
14:34 - 14:36E claro, ser participante do som,
-
14:36 - 14:42— partindo da ideia de qual o tipo de som
que eu quero eu produzir — -
14:42 - 14:45por exemplo, este som.
-
14:51 - 14:54Conseguem ouvir alguma coisa?
-
14:54 - 14:57Exato. Porque eu nem sequer estou a tocar.
-
14:57 - 14:58(Risos)
-
14:58 - 15:03Mas ficamos com a sensação
de que aconteceu alguma coisa. -
15:03 - 15:05Do mesmo modo que,
quando vejo uma árvore a mexer, -
15:05 - 15:09imagino a árvore a fazer
um som sussurrante. -
15:09 - 15:11Estão a ver o que eu quero dizer?
-
15:11 - 15:15Em tudo o que os olhos veem,
há sempre um som. -
15:15 - 15:21Assim, há sempre
este enorme caleidoscópio -
15:21 - 15:24onde ir buscar coisas.
-
15:24 - 15:30Todas as minhas atuações baseiam-se
totalmente no que eu experimento, -
15:30 - 15:34não em aprender uma peça musical,
ou usar a interpretação de outra pessoa, -
15:34 - 15:39comprar todos os CDs possíveis
dessa peça em particular, etc. -
15:39 - 15:46Porque isso não me dá aquilo
que, para mim, é cru e básico, -
15:46 - 15:51aquilo com que eu posso
disfrutar da viagem. -
15:51 - 16:00Pode ser que, em certas salas,
esta dinâmica funcione. -
16:00 - 16:03(Música)
-
16:09 - 16:14Pode ser que, noutras salas,
eles acabem por não sentir nada, -
16:14 - 16:17e, por isso, o meu nível de suavidade
-
16:17 - 16:19talvez tenha que passar a ser...
-
16:19 - 16:22(Música)
-
16:43 - 16:45Estão a ver o que eu quero dizer?
-
16:45 - 16:50Assim, por causa desta explosão
de acesso ao som, -
16:50 - 16:52especialmente na comunidade dos surdos,
-
16:52 - 16:57isto está a afetar a forma
como as instituições de música, -
16:57 - 17:04as escolas para surdos tratam o som
— não só como uma forma de terapia — -
17:04 - 17:06mas como sendo participantes da música,
-
17:06 - 17:09que é o que se está a passar.
-
17:09 - 17:14Os técnicos de acústica tiveram
que pensar muito a sério -
17:14 - 17:18no tipo de salas que desenham.
-
17:18 - 17:21Atrevo-me a dizer que há
muito poucas salas no mundo -
17:21 - 17:27com uma acústica realmente boa.
-
17:27 - 17:31Quero com isto dizer que podemos fazer
tudo aquilo que imaginarmos. -
17:31 - 17:35Desde o mais pequeno,
o mais suave dos sons, -
17:35 - 17:40a uma coisa abrangente, grande e incrível.
-
17:39 - 17:41Mas há sempre coisas
-
17:41 - 17:43— pode soar bem aqui,
talvez não tão bem acolá. -
17:43 - 17:45Pode estar ótimo ali, terrível além.
-
17:45 - 17:49Talvez terrível aqui,
mas aceitável acolá, etc. -
17:50 - 17:54Assim, é incrível encontrar uma sala
-
17:54 - 17:58onde possamos tocar exatamente
aquilo que imaginamos, -
17:58 - 18:01sem a melhorar cosmeticamente.
-
18:01 - 18:07Por isso, os técnicos de acústica
estão atualmente em conversações -
18:07 - 18:14com pessoas com problemas auditivos,
e que são participantes do som. -
18:15 - 18:16Isto é muito interessante.
-
18:16 - 18:21Não posso dar-vos pormenores
-
18:21 - 18:24do que está a acontecer com essas salas,
-
18:24 - 18:28mas o facto de que eles estarem
a ajudar um grupo de pessoas -
18:28 - 18:32de quem se disse durante tantos anos:
-
18:32 - 18:36"Como diabo podem eles ouvir música?
Eles são surdos!" -
18:36 - 18:40Nós fazemos isto, e imaginamos
que a surdez é isto. -
18:40 - 18:42Ou fazemos isto, e imaginamos
que a cegueira é assim. -
18:42 - 18:46Se vimos alguém numa cadeira de rodas,
assumimos que não pode andar. -
18:46 - 18:50Pode ser que ele possa
dar três, quatro, cinco passos. -
18:50 - 18:53Para ele, isso significa que pode andar.
-
18:54 - 18:57Dentro de um ano, pode conseguir
dar mais dois passos. -
18:57 - 19:00Mais outro ano, mais outros três passos.
