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Title:
Ser jovem e causar impacto
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Description:
Aos 18 anos, o trabalho de Natalie Warne com o movimento "Crianças Invisíveis", fez dela uma heroína para jovens activistas. Ela usa a sua história inspiradora para nos recordar que ninguém é demasiado jovem para mudar o mundo.
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Speaker:
Natalie Warne
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A minha mãe é uma mulher negra forte,
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que criou os filhos para terem
o mesmo sentido de força e orgulho.
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Este espírito foi representado
por uma única parede
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no nosso pequeno apartamento,
de dois quartos, no sul de Chicago.
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Havia duas fotografias
penduradas com orgulho:
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uma grande e extravagante
fotografia dos meus irmãos e eu,
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e a outra, uma foto da minha mãe,
aos 12 anos de idade,
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a olhar, olhos nos olhos,
para o Dr. Martin Luther King Jr.
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Quando eu era mais nova,
costumava pôr-me em bicos dos pés,
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a olhar para aquela fotografia,
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fechava os olhos com força
e fingir que aquela mulher era eu,
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a contemplar o homem que revolucionou
o Movimento dos Direitos Civis,
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que marchou sobre Washington,
e transformou uma geração
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com as suas palavras:
"Eu tenho um sonho".
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Mas consegui conhecê-lo.
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Obviamente, não conheci o Dr. King,
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mas conheci um homem
chamado Dr. Vincent Harding.
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Ele trabalhou com o Dr. King
desde o primeiro dia,
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e até escreveu alguns dos
seus discursos mais icónicos.
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Aquele foi um momento
importantíssimo para mim,
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porque foi a primeira vez que percebi
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que não foi só o Dr. King
que liderou esta revolução,
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mas estava rodeado de um movimento
constituído por anónimos extraordinários.
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Anónimos extraordinários são pessoas
que trabalham generosa e vigorosamente
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por aquilo que acreditam,
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pessoas que são motivadas
pela convicção e não pelo reconhecimento.
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Levei muito tempo a perceber
a importância deste momento,
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até ser muito mais velha.
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Como disse, cresci em Chicago.
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Cresci num bairro difícil e pobre,
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mas isso não me importava
quando era miúda
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porque eu, literalmente, tenho
a família mais incrível do mundo.
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Duas coisas com que lutei muito,
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enquanto miúda eram:
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uma, o meu pai foi sempre doente
durante toda a minha vida.
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Ele sofre de doença de Parkinson
e de pancreatite
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e, para uma criança, foi muito difícil
para mim ver o meu herói sofrer tanto.
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O meu outro problema
era comigo mesma.
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Acho que se pode dizer que
tive uma crise de identidade.
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Tive de me mudar quatro vezes
durante o ensino secundário,
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e no primeiro ano fui para
uma escola extremamente racista.
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Os jovens eram muito cruéis.
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Davam-nos cartas de ódio,
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escreviam coisas horríveis nos cacifos,
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e, como eu sou mestiça, diziam-me:
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"Não podes ser as duas coisas.
Tens de escolher, preta ou branca."
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Por fim, incomodava-me
ser qualquer uma dessas coisas.
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De repente,chega 2008, o meu último ano,
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está na moda ser mestiça,
ser racialmente ambíguo, tipo:
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"Natalie, agora podes gostar
de ti própria. Agora, és bonita."
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Para mim, foi indiferente.
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Estava farta de me importar
com a opinião dos outros,
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e só queria despachar-me,
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sobreviver às aulas, qualquer
que fosse escola que frequentasse
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e acabar o curso.
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depois de ver o filme
"Invisible Children",
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é que algo aconteceu.
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Crianças-soldados,
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crianças tão pequenas quanto
os meus sobrinhos,
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raptadas, a receberem AK-47
e forçadas a matar.
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Não só por qualquer pessoa mas,
muitas vezes, pelos próprios pais,
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pelos próprios irmãos.
