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Quando projetamos para a inclusão, projetamos para todos | Elise Roy | TEDxMidAtlantic

  • 0:21 - 0:23
    Nunca esquecerei o som
  • 0:23 - 0:25
    das gargalhadas dadas
    com os meus amigos.
  • 0:26 - 0:28
    Nunca esquecerei o som
  • 0:28 - 0:32
    da voz da minha mãe,
    mesmo antes de eu adormecer.
  • 0:34 - 0:37
    E nunca esquecerei
    o som reconfortante
  • 0:37 - 0:40
    de água a correr num riacho.
  • 0:42 - 0:46
    Imaginem o meu medo, medo puro,
  • 0:46 - 0:49
    quando, aos dez anos,
  • 0:49 - 0:52
    me disseram que iria perder a audição.
  • 0:53 - 0:55
    Durante os cinco anos seguintes,
  • 0:55 - 1:00
    a perda auditiva agravou-se
    até me considerarem completamente surda.
  • 1:02 - 1:05
    Mas eu acredito que perder a audição
  • 1:05 - 1:09
    foi uma das melhores dádivas
    que alguma vez recebi.
  • 1:10 - 1:14
    Sabem, eu tenho a oportunidade
    de experimentar o mundo de forma única.
  • 1:15 - 1:19
    Acredito que essas experiências únicas
  • 1:19 - 1:21
    que as pessoas com deficiência têm
  • 1:21 - 1:26
    são o que irá ajudar-nos
    a projetar e construir um mundo melhor
  • 1:26 - 1:31
    para toda a gente —
    com ou sem deficiência.
  • 1:33 - 1:36
    Eu era advogada pelos direitos
    das pessoas com deficiência
  • 1:36 - 1:39
    e dedicava muito tempo
    a garantir o cumprimento da lei,
  • 1:39 - 1:42
    assegurando que eram feitas
    as adaptações necessárias.
  • 1:42 - 1:47
    Depois tive de aprender
    política internacional rapidamente,
  • 1:47 - 1:50
    porque me propuseram trabalhar
    na Convenção da ONU
  • 1:50 - 1:53
    que protege pessoas com deficiências.
  • 1:54 - 1:57
    Enquanto líder de uma ONG na área,
  • 1:57 - 2:02
    usava a maior parte da minha energia
    para tentar convencer as pessoas
  • 2:02 - 2:05
    sobre as capacidades
    das pessoas com deficiência.
  • 2:07 - 2:09
    Mas algures pelo caminho,
  • 2:10 - 2:12
    e após várias transições de carreira
  • 2:12 - 2:14
    que não deixaram os meus pais
    lá muito contentes...
  • 2:14 - 2:16
    (Risos)
  • 2:16 - 2:19
    ... deparei-me com uma solução
  • 2:19 - 2:24
    que me parece ser
    uma ferramenta ainda mais poderosa
  • 2:24 - 2:28
    para resolver alguns dos problemas
    mais complicados do mundo,
  • 2:28 - 2:30
    relacionados ou não com deficiência.
  • 2:31 - 2:35
    Essa ferramenta
    chama-se "design thinking".
  • 2:37 - 2:42
    O processo de "design thinking" permite
    a inovação e a resolução de problemas.
  • 2:43 - 2:44
    Há cinco passos.
  • 2:44 - 2:47
    O primeiro passo é definir o problema
  • 2:48 - 2:50
    e compreender as suas condicionantes.
  • 2:50 - 2:55
    O segundo passo é observar as pessoas
    em situações reais do dia-a-dia
  • 2:55 - 2:58
    e criar uma empatia com elas.
  • 2:58 - 3:02
    O terceiro passo, lançar imensas ideias
    — quanto mais melhor,
  • 3:02 - 3:04
    quanto mais excêntricas melhor.
  • 3:04 - 3:09
    Quarto passo, prototipagem:
    juntarmos tudo o que conseguirmos
  • 3:09 - 3:11
    para simular a solução, para a testar
  • 3:11 - 3:13
    e para a aperfeiçoar.
  • 3:13 - 3:16
    E, finalmente, implementação:
  • 3:16 - 3:21
    garantir que a solução
    que encontramos é sustentável.
  • 3:22 - 3:29
    Warren Berger diz que o "design thinking"
    nos ensina a olhar para os lados,
  • 3:29 - 3:33
    a reformular, a aperfeiçoar,
    a experimentar
  • 3:34 - 3:36
    e, talvez o mais importante,
  • 3:36 - 3:38
    a fazer perguntas estúpidas.
  • 3:40 - 3:43
    Os "designers" acreditam
    que toda a gente é criativa.