-
19:00 - 19:05Temos que pensar
nestes aspetos muito importantes. -
19:05 - 19:09Quando nos escutarmos uns aos outros,
-
19:09 - 19:14é extremamente importante
-
19:14 - 19:17testar a nossa capacidade auditiva,
-
19:17 - 19:22usar o corpo como uma caixa
de ressonância, deixar de julgar. -
19:22 - 19:28Para mim, como músico que lida
com 99% de música nova, é fácil dizer: -
19:28 - 19:32"Oh sim, gosto desta peça.
"Oh não, não gosto desta peça." Etc. -
19:32 - 19:37Eu acho que tenho que dar
tempo a essas músicas. -
19:37 - 19:42Talvez a química não esteja lá muito certa
entre mim e uma determinada música, -
19:42 - 19:47mas isso não significa que tenho
o direito de dizer que é má música. -
19:47 - 19:52Uma das ótimas coisas de ser músico,
-
19:52 - 19:56é que é um fluido incrível.
-
19:56 - 19:59Não há regras, nem certo ou errado.
-
19:59 - 20:04Se eu vos pedir para baterem palmas
-
20:04 - 20:06— talvez possa fazê-lo — se eu disser:
-
20:06 - 20:11"Batam palmas e criem o som de um trovão".
-
20:12 - 20:15Parto do princípio que já todos
conhecem o trovão. -
20:15 - 20:17Não me refiro apenas ao som.
-
20:17 - 20:22Refiro-me a escutar esse trovão
dentro de nós mesmos. -
20:22 - 20:26Por favor, tentem criar isso com palmas.
Tentem, por favor. -
20:26 - 20:30(Palmas)
-
20:33 - 20:35Muito bem!
-
20:35 - 20:39Neve.
-
20:40 - 20:43(Palmas)
-
20:42 - 20:44Já ouviram a neve?
-
20:44 - 20:45Audiência: Não.
-
20:45 - 20:47Bom, então deixem de bater palmas.
-
20:47 - 20:49(Risos)
-
20:49 - 20:52Voltem a tentar. Neve.
-
20:56 - 20:58Veem? Vocês estão acordados.
-
20:59 - 21:00Chuva.
-
21:04 - 21:06Nada mal. Nada mal.
-
21:07 - 21:11Mas aqui o interessante é que
fiz a mesma pergunta -
21:11 - 21:16a um grupo de miúdos,
há pouco tempo. -
21:18 - 21:19Ótima imaginação, muito obrigado.
-
21:19 - 21:23Mas nenhum de vocês
saiu do vosso lugar para pensar. -
21:23 - 21:25Como posso bater palmas? Ok, talvez...
-
21:25 - 21:28(Palmas)
-
21:28 - 21:30Talvez possa usar as minhas joias
para criar sons extra. -
21:31 - 21:34Talvez possa usar outras partes do corpo
para criar sons extra. -
21:35 - 21:40Nenhum de vocês pensou em bater as palmas
de modo ligeiramente diferente -
21:40 - 21:43para além de estarem aí sentados
e usarem as duas mãos. -
21:43 - 21:46Do mesmo modo, quando escutamos música,
-
21:46 - 21:49partimos do princípio de que tudo
é alimentado por aqui, -
21:49 - 21:53que é assim que sentimos a música.
Claro que não. -
21:54 - 21:57Sentimos o trovão — trovão.
Pensem, pensem. -
21:57 - 22:00Escutem, escutem, escutem.
-
22:02 - 22:04O que é que podemos
fazer com o trovão? -
22:04 - 22:10Recordo-me do meu professor,
quando comecei a minha primeira lição, -
22:10 - 22:13eu estava preparada com as baquetas,
pronta pra começar. -
22:13 - 22:17Ele, em vez de dizer: "Evelyn,
pés ligeiramente afastados, -
22:18 - 22:23"braços a cerca de 90 graus,
baquetas em forma de V, -
22:24 - 22:27"mantém este espaço aqui, etc.
-
22:27 - 22:30"Endireita as costas, etc., etc."
-
22:30 - 22:34altura em que eu, provavelmente,
já estaria totalmente rígida e congelada, -
22:34 - 22:35e não conseguiria bater no tambor,
-
22:35 - 22:38porque estava a pensar
em muitas outras coisas, ele disse: -
22:38 - 22:42"Evelyn, põe esse tambor de lado
durante sete dias e até para a semana". -
22:43 - 22:47Céus! Que havia eu de fazer?
Já não precisava das baquetas, -
22:47 - 22:50não me permitiam usar as baquetas.
-
22:50 - 22:53Tinha que olhar
para aquele tambor em especial, -
22:53 - 22:58ver de que era feito, as linguetas
que tinha, o que faziam as esteiras. -
22:58 - 23:01Virá-lo de pernas para o ar,
experimentar com a caixa, -
23:03 - 23:04Experimentar com a membrana,
-
23:06 - 23:07experimentar com o corpo,
-
23:09 - 23:11experimentar com as joias.