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Um exército rebelde a perpetrar
assassínios em massa
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sem razões políticas ou religiosas,
só porque sim.
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Durante 25 anos.
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Este conflito dura há 25 anos.
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Eu tenho 20 anos,
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o que faz com que este conflito
seja cinco anos mais velho que eu.
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Um homem,
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um homem com uma voz carismática,
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começou tudo isto.
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O nome dele é Joseph Kony.
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Quando vi este filme, algo aconteceu.
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Algo começou a agitar-se dentro de mim,
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e eu não sabia o que era.
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Não sabia se era raiva, se era pena,
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se me sentia culpada
por ser a primeira vez
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que ouvia falar de uma guerra de 25 anos.
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Eu nem conseguia dar-lhe nome.
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Foi como um murro no estômago
e comecei a fazer perguntas.
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"O que é que eu faço?
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"O que é que alguém de 17 anos pode fazer?
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"Vocês têm que me dar algo!"
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Os fundadores e cineastas
de "Invisible Children"
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afirmaram que havia um projecto de lei,
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e que, se conseguíssemos aprová-lo
isso faria duas coisas:
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Iria prender Joseph Kony
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e os principiais comandantes
do exército rebelde;
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e iria proporcionar um fundo
para a recuperação destas regiões,
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que tinham sido devastadas
por 25 anos de guerra.
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E pensei: "Feito. Entro nessa.
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"Juro que farei o que puder
para que isso aconteça".
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Então, eu e mais 99 idealistas
entre os 18 e 20 anos de idade
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entrámos num avião para fazer um estágio
em San Diego, com "Invisible Children".
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Eu adiei a faculdade.
Não estávamos a ser pagos para aquilo.
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Podem dizer que foi
irresponsabilidade ou loucura.
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Os meus pais disseram.
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Mas para nós, seria loucura não ir.
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Todos sentimos esta urgência
e teríamos feito o que fosse preciso
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para aprovar este projecto de lei.
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Então, deram-nos a primeira tarefa.
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Íamos planear um evento chamado:
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"Resgate das Crianças-Soldados
de Joseph Kony",
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onde os participantes chegariam
de centenas de cidades mundiais,
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se reuniriam no centro da cidade,
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até chegar uma celebridade
ou uma figura pública
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e usasse a sua voz
em nome dessas crianças-soldados,
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e, nessa altura,
cada cidade era "resgatada".
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Mas o truque era que não saíamos
da cidade até sermos resgatados.
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Deram-me Chicago e outras nove cidades
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e eu disse aos meus chefes:
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"Se queremos nomes de peso,
porque não a abelha-rainha? Certo?
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"Porque não tentamos a Oprah Winfrey?"
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Eles acharam que eu era muito idealista
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mas estávamos a sonhar alto.
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Estávamos a fazer algo impossível,
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assim porque não tentar alcançar
mais coisas impossíveis?
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Tínhamos de Janeiro
a Abril para fazer isto.
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Este é o número de horas
que gastei em logística,
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a obter autorizações
para reunir participantes
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e encontrar pontos de encontro.
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Este é o número de vezes que fui rejeitada
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por agentes de celebridades
e secretários de políticos.
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Esse é o montante que gastei,
do meu próprio bolso,
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em Red Bull e Diet Coke para me manter
acordada durante este movimento.
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Vocês podem julgar-me, se quiserem.
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Esta é a conta do hospital,
da infecção que tive nos rins
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devido ao consumo exacerbado
de cafeína, durante este evento.
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Estas são só algumas
das coisas ridículas que fizemos
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para tentar que este evento funcionasse.
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Portanto, chega o dia 21 de Abril
e o evento começa.
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Cem cidades pelo mundo inteiro.
Elas estavam lindas!
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Seis dias depois, todas as cidades
foram resgatadas, menos uma:
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Chicago.
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Assim, estávamos à espera na cidade.
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Começaram a aparecer pessoas
de todo o mundo, de todo o país,
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para reforçarem e juntarem
as vozes às nossas.
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E, finalmente, no dia 1 de Maio,
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juntámo-nos à volta
do estúdio da Oprah,
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e chamámos a atenção dela.
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Este é um trecho do filme
"Together We Are Free",
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que documenta o evento do resgate
e a minha tentativa de chegar até à Oprah.
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(Vídeo) Quando cheguei ao estúdio,
havia um gigante...
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quando vocês entraram,
havia um grupo lá fora?
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A empunhar cartazes,
a pedir para eu falar com eles
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só durante cinco minutos,
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então fiquei feliz de o fazer.
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Eles estão com um grupo
chamado "Invisible Children",
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e eu disse ao grupo que está lá fora
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que lhes daria um minuto
para explicarem do que se tratava..
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Oprah, muito obrigado
por nos receber.
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Basicamente, estas pessoas aqui fora,
viram a história de 30 000 crianças
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raptadas por um líder rebelde
chamado Joseph Kony.
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E estão aqui, solidariamente,
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já estão aqui há seis dias.
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Isto começou com 100 000
pessoas pelo mundo inteiro.
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Agora está reduzido a 500,
que se mantêm firmes,
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para você poder atrair
a atenção para este problema
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e nós podermos acabar
com a guerra mais antiga de África
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e resgatar aquelas crianças que
ainda são soldados, na África Oriental.
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Oprah, devo dizer que
esta rapariga, a Natalie,
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tem 18 anos.
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Ela foi nossa estagiária este ano e disse:
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"O meu único objectivo
é chegar até à Oprah."
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Ela fez 2000 pessoas saírem à rua
no Sábado mas choveu.
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Ela ficou aqui à chuva com 50 pessoas.
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Quando ouviram dizer que ela
estava aqui, apareceram centenas.
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Estão aqui pessoas do México,
da Austrália...
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A Natalie tem 18 anos.
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Não pensem que são muito jovens.
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Podem mudar o mundo em qualquer dia.
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Comecem já. Comecem hoje.
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Natalie! Natalie! Natalie!
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Natalie! Natalie! Natalie!
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Juntos somos livres!
Juntos somos livres!
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(Fim do vídeo)
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Vocês podem pensar que este
é o momento da minha vida,
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aquele auge que me fez extraordinária.
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Foi um momento fantástico.
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Quer dizer, eu estava no topo do mundo.
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Dez milhões de pessoas
assistiram ao "Oprah Winfrey Show".
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Mas olhando para trás, não foi.
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Não me interpretem mal.
Foi um momento incrível.
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Deu uma foto de perfil fantástica
no Facebook, durante uma semana.
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Mas eu fui extraordinária o tempo todo
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e não estava sozinha.
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Apesar de a minha história
ter sido destacada neste filme,
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eu era só uma de centenas de estagiários
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que trabalharam arduamente
para fazer isto acontecer.
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Eu estou no ar mas o homem
que me leva aos ombros,
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é o meu melhor amigo.
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O nome dele é Johannes Oberman
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e o Johannes trabalhou comigo
desde o início, em Chicago.
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As mesmas longas horas,
as mesmas noites mal dormidas que eu.
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A rapariga à direita
chama-se Bethany Bylsma.
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A Bethany planeou Nova Iorque e Boston,
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e eles foram os eventos
mais lindos que realizámos.
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A rapariga à esquerda é a Colleen.
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A Colleen mudou-se para o México.
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Mudou-se, durante três meses,
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para planear os cinco eventos de lá.
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Foi expulsa um dia antes dos eventos,
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por causa da gripe suína.
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E depois, havia esta família.
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Esta família não pôde assistir ao resgate.
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Não conseguiram sair
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mas pediram cem caixas
de "pizza" para nós,
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entregaram-nas na esquina,
entre a Michigan e a Randolph,
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onde nós estávamos,
num protesto silencioso.