  • 3:45 - 3:49
    Acreditam em juntar pessoas
    de múltiplas disciplinas,
  • 3:49 - 3:53
    porque querem partilhar
    múltiplas perspetivas,
  • 3:53 - 3:55
    reuni-las e finalmente fundi-las
  • 3:55 - 3:57
    para criar algo novo.
  • 4:00 - 4:04
    O "design thinking" é uma ferramenta
    de tal modo bem-sucedida e versátil
  • 4:04 - 4:07
    que tem sido aplicada
    em quase todas as indústrias.
  • 4:08 - 4:13
    Eu vi o potencial que tinha
    para os problemas com que lidei.
  • 4:13 - 4:16
    Então decidi voltar à escola
  • 4:16 - 4:19
    e fazer o mestrado em "design" social.
  • 4:20 - 4:25
    Este programa de mestrado ensina a usar
    o "design" para criar mudanças positivas.
  • 4:26 - 4:28
    Durante o curso,
  • 4:28 - 4:29
    apaixonei-me pela carpintaria.
  • 4:30 - 4:33
    Mas percebi rapidamente
  • 4:33 - 4:35
    que me estava a faltar qualquer coisa.
  • 4:36 - 4:37
    Sabem...
  • 4:38 - 4:41
    ...quando se trabalha com uma ferramenta,
  • 4:41 - 4:44
    mesmo antes de esta recuar violentamente
    na nossa direção
  • 4:44 - 4:47
    — ou seja, quando uma peça
    ou ferramenta salta contra nós —
  • 4:47 - 4:48
    faz um som.
  • 4:49 - 4:50
    E eu não conseguia ouvi-lo.
  • 4:51 - 4:53
    Então pensei:
  • 4:54 - 4:56
    porque não tentar resolver isto?
  • 4:56 - 5:00
    A minha solução foi
    uns óculos de segurança
  • 5:00 - 5:04
    concebidos para alertar
    visualmente o utilizador
  • 5:04 - 5:06
    para alterações sonoras na ferramenta
  • 5:06 - 5:09
    antes de o ouvido humano
    as conseguir detetar.
  • 5:10 - 5:14
    Porque é que os "designers" de ferramentas
    nunca pensaram nisso?
  • 5:14 - 5:16
    (Risos)
  • 5:16 - 5:20
    Por duas razões: primeiro,
    eu era uma principiante.
  • 5:20 - 5:25
    Não tinha o peso da experiência
    ou da sabedoria convencional.
  • 5:26 - 5:28
    E a segunda razão: eu era surda.
  • 5:29 - 5:34
    A minha vivência única do mundo
    ajudou-me a encontrar a solução.
  • 5:35 - 5:39
    Comecei a encontrar
    cada vez mais soluções
  • 5:39 - 5:43
    que foram inicialmente criadas
    para pessoas com deficiência,
  • 5:43 - 5:46
    mas que acabaram por ser adotadas,
  • 5:46 - 5:49
    acolhidas e adoradas
    pela sociedade em geral,
  • 5:49 - 5:51
    com ou sem deficiência.
  • 5:51 - 5:53
    Isto é um descascador de batatas da OXO.
  • 5:53 - 5:57
    Foi inicialmente concebido
    para pessoas com artrite,
  • 5:57 - 6:00
    mas era tão confortável,
    que toda a gente o adorou.
  • 6:00 - 6:01
    (Risos)
  • 6:01 - 6:06
    Mensagens de texto: foram originalmente
    concebidas para pessoas surdas.
  • 6:07 - 6:10
    E, como sabem,
    também toda a gente as adora.
  • 6:10 - 6:12
    (Risos)
  • 6:12 - 6:14
    Então, comecei a pensar:
  • 6:15 - 6:19
    E se mudássemos a nossa mentalidade?
  • 6:19 - 6:25
    E se começássemos a projetar
    primeiro para pessoas com deficiência
  • 6:25 - 6:26
    e não para as normais?
  • 6:27 - 6:30
    Como veem, quando criamos primeiro
    para pessoas com deficiência,
  • 6:30 - 6:35
    muitas vezes tropeçamos em soluções
    que não só são inclusivas,
  • 6:36 - 6:41
    como também são geralmente melhores
    que as que são feitas para aa normais.
  • 6:42 - 6:44
    Isto deixa-me entusiasmada,
  • 6:44 - 6:50
    porque isto significa que a energia
    que é precisa para integrar alguém
  • 6:50 - 6:52
    com alguma deficiência
  • 6:52 - 6:57
    pode ser aproveitada, modelada e usada
  • 6:57 - 7:01
    como motor da criatividade e inovação.
  • 7:02 - 7:07
    Assim passamos de tentar mudar as opiniões
  • 7:07 - 7:10
    e as mentalidades pobres em tolerância,
  • 7:10 - 7:13
    para sermos alquimistas,
  • 7:13 - 7:17
    o tipo de mágico de que este mundo
    precisa tão desesperadamente
  • 7:17 - 7:20
    para conseguir resolver alguns
    dos seus maiores problemas.
  • 7:22 - 7:24
    Agora, eu também acredito
  • 7:24 - 7:28
    que as pessoas com deficiência têm
    um grande potencial para serem "designers"
  • 7:28 - 7:31
    no âmbito deste processo
    de "design thinking".
  • 7:32 - 7:35
    Desde muito pequena que,
    sem o saber,
  • 7:36 - 7:39
    eu era uma "designer",
    aperfeiçoando as minhas competências
  • 7:40 - 7:41
    e melhorando-as.
  • 7:43 - 7:48
    Os "designers" são, por natureza,
    peritos em resolver problemas.
  • 7:49 - 7:53
    Imaginem ouvir uma conversa
  • 7:53 - 7:57
    e só perceber 50 % do que é dito.
  • 7:59 - 8:02
    Não podemos pedir às pessoas
    que repitam cada palavra.
  • 8:02 - 8:05
    Iriam ficar simplesmente frustradas.
  • 8:06 - 8:09
    Portanto, sem sequer me aperceber,
  • 8:09 - 8:13
    a minha solução foi pegar
    no som abafado que ouvia,
  • 8:14 - 8:15
    que era a batida,
  • 8:15 - 8:19
    torná-lo num ritmo
    e sincronizá-lo com a leitura labial.
  • 8:20 - 8:26
    Anos depois, alguém comentou
    que o que eu escrevia tinha ritmo.
  • 8:26 - 8:31
    Bem, isso é porque eu perceciono
    as conversas como ritmos.
  • 8:33 - 8:38
    Também me tornei muito,
    muito boa a falhar.
  • 8:38 - 8:39
    (Risos)
  • 8:39 - 8:41
    Literalmente.
  • 8:42 - 8:45
    Tirei 10 a espanhol
    no primeiro semestre.
  • 8:45 - 8:49
    Mas aprendi que,
    quando me voltava a levantar
  • 8:49 - 8:51
    e mudava algumas coisas,
  • 8:51 - 8:54
    por fim, acabava por conseguir.
  • 8:56 - 9:01
    Do mesmo modo, o "design thinking"
    encoraja as pessoas a falhar
  • 9:01 - 9:02
    e a falhar muitas vezes,
  • 9:02 - 9:05
    porque, por fim, irão ser bem sucedidas.
  • 9:06 - 9:10
    Muito poucas grandes inovações deste mundo
  • 9:10 - 9:14
    foram criadas por alguém
    que acertou à primeira.
  • 9:16 - 9:18
    Também aprendi esta lição no desporto.
  • 9:20 - 9:25
    Nunca esquecerei quando
    o meu treinador disse à minha mãe:
  • 9:25 - 9:28
    "Se ela não fosse surda,
  • 9:28 - 9:29
    "estaria na equipa nacional."
  • 9:32 - 9:36
    Mas o que o meu treinador não sabia,
    e na altura nem eu sabia,
  • 9:36 - 9:41
    era que a minha perda auditiva
    me ajudava a distinguir-me no desporto.
  • 9:42 - 9:47
    Quando se perde a audição,
    não só adaptamos o nosso comportamento,
  • 9:47 - 9:50
    mas também os nossos sentidos.
  • 9:51 - 9:53
    Um exemplo disto
  • 9:53 - 9:57
    é que o meu campo de atenção visual
    aumentou.
  • 9:59 - 10:03
    Imagem um jogador de futebol
    a aproximar-se pelo flanco esquerdo.
  • 10:03 - 10:06
    Imaginem que são o guarda-redes,
    como eu era,
  • 10:06 - 10:08
    e a bola aproxima-se pelo flanco esquerdo.
  • 10:08 - 10:13
    Uma pessoa com audição normal
    teria um alcance visual assim.
  • 10:14 - 10:18
    Eu tinha a vantagem de ter
    um campo visual mais largo, assim.
  • 10:18 - 10:21
    Por isso conseguia ver os jogadores
    nessa posição,
  • 10:21 - 10:23
    os que estavam a aproximar-se
    da baliza pelos lados.
  • 10:23 - 10:27
    E via-os mais depressa,
    de tal modo que, se eles passassem a bola,
  • 10:27 - 10:30
    eu podia reposicionar-me
    e estaria pronta para o remate.
  • 10:32 - 10:34
    Portanto, como podem ver,
  • 10:34 - 10:36
    eu fui uma "designer" toda a minha vida.
  • 10:38 - 10:43
    A minha capacidade de observação
    foi aperfeiçoada para conseguir ver coisas
  • 10:43 - 10:45
    que outras pessoas nunca notariam.
  • 10:46 - 10:50
    A minha necessidade constante de adaptação
    tornou-me numa grande idealizadora
  • 10:50 - 10:52
    e solucionista.
  • 10:53 - 10:57
    Muitas vezes tive de arranjar soluções
    no meio de obstáculos e limitações.
  • 10:57 - 11:02
    É algo com que os "designers"
    têm de lidar frequentemente.
  • 11:04 - 11:07
    Estive no Haiti recentemente em trabalho.
  • 11:08 - 11:12
    Os "designers" procuram frequentemente
    situações extremas,
  • 11:13 - 11:17
    porque elas muitas vezes conduzem
    aos seus melhores "designs".
  • 11:17 - 11:20
    O Haiti foi como uma tempestade perfeita.
  • 11:22 - 11:26
    Vivi e trabalhei com 300 indivíduos surdos
  • 11:28 - 11:32
    que tinham sido realojados
    após o terramoto de 2010.
  • 11:33 - 11:36
    Mas cinco anos e meio depois,
  • 11:37 - 11:39
    ainda não havia eletricidade;
  • 11:39 - 11:42
    ainda não havia água potável,
  • 11:42 - 11:44
    ainda não havia ofertas de emprego,
  • 11:45 - 11:48
    ainda existia imenso crime,
    e os criminosos ficavam impunes.
  • 11:48 - 11:52
    Chegavam organizações de ajuda
    internacional uma após à outra.
  • 11:53 - 11:54
    Mas já vinham
  • 11:54 - 11:56
    com soluções pré-determinadas.
  • 11:56 - 12:01
    Não vinham preparadas
    para observarem e se adaptarem
  • 12:02 - 12:05
    de acordo com as necessidades
    da comunidade.
  • 12:06 - 12:10
    Uma das organizações distribuiu
    cabras e galinhas.
  • 12:11 - 12:12
    Mas não se deu conta
  • 12:12 - 12:16
    que havia tanta fome naquela comunidade,
  • 12:16 - 12:20
    que quando os surdos iam dormir à noite,
    como não conseguiam ouvir,
  • 12:20 - 12:23
    havia pessoas que invadiam
    os seus quintais e as suas casas
  • 12:23 - 12:26
    e roubavam essas galinhas e cabras,
  • 12:26 - 12:29
    até que acabavam por desaparecer todas.
  • 12:30 - 12:35
    Agora, se essa organização
    se tivesse dado ao trabalho
  • 12:35 - 12:40
    de observar as pessoas surdas,
    de observar a comunidade,
  • 12:40 - 12:43
    ter-se-ia apercebido dos seus problemas
  • 12:43 - 12:47
    e teria talvez encontrado uma solução,
  • 12:47 - 12:50
    algo como um candeeiro de energia solar,
  • 12:50 - 12:54
    capaz de iluminar uma área cercada
    onde colocassem os animais à noite
  • 12:54 - 12:56
    para garantir a sua segurança.
  • 12:57 - 13:01
    Não é preciso ser um "design thinker"
  • 13:01 - 13:05
    para pôr em prática as ideias
    que partilhei hoje convosco.
  • 13:07 - 13:10
    Vocês são criativos.
  • 13:10 - 13:13
    Vocês são "designers"
  • 13:13 - 13:14
    toda a gente é.
  • 13:16 - 13:19
    Deixem que as pessoas como eu vos ajudem.
  • 13:20 - 13:25
    Deixem que pessoas com deficiência
    vos ajudem a ver de lado,
  • 13:25 - 13:26
    e, no processo,
  • 13:26 - 13:29
    a resolver alguns dos maiores desafios.
  • 13:29 - 13:30
    Obrigada.
  • 13:30 - 13:36
    (Aplausos)
Title:
Quando projetamos para a inclusão, projetamos para todos | Elise Roy | TEDxMidAtlantic
Description:

Esta palestra foi feita num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx.

Elise Roy diz "Acredito que perder a minha audição foi uma das maiores dádivas que alguma vez recebi". Como advogada pelos direitos das pessoas com deficiência e "design thinker", ela sabe que ser surda lhe oferece uma perspetiva única na vivência e reformulação do mundo — uma perspetiva que poderia resolver alguns dos nossos maiores problemas. Como ela diz: "Quando criamos primeiro para as pessoas com deficiência, tropeçamos frequentemente em soluções que são melhores que aquelas que encontramos quando criamos apenas para a norma."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:38

Portuguese subtitles

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