-
23:11 - 23:14experimentar com todo o tipo de coisas.
-
23:24 - 23:28Claro que acabei com todo o tipo
de nódoas negras e coisas dessas... -
23:27 - 23:29(Risos)
-
23:29 - 23:31... mas foi uma experiência incrível,
-
23:31 - 23:35porque, onde diabos podemos experimentar
essas coisas numa música? -
23:36 - 23:40Onde diabos podemos experimentar
essas coisas numa cabina de som? -
23:40 - 23:43Nós nunca, mas nunca,
lidámos com manuais de estudo. -
23:44 - 23:46Por exemplo, uma das coisas que aprendemos
-
23:46 - 23:51quando queremos ser um músico de percussão,
em oposição a um músico, -
23:51 - 23:55é uma sequência de golpes simples
e precisos -
24:00 - 24:05Assim. Depois vamos um pouco mais depressa,
cada vez mais depressa. Etc. etc. -
24:08 - 24:10O que é que esta música exige?
-
24:14 - 24:18Porque é que eu não posso fazer isso
enquanto aprendo uma música? -
24:18 - 24:20Foi exatamente o que ele fez.
-
24:21 - 24:25Interessantemente, enquanto crescia,
quando passei a estudante a tempo inteiro, -
24:25 - 24:31na chamada "instituição de música",
tudo isso voou pela janela. -
24:31 - 24:34Tínhamos que estudar por manuais.
-
24:34 - 24:36E, constantemente, a pergunta:
-
24:36 - 24:38"Porquê? Porquê?
Com que é que isso está ligado?" -
24:38 - 24:42Preciso de aprender a tocar uma música.
"Ok, isto vai melhorar o teu controlo". -
24:42 - 24:46"Como? Porque é que tenho de aprender isso?
Preciso de o ligar a uma música". -
24:46 - 24:49Eu tinha que dizer qualquer coisa.
-
24:49 - 24:52"Porque é que estou
a praticar 'paradiddles'? -
24:55 - 25:00"É apenas para controlo das baquetas?
Porque é que estou a fazer isto? -
25:01 - 25:03"Preciso de ter um motivo
-
25:03 - 25:08"e o motivo tem que ser dizendo
qualquer coisa através da música". -
25:08 - 25:13Dizendo qualquer coisa através da música,
que é sobretudo som, -
25:13 - 25:18podemos chegar a todo o tipo de coisas,
a todo o tipo de pessoas. -
25:17 - 25:22Mas não quero assumir a responsabilidade
pela vossa bagagem emotiva. -
25:22 - 25:24Isso é convosco, quando entram numa sala.
-
25:24 - 25:29Porque isso determina o quê e como
vocês escutam certas coisas. -
25:29 - 25:34Posso estar triste, ou feliz,
ou radiante, ou irritado, -
25:34 - 25:38quando toco certas músicas,
mas não estou à espera -
25:38 - 25:41que vocês sintam
exatamente a mesma coisa. -
25:41 - 25:44Por isso, da próxima vez
que forem a um concerto, -
25:44 - 25:48deixem o vosso corpo abrir-se,
-
25:48 - 25:51deixem que o vosso corpo
seja uma caixa de ressonância. -
25:51 - 25:56Não se esqueçam de que não vão sentir
o mesmo que o intérprete sente. -
25:56 - 26:00O intérprete está na pior posição
possível para o som, -
26:00 - 26:04porque está a ouvir
o contacto da baqueta no tambor, -
26:06 - 26:10ou o malho no pedaço de madeira,
ou o arco na corda, etc. -
26:10 - 26:14ou a respiração que está a criar o som
dos instrumentos de sopro e dos cobres. -
26:14 - 26:17Eles, ali, sentem essas coisas naturais.
-
26:17 - 26:20Mas estão a sentir uma coisa
incrivelmente pura, -
26:20 - 26:24que é antes de o som acontecer.
-
26:24 - 26:31Reparem como se puxa pela vida do som
depois do impacto ou do sopro iniciais. -
26:34 - 26:38Sintam todo o percurso desse som
-
26:38 - 26:42da mesma forma que eu gostaria
de ter sentido todo o percurso -
26:42 - 26:45desta conferência, em vez de ter chegado
apenas a noite passada. -
26:46 - 26:50Espero que talvez possamos partilhar
uma ou duas coisas durante o dia. -
26:51 - 26:54Muito obrigada por me receberem!
-
26:54 - 26:57(Aplausos)
- Title:
- Como ouvir com atenção.
- Speaker:
- Evelyn Glennie
- Description:
-
Nesta demonstração em crescendo, a percussionista surda Evelyn Glennie ilustra como ouvir música envolve muito mais que deixar as ondas sonoras incidir nos tímpanos.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 31:51
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