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Foram pessoas como estas
que fizeram o que podiam,
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simultaneamente, obstinadamente,
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sem se importarem com quem estava a olhar,
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que tornaram isto possível.
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Não foi só chegarmos à Oprah
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porque, quando desci dos ombros deles,
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a guerra não tinha acabado.
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Era sobre aquele projecto.
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A Oprah foi apenas um ponto
de passagem, para o projecto.
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Aquele projecto era o ponto final.
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Era o nosso foco desde o primeiro dia.
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Aquilo ia ajudar-nos a terminar
a guerra mais longa da África.
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E foi aquilo que trouxe cem mil pessoas,
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de todo o mundo, até ao evento de resgate.
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Dez dias depois de termos
estado no programa da Oprah,
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o projecto foi apresentado no Congresso.
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Um ano depois, reuniu, unanimemente
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267 co-patrocinadores no Congresso.
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E uma semana depois,
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o Presidente Obama assinou a lei.
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Nenhum de nós,
os estagiários, pôde estar lá.
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Não pudemos estar lá nesse momento.
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Os nossos fundadores estavam.
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Eles são os sorridentes, ao fundo.
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Mas, aquele momento foi
o que fez tudo valer a pena.
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Foi aquilo por que cem mil
extraordinários anónimos
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trabalharam duramente para conquistar.
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Vocês sabem, os momentos Oprah
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provam que o suposto
impossível pode ser feito.
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Eles inspiram.nos,
aumentam a nossa confiança.
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Mas o momento não é um movimento.
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Mesmo muitos dos momentos,
juntos, não alimentam um movimento.
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O que alimenta um movimento são
os anónimos extraordinários por trás dele.
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Para mim, o que me fez
persistir durante o resgate,
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foi pensar naquelas crianças-soldados.
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Tornou-se pessoal. Eu tive a hipótese
de ir a África, a certa altura.
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Conheci pessoas incríveis.
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Tenho amigos que têm vivido
neste conflito a vida inteira,
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e. para mim, era pessoal.
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Mas não tem que ser isso que vos motiva.
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Talvez vocês queiram ser
o próximo Shepard Fairey,
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ou a próxima J. K. Rowling,
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ou o próximo quem quer que seja.
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Não importa, mas o que quer
que seja que vocês queiram,
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persigam com tudo o que têm.
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Não pela fama ou pela fortuna,
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mas unicamente porque é
aquilo em que acreditam,
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porque é aquilo que faz
cantar o vosso coração.
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Esta é a vossa dança!
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Isto é o que vai definir a nossa geração,
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quando começamos a perseguir
e a lutar pelas coisas que amamos
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e pelas quais queremos lutar.
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Eu importava-me demais com
o que pensavam de mim na escola.
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É isso que é tão incrível
nesta conferência.
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Tantos de vocês são tão jovens!
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Encontrem aquilo que vos inspira,
que amam e simplesmente persigam-no.
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Lutem por isso,
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porque é isso que vai mudar este mundo,
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e é isso que nos define.
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Apesar do que os outros pensam,
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os meus momentos Oprah,
eu estar aqui no TED, não me definem.
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Porque, se regressassem
comigo a casa, em Los Angeles,
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ver-me-iam a servir mesas e a cuidar
de crianças para pagar as contas,
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enquanto persisto no meu sonho
de me tornar cineasta.
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Nos actos pequenos, anónimos,
monótonos e diários,
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eu tenho de me lembrar
de ser extraordinária.
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E acreditem em mim, quando as portas
se fecham e as câmaras se desligam,
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é duro.
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Mas, se há uma coisa que quero
passar-vos, uma coisa que posso dizer,
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não só a vocês mas a mim própria,
-
é que são os actos que
nos fazem extraordinários,
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não são os momentos Oprah.