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Alzheimer, uma bênção | Andy Anderson | TEDxPinamar

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    Gostaria de convidá-los a voltarmos
    um pouquinho no passado,
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    em uma sexta-feira como hoje,
    mas em minha adolescência,
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    ou seja, quase a pré-história.
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    (Risos)
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    Nessa sexta-feira, eu tinha sido
    convidado para uma festa
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    e como era um romântico convicto,
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    e continuo sendo,
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    estava convencido de que nessa sexta-feira
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    eu iria conhecer a mulher da minha vida,
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    e, pra isso, decidi recorrer
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    a minha arma de sedução mais infalível:
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    uma camisa estampada de flores.
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    (Risos)
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    Não me perguntem hoje,
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    pois não entendo,
    como todos meus amigos e eu,
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    na adolescência, tínhamos, cada um,
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    uma camisa estampada de flores,
    como se apenas vestindo essa peça
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    faríamos com que as mulheres
    caíssem aos nossos pés;
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    o que não aconteceu.
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    Porém, além da camisa de flores,
    eu queria saber como estava, como me viam,
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    e, para isso, decidi desfilar
    na frente da minha mãe
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    para ver o que ela me dizia.
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    Passei uma vez: nada.
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    Segunda vez: nada.
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    Da terceira vez, eu a encarei:
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    "Mamãe, lembra-se que hoje tenho
    aquela festa de que tanto falei?"
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    "Como estou?"
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    E mamãe, com absoluta poesia,
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    me olhou de cima pra baixo
    e de baixo pra cima e disse:
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    "É desse jeito que você vai?"
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    (Risos)
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    "Não seja estúpido!"
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    "Quem vai querer dançar
    com um florista sobre duas pernas?"
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    Durante toda sua vida, mamãe criticou
    tudo que eu fazia, dizia ou pensava.
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    Os amigos que eu escolhia eram ruins,
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    os lugares que eu frequentava eram ruins,
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    os livros que eu lia eram ruins,
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    o filme que escolhia
    para assistir no cinema era ruim,
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    meu perfume era ruim, meu time era ruim,
    tudo o que eu fazia era ruim.
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    Meu nome é Andy,
    sou o segundo de quatro irmãos,
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    e não posso me queixar
    pois meus pais me deram tudo:
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    segurança, educação...
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    Mamãe, em se tratando de críticas,
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    não economizou nada.
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    A verdade é que, dos quatro filhos,
    eu era o que mais se ofendia.
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    Não podia tolerar
    tanto pensamento negativo,
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    então, eu a enfrentava o tempo todo.
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    Por isso sempre digo que com mamãe
    tive uma relação de alto impacto.
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    (Risos)
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    Chocávamos um no outro todo tempo.
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    Seis anos atrás, após a morte do meu pai,
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    minha mãe caiu em um quadro
    severo de depressão
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    que resultou em Alzheimer,
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    a doença que afeta
    40 milhões de pessoas no mundo.
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    Estima-se que no ano de 2050, esta soma
    chegará a 150 milhões de pessoas,
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    e a probabilidade de padecer dessa doença,
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    em pessoas com mais de 85 anos,
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    será de uma em cada duas pessoas.
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    A medicina descobriu o Alzheimer
    há mais de 100 anos,
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    e, apesar de todo o progresso e evolução
    que houve em várias áreas e patologias,
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    não foi encontrada uma cura,
    uma resposta ou solução.
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    O Alzheimer não perdoa.
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    E sei bem disso, porque minha avó faleceu
    aos 78 anos com um quadro de Alzheimer,
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    meu sogro tem essa doença
    há mais de 12 anos
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    e mamãe foi internada
    com Alzheimer em uma instituição
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    e vou visitá-la todas as semanas.
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    Ironias da vida:
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    de seus quatro filhos,
    o mais novo faleceu,
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    meu irmão mais velho
    e minha irmã mais nova
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    imigraram para os EUA,
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    então sou o único na Argentina
    para acompanhá-la durante este processo.
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    O Alzheimer arrebata
    de nossos entes queridos
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    suas lembranças e memórias,
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    que são fundamentais para toda pessoa.
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    É o que determina nosso lugar no universo,
    nossa relação com o tempo e espaço.
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    É o que nos separa
    de uma planta ou animal.
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    Além disso, a doença que não perdoa,
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    aniquila toda as estruturas temporais.
  • 3:59 - 4:00
    O que significa isso?
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    Quando vou visitar mamãe,
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    ela não sabe se é sexta, sábado, segunda,
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    primavera ou verão.
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    Por isso nos concentramos
    em coisas mais simples:
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    a altura de uma árvore,
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    a cor do outono.
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    Eu, às vezes, até me atrevo a repetir
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    um diálogo imaginário entre dois pássaros
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    que se aproximam
    para comer migalhas de pão,
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    e é tudo muito divertido,
    aproveitamos muito,
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    e me demanda um exercício criativo
    constante que me encanta,
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    até que mamãe, em um lapso de lucidez
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    ou mesmo com um pouco de nostalgia
    pelos "bons e velhos tempos",
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    me olha, muito séria,
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    e me diz: "Você acredita
    que os pássaros podem falar?"
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    "Não seja estúpido!"
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    (Risos)
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    Contudo,
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    que maravilha é poder viver o instante.
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    Viver o instante.
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    Quantos poetas e escritores
    escreveram páginas e páginas
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    sobre a importância de agarrar o instante,
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    de viver cada segundo,
    cada momento de nossas vidas.
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    E a doença que não perdoa nos leva a isso.
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    Os pacientes de Alzheimer
    se concentram no imediato, no simples.
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    E eu, que sei o que é planejar,
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    que sei o que é uma agenda,
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    e que poderia dizer a todos vocês
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    exatamente quantos dias
    faltam para o Natal,
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    com essa doença,
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    aprendi a valorizar cada minuto
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    que estou com minha mãe ao meu lado
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    mesmo que ela, mentalmente,
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    esteja em qualquer outro lugar.
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    Faz pouco tempo,
    aconteceu um pequeno milagre.
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    Fui visitá-la, saímos para caminhar,
    sentei-me num banco , com ela ao meu lado,
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    e do nada, ela começou a acariciar
    minhas costas, com a mão aberta,
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    e como viemos de uma família
    que não está habituada ao contato físico,
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    minha primeira reação foi:
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    "Por que está fazendo isso?"
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    E mamãe me disse algo que nunca imaginei
    que iria escutar em minha vida.
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    Contemplou-me com seus olhinhos
    e com voz rouca me disse:
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    "Andy,
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    amo tudo o que você faz".
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    O Alzheimer nos desafia
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    a dar o melhor que nós,
    seres humanos, temos,
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    que é o amor absoluto e incondicional,
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    o amor que dá tudo
    e não espera nada em troca.
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    Sou pai de duas filhas,
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    e recordo que, há muito tempo,
    quando trocava suas fraldas,
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    a conexão que tínhamos através do olhar
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    era maravilhosamente enigmática,
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    era maravilhosamente enigmática.
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    Eu pensava:
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    "Essas pessoinhas não sabem quem sou,
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    não sabem quem elas são,
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    em que país vivem, que dia é".
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    E isso me fez pensar:
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    "Como mamãe, com seu quadro de Alzheimer".
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    E isso me fez pensar:
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    "Eu também fui um bebê,
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    e mamãe me alimentou,
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    me vestiu, trocou minhas fraldas,
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    inclusive se levantou no meio da noite
    para apaziguar meu choro".
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    E é com esse espírito,
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    que chamo de "espírito das fraldas",
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    que vou visitá-la.
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    E quando a trazem até mim,
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    quando a enfermeira se aproxima,
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    e ela está feliz, penteada,
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    não me importa que ela não saiba dia é
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    ou sequer quem eu sou.
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    Porque, como protetor de sua memória,
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    eu sei quem é ela.
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    Como guardião de suas lembranças,
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    não me esqueço, nem penso
    em esquecer, de quem é ela.
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    O Alzheimer é implacável,
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    mas não é o fim do mundo.
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    É apenas uma etapa da vida,
    como a primeira infância,
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    em que nosso ente querido
    necessita de outro.
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    Todos nós já fomos bebês
    e necessitamos de outra pessoa.
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    Isso se repete com o Alzheimer,
    é uma etapa da vida.
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    Não é o fim do mundo.
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    E apesar de implacável,
    incurável e sem solução,
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    ele não pode com o amor.
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    Conheço muitos pacientes com Alzheimer
    e, quando vou visitar mamãe,
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    cumprimento Emma, cumprimento Santiago,
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    cumprimento um montão de gente,
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    e me dou conta que eles sentem
    o amor que lhes dão.
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    Contra isso,
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    o Alzheimer não pode.
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    Para mim, o Alzheimer é uma oportunidade.
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    Uma doença que não tem cura
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    me permitiu curar minha relação com mamãe.
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    Para mim, o Alzheimer é uma bênção.
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    Por isso, lhes digo:
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    não esperemos uma doença que não perdoa
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    para abrirmos o coração e perdoar.
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    Façamos isso a tempo,
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    façamos sem o intermédio de doenças,
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    sem rancor,
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    sem culpas, plenamente, a fundo.
  • 8:45 - 8:46
    Façamos agora.
  • 8:47 - 8:48
    Muito obrigado.
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    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Alzheimer, uma bênção | Andy Anderson | TEDxPinamar
Description:

Nesta palestra, Andy Anderson nos mostra como transformar a dor de uma enfermidade em amor e aprendizagem.
Andy Anderson é escritor e licenciado em Publicidade na Universidade de Salvador com um programa focado em Direção de Empresas Imobiliárias (IAE) e Especialização em Marketing Digital de Digital House (2016).
Autor de vários livros de poemas e de "Marcar la diferencia – Branding en Real Estate” (BRE Ediciones), um livro de teoria sobre marcas e comunicação estratégica no setor imobiliário. Diretor da agência de publicidade Coequipers durante mais de dez anos, atualmente trabalha como consultor independente em comunicação estratégica. Além disso, é escritor de vários romances e livros, escritos por trás da figura de "escritor fantasma".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:01

Portuguese, Brazilian subtitles

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