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O direito fundamental de pedir asilo

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    No verão passado, recebi uma chamada
    duma mulher chamada Ellie.
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    Tinha ouvido falar da separação
    de famílias na fronteira sul
  • 0:08 - 0:10
    e queria saber em que podia ajudar.
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    Contou-me a história do avô e do pai.
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    Quando eles eram miúdos, na Polónia,
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    o pai deles, receando
    pela segurança dos filhos,
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    deu-lhes algum dinheiro
    e disse-lhes para irem para o ocidente,
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    e continuassem a andar
    atravessando a Europa.
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    Eles assim fizeram.
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    Atravessaram a Europa,
    sempre para ocidente,
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    apanharam um barco,
    e seguiram para os EUA.
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    Ellie disse que, quando ouvira
    as histórias dos adolescentes
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    que atravessavam o México,
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    só pensava no avô e no irmão dele.
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    Disse que, para ela, as histórias
    eram exatamente as mesmas.
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    Esses irmãos eram
    os Irmãos Hassenfeld
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    — os "Has" "bros" —
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    a empresa de brinquedos Hasbro
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    que nos deu o Mr. Potato Head.
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    Mas não é por isso
    que estou a contar esta história.
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    Estou a contar esta história
    porque fez-me pensar
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    se eu teria a fé,
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    a coragem,
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    de enviar os meus adolescentes
    — tenho três —
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    numa viagem como aquela.
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    Sabendo que eles não estavam
    em segurança onde estavam,
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    teria sido capaz de os ver partir?
  • 1:27 - 1:32
    Comecei a minha carreira há décadas
    na fronteira sul dos EUA,
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    a trabalhar com pessoas
    da América Central que pediam asilo.
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    Nos últimos 16 anos,
    tenho estado na HIAS,
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    a organização judaica que luta
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    pelos direitos dos refugiados
    do mundo inteiro,
  • 1:43 - 1:45
    enquanto advogada e defensora.
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    Uma coisa que aprendi é que, por vezes,
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    as coisas que nos dizem que
    nos tornam mais seguros e mais fortes
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    não funcionam assim.
  • 1:55 - 2:00
    Na verdade, algumas dessas políticas
    têm um resultado oposto ao pretendido
  • 2:00 - 2:06
    e, entretanto, causam um sofrimento
    tremendo e desnecessário.
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    Porque é que as pessoas aparecem
    na nossa fronteira sul?
  • 2:10 - 2:13
    A maioria dos imigrantes e refugiados
    que chegam à nossa fronteira sul
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    estão a fugir de três países:
    Guatemala, Honduras e El Salvador.
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    Estes países estão sempre classificados
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    entre os países mais violentos do mundo.
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    É muito difícil sentir-se seguro
    nestes países,
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    já para não falar em construir
    um futuro para si mesmo e para a família.
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    A violência contra mulheres
    e raparigas é generalizada.
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    As pessoas têm fugido da América Central
    há gerações.
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    Gerações de refugiados
    têm chegado às nossas praias,
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    fugindo das guerras civis dos anos 80,
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    em que os EUA estiveram
    amplamente envolvidos.
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    Isto não é novidade nenhuma.
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    O que é novidade é que, recentemente,
    tem havido um pico em famílias,
  • 2:56 - 2:59
    crianças e famílias,
    que aparecem nos pontos de controlo
  • 2:59 - 3:02
    e se apresentam, pedindo asilo.
  • 3:02 - 3:05
    Isto tem aparecido ultimamente
    nos noticiários,
  • 3:05 - 3:08
    por isso, quero lembrar algumas coisas
    enquanto veem estas imagens.
  • 3:08 - 3:12
    Primeiro, isto não é
    um nível historicamente alto
  • 3:12 - 3:14
    de interceções na fronteira sul.
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    Na verdade, as pessoas apresentam-se
    nos pontos de controlo.
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    Segundo, as pessoas aparecem
    com a roupa que trazem no corpo;
  • 3:22 - 3:25
    algumas delas vêm
    literalmente de chinelos.
  • 3:25 - 3:28
    E terceiro, nós somos o país
    mais poderoso do mundo.
  • 3:28 - 3:31
    Não é coisa para entramos em pânico.
  • 3:31 - 3:33
    É fácil, para a segurança
    do país de destino,
  • 3:33 - 3:35
    pensar em termos absolutos:
  • 3:35 - 3:38
    É legal ou ilegal?
  • 3:38 - 3:40
    Mas as pessoas que se debatem
    com estas perguntas
  • 3:40 - 3:44
    e tomam as decisões sobre a sua família
  • 3:44 - 3:47
    pensam em perguntas muito diferentes:
  • 3:47 - 3:49
    Como mantenho a minha filha sã e salva?
  • 3:49 - 3:52
    Como protejo o meu filho?
  • 3:52 - 3:54
    Se quisermos absolutos,
  • 3:54 - 3:58
    é absolutamente legal pedir asilo.
  • 3:58 - 4:03
    É um direito fundamental na nossa lei
    e na lei internacional.
  • 4:04 - 4:07
    (Aplausos)
  • 4:11 - 4:14
    Na verdade, está consagrado
    na Convenção de Refugiados de 1951
  • 4:14 - 4:17
    que foi a resposta mundial ao Holocausto
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    e uma forma de os países dizerem
  • 4:19 - 4:22
    que nunca mais devolveriam
    pessoas aos seus países
  • 4:22 - 4:24
    onde elas seriam torturadas ou mortas.
  • 4:24 - 4:27
    Há várias maneiras
    de os refugiados chegarem a este país.
  • 4:27 - 4:30
    Uma é através do Programa
    de Admissões de Refugiados nos EUA.
  • 4:30 - 4:34
    Segundo este programa, os EUA identificam
    e selecionam refugiados no estrangeiro
  • 4:34 - 4:36
    e fazem-nos entrar nos EUA.
  • 4:37 - 4:40
    No ano passado, os EUA
    acolheram menos refugiados
  • 4:40 - 4:44
    do que em qualquer altura
    desde que o programa começou em 1980.
  • 4:44 - 4:46
    Este ano, provavelmente,
    ainda serão menos.
  • 4:47 - 4:50
    Estamos numa época em que temos
    mais refugiados no mundo
  • 4:50 - 4:52
    do que em qualquer outra época
    registada na História,
  • 4:52 - 4:54
    mesmo desde a II Guerra Mundial.
  • 4:54 - 4:58
    Outra forma de os refugiados
    chegarem a este país é pedindo asilo.
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    Os que pedem asilo são pessoas
    que se apresentam numa fronteira
  • 5:01 - 5:04
    e dizem que serão perseguidos
    se forem enviados para o seu país.
  • 5:04 - 5:09
    Quem pede asilo tem de passar
    por um processo, nos EUA,
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    para provar que se encaixam
    na definição de refugiados.
  • 5:14 - 5:17
    Nunca foi mais difícil pedir asilo.
  • 5:17 - 5:20
    Os guardas fronteiriços dizem às pessoas
    que se apresentam nas fronteiras
  • 5:20 - 5:23
    que o nosso país está cheio;
    que não podem requerer.
  • 5:23 - 5:25
    É uma coisa sem precedentes
    e é ilegal.
  • 5:25 - 5:27
    Ao abrigo de um novo programa,
  • 5:27 - 5:32
    com um título orwelliano,
    "Protocolos de Proteção de Migrantes",
  • 5:32 - 5:35
    dizem aos refugiados
    que têm de esperar no México
  • 5:35 - 5:39
    enquanto os seus casos seguem
    para os tribunais dos EUA
  • 5:39 - 5:40
    o que pode demorar meses ou anos.
  • 5:40 - 5:42
    Entretanto, eles não estão em segurança
  • 5:42 - 5:45
    e não têm acesso a advogados.
  • 5:46 - 5:50
    O nosso país, os nossos governantes,
    detiveram mais de 3000 crianças,
  • 5:50 - 5:53
    tirando-as dos braços dos pais,
  • 5:53 - 5:56
    como forma de dissuasão
    de quem procura asilo.
  • 5:56 - 5:58
    Muitos deles eram bebés
    de dois anos ou menos,
  • 5:58 - 6:01
    e, pelo menos uma
    era uma rapariga cega de seis anos,
  • 6:01 - 6:03
    Isto continua.
  • 6:03 - 6:05
    Gastamos milhares de milhões
  • 6:05 - 6:07
    para deter pessoas no que são
    praticamente prisões
  • 6:07 - 6:09
    e que não fizeram nenhum crime.
  • 6:12 - 6:15
    A separação de famílias
    tornou-se a imagem de marca
  • 6:15 - 6:17
    do nosso sistema de imigração.
  • 6:17 - 6:22
    Estamos longe duma cidade brilhante
    ou de um farol de esperança
  • 6:22 - 6:24
    ou de qualquer outra forma
    de que gostamos de falar
  • 6:24 - 6:26
    sobre nós mesmos e dos nossos valores.
  • 6:26 - 6:30
    A migração sempre esteve connosco
    e sempre estará.
  • 6:30 - 6:32
    As razões por que as pessoas fogem
  • 6:32 - 6:35
    — perseguição, guerra, violência,
    alteração climática,
  • 6:35 - 6:38
    e a capacidade agora de vermos
    nos telemóveis
  • 6:38 - 6:40
    como é a vida noutros locais —
  • 6:40 - 6:42
    essas pressões continuarão a aumentar.
  • 6:43 - 6:48
    Mas há formas de podermos ter
    uma política que reflita os nossos valores
  • 6:48 - 6:52
    e que façam sentido,
    dada a realidade do mundo.
  • 6:52 - 6:57
    A primeira coisa que precisamos de fazer
    é reduzir a retórica tóxica
  • 6:58 - 7:01
    que tem sido a base
    do nosso debate nacional
  • 7:01 - 7:04
    sobre esta questão há demasiado tempo.
  • 7:04 - 7:07
    (Aplausos)
  • 7:11 - 7:14
    Eu não sou imigrante nem refugiada
  • 7:14 - 7:18
    mas encaro estes ataques pessoalmente,
    porque os meus avós foram.
  • 7:19 - 7:24
    A minha bisavó Rose não viu
    os filhos durante sete anos
  • 7:24 - 7:26
    quando tentou trazê-los
    da Polónia para Nova Iorque.
  • 7:26 - 7:28
    Deixou o meu avô
    quando ele tinha sete anos
  • 7:28 - 7:30
    e só voltou a vê-lo
    quando ele tinha 14 anos.
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    Do outro lado da minha família,
  • 7:32 - 7:36
    a minha avó Aliza
    saiu da Polónia nos anos 30
  • 7:36 - 7:38
    e partiu para o que era
    o Mandato Britânico da Palestina
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    e nunca mais voltou a ver
    a família e os amigos.
  • 7:42 - 7:47
    A cooperação global enquanto resposta
    à migração e deslocação global
  • 7:47 - 7:51
    percorreria um longo caminho até tornar
    a migração numa coisa que não é uma crise
  • 7:51 - 7:53
    mas uma coisa que existe
  • 7:53 - 7:56
    e que seja tratada
    como uma comunidade global.
  • 7:56 - 7:59
    A ajuda humanitária também é fundamental.
  • 7:59 - 8:02
    A quantidade de apoio que proporcionamos
    a países na América Central
  • 8:02 - 8:05
    que nos enviam refugiados e migrantes
  • 8:05 - 8:10
    é uma diminuta fração da quantidade
    que gastamos com a repressão e a detenção.
  • 8:11 - 8:15
    Podemos ter um sistema
    de asilo que funcione.
  • 8:15 - 8:18
    Por uma diminuta fração
    do custo de um muro,
  • 8:18 - 8:20
    podemos contratar mais juízes,
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    garantir que os que procuram asilo
    tenham advogados
  • 8:22 - 8:25
    que se dediquem a um sistema
    de asilo humano.
  • 8:25 - 8:28
    (Aplausos)
  • 8:33 - 8:36
    Podíamos instalar mais refugiados.
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    Para vos dar uma ideia do declínio
    no programa de refugiados,
  • 8:39 - 8:44
    há três anos, os EUA acolheram
    15 000 refugiados sírios
  • 8:44 - 8:46
    em resposta à maior crise
    de refugiados do planeta.
  • 8:46 - 8:49
    Um ano depois, esse número foi de 3000.
  • 8:49 - 8:53
    E, no ano passado,
    esse número foi de 62 pessoas,
  • 8:54 - 8:56
    62 pessoas!
  • 8:57 - 9:01
    Apesar da retórica agressiva
    e dos esforços para bloquear a imigração,
  • 9:01 - 9:03
    para manter os refugiados fora do país,
  • 9:03 - 9:06
    o apoio aos refugiados e imigrantes
    neste país, de acordo com sondagens,
  • 9:06 - 9:08
    nunca foi mais alto.
  • 9:08 - 9:10
    Organizações como a HIAS, onde trabalho,
  • 9:10 - 9:12
    e outras organizações
    humanitárias e religiosas,
  • 9:12 - 9:14
    facilitam-nos tomar uma atitude
  • 9:14 - 9:17
    quando há uma lei a que devemos opor-nos
  • 9:17 - 9:20
    ou uma lei que devemos apoiar
    ou uma política que precisa de supervisão.
  • 9:20 - 9:23
    Se têm um telefone,
    podem fazer qualquer coisa
  • 9:23 - 9:25
    e, se quiserem fazer mais,
    também podem.
  • 9:25 - 9:29
    Digo-vos que, se virem
    um desses centros de detenção
  • 9:29 - 9:30
    ao longo da fronteira
  • 9:30 - 9:32
    com crianças lá dentro
    — são prisões —
  • 9:32 - 9:34
    vocês nunca mais serão os mesmos.
  • 9:35 - 9:38
    O que mais gostei no telefonema de Ellie
  • 9:39 - 9:43
    foi que ela sabia no seu íntimo
    que as histórias dos seus avós
  • 9:44 - 9:46
    não eram diferentes das histórias de hoje
  • 9:46 - 9:48
    e queria fazer qualquer coisa
    quanto a isso.
  • 9:49 - 9:51
    Se é que vos deixo com qualquer coisa
  • 9:51 - 9:54
    para além da história de Mr. Potato Head,
  • 9:54 - 9:57
    que é uma boa história para levarem,
  • 9:58 - 10:02
    é que um país mostra a sua força
  • 10:03 - 10:05
    através da compaixão e do pragmatismo,
  • 10:05 - 10:08
    e não pela força e pelo medo.
  • 10:08 - 10:11
    (Aplausos)
  • 10:17 - 10:21
    Estas histórias dos Hassenfeld,
    dos meus parentes e dos vossos parentes
  • 10:22 - 10:24
    ainda hoje acontecem
    e são todas iguais.
  • 10:25 - 10:27
    Um país é forte
  • 10:27 - 10:31
    não quando diz a um refugiado:
    "Vai-te embora",
  • 10:31 - 10:35
    mas quando diz: "Ok, recebemos-te,
    estás em segurança",
  • 10:35 - 10:36
    Obrigada.
  • 10:36 - 10:39
    (Aplausos)
  • 10:39 - 10:40
    Obrigada.
  • 10:40 - 10:42
    (Aplausos)
Title:
O direito fundamental de pedir asilo
Speaker:
Melanie Nezer
Description:

Melanie Nezer, advogada dos direitos dos refugiados, partilha uma perspetiva histórica, urgentemente necessária, sobre a crise na fronteira sul dos EUA, mostrando como os cidadãos podem responsabilizar os seus governos para proteger os vulneráveis. "Um país mostra força através da compaixão e do pragmatismo, não pela força e pelo medo", diz ela.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:55

Portuguese subtitles